Aeryn esperou com paciência que sua irmã se abrisse com ela e por dias esperou que ela viesse até si para contar o que a preocupava, mas ao que parecia não iria ser tão cedo que Aghna conseguiria dialogar com a irmã.
Então, para ver se conseguia arrancar alguma coisa, ela chamou a irmã e resolveu dizer a ideia que martelava sua mente nos últimos dias.
–Eu andei pensando e acho que está na hora de contar para o Cayden o que nós duas somos.
Aghna ficou de queixo caído. Não esperava por essa.
–Vais contar que somos harpias?
–Sim. Creio que estabeleci um vínculo forte o suficiente para que ele receba o baque bem.
–Sabes que esse tipo de notícia nem sempre é bem recebido, não sabes?
–Tenho comigo que ele pode não lidar muito bem. Não é todo homem que agirá bem com uma descoberta dessas.
–Será que ele lidará com isso? Saber que a esposa e a cunhada transformam-se em águias?
–Agora é a hora de arriscar.
Aghna demonstrou preocupação com o fato. Por mais compreensivo que seu cunhado fosse descobrir que pessoas podem se transformar em pássaros não era lá fácil de digerir.
–Agora é a hora da sinceridade Aghna! Se vou ser sincera com o meu marido sê sincera comigo!
Ela abaixou os olhos, tensa.
–Eu contar-lhe-ei. Mas ainda não. Tenha um pouco de paciência comigo, Aeryn.
–Eu me descabelo pensando no que poderia ser! Já estou em estado de desespero! O que está acontecendo contigo?
Aghna se sentiu culpada pela frustração da irmã. Não queria causar isso a ela.
–Eu... Amanhã... Amanhã eu conto. Eu juro.
Aeryn suspirou. A angústia apertava seu peito com a enorme preocupação que sentia.
–É algo tão sério assim?
–Sim. Eu temo que... Não me vejas como antes...
–Eu já disse-lhe, és minha irmã, nada vai mudar, eu amo você, sempre vou amar.
"Eu espero que continue assim!", pensou Aghna com tristeza.
Tristeza e medo.Aquela era a hora que mais temia.
Hora da verdade.
Hora de contar o que era para o seu marido.
Enquanto a noite caía respirou fundo e entrou no quarto.
–Cayden. Preciso falar algo convosco. É realmente sério.
Cayden ficou alarmado. Teria algo a ver com a conversa que tiveram sobre Elena poder ser filha de Henry?
–Digas!
–Lembras de uma vez que estava contando uma história para as crianças, sobre uma lenda da minha aldeia?
–Aquela lenda sobre águias?
–Esta mesmo.
Ele não entendeu por que ela achava tão importante falar de uma mera lenda.
Por que era tão urgente assim para Aeryn falar de águias que eram meio humanas?
–Há esta lenda, uma das explicações sobre a origem das pessoas da minha aldeia. Dizem que somos descendentes dessas mulheres. Não sabemos o quanto dessa lenda é invenção e o quanto é real. Mas sabemos que uma pequena parte é sim bem real para todos que a conhecem.
Ele ficou realmente incrédulo com o que ela disse. Parecia quase uma piada, exceto pelo tom sério e grave usado pela ruiva para contar essa história, o que indicava que ela acreditava no mito. E sua esposa não parecia alguém dada a acreditar em lendas e superstições.
–E o que seria real?
–Realmente existiram mulheres do meu povo... Mulheres que tinham a habilidade de tomarem a forma das águias. E eu sou uma delas.
Cayden a olhou como se fosse louca.
–Estás fazendo piadas comigo, esposa?
Ela sabia que não seria algo tão fácil de acreditar.
–Eu lhe mostrarei.
E para o total choque de Cayden, Aeryn começou a se contorcer a sua frente. Seu rosto se alongou para virar um bico, penas lhe cobriram e quando ele menos esperava tinha a sua frente uma enorme águia, com as penas vermelhas e brilhantes olhos verde-azulados.
Ele ficou sem palavras, não estava raciocinando.
Se aproximou da águia e sentiu as penas com os dedos.
–Impossível! ‐falou, atordoado.
Impactado, caiu sentado na cama ainda olhando a águia.
Aeryn se transformou de volta e se vestiu.
–Entendes agora?
–Como... Como... Como isso pode ser... Possível?
–Eu não sei. Ninguém sabe. Não é magia ou algo parecido. Apenas somos desse jeito. Nascemos com esse dom. É tão natural quanto andar ou falar.
Cayden se lembrou de uma águia parecida, a águia que ele viu quando conheceu Aeryn.
–A águia que você me repreendeu por chegar perto demais daquela vez... Não era uma águia, era?
–Era a minha irmã.
Cayden se arrepiou.
–Aghna também? Quem mais vira essa... Isso?
–Só nós duas. A praga matou quase todas. Já éramos poucas desde a geração de minha avó.
–Espere... Só mulheres?
–Sim. É um dom exclusivamente feminino. Nunca ouvi falar de algum homem que pudesse fazer o mesmo.
Cayden fechou os olhos e massageou as têmporas.
–Eu preciso... Pensar... Meu Deus eu não sei o que fazer!
Aeryn assentiu e decidiu deixar o marido sozinho um pouco.
–Sei que é muito para lidar assim tão de repente. Ficarei afastada pelo tempo que precisar para pensar.
E saiu do quarto.
Cayden se deitou na cama, pondo as mãos na cabeça.
–O que eu faço? -Se perguntou com desespero. –Eu não sei o que fazer!
Ficou um bom tempo nessa posição, sem saber como agir com o que tinha acabado de descobrir.
Se essa lenda era real (E ele não podia negar) quantas lendas mais tinham fundos de verdade? O que se esconde no mundo? Como confiar na realidade? Como não ter pesadelos pensando no que poderia ser real e o que não é?
Se mulheres águias eram reais, o que impede o resto de ser?
O mundo nunca foi um lugar seguro, mas agora Cayden sentia medo do que mais podia descobrir, do que poderia estar camuflado nos lugares que ninguém pensaria.
–Senhor!
Uma criada bateu na porta, o que interrompeu seus pensamentos.
–O que houve Adeline?
Ela estava nervosa e bastante envergonhada.
–Senhor, eu não sei como contar para ti sem deixar-te irado mas preciso dizer-lhe do mesmo modo.
–O que a atormentas?
–Senhor, eu tenho notado que lady Eileen andava com um jeito de menina apaixonada.
–Apaixonada? A Eileen?
–Sim meu senhor. E hoje... Eu a vi com alguém perto daquela área do estábulo abandonado. Perto do muro que fica para o lado mais afastada, onde quase ninguém passa.
–Quem?
–Vá e veja, meu Lord. Não vais se fiar em minha palavra se eu dizer-te.
Cayden foi correndo até o lugar.
A medida que ia se aproximando ficou chocado ao ver um vestido que sabia ser de Eileen jogado no chão.
Quando se aproximou do estábulo e viu as duas figuras nuas não conseguiu acreditar no que viu.
–Eileen? Aghna?
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Um Highlander Em Minha Vida
Historical FictionQuando a aldeia de Aeryn é invadida, tudo que ela quer é garantir a segurança de sua irmã e impedir que ela e as outras jovens da aldeia sejam capturadas e abusadas pelos escoceses. E com isso, seu destino inesperadamente se entrelaça com o do chefe...