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CAMILA

— Aquele imbecil! — Eu fervo de raiva, apunhalando cegamente meu pedaço de alface-crespa enquanto olho para o papel na minha frente. Arianna, minha melhor amiga e companheira de dormitório, acena com a cabeça enquanto  enfia um tomate cereja em sua boca, me deixando continuar o discurso. — Eu passei todo o fim de semana arrebentando minha bunda nisso, verifiquei tudo e ele me deu um C! Um maldito C!

— Deixe-me ver, — diz Arianna, com a boca ainda cheia quando arranca o papel de minhas mãos. Ela olha para o meu papel por um tempo e depois balança a cabeça. — Sério, um ponto por não fechar um parêntese no final de uma equação, e você acertou a resposta? Esse homem tem algo contra você.

Eu não posso responder por um momento enquanto mastigo.

— Ele é um idiota, — eu repito quando posso finalmente formar palavras novamente.

— Mmm, mas que bunda, — brinca Arianna, imitando uma palmada no ar na frente dela como se fosse a bunda do professor Mendes. O ruim é que ela está certa. Ele é como o presente mais bonito debaixo da árvore de Natal, todo sexy e  inteligente, mas quando você o abre, tcharam... a personalidade mais frustrante.

— O que? — Eu suspiro. — Você realmente acabou de dizer isso?

Arianna, que é o tipo em que você não tem certeza se está brincando ou não, concorda.

— Bem, ele é gostoso pra caramba. Estou com inveja, garota. Se há alguém que pode tornar a matemática interessante, é aquele homem. Eu
estaria estudando mais do que já fiz em toda a minha vida e pedindo ajuda após a aula!

Eu abro meus lábios para protestar, mas fecho minha boca. O fato é que Ari está certa. O professor Mendes é o  professor mais gostoso - aliás, o homem mais gostoso do campus. E não contei a ela sobre como fantasio com ele quase todas as noites. Eu não posso. Seria impossível explicar como posso odiá-lo e cobiçá-lo, ao mesmo tempo. Nem mesmo eu entendo isso.

— Ajuda após a aula? Porra, você está certa. Eu preciso de aulas de reforço, não é? Nããão. — Minha cabeça cai
quando a constatação soa verdadeira.

— Sim, bem, — Arianna diz com um sorriso, — isso não seria de tão ruim, seria? E um C não vai te matar, garota. A matemática é a sua especialização estudantil, afinal de contas, e ele tem influência no departamento. É melhor você causar uma boa impressão nele.

Eu realmente não tenho uma resposta. O que eu vou fazer? Não parece tão simples, estudar mais. Não poderia machucar, mas merda, eu já faço mais do que a maioria, e ele sempre encontra alguma maneira de diminuir minha nota. Admitir precisar de ajuda me aborrece, mas Arianna está certa. Se vou continuar com o meu mestrado ou doutorado, poderia usar uma recomendação do professor Mendes.

Mas desde o primeiro dia em sua aula, ele está na minha cola. Não literalmente, claro. Isso pode realmente ser divertido. Eu gostaria de pensar que é porque ele reconheceu imediatamente que eu poderia lidar com isso, que eu seria um dos seus melhores alunos e ele precisava me incentivar. Mas se esse é o caso, com certeza não parece. E neste ponto, as notas estão começando a me preocupar e estou duvidando do meu amor pela matemática, algo que sempre foi sólido para mim.

Eu preciso desse sentimento de volta... que tudo é lógico, racional e faz sentido se você seguir as regras passo-a-passo para encontrar a solução. Ele tirou isso de mim, e se engolir o meu orgulho e pedir ajuda adicional vai me colocar de volta em terra firme, farei isso.

Secretamente, admito que há uma parte minha que acha que estar sozinha em uma sala com o professor Mendes parece ótimo. Além da ajuda para melhorar minhas notas, algo que preciso desesperadamente fazer, alimentar afantasia é tentador.

Satin and Pearls | EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora