•Uma guerra entre terrenos e celestiais.
•Uma guerreira negra tentando ser rainha num mundo de brancos.
•Uma princesa abortada tentado encontrar respostas.
•Uma porção do amor infalível.
•Um dragão indomável.
•Deuses impetuosos.
•Outra princesa plan...
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Desço a enxada com força arrancando mato e terra. Repito o movimento tantas vezes que meus ombros doem, mais por tédio do que cansaço. Filetes de suor descem por minha face, o calor é tanto que pinica minhas costas. —Isso é um desperdício!– reclamo– deveríamos estar treinando com outros guerreiros.
Bomani, que até então estava em silêncio, balança a cabeça. — Deveríamos, se você não tivesse desacatado a General.
Ele coloca a enxada de lado e torna a prender o cabelo outra vez. Sorrio, a imagem do meu melhor amigo alto, musculoso, ombros largos, rosto severo, vestido como guerreiro ao lado de uma enxada se torna engraçada.
—Se continuar rindo de mim, te deixo capinar sozinha.– Bomani ameaça.
Ouço alguém se aproximar as minhas costas, viro curiosa.
— Ainda não terminaram a tarefa?– Atsu examina nosso tímido avanço no terreno.
Limpo o suor da testa. — Você quer dizer tortura, não é?– ironizo– Por favor, Atsu, vá até a general Urbi e interceda por nós...
Sinto o calor aumentar, daria tudo pra estar lutando agora ou me refrescando no Rio Sal.
— Lamento, mas a general está decidida quanto ao castigo.— Atsu balança a cabeça— Tefari, o que deu em você para desrespeitá-la daquela forma!?
Atsu se refere ao episódio de ontem, quando no meio do treinamento a general Urbi me perguntou se eu me sentia honrada por lutar em nome do rei Nelo, relutante respondi que sim, no entanto a general percebeu minha hesitação e me perguntou o motivo, respondi que nós somos guerreiros de Werra, e não podemos aceitar ser escravos de elementais. Um guerreiro serve seu povo e não colabora para que ele seja escravizado. O resultado do meu atrevimento foi capinar todo o terreno da base.
— Se ela tivesse aceitado minha primeira resposta não ouviria a segunda.—me defendo.
Atsu ergue as mãos. — Agradeça por não ter sido chicoteada.
Atsu examina mais uma vez nosso trabalho. — Bem, progrediram pouco, no entanto, estão liberados por hoje. Amanhã retornarão a labuta.
Respiro aliviada. Bomani e eu largamos as enxadas e seguimos para o Rio Sal. Mal chegamos no rio e Bomani tira a roupa de cima, tento desviar o olhar, mas não adianta, meus olhos contemplam a pele morena e lisa do peitoral do meu amigo.
Me sinto um pouco culpada por me sentir atraída pela imagem. Bomani é meu amigo desde que eu me lembre, crescemos juntos, correndo pelas ruas de terra de Zofa, roubando galinhas e frutas das fazendas e pomares, brincando no Rio Sal que divide o vilarejo do reino, treinamos juntos, nos alistamos juntos, temos nossas piadas internas, nossos segredos e apelidos carinhosos. Só que de um tempo pra cá algo faz meu coração disparar toda vez que contemplo seu corpo ou tiro um sorriso seu. Faço tudo para que ele não perceba, parece que estou sendo bem sucedida.
—Vamos Alteza! A água está gelado apesar do calor.
Bomani me convida usando o apelido que colocou em mim anos atrás. Assim que começo a tirar a camisa, paro no meio do caminho. Ouço um grito. Instintivamente viro na direção do som. — Bo, ouviu isso? — Ouvi o quê?
Outro grito. Sem responder pego Graciosa, minha espada curvilínea, e corro na direção do grito. Floresta a dentro ouço o som ficar mais nítido, é uma voz masculina. Quando chego bem perto vejo uma figura preta, magra usando um tecido esfarrapado na cintura. Do lado oposto está um jovem aparentemente da minha idade, loiro, mediano. Sangue escorre do seu queixo, seu semblante é de puro pavor, a criatura se prepara para investir contra o rapaz, nesse instante seguro minha espada com firmeza e ataco. A criatura urra de dor quando minha espada abre um corte em suas costas ossudas jorrando dali um líquido amarelo. A coisa vira em minha direção e sinto meu sangue gelar, a criatura possui um olho apenas, não tem nariz e nem a mandíbula, somente a parte superior da boca cheia de dentes afiados. Ela investe em minha direção, consigo desviar rapidamente do seu golpe, apesar de magra a criatura é ligeira e forte, pois ela rapidamente se vira atacando-me outra vez, me defendo e tento atingi-la com minha espada. Corto o braço direito do monstro que guincha de dor e me ataca jogando minha espada para longe.
Rolo para escapar de outro golpe, a criatura se aproxima depressa e tudo que faço a seguir é por instinto: concentro- me na espada largada do outro lado e ergo minha mão em sua direção, o objeto voa até mim e seguro-a com força, levanto, ergo a espada cintilante com todas minhas forças e transpasso-a pela criatura que se parte no meio.
Um silêncio se segue no local. Respiro fundo recuperando o fôlego. Limpo minha testa, não sei se é suor ou sangue.
— Você está bem?—pergunto ao rapaz atônito na minha frente.
—E-eu, eu... você... a espada...— ele está amarelo.
— Tefari, você matou um likho?!— Bomani me assusta, nem tinha percebido a presença dele.
— É o que parece.— examino as duas partes da criatura.
Bomani aproxima-se do corpo partido para examinar melhor. — Sabe o que isso significa? Muitos anos de azar.
— O que é um likho?—o louro pergunta.
— Quem é você? O que faz aqui?— disparo.
Um triveniano jamais se aventuraria em Zofa, sozinho.
Ele arregala os olhos. — Eu não sou ninguém. Não vim fazer nada.
—Alteza?— um guerreiro aparece seguido de mais uma pessoa, minha general.— o que a aconteceu aqui?
Olho do louro para o guerreiro – que agora percebo, através do brasão do dragão vermelho cuspindo fogo talhado no peitoral da armadura, não se tratar de um simples guerreiro, mas do chefe da guarda real.
–—Tefari?— percebo raiva na voz de Urbi. — General, eu não fiz nada de errado, apenas ouvi gritos, quando cheguei aqui esse rapaz estava sendo atacado por um likho.— me defendo.
O Comandante real se aproxima. — Esse rapaz é o príncipe Chad, sua tola!— ele me repreende.
O rapaz/Chad se põe entre mim e o chefe. — Não a chame assim, Somah! Essa guerreira me salvou. — sua voz sai firme.
Somah abaixa olhar. –—Perdão alteza.
—Então é verdade? Tefari o salvou de um likho? Mas como veio parar aqui, Príncipe Chad?— Urbi está intrigada.
O príncipe pega algo no chão, percebo se tratar de uma capa escura. — Não interessa agora.
— Precisamos levá-lo para o palácio e tratar desse ferimento.—Somah examina o corte no queixo do príncipe.
O príncipe Chad caminha seguido por Urbi e Somah, deixando-me com Bomani e o corpo mutilado do likho.
—Esse negócio de azar é verdade?— pergunto ao meu amigo. — É o que dizem. Porquê? —Porque, o príncipe Chad me viu conjurar o poder da guerra.
Bomani me encara. — Ele estava assustado, certamente não se lembrará de muita coisa.
— Espero que esteja certo.
Tento me tranquilizar, mas no fundo, sinto certa insegurança. Observo o príncipe e os outros se afastarem já longe.