Ninguém acreditou na notícia de primeira.
Nem os escoceses, nem os irlandeses.
Não era possível que um Highlander decidisse assumir como esposa uma camponesa estrangeira em vez de uma nobre de seu povo.
Mas era a mais pura verdade, ainda mais que os preparativos do casamento aceleravam dia após dia.
— Estás linda!- disse Aghna maravilhada ao terminar de ajeitar o vestido na sua irmã.Não gostava muito da ideia de ter como cunhado aquele homem que poderia quase ter matado seu povo, mas entendia que Aeryn fazia isso em benefício de Aghna e dos que vieram com elas.
E o vestido da mãe das duas era simples, mas muito belo. Foi o vestido que sua mãe usou no dia em que seus pais se casaram, costurado por sua bisavó e era uma relíquia de família.
—Ah, Aeryn, sua beleza se destaca com a simplicidade do vestido com certeza!
Aeryn sorriu e olhou para a irmã com carinho.
Elas não tinham mais seus pais, mas ainda tinham uma a outra.
— Farei o melhor, acreditas em mim.
— Acredito, minha irmã. Mas não sei o que o futuro nos reserva.
— Ninguém sabe. Só podemos fazer o melhor.
Algumas horas depois Cayden e Aeryn decidiram conversar para se conhecerem melhor.
Cayden resolveu tocar no assunto mais delicado de uma vez, por que não queria entrar num casamento guardando segredos.
— Não leve a mal Eileen, peço-lhe. Ela tem seu receio com estrangeiras desde que uma inglesa conquistou nossa confiança e nos traiu.
— E quem seria esta mulher tão pérfida?
— O nome dela era Elena. Ela era sobrinha do rei da Inglaterra, só que descobri isso apenas depois. Eu a encontrei ferida numa floresta e a trouxe para cá. Meus irmãos e eu nos revezamos para cuidar de seus ferimentos e aos poucos ela foi conquistando nossa simpatia. Eu... Admito, deixei levar-me por belas palavras e um rosto bonito. Tinha 19 anos, era idiota e imprudente. Meus pais tinham falecido numa invasão de inimigos e eu não estava preparado para a responsabilidade que era ser o líder. Elena e eu tivemos... Relações, por assim dizer.
— Não é idiotice. É apenas juventude.- disse Aeryn com compreensão.
— São os dois sinônimos... Mas voltando ao assunto, Elena foi enviada para me atrair em uma armadilha preparada pelo noivo dela, um conde que queria minhas terras. Eu sofri uma emboscada e quase morri. Ele planejava matar os meus irmãos e exigir minhas terras alegando falsamente ser primo distante da minha mãe. Fiquei jogado na floresta quase morto. Meu irmão ficou desconfiado com o meu sumiço e mandou homens a minha procura. Fui encontrado e aos poucos me recuperei escondido. Mas ainda queria muito uma vingança contra Elena e seu noivo. Deixei que pensassem que estava morto. Eu estava lá, disfarçado entre a multidão, e vi toda a cerimônia. Esperei com paciência e sem que notassem me escondi no quarto de núpcias já esperando os dois. Eu não iria matar, claro, não sou homem de procurar guerras que não são necessárias, e eu não iria até arriscar meu povo matando a sobrinha do rei e um conde.
— Então como se vingaste?- Aeryn já tinha percebido que Cayden era implacável e não deixaria uma traição dessas sem punição.
— Eu os fiz de refém. O Conde era velho e gordo e Elena uma mulher franzina, não eram páreo para mim mesmo se juntassem as forças, tinha ódio, juventude e treinamento ao meu favor. Os amarrei com os lençóis da cama e tapei também suas bocas com as tiras que cortei. Castrei o agora marido de Elena. E a esfaqueei bastante nas partes íntimas até ter a certeza que nunca colocaria uma criatura como ela no mundo. Dei sonífero e coloquei ungüento nos machucados daqueles dois. Então os desamarrei e os desejei boas bodas.
Ela ficou impressionada.
— Bela vingança.
— Para que matar se agora vão ficar presos um ao outro pelo resto da vida? É pior que a morte serem obrigados a ficarem juntos.
