☪ Jade ☪

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A morte sempre vem.
Pode ser pra você, para alguém que ama ou para um desconhecido.
Mas ela sempre vem.
E todos os dias alguém é visitado por ela.
Só que você passa a vida inteira ignorando esse fato.
Até que um dia seu irmão morre.
Abraço Chad aos prantos. Apesar da minha relação frágil com Daren, eu o amava, pois ele era meu irmão, fazia parte da minha família e tínhamos alguns momentos de alegria juntos.

E tudo se foi. Ele se foi. Antes de realizar o maior sonho de sua vida: tornar-se rei.

Daren jaz numa pedra comprida,minha mãe acaricia seus cabelos enquanto curandeiros o examinam, meu pai anda de um lado para o outro inquieto.

— O herdeiro morreu por  envenenamento.— o curandeiro gordo e careca revela.

Meu pai vira abruptamente.
— Como envenenamento? Todas as bebidas e comidas foram provadas antes!

O curandeiro mais novo se interpõe.
— Não foi através de alimento ou bebida, majestade.

— O que quer dizer?— meu pai interrompe.

— Quer dizer que o veneno não foi ingerido. O príncipe foi picado por uma cobra letal.

Encaramos os curandeiros perplexos.

— Quer dizer que meu filho, o herdeiro de Trivena morreu tolamente? Um cobra o matou?— minha mãe expressa raiva em cada palavra.— Não, isso é inaceitável! Daren merecia viver, merecia um reinado épico e uma morte gloriosa. Porque os deuses permitiram isso!? Por quê??

Sua voz rouca se torna uma súplica.
Além de raiva há dor em sua voz, nunca vi minha mãe assim, com a face inchada está manchada de lágrimas, o cabelo bagunçado e o vestido levemente torto.

— Já podem preparar o corpo para a cerimônia fúnebre.— meu pai ordena derrotado.

A rainha Raica desata a chorar e protesta quando os guardas carregam o corpo para fora.

Meu pai me abraça e coloca a mão sobre o ombro de Chad.

— Nossa mãe está arrasada!— Chad comenta.
—Nunca a vi desta forma, que horror.—lamento.

Encaro meu irmão. Seus olhos estão desesperados, vejo que algo além do luto o perturba.
— Você tem medo...— digo isto pois é exatamente esse sentimento que sinto emanar de meu irmão.
— Agora serei eu... sou o sucessor... meu destino se cruzou com a coroa...
— De certa forma, deveria estar familiarizado com esta ideia. Você era o segundo na linha de sucessão.
— Eu sei... Mas nunca imaginei que Darem...não, não! Ah meu, irmão! Que fardo deixaste para mim!

Apesar de Chad ter ciência o tempo inteiro que ele poderia assumir o trono caso ocorresse alguma tragédia com o herdeiro, de fato ele não aguardava por isso.
Nem ninguém.
Chad sempre se conformou apenas em ser o príncipe, deste modo, se aventurava mais, tinha mais liberdade e estava "um degrau mais perto do povo" como afirmava sempre.

Agora ele subiu um patamar. Um árduo degrau. Mas parece que a distância é longa, se hoje em diante um abismo o separa do povo. E sua união com Tefari se torna ainda mais difícil.

O Monte Cinza é o monte onde se realizam os rituais fúnebres da nobreza de Trivena. E é aqui jaz o corpo do meu irmão num suporte de madeira repleto de palha.

Todos vestem vermelho.
Um trovador presta as devidas homenagens a Daren enquanto alguns cochicham.

—Este ano o Festival está sendo de fato surpreendente. Além da presença do reino de Salim, uma mulher terrena vence o torneio montada no dragão mais feroz que já vi e o príncipe morre de uma forma tão tola...— uma mulher baixinha comenta em tom baixo.

Seguido o ritual feito pelos sacerdotes de Focus meu pai Chad incendeiam o corpo de Daren, uma chama alta surge no meio do monte enquanto os homens gritam em sinal de respeito.

Daren se foi, seu corpo se foi.
Agora tudo que resta são lembranças de um jovem ambicioso. Minha mãe se retirou cedo para seus aposentos, no salão real muitos bebiam e comiam.
A morte não é encarada como o fim, Daren terá outras chances, não sendo Daren. O momento de luto só é aceito no monte, aqui no salão todos comemoram a vida que Daren teve, a pessoa que ele foi, é uma forma de homenagear o morto. Mesmo que nem todos estejam felizes.

Meu pai chama a atenção de todos para si.

— Agora que meu filho partiu e ele já se encontra nos campos de Fasim, o deus da morte e da justiça. Perpetuem a memória de Daren!

O rei levanta sua taça com vinho quente e todos fazem o mesmo.

No dia seguinte um silêncio se apossa do castelo, como uma visita indesejada. No desjejum minha mãe mal toca na comida.

—Pai...— Chad ousa falar— sobre o meu casamento... gostaria de saber se posso marcá-lo...

— Como se atreve?— a rainha cerra os dentes— Daren, seu irmão, mal cruzou o portal da morte e você vem falar de casamento com aquela terrena?

Os olhos sa rainha são de puro ódio, não só pelo casamento em si, mas pelo fato de Tefari ser uma terrena e, pior ainda, Chad  agora torna-se o sucessor à coroa.

O rei se mexe no trono. Avalia a situação e com muita calma se manifesta.
— Quando você,  meu filho, pediu Tefari em casamento, você era apenas um príncipe. Suas atitudes não afetavam diretamente à coroa.— Ele faz uma pausa para certificar-se de que todos o ouvem— No entanto, hoje você é o herdeiro, o meu sucessor, após minha morte se tornará rei.
— Pai...— Chad tenta, porém o rei prossegue sem hesitar.
— As circunstâncias são outras agora. O conselho e eu nos reuniremos e iremos discutir o que deve ser feito.

Chad respira fundo, na tentativa de controlar a raiva.
— Eu amo Tefari. Não seria justo despojar outra mulher apenas para atender os interesses da coroa.
— É para a coroa que você viverá a partir de hoje. Tudo que você fizer será pela coroa.— minha mãe o lembra.

Chad engole o seco.
— Para que haja justiça deixarei que seja ouvido no conselho. Assim ponderaremos de forma justa.

Filha Do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora