Capítulo 7

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Eu sabia que meus dias de poder sair pelo mundo diminuiriam. Como fazia mais frio, usar o casaco parecia menos estranho, menos indigente. Cada vez com mais frequência, alguém começou a fazer contato visual, e só meus reflexos rápidos tinham me permitido dar a volta rápido o bastante, logo quando o desconhecido olhava de novo, só viam minhas costas e pensavam que meu rosto de monstro tinha sido só produto de sua imaginação. Eu não podia correr riscos desse tipo. Comecei a sair mais tarde, quando as ruas e o metrô estavam menos cheios, quando havia menos possibilidades de que me pegassem. Mas isso não me satisfazia. Eu queria fazer parte da vida das ruas. E agora tinha minha promessa com Will. Eu não podia andar sem destino a noite toda e continuar estudando no dia seguinte. E eu não podia permitir que Will fosse embora.

Seria um longo inverno. Mas hoje eu sabia que podia sair sem medo. Era um dia do ano em que ninguém me olharia duas vezes. Halloween. Eu sempre tinha gostado de Halloween. Era meu dia festivo favorito desde que eu tinha oito anos, e Jimin e eu enchíamos de ovo a porta do apartamento do Velho Hinchey porque foi o único em todo o edifício que não tinha dado nada em travessuras ou gostosuras – e nós nos safamos porque éramos dois entre aproximadamente duzentos mil crianças na cidade fantasiados de Homem– Aranha. E se havia alguma dúvida de que era meu feriado favorito, acabou quando fui a minha primeira festa secundária e fiquei rodeado por garotas de Tuttle fantasiadas de criadas francesas com meias de renda.

E agora continuava sendo meu dia festivo favorito, porque esta noite, pela primeira vez, tudo podia ser normal.

Na realidade não acreditava que fosse conhecer uma garota que rompesse o feitiço. Não de verdade. Eu só queria conversar com uma garota, talvez dançar com ela e segurá-la em meus braços, mesmo que só por uma noite.

Eu estava de pé diante de uma escola que comemorava uma festa. Era a quinta festa que tinha cruzado, mas as anteriores tinhas cartazes que diziam: Por favor, proibido fantasias assustadoras. Eu não quis me arriscar em saber se considerariam meu rosto grotesco demais. Esta devia ser uma escola privada porque os garotos pareciam bastante limpos, mas não era uma escola como Tuttle, uma escola exclusiva. Através da porta do ginásio, eu podia ver as pessoas dançando em um ambiente tenuamente iluminado. Alguns estavam em grupos, mas muito estavam a sós. Fora, uma garota vendia as entradas, mas não comprovava as identificações. A festa perfeita para ficar.

Então por que eu não entrava?

Fiquei de pé a uns passos da vendedora de entradas, que estava vestida de Dorothy de O Mágico de Oz exceto pelo cabelo carmesim e as tatuagens. Observei as pessoas – sobretudo as garotas – entrarem. Ninguém se fixou muito em mim, isso era bom. Reconheci os caras habituais – as animadoras de torcidas e os filhos de papai, os futuros políticos e os atuais, os esportistas e os garotos que iam a escola só para se meter em problemas. E as pessoas que não pertenciam a nenhum grupo. Me apoiei na porta, os olhando, durante um longo momento.

– Legal sua fantasia.

O DJ estava colocando – Monster Mash– e algumas pessoas começaram a dançar.

– Eh! Estou falando com você. É uma fantasia realmente legal.

Era a garota que vendia as entradas. Dorothy. A coisa tinha se dispensado ao redor dela, todos já tinham entrado. Estávamos à sós.

– Oh. Obrigada. – Era a primeira vez que ela falava com alguém da minha própria idade em meses. – A sua também é legal.

– Obrigada. – Ela riu e se pôs de pé para que eu pudesse ver suas meias de renda. – Eu a chamo – Definitivamente Já Não Estamos No Kansas.

Eu ri.

– As tatuagens são verdadeiras?

– Não, mas sim, tingi o cabelo. Ainda não contei para minha mãe que durará um mês. Ela acha um nojo. Será engraçado na festa dos setenta e cinco anos da minha avó semana que vem.

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