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A cabeça de Claire doía.
Ela esteve meio adormecida, lembrando de coisas, até que o distante som de um trovão preencheu
o escuro, levando−a mais perto da consciência. Ela sonhou com a insanidade que tinha virado sua
vida nos últimos meses, e mesmo que uma parte consciente dela sabia ser real, ainda parecia
inacreditável demais. Momentos do que tinha acontecido na Raccoon pós−vírus continuavam
aparecendo, imagens da criatura inumana que perseguia a garotinha no meio da devastação,
memórias da família Birkin, o encontro com Leon, as orações para Chris.
Outro trovão, mais alto, e ela percebeu que algo estava errado, mas parecia não conseguir
acordar, parar de lembrar. Chris, seu irmão, tinha se aprofundado na Europa, e eles o seguiram, e
agora ela estava com frio, com dor de cabeça e não sabia porque.
O que aconteceu? Ela se concentrou, mas a lembrança viria em partes, imagens e pensamentos
desde as semanas em Raccoon City. Ela não parecia controlar as memórias. Era como assistir um
filme em um sonho, e ainda assim não conseguia acordar.
Imagens de Trent no avião e um deserto, um disco de códigos que por fim foi inútil para achar seu
irmão. O longo vôo para Londres, o salto para a França –
– um telefonema, “Chris está aqui, ele está bem”. A profunda e amigável voz de Barry Burton.
Rindo, o incrível alívio a enchendo, sentindo a mão de Leon em seu ombro –
Foi o começo, e a levou para a próxima lembrança – um encontro foi arranjado, num dos postos de
vigilância da ala administrativa do quartel general, no território da Umbrella. Leon e os outros
esperavam na van, olhei no relógio, coração pulando de empolgação, onde ele está, onde Chris
está?
Claire não sabia que estava ferrada até as primeiras balas passarem por ela, perseguindo−a sob o
feixe de um holofote, até dentro de um prédio -–
–correndo por corredores, ensurdecida por metralhadoras e um helicóptero do lado de fora, balas
perto o bastante para cravar estilhaços de piso em suas roupas –e uma explosão, soldados armados caindo sob a fúria do estouro, e... eu fui pega.
Eles a seguraram por mais de uma semana, tentando de tudo para fazê−la falar. Ela falou também,
sobre ir pescar com Chris, ideologia política, suas bandas favoritas... resumindo, ela não sabia de
nada vital; ela estava apenas procurando pelo irmão, e só, e de alguma foram ela os convenceu de
que não sabia nada de importante sobre a Umbrella. O fato de ter dezenove anos ajudava, pois
parecia tão mortal quanto uma escoteira. O que ela realmente sabia, como o sinistro Trent ou o
paradeiro de Sherry Birkin, a filha dos cientistas, ela enterrou fundo e deixou lá.
Quando eles perceberam que ela não era uma informante, eles a levaram. Agredida fisicamente,
assustada, dois jatos particulares e um helicóptero depois, veio a ilha. Ela nem a viu, estava
usando um capuz, a sufocante escuridão só aumentando seu medo. Rockfort Island (Ilha Rockfort),
não foi o que o piloto disse? Foi uma longa viagem de Paris, algo mais para seu conhecimento.
Trovão, houve um som de trovão. Ela lembrou de estar sendo empurrada através de um lamacento
cemitério em uma manhã cinzenta, ela tinha visto lápides através de seu capuz. Descendo uma
escada, bem vinda a sua nova casa e BOOM –
O chão estava tremendo, chacoalhando. Claire abriu os olhos só para ver a luz acima apagar, as
grossas barras de metal de sua cela de repente marcadas em negativo e flutuando para a
esquerda na escuridão. Ela deitou de lado no sujo e úmido chão.
Isso não é bom, não, é melhor você levantar. Ignorando o pulsar em sua cabeça, ela engatinhou
para ficar de joelhos, seus músculos rígidos e doloridos. A escuridão da úmida sala estava bem
silenciosa, exceto pelo som de água pingando, lenta e solitária; parecia que ela estava sozinha.
Não por muito tempo. Ah, Deus, eu estou atolada agora. A Umbrella a tinha, e considerando a
bagunça que tinha feito em Paris, era improvável que serviriam sorvete e depois a libertariam.
A renovada avaliação de sua situação deu um nó em seu estômago, mas fez o possível para deixar
o medo de lado. Ela tinha que pensar direito, analisar suas opções, e precisava estar pronta para
agir. Ela não teria sobrevivido em Raccoon se tivesse entrado em pânico –
– só que você está numa ilha controlada pela Umbrella. Mesmo passando pelos guardas, para
onde você irá?
Um problema por vez. Primeiro, ela devia tentar se levantar. Exceto pelo doloroso inchaço em sua
têmpora direita, ela não achava estar ferida –
Houve outro barulho, abafado e distante, e um pouco de pó caiu do teto, ela pôde senti−lo em sua
nuca. Ela tinha interpretado esses barulhos em seus sonhos semiconscientes como um trovão,
mas definitivamente parecia que Rockfort estava sob artilharia pesada. Ou do Godzilla. Que diabos
estava acontecendo lá fora?
Ela ficou de pé, franzindo com a dor na cabeça enquanto se espanava com os braços, esticando os
rígidos músculos. A sala subterrânea a estava fazendo desejar ter vestido algo mais quente do que
o jeans e o colete sem mangas para o encontro com Chris –
– Chris! Por favor, esteja a salvo! Em Paris, ela tinha atraído a equipe de segurança da Umbrella
para longe de Leon e os outros, Rebecca e os dois S.T.A.R.S. de Exeter; Chris não tinha sido
pego, Claire considerou que já devia estar reunido com a equipe agora. Se ela pudesse achar um
computador com internet, ela podia mandar uma mensagem para Leon...
... é, apenas entorte as barras de aço, ache algumas metralhadoras e extermine a população da
ilha. Ah, depois invada o sistema de comunicação altamente protegido e ache um computador
desse tipo. Você também pode dizer a Leon que não sabe onde fica Rockfort –
Uma voz interna mais alta a interrompeu – pense positivo, droga, seja sarcástica depois, caso
sobreviva. O que você pode fazer?
Boa pergunta. Não havia guarda. Estava extremamente escuro, um pingo de luz vindo de algum
lugar à direita, o que poderia ser uma vantagem caso –
Claire apalpou os bolsos de repente, desejando esperançosamente que ninguém a tivesse
revistado enquanto esteve inconsciente, certa de que alguém deve ter – esquecido de olhar o bolso
interno do colete, lá estava!
“Idiotas.”. Ela suspirou, tirando o velho isqueiro de metal que Chris a tinha dado um tempo atrás,
seu confortável peso nas mãos. Quando a revistaram atrás de armas, um soldado fedendo tabaco
o tinha achado, mas devolvido quando ela disse que fumava.
Claire colocou o isqueiro de volta no bolso, não querendo cegar seus olhos agora que estava se
acostumando ao escuro. Havia luz suficiente para ela saber como a sala era – uma mesa um
armário diretamente à frente de sua cela, uma porta aberta à esquerda – a mesma pela qual tinha
entrado – uma cadeira e alguma coisa empilhada à direita. Tá bom, você conhece o ambiente. O que mais você descobriu?
Sua voz interna foi mais calma desta vez. Claire procurou nos outros bolsos rapidamente, achando
alguns elásticos de cabelo e duas balas de menta numa embalagem amassada. Ótimo. A não ser
que ela queira derrubar o inimigo com uma pequena e refrescante bala de menta, ela estava sem
sorte –
Passos, no corredor fora da sala, chegando mais perto. Seus músculos apertaram e sua boca
secou. Ela estava desarmada e presa, e o modo como alguns dos guardas a olharam durante o
transporte...
... podem vir. Estou desarmada mas não sou inofensiva. Caso alguém a quisesse atacar
sexualmente ou de outra forma, ela faria questão de causar alguns danos. Já que ia morrer, não
iria sozinha.
Thump. Thump. Era apenas uma pessoa, e seja lá quem fosse, estava ferido ou ferida. Os passos
eram instáveis e lentos, arrastados, quase como...
Não, sem chance.
Claire prendeu a respiração quando uma figura masculina entrou mancando na sala, seus braços
na parte da frente. Ele andava como um dos zumbis, como um bêbado, cambaleando, e
imediatamente foi até a cela dela. Reflexivamente, Claire recuou, aterrorizada com as implicações
– se houve algum tipo de contaminação na ilha, ela terminaria morrendo de fome, na pior das
hipóteses.
Jesus, outra contaminação? Milhares tinham morrido em Raccoon City. Quando a Umbrella
aprenderá que suas experiências insanas não valem a pena?
Ela precisava enxergar. Se for um guarda bêbado, ao menos estava sozinho, ela podia derrubá−lo.
E se for um infectado, ela estaria a salvo no momento. Provavelmente. Eles não podiam abrir
portas, ao menos os de Raccoon não. Ela pegou o isqueiro, abriu a tampa em acionou o
mecanismo.
Claire o reconheceu na hora e suspirou, recuando outro passo. Alto e encorpado, hispânico talvez,
bigode e impiedosos olhos escuros. Era o homem que a tinha detido em Paris, que a tinha
escoltado para a ilha.
Pelo menos não é um zumbi. Não é um alívio tão grande, mas aproveitaria qualquer chance.
Ela congelou por um momento, sem saber o que esperar. Ele parecia diferente, e era mais do que
seu rosto sujo de terra ou as pequenas manchas de sangue em sua camiseta branca. Era como se
houvesse alguma mudança interna, pelo modo como suas expressões estavam. Antes, ele parecia
um assassino a sangue frio. Agora... ela não tinha certeza, e quando ele tirou um molho de chaves
do bolso, ela rezou para que tivesse mudado para melhor.
Sem uma palavra, ele abriu a porta da cela e olhou para ela sem expressões antes de acenar com
a cabeça para o lado – o sinal universal para “caia fora”.
Antes que pudesse agir, ele virou e se afastou, definitivamente ferido pelo modo como segurava a
barriga com uma trêmula mão. Tinha uma cadeira entre a mesa e a parede oposta; ele sentou
pesadamente e pegou um pequeno frasco da mesa com seus dedos sujos de sangue. Ele
chacoalhou o frasco, do tamanho de um carretel de linha, antes de arremessá−lo pela sala,
resmungando para si mesmo.
“Perfeito...”.
O frasco vazio quicou no chão de cimento, rolando e parando logo fora da cela. Ele olhou na
direção dela, cansado, sua voz pesada com exaustão. “Anda. Pode sair daqui”.
Claire deu um passo na direção da porta da cela e hesitou, imaginando se era algum tipo de
armadilha – ser baleada tentando “fugir” passou por sua mente, e não parecia tão impossível,
considerando para quem ele trabalhava. Ela ainda lembrava claramente do olhar nos olhos dele
quando apontou a arma no rosto dela, um frio desprezo curvando seus lábios.
Ela limpou a garganta apreensivamente, decidindo pedir uma explicação. “O que você quer dizer
exatamente?”.
“Você está livre”. Ele disse, resmungando para sim de novo enquanto se esparramava mais na
cadeira, o queixo indo até o peito. “Eu não sei, deve ter sido algum tipo de força especial, todos os
soldados foram eliminados... não há como escapar”. Ele fechou os olhos.
Seus instintos a diziam que ele realmente queria libertá−la, mas ela não arriscaria. Ela saiu da cela
e pegou o frasco do chão, andando bem devagar, observando ele com cuidado enquanto se
aproximava. Ela não achava que sua atuação era falsa; ele estava mau, uma palidez acinzentada
sobre sua pele escura, como uma máscara transparente. Sua respiração não tinha ritmo e suas roupas cheiravam suor e fumaça.
Ela olhou para o frasco, uma ampola de seringa vazia com um impronunciável nome na etiqueta,
reparando na palavra hemostático. Hemo era sangue... algum tipo de anti−sangramento?
Talvez um ferimento interno... ela queria perguntar por que ele queria libertá−la, perguntar como
estava lá fora e para onde ela devia ir – mas ela podia ver que ele estava à beira de desmaiar,
suas pálpebras tremendo.
Eu não posso apenas sair, não sem tentar ajudá−lo –
– que se dane! Vá agora!
Ele pode morrer...
Você pode morrer! Vá logo! A disputa interna foi breve, mas a emoção venceu a razão, como
sempre. Ele não deve tê−la soltado por alguma afinidade pessoal, mas seja qual for o motivo, ela
estava agradecida. Ele não devia tê−la soltado, mas foi o que fez.
“E você?”. Ela perguntou, imaginando se havia algo que pudesse fazer por ele. Ela certamente não
iria carregá−lo para fora, e ela não era médica –
“Não se preocupe comigo”. Ele disse, levantando a cabeça para olhá−la por um segundo,
parecendo irritado por ela ter perguntado.
Antes que ela pudesse perguntar o que tinha acontecido lá fora, ele perdeu a consciência, seus
ombros caindo, seu corpo congelando. Ele estava respirando, mas sem um médico, ela não
apostaria se continuaria.
O isqueiro estava ficando quente, mas ela agüentou o calor tempo o bastante para vasculhar a
sala, começando pela mesa. Havia uma faca de combate, alguns papéis avulsos... ela viu seu
próprio nome em um deles e vasculhou o documento enquanto colocava a faca no cinto.
Claire Redfield, prisioneira número WKD1196, data de transferência, blá, blá, blá... escoltada por
Rodrigo Juan Raval, Oficial Comandante da 3ª Unidade de Segurança, Umbrella, Paris.
Rodrigo. O homem que a tinha capturado e a libertado, e que agora parecia estar morrendo bem
na frente dela. Ela não podia fazer nada sobre isso, não se pudesse achar ajuda.
Coisa que eu não posso fazer daqui, ela pensou, fechando o isqueiro super aquecido depois de
terminar a busca. Nada além de tranqueira, na maioria uniformes de prisioneiros e papelada na
mesa. Ela achou o par de luvas sem dedos que tinham tirado dela, suas velhas luvas para andar
de moto, e as vestiu, grata pelo pequeno calor que elas proporcionaram. Tudo o que ela tinha para
se defender era a faca, uma arma mortal nas mãos da pessoa certa... e as suas infelizmente não
eram.
Cavalo dado não se olha os dentes. Há cinco minutos você estava presa e desarmada, pelo menos
você tem uma chance agora. Você devia estar feliz por Rodrigo não ter descido aqui para te matar.
Mesmo assim, ela ainda não sabia lutar com uma faca. Depois de uma breve hesitação, ela
rapidamente vasculhou Rodrigo por armas, sem sucesso. Ela achou um molho de chaves, mas não
o pegou, sem querer carregar algo que pudesse chamar a atenção de alguém indesejável. Se ela
precisar das chaves, ela podia voltar.
É hora de detonar esse lugar, ver o que tem lá fora.
“Vamos nessa”. Ela disse suavemente, só para fazê−la andar, ciente de que estava mais
assustada com o que vira a achar... E também porque não tinha escolha. Enquanto estiver na ilha,
estará na posse da Umbrella – e até entender a situação, não podia planejar uma fuga.
Apertando a faca, Claire saiu da sala, imaginando se a loucura da Umbrella acabaria algum dia.
Sozinho, Alfred Ashford sentou nos largos degraus de sua casa, cego com raiva. A destruição tinha
finalmente parado de chover do céu, mas sua casa tinha sido danificada, a casa deles. Ela tinha
sido construída pela bisavó de seu avô – a brilhante e bela Veronica, que Deus a tenha – no
isolado oásis que nomeou de Rockfort, aonde construiu uma vida mágica para si e para seus
descendentes... e agora, num piscar de olhos, algum terrível grupo de fanáticos ousou tentar
destruí−la. A maior parte da arquitetura do segundo andar foi atingida, portas esmagadas, apenas
os dormitórios deles ficaram de pé.
Animais grosseiros cretinos. Eles nem podem imaginar o tamanho de sua própria ignorância.
Alexia estava chorando lá em cima, seu delicado coração agora doendo com a perda. O mero
pensamento da dor desnecessária de sua irmã alimentou sua raiva, fazendo−o querer agir. Mas
não havia ninguém em que pudesse descontar, todos os oficiais de comando e cientistas chefe
estavam mortos, até mesmo sua equipe pessoal. Ele viu tudo acontecer da sala de monitoramento
secreta de sua mansão particular, cada pequeno monitor contando uma história de sofrimento brutal e incompetência patética. Quase todo mundo morreu, e o resto correu como um coelho
assustado; quase todos os aviões da ilha tinham decolado. Sua cozinheira particular foi a única
sobrevivente na mansão de recepção, mas ela gritou tanto que ele foi forçado a atirar nela.
Nós ainda estamos aqui, longe das mãos sujas do mundo. Os Ashford sobreviverão e prosperarão,
para dançar nos túmulos de seus adversários, para beber champanhe nos crânios de suas
crianças.
Ele se imaginou dançando com Alexia, segurando−a de perto, dançando ao dinâmico som dos
gritos de seus inimigos... a felicidade não seria pequena, o olhar de sua irmã gêmea travado no
seu, compartilhando a consciência da superioridade sobre o homem comum, sobre a estupidez
daqueles que tentaram destruí−los.
