Capítulo 2

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Papai foi rápido. O tutor apareceu uma semana depois.

– Jungkook – notei que Magda tinha deixado de me chamar de senhor Jungkook desde que eu tinha gritado. Isso a deixava um pouco menos irritante. – Este é Will Fratalli. É professor.

O cara que estava com ela era alto, no final da casa dos vinte, um nerd total. Estava com um cachorro, um labrador amarelo, e vestia calças desgastadas, folgadas demais para ele, mas não o suficientemente grandes para ser legais, e uma camiseta azul de botões. Obviamente de escola pública, e nem sequer um escola pública legal. Deu um passo.

– Olá, Jungkook.

Não saiu gritando ao me ver. Esse era um ponto a seu favor. O lado negativo era que ele não olhava para mim. Parecia como se olhasse para um lado. – Aqui! – agitei as mãos. – Isto não vai funcionar se não pode nem sequer me olhar.

O cachorro deixou escapar um forte grunhido.

O cara – Will – riu.

– Isso pode ser um pouco difícil.

– Por que? – exigi saber.

– Porque sou cego.

Oh.

– Sente-se, Piloto! – disse Will. Mas Piloto estava passeando, se negando a se sentar.

Isto era um universo absolutamente paralelo. Meu pai tinha ido e encontrado – ou mais provavelmente, tinha feito que sua secretária encontrasse – um tutor cego, assim ele seria incapaz de ver o quão feio eu era.

– Oh, uau, sinto muito. Este é – é seu cachorro? Vai viver aqui? Você vai viver aqui?

Nunca antes tinha conhecido uma pessoa cega, ainda que os tivesse visto no metrô.

– Sim – Will gesticulou para o cachorro. – Este é Piloto. Ambos devemos viver aqui. Seu pai foi inflexível a esse respeito.

– Aposto que sim. O que ele disse sobre mim? Sinto muito. Você quer se sentar? – peguei seu braço.

Ele o tirou de um golpe.

– Por favor, não faça isso.

– Sinto muito. Só queria ajudar.

– Não se agarra as pessoas. Você gostaria que eu agarrasse você? Se quiser oferecer assistência, pergunte as pessoas se elas precisam.

Ok, ok, desculpa. – Isso estava sendo um grande começo. Mas precisava me dar bem com esse cara. – Precisa de ajuda?

– Obrigado, não. Posso me arranjar.

Usando um bastão que eu não tinha reparado, abriu passagem ao redor do sofá e se sentou. O cachorro continuou me olhando, como se acreditasse que eu fosse uma espécie de animal que podia atacar seu dono. Ele deixou escapar outro forte grunhido.

– Disse a você aonde ir? – perguntei. Eu não estava assustado. Eu sabia que se o cachorro me mordesse, simplesmente me curaria. Me agachei e olhei diretamente nos olhos do cachorro. Está tudo bem, pensei. O cachorro se sentou, depois se deitou. Ele me olhava, mas tinha deixado de grunhir. – Na realidade não. Encontro meu próprio caminho, mas se estou a ponto de descer escada a baixo, ele para de caminhar.

– Nunca tive um cachorro – disse, pensando o quão idiota soava isso depois de ter dito. Pobre garoto rico de Nova York.

– Não terá este também. Ele é meu.

– Compreendo. – Strike dois. – Fique tranquilo. – Me sentei na cadeira oposta à de Will. O cachorro continuava me olhando, mas o olhar era diferente, como se estivesse tentando resolver se eu era um animal ou um homem. – O que meu pai contou sobre mim?

– Disse que era um inválido que precisava de lições em casa para se manter em dia com os estudos. Que é um estudante muito sério, segundo entendi.

Eu ri.

– Inválido, é?

Inválido era certo. Como em in-válido. Não válido.

– Mencionou que doença eu tenho?

Will se remexeu no assento.

– Na realidade, não. Há algo que queira discutir?

Assenti com a cabeça antes de compreender que ele não podia me ver. – Algo que você poderia querer saber. Olha, a questão é que estou perfeitamente bem. Simplesmente sou um monstro.

As sobrancelhas de Will se levantaram ante a palavra monstro, mas ele não disse nada.

– Não, de verdade. Em primeiro lugar, tenho pelos pôr todo o corpo. Pelo espesso como o de um cachorro. Também tenho presas e garras. Esses são meus pontos maus. O bom é que pareço ser feito de teflon. Se me cortar, eu me curo. Eu podia ser um super-herói, só que se alguma vez eu tentar salvar alguém de um edifício em chamar, quando derem uma olhada no meu rosto vão sair gritando para as chamas.

Eu parei. Will ainda não tinha respondido, só me olhava como se pudesse me ver melhor que os demais, como se pudesse ver como era ser eu.

Finalmente disse:

– Terminou?

Se terminei? Quem falava assim?

– O que você quer dizer?

– Eu sou cego, não estúpido. Você não vai ficar comigo. Eu tinha a impressão – seu pai disse que queria um tutor. Se não é esse o caso...

Ele se pôs de pé.

– Não! Você não entendeu. Eu não estou tentando tirá-lo daqui. O que estou dizendo é verdade. – Olhei para o cachorro. – Piloto sabe. Não se deu conta do modo estanho que ele agiu? – estendi meu braço para Will. O cachorro deixou escapar outro grunhido, mas o olhei nos olhos, e ele parou. – Aqui.

Toque meu braço.

Subi a manga da camisa, e Will tocou meu braço. Ele recuou.

– Esse é você – isso não é um casaco que você está usando ou algo assim? – Sinta. Sem costuras. – Girei o braço, para que ele pudesse apalpar. – Eu não posso acreditar que ele disse isso a você.

– Ele pôs condições bastante... estranhas para meu emprego.

– Como o que?

– Ele me ofereceu um salário enorme e o uso de um cartão de crédito para todos os gastos – não posso dizer me opus a isso. Ele exigiu que eu vivesse aqui. O salário seria pago através da corporação, e eu nunca devia perguntar quem ele era ou por que tinha me contratado. Me pediu que assinasse um contrato de três anos, extinguível a sua vontade. Se eu ficasse os três anos, ele pagaria meus trabalhos estudantis e me enviaria para um programa de doutorado. Finalmente, tive que aceitar não contar minha história aos meios de comunicação nem escrever um livro. Na realidade pensei que você fosse uma estrela de cinema.

Eu ri disso.

– Ele disse que ele era?

– Um homem de negócios, ele disse.

E ele não achava que eu diria a você?

– Nós conversamos – eu disse. – Quero dizer, assuma... ainda quer trabalhar aqui, agora que sabe que eu não sou uma estrela de cinema, que sou só um monstro?

– Você quer que eu trabalhe aqui?

– Sim. É a primeira pessoa com quem falei em três meses tirando os médicos e a guardiã das chaves. Will assentiu com a cabeça.

Então quero trabalhar aqui. Na realidade estava para deixá-lo quando achei que era uma estrela de cinema, mas eu precisava do dinheiro. – Ele estendeu sua mão. Eu a peguei. – Fico feliz de trabalhar com você, Jungkook.

Jeon Jungkook, filho do Senhor Jeon. – Aperteisua mão, desfrutando de sua expressão surpresa. – Você disse que meu pai lhedeu um cartão de crédito.



Notas Finais!!

Apreciem e curtem...

BeastlyOnde histórias criam vida. Descubra agora