☪ Jade ☪

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Serendipidade

Refere-se às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso.

Refere-se às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso

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Encaro mais uma vez  a vela na minha frente. É como se estivesse me desafiando a vencê–la, zombando de mim.
Ergo os dedos e me concentro. Fecho os olhos. Respiro. Abro os olhos. Encaro a vela novamente. Tento. Tento mesmo me concentrar. Mas falho novamente.

— Nada acontece, Mestre.

Digo evitando encarar Rasuk, meu mestre elemental de fogo. Rasuk não é humano, ele é uma salamandra elemental, sua pele é cinza de textura escamosa, que pode ficar avermelhada dependendo do grau de manipulação de fogo que usar, seus olhos puxados possuem íris avermelhada, o rosto é fino e no queixo tem uma barbixa flamejante, na cabeça repousa, enrolada, uma trança ruiva. Rasuk é magro e baixo, mas isso não faz dele um oponente fraco, pelo contrário, seu poder é capaz de incendiar esta sala inteira.

— Não sentiu nada princesa? Nenhum calor?— ele me pergunta esperançoso.

Balanço a cabeça.
— Não adianta, Mestre.

— Talvez devê-se empenhar mais concentração.— recomenda.

—Mas do que empenho?— digo ríspida.

Meus irmãos Chad e Daren, surgem na sala.
— E então? Algum progresso?—Darem questiona.

Daren possui os cabelos negros de mamãe, assim como o meu, alto e forte, mas sempre com uma expressão irritante de superioridade no rosto.
— Nenhum progresso, irmão.—digo secamente.

— A princesa só precisa de mais tempo.

Rasuk me defende. Mas ele sabe melhor que ninguém, que eu não tenho poder de fogo algum.

— Que lástima! Em todos esses anos nosso reino nunca teve uma princesa abortada.— Daren reclama.

— Não fale assim de Jade! O poder dela ainda pode se manifestar. Você não ouviu o mestre?—Chad me defende. Como sempre fazemos um com o outro.

A relação com nosso irmão mais velho não é das melhores. Por ser mais velho e o herdeiro do trono, Daren sempre viveu a parte de nossas vidas, vivendo seu próprio mundo de futuro rei, acompanhando papai nas viagens e guerras, sendo diplomata em alguns reinos, cortejando princesas ou treinando para batalhas.

— Ouvi. Mas, vocês já deviam se dar por vencidos. Lisie é uma elemental abortada. Aliás, nem sei se isso faz dela uma elemental.— retruca.

—Daren... Pare de falar asneiras!—Chad fica vermelho de ódio.

Coloco-me entre meus irmãos.
—Parem com isso já! Daren você pode falar o que quiser, eu não me importo!—mentira, isso dói muito.— E Chad não dê atenção ao nosso irmão, ele só está tentando nos provocar, como sempre.

Daren cruza os braços.
— Provocar, eu? Tenho tantas coisas a tratar. Sabia que em breve me casarei?

—Pois então preocupe-se com seu casamento.–—digo e saio levando Chad comigo.

Chad e eu caminhamos apressados até o Jardim Sul. Verifico primeiro se o lugar está deserto e em seguida dirijo-me ao meu irmão.

— Aconteceu aquilo de novo.— sussurro.

Chad me lança um olhar surpreso.
— Quando?

— Ontem. Eu tive um pesadelo, com nós dois e um likho, quando acordei no meio da noite todos os objetos pequenos do aposento estavam flutuando.

Chad coça a cabeça.
— Tem certeza? Pode ter sido um sonho...
— Não foi não e você sabe muito bem disso!

A primeira vez que isso aconteceu comigo, foi no dia em que de fato, descobri era uma elemental abortada. Aconteceu em um treinamento com meus irmãos, Rasuk me deu a tarefa de fazer surgir uma chama na palma da minha mão, meus irmãos já estavam bem avançados incendiando bonecos de palha. Eu já estava cansada e frustada de tentar, então Daren riu de mim e disse que eu era abortada, uma elemental que não tinha poder algum, alguém inferior. Fiquei tão irritada que gritei para todos na sala saírem. Rasuk tirou os meninos, mas Chad quis ficar, então ele viu, eu estava com a cabeça baixa, chorando, quando escutei a voz trêmula do meu irmão. Assim que levantei a cabeça vi todos os objetos pequenos flutuando. Perguntei a Chad se ele estava fazendo aquilo, ele assustado balançou a cabeça veementemente. Então percebi que aquilo vinha de mim, eu sentia um leve puxão na mente, então fechei os olhos e desejei que aquilo acabasse e os objetos caíram. Nunca mais aconteceu, até ontem.
—Sim, sim é verdade.

Pego uma pedrinha do chão.
— Olhe.

Concentro-me na pedra e ela flutua em minhas mãos.

— Você já consegui controlar?—a expressão dele é um misto de surpresa e curiosidade.

Afirmo com um gesto de cabeça e jogo pedrinha fora.
— Tem mais.

Vasculho o local procurando alguém. Só Chad e eu.
Coloco a mão direita sob a esquerda com a palma para baixo e um pouco distante. E Sinto minhas mãos aquecerem.
Uma luz azulada surge entre minhas mãos.
Chad deixa escapar um guincho de surpresa.
—Isso é...?
— Não é fogo, é mais parecido com pequenos raios. Sinto muita energia em minhas mãos.

Chad está tão impressionado que nem percebe a boca entreaberta. Faço a luz cessar.
— Jade, isso é impressionante.

— E assustador.— completo.

— Talvez devesse contar pra nossa mãe.

— Nunca! Pelos céus Chad, não revele isso a ninguém, entendeu?

— Mas, porque não?

— Não sei. Só não conte.— dou uma volta no mesmo lugar devagar, estou  aflita.— eu não sou elemental, esse poder não é elemental. Se alguém souber disso serei morta, morta Chad.

— Mas você tem que aprender a controlar esse poder. Caso contrário...

— Eu sei, eu sei. E vou tentar, meu irmão. Tenho que encontrar num lugar seguro pra isso.

Chad estala os dedos.
— Que tal o jardim elevado? Ninguém nunca o frequenta depois que a rainha Kera se jogou de lá. Todos pensam ser amaldiçoado.

A ideia de ir para um lugar amaldiçoado não é boa, mas é minha única opção.
— Tudo bem. Eu vou treinar lá.

—Posso ir com você, se quiser.
—Melhor não, não quero que você esteja envolvido, caso eu seja descoberta.

Chad fecha a cara.
— Eu irei sim! Não todas as vezes, se isso te deixa feliz.

Olho para as minhas mãos.
Será que fui amaldiçoada como o jardim elevado?
E de onde vem esse poder?
Quem eu sou, afinal?

Filha Do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora