Capítulo 6

77 10 0
                                    

Eu mudei meu nome.

Nunca mais serei Jungkook. Não ficaria nada de Jungkook. Jeon Jungkook estava morto. Não queria esse nome nunca mais.

Procurei o significado de Jungkook na internet e isso me derrubou. Jungkook significava bonito. Eu não era. Procurei um nome que significasse feio, Feio (quem chamaria seu filho assim?), mas finalmente me fixei em Junghyun, que significava – o escuro. Esse era eu, o escuro. Todo mundo, entenda-se Magda e Will, me chamavam de Junghyun agora. Eu era a escuridão.

Eu vivia na escuridão também. Comecei a dormir de dia, recorrendo as ruas e usando o metrô durante as noites quando ninguém pudesse me ver. Terminei o livro do corcunda (todo mundo morria) e agora estava lendo O Fantasma da Ópera. No livro, ao contrário da estúpida versão musical de Andrew Lloyd Webber, o Fantasma não era um romântico perdedor incompreendido. Era um assassino que aterrorizava durantes anos a casa de ópera antes de sequestrar a jovem cantora e forçá-la a ser a amante que tinham lhe negado. Sabia o que era me esconder na escuridão, procurando um pouco de esperança e não encontrar nada. Eu sabia o que significava estar tão só que chegasse a matar por isso.

Queria ter uma casa de ópera. Queria ter um catedral. Entretanto, eu só tinha livros, livros e o anonimato nas ruas de Nova York com seus milhões de pessoas estúpidas e ignorantes. Me escondia nas ruelas, atrás de bares onde os casais iam ali para ficar. Ouvia seus grunhidos e seus suspiros. Quando via um casal nessa situação, eu imaginava que eu era um homem, que as mãos da garota estavam sobre mim, sua respiração cálida na minha orelha, e mais de uma vez, pensei em pôr minhas garras no pescoço do homem, matá-lo, e levar a garota ao meu lar privado e transformá-la em minha amante quer ela quisesse ou não. Nunca tinha feito, mas isso me assustava só de pensar. Tinha medo de mim mesmo.

– Junghyun, temos que conversar.

Eu ainda estava na cama quando Will entrou. Estava olhando pela janela o jardim que ele tinha plantado, com os olhos entrecerrados.

– A maioria das rosas estão mortas, Will.

– Isso é o que acontece com as flores. É outubro. Logo desaparecerão até a primavera.

– Eu as ajudo, você sabe. Quando vejo um que fica marrom, mas não cai, então eu as ajudo. As espinhas não me machucam muito. Eu me curo rapidamente.

– Então tem algumas vantagens, no final das contas.

– Sim. Eu acho que tudo bem em ajudá-las a morrer. Quando vejo algo lutando assim, não deveria sofrer. Você não acha?

– Junghyun...

– Às vezes eu queria que alguém me ajudasse assim – pude ver Will me olhando fixamente. – Mas há algumas como a rosa vermelha, que ainda se agarram no galho. Elas não caem. Essas me enchem.

– Junghyun, por favor.

– Você não queria falar das flores? Eu achava que você gostasse das flores, Will. Foi você que as plantou.

– Eu gosto das flores, Junghyun. Mas agora quero que conversemos sobre nossas aulas.

– O que há com elas?

– Não a temos. Me contrataram como professor e ultimamente a única coisa que isso tem significado é o recebimento de uma enorme quantidade de dinheiro para ficar aqui e manter em dia as minhas leituras.

– E isso não é bom? – Do lado de fora, a última rosa vermelha balançou com o vento que a soprou repentinamente.

– Não, não é bom. Aceitar dinheiro sem fazer nada em troca é roubar. – Pense que é uma redistribuição de riquezas. Meu pai é um maldito cretino rico que não merece o que tem. Você é pobre e merece. É como esse cara que rouba o rico para dar ao pobre. Eu acho que há um livro sobre isso. Vi Piloto sentado nos pés de Will. Movi os dedos para tentar que ele viesse a mim.

– E tenho estudado de certo modo. Li O Corcunda, O Fantasma da Ópera, Frankenstein. Agora estou lendo O Retrato de Dorian Gray.

Will sorriu.

– Acho que detectei um tema aqui.

– O tema é escuridão – pessoas que vivem na escuridão. – Continuei movendo os dedos para Piloto. O cachorro idiota não vinha. Talvez se discutíssemos os livros. Você tem alguma questão sobre– Esse Oscar Wilde – era gay?

– Viu? Eu sabia que você tinha uma intuição aguçada, algo inteligente para contribuir...

– Não me enrole, Will. Ele era?

E bem famoso. – Will aproveitou para empurrar Piloto. – O cachorro não vai até você, Junghyun. Ele está tão desgostoso com você como eu estou, enfiado na cama de pijama até a uma da tarde.

– O que o faz pensar que estou de pijama? – eu estava.

– Podo sentir o cheiro. O cachorro também pode. E ambos estamos desgostos.

– Ok. Vou me vestir em um minuto. Contente?

– Tudo bem, tudo bem. Mas me conte algo de Oscar Wilde.

– Ele foi levado a juízo depois de ter uma aventura com o filho de um lorde. O pai do jovem disse que Wilde tinha obrigado seu filho a participar da relação.

Ele morreu na prisão.

– Eu estou em uma prisão – disse.

– Junghyun...

-É verdade. Quando você é uma criança, dizem que o interior é o que conta. Que as aparências não importam. Mas não é verdade. Caras como Phoebus em O Corcunda, O Dorian, ou o antigo Jeon Jungkook – eles podem usar as mulher e ainda podem se sair bem porque são bonitos. Ser feio é como uma espécie de prisão.

– Eu não acho que seja assim, Junghyun.

– Os cegos tem intuição. Pode acreditar ou não. Mas é verdade.

Will suspirou.

– Junghyun, podemos voltar ao livro?

– As flores estão morrendo Will.

– Junghyun. Se não deixar de dormir o dia todo e me permitir ser o seu professor, eu renunciarei.

Eu o olhei. Eu sabia que ele estava chateado comigo, mas nunca pensei que ele iria embora.

– Mas, para onde você iria? – disse. – Deve ser difícil para você encontrar um trabalho quando se é... quero dizer, você é...

-É difícil. As pessoas acham que um cego não pode fazer coisas e não querem dar oportunidade. Eles acham que seu problema é uma desvantagem. Uma vez um cara em uma entrevista me perguntou: O que acontecerá se você tropeçar e machucar um estudante? O que aconteceria se o cachorro mordesse alguém?

– Então é assim que você se viu reduzido a professor de um perdedor como eu.

Ele não disse nem sim nem não. Ele disse:

– Estudei muito para poder trabalhar, para não ter que ser mantido por ninguém. Não posso me permitir ficar assim.

Ele estava falando da minha vida. Isso era o que eu estava fazendo, vivendo às custas do papai, sempre seria assim se eu não pudesse encontrar uma forma de romper o feitiço.

– Faça o que tiver que fazer – disse. – Mas eu não quero que você vá.

– Há uma solução. Podemos voltar a nossas sessões regulares de aula.

Assenti com a cabeça.

– Amanhã. Hoje não, mas amanhã. Há algo que eu tenho que fazer hoje.

– Tem certeza?

– Sim. Amanhã. Eu prometo.



Notas Finais!!

Pessoal, me desculpem pela troca de nome e a escolha, mas tinha que seguir com o script. Ah e tudo é só uma fanfic, uma história, uma criação nossa. 

BeastlyOnde histórias criam vida. Descubra agora