— Agora entendo melhor sua irmã não confiar em estrangeiras. E peço-lhe que faça seus irmãos me procurarem, preciso falar com eles.
— Falarei. Obrigado por me ouvir.Ela abriu a porta para Eileen e Alasdair, e chamou sua irmã para participar da conversa.
Aghna e Eileen logo lançaram olhares de ódio e implicância uma para a outra.
—Chamei-os aqui por um motivo muito importante. Sei que os dois desconfiam de mim e seu passado é responsável por isso. Mas preciso falar sério convosco. Não podemos nos tratar de forma desrespeitosa e odiosa.
—Se eles começarem a dizer parvoíces sentirei-me na obrigação de responder.
Aeryn olhou com firmeza para a irmã mais nova.
— Aghna, essas terras não são nossas e o nosso povo precisa de segurança. Alasdair e Eileen, seu irmão escolheu-me como esposa e agir para constranger-me ou repelir-me vai ter repercussões negativas para a imagem dele diante de seu povo e do meu. Eu digo para os três que essa hostilidade faz não mal a todos. Eu e minha irmã somos a liderança dos nossos. Eileen e Alasdair são os irmão do Lord. Nós somos o exemplo! Se não agirmos com união só causará divisão e discórdia no castelo de MacCionarth. Então digo-vos, que a discórdia cesse agora. Que traremos um ao outro bem. Ninguém aqui é criança para implicar com o outro. Quero que todos nós selemos a paz.
Diante das palavras irrefutáveis de Aeryn todos concordaram em servir de exemplo.
E então, o dia do casamento chegou.
Vários nobres foram chamados.
E Aeryn respirou fundo, se dirigindo ao altar.
—Lady Aeryn?- disse uma das criadas um pouco preocupada.
— Pois não?
— Aviso-lhe que... as crianças criaram uma música e queriam homenagear esse dia. Espero que não lhe seja incômodo.
— Pelo contrário, é uma linda atitude. Estou emocionada.
Ela saiu e verificou um lindo caminho de flores até o altar, com pétalas levando até Cayden e o sacerdote.
—Quando as folhas caem
E o vento muda de direção
Quando o mar se agita
E te envolve breve escuridão
Veja as mãos que se estendem com tanto carinho
Em sua direção
Sinta os braços que envolvem o seu corpo
A energia dessa união
Não importa pra onde for
Juntos sempre vamos estar
Pois nossos corações estão ligados pelo amor
E essa união que nos dá força pra enfrentar
A qualquer barreira que tente se levantar
Era realmente uma linda canção.
E então, ela subiu até o lado de Cayden.
Perto dele, em pé, seus irmãos. Do lado dela sua única família, Aghna.
Tudo corria bem até o sacerdote dizer se alguém tinha algo contra essa união.
Um dos nobre se levantou no ato.
— Tenho e muitas! Essa estrangeira não deveria ser escolhida por um Lord escocês! Ele deveria escolher uma mulher de nosso povo.
O constrangimento e mal estar foi se espalhando entre todos.
Aeryn, irritada, sacou seu arco e flecha e cravou a manta do homem em uma árvore, o prendendo.
Sacou outra flecha.
— O próximo que reclamar vai levar uma flecha nas fuças e não nas roupas! Alguém mais tem algo a dizer contra meu casamento?
Ninguém disse nada.
— De onde isso veio?
— Escondi na dobra do vestido. Ande, continue com isso!
— Tens certeza disso Lord Cayden?- perguntou o sacerdote com um fiapo de voz, se encolhendo sob o olhar fulminante de Aeryn.
— Sim, tenho.- Cayden disse tentando sem sucesso controlar uma crise de risos.
E então, todos deram saudações ao Lord e a mais nova lady de MacCionarth.
(Até por que, ninguém queria provar das flechadas da recém-casada.)
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Um Highlander Em Minha Vida
Historical FictionQuando a aldeia de Aeryn é invadida, tudo que ela quer é garantir a segurança de sua irmã e impedir que ela e as outras jovens da aldeia sejam capturadas e abusadas pelos escoceses. E com isso, seu destino inesperadamente se entrelaça com o do chefe...