CARTA

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Nós podemos nos preparar para uma chuva. Nós podemos nos preparar para um dia de calor. Nós podemos nos preparar para receber alguém. Nós podemos nos preparar para uma prova entre tantas outras coisas. Mas nós, embora possamos tentar, não conseguimos nos preparar para uma perda. Nós não conseguimos nos preparar para perder alguém que amamos. A temível morte, dizem que ela é democrática, não escolhe aqueles os quais leva por sua classe econômica ou social, não faz qualquer distinção.

Alguns se atiram em seus braços e ela parece aceitar, mas outros apenas tentam ser levados, mas não parecem realmente chamar sua atenção. Ela parece andar com um relógio e com os dados necessários, alguns vão cedo demais e outros até que tarde, ela parece seguir a ordem natural das informações que deve trazer consigo.

Mas a verdade é que para alguém importante para nós atirando-se a ela ou não nunca parecemos estarmos de fato preparados. Samantha Arias desfrutou de seu tempo restante como achou que deveria tê-lo feito há mais tempo. É claro, os sintomas atrapalharam a visão de mulher saudável e vívida que a mesma tinha.

A senhorita Arias apesar de se doar tanto ao trabalho era alguém que indiscutivelmente transbordava vida, mas em seus últimos momentos ela foi capaz de se sentir uma pedra no sapato das pessoas que amava com tanto sofrimento pelo qual acabara tendo de passar e assim consequentemente fazendo as outras passarem pelo mesmo.

Quando ela se foi o dia estava ensolarado, mas uma enorme nuvem cobria o sol proporcionando certa sombra. Ela se fora, com uma expressão neutra, de conformismo. Ela se fora, mas parecia que havia apenas feito alguma viagem de trabalho, ou ido ao mercado da esquina, ou a qualquer outro lugar. Não importa o destino, quando ela se foi... Parecia que ela voltaria a qualquer momento.

Pois a pessoa fraca que se foi, não era ela. Não era aquela que Lena e Kara conheciam. Mas ela ainda sorria, embora fosse alguém diferente. Ela sorria como a Samantha Arias vívida e saudável de Kara Danvers e Lena Luthor. Em seu enterro colegas de trabalho e alguns conhecidos, Eliza Danvers abraçava Kara que tremia como uma garotinha assustada ao soluçar em seus braços com a cabeça enterrada em seu ombro.

Lex Luthor baixou a cabeça lembrando-se automaticamente de quando sua irmã havia lhe falado da senhorita Arias e quando percebera que o que estava surgindo entre ambas era algo sério. Ele se viu feliz pela irmã, pois Lena nunca viu o amor como uma necessidade maior, uma grande prioridade, sempre vinha algo antes. E quando ela não o procurava, ele a encontrou.

Lillian Luthor apertou o ombro esquerdo da filha num simples gesto de reconforto, Lena Luthor olhava para aquele caixão através de seus óculos escuros sentindo as lágrimas rolarem por sobre suas bochechas e fungou em seguida. A ponta de seu nariz estava vermelha como esperado. "Você pode desmoronar" Lionel Luthor sussurrou no ouvido da filha após deixar um beijo em seu rosto.

***

-Você vai agora?

Lena Luthor perguntou enquanto Kara continuava ali, frente à lápide enquanto todos haviam acabado de sair. A senhora Danvers até ofereceu-se para ficar com a filha, mas esta lhe respondeu que talvez fosse se demorar. Eliza entendeu que o peso daquele adeus poderia ser muito mais do que ela deveria suportar.

-Não.

Kara respondeu num quase sussurrar lembrando-se dos últimos dias que passaram juntas, das brincadeiras bobas, dos abraços apertados com o fundo de saudade antecipada. Um aperto com intenções de não deixar ir quando na verdade ela escorregou por entre os seus dedos escapando e ela nada pôde fazer a não ser observar.

-Eu também não.

A morena respondeu sentando-se ao seu lado e fazendo parte do grande silêncio com lágrimas que ali se fazia, um suspiro enorme deixou os lábios de Lena e Kara baixou sua cabeça deixando de fitar a lápide ali.

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