A rotina. Às vezes a rotina funciona como as engrenagens de um relógio, nos deixa habituados aos mesmos acontecimentos do dia, com horários programados. Ela é de fato fundamental, já pensou se não a tivéssemos? Que caos! Não teríamos hora para nada, não iriamos no situar por isso e seria tudo uma bagunça de fato. Mas como tudo, ela tem seu lado negativo, às vezes nos prendemos tanto a rotina que temos a certeza de que veremos as mesmas pessoas que nós somos habituados a ver todos os dias nos dias seguintes.
Que faremos as coisas que nós estamos habituados a fazer nos dias seguintes. Ou até mesmo as coisas que planejamos, porque planejamentos também se fazem necessários sejam eles a curto, médio ou longo prazo. A rotina nos faz esquecer que estamos sujeitos ao acaso. Deixamos de dizer que amamos as pessoas hoje, muitas vezes, porque temos a certeza de que poderemos dizê-lo amanhã.
Deixamos de passar tempo com as pessoas que amamos ou de cuidarmos de nós mesmos pela sensação que a rotina proporciona de que podemos fazê-lo amanhã. Que podemos deixar para amanhã, o amanhã sempre vem como todos os ontem vieram, não é mesmo? Nem sempre. Samantha Arias aprendera isso da maneira mais dura que poderia ter aprendido.
-O quê? O que deram os exames que a médica havia pedido?
Kara Danvers perguntou aflita quando Samantha Arias passou por ela a passos largos pelo corredor do hospital perdendo-se de suas vistas ao virar para a direita. Kara sentia ansiedade, sentia um azedo em sua boca e seu coração apertava-se. Apreensiva ela olhou diretamente para Lena Luthor que havia adentrado a sala com a sua melhor amiga fazia algum tempo.
Mas não houve resposta verbal alguma, Lena Luthor apenas a puxou para um abraço apertado, e, embora perdida Kara a abraçou de volta e com força temendo o que aquilo pudesse de fato significar e tentando tirar forças dali para quando pudesse de fato saber o que haviam apontado os exames que a médica pedira que Samantha os fizesse na consulta anterior.
-Eu... Eu acho que talvez seja melhor que ela conte.
A morena disse por fim ao quebrar o abraço, limpando algumas lágrimas poucas e solitárias. O coração de Kara disparou mais do que antes, ela não estava gostando daquilo. Não estava gostando nada daquilo, lembrou-se do clima de quando a mãe de Samantha havia partido. De alguma forma a lembrou e seu coração passou a contrair-se apenas mais e mais a cada cogitação que sua mente ia traçando sobre do que poderia se tratar.
Mas ela não contou. Ao menos não durante o caminho de volta, Samantha ficou quieta chorando em silêncio, mas copiosamente no carro. Kara olhava para Lena e podia vê-la tentando recompor-se, mas seu rosto estava vermelho, assim como a ponta de seu nariz. Aquilo estava deixando-a completamente inquieta, era tão ruim assim para que ninguém verbalizasse? E como ficava ela? Não devia saber?
A senhorita Danvers abrira a boca na tentativa de dizer algo, mas o que diria? Quando nem mesmo sabia do que se tratava. Então apenas fora mais para a esquerda e puxou a amiga para um abraço parcial, Samantha deixou que sua cabeça caísse por sobre o ombro esquerdo de Kara e lá chorou silenciosamente. Kara pôde sentir seus ombros subindo e descendo em intervalos curto de tempo, mais à frente Lena fungava aqui e ali.
-Seja lá o que for nós vamos passar por isso. Como sempre passamos, sempre foi assim.
Kara sussurrou-lhe alto e Lena apertara mais o volante em suas mãos deixando as pontas de seus dedos esbranquiçadas enquanto algumas lágrimas escapavam-lhe dos olhos.
-Não. Nós não podemos.
Samantha respondeu falando pela primeira vez desde que saíra da sala de consulta, sua voz se mostrava abalada e falha como esperado.
-Sam, nós vamos dar um jeito, nós...
-Você tem um jeito para a morte?
Sem reação, a senhorita Danvers emudeceu-se. Sem reação, como quando percebera que um de seus dentes de leite estava "mole" e arregalou seus olhos azuis tendo em mente que sua mãe iria querer arrancá-lo. Sem reação como quando o garoto chato que implicava o tempo quase todo com ela na escola disse que gostava dela e deu-lhe um rápido e vergonhoso beijo nos lábios. Sem reação como quando um professor que não se agradava dela tentou humilhá-la na frente de toda a turma por ela não saber a resposta correta de uma pergunta a respeito do conteúdo.
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Cartas • SuperCorp
FanfictionVocê já teve um bem em comum com alguém? Um bem que você não se imagina sem? Ou está tão acostumado com ele que não passa pelas ruas de seus pensamentos que um dia possa perdê-lo? Um bem irreparável, insubstituível. E se esse bem for uma pessoa? Kar...