A questão era, quem foi o responsável pelo ataque? A Umbrella tinha muitos inimigos, de legítimas
companhias farmacêuticas até acionistas particulares (a perda de Raccoon City foi desastrosa para
o mercado) até os poucos concorrentes da White Umbrella, o departamento disfarçado para
pesquisa com armas biológicas. Umbrella Pharmaceutical, a criação de Lord Oswell Spencer e o
avô de Alfred, Edward Ashford, foi extremamente lucrativa, um império industrial... mas o
verdadeiro poder está nas atividades clandestinas, operações das quais tornaram−se vastas
demais para passarem desapercebidas. E havia espiões por todo lado.
Alfred fechou o punho, frustrado, seu corpo inteiro como um conduite vivo de furiosa tensão – e de
repente sentiu a presença de Alexia atrás dele, um aroma de gardênia no ar. Ele estava tão
mergulhado em seu caos emocional que nem a ouviu se aproximar.
“Você não deve se desesperar, meu irmão,”. Ela disse gentilmente, e desceu um degrau para
sentar−se perto dele. “nós prevaleceremos; nós sempre prevalecemos”.
Ela o conhecia tão bem. Quando ela ficou longe de Rockfort durante todos aqueles anos, ele ficou
muito sozinho, com muito medo de perder um pouco do laço especial com ela... mas agora
estavam mais próximos do que nunca. Eles nunca conversaram sobre sua separação, sobre as
coisas que aconteceram depois das experiências no complexo Antártico, ambos apenas muito
felizes por estarem juntos, a ponto de não dizerem nada para não estragar o momento. Ela sentia o
mesmo, ele tinha certeza.
Ele olhou para ela por longos segundos, amenizado por sua graciosa presença, impressionado
com sua beleza, como sempre. Se ele não a tivesse visto chorando no quarto, não saberia que
tinha derrubado uma lágrima. Sua pele de porcelana estava radiante, seus olhos azul−céu, claros e
brilhantes. Mesmo hoje, o mais escuro dos dias, a imagem dela o dava tal prazer...
“O que eu faria sem você?”. Alfred perguntou suavemente, sabendo que a resposta seria dolorosa
demais para considerar. Ele quase pirou de solidão enquanto ela esteve fora, e ainda tinha
estranhos pesadelos em que se encontrava sozinho, em que Alexia o abandonava. Era um dos
motivos pela qual a encorajava a nunca deixar a segurança de sua residência particular, localizada
atrás da mansão de visitantes. Ela não se importava; tinha seus estudos e estava ciente de que era
muito importante, muito delicada para ser admirada por qualquer um, muito feliz sendo sustentada
pelo afeto de seu irmão, confiando nele como seu único contato com o mundo exterior.
Se eu pudesse ficar com ela o tempo todo, só nós dois, escondidos... mas não, ele era um Ashford,
responsável pelo patamar dos Ashford na Umbrella, responsável pelo complexo inteiro de Rockfort.
Quando seu incompetente pai, Alexander Ashford, desapareceu quinze anos atrás, o jovem Alfred
assumiu sua posição. As pessoas chave por trás da pesquisa com armas biológicas da Umbrella
tentaram mantê−lo fora do grupo, mas só porque ele os intimidava, os incomodava com a
supremacia natural de sua família. Agora eles mandavam relatórios regularmente, respeitosamente
explicando as decisões que tomaram em sua ausência, deixando claro que entrariam em contato
com ele imediatamente caso precisassem de sua opinião.
Eu suponho que devo entrar em contato, dizer o que tinha acontecido... ele sempre deixou esses
problemas para seu secretário pessoal, Robert Dorson, que se juntou aos outros prisioneiros ao
demonstrar curiosidade demais em relação à Alexia.
Ela estava sorrindo para ele agora, seu rosto brilhando com compreensão e adoração. Sim, ela
estava muito melhor para ele desde que voltou para Rockfort, verdadeiramente mais devotada a
ele do que sempre foi para ela.
“Você vai me proteger, não vai?”. Ela disse, nem foi uma pergunta. “Você vai descobrir quem fez
isso conosco, e então mostrará a eles o que acontece com quem tenta destruir um legado tão
poderoso quanto o nosso”.
Cheio de amor, Alfred levantou a mão para tocá−la, mas parou, ciente de que ela não gostava muito de contato físico. Ele acenou, parte de sua raiva voltando só de pensar em alguém tentando
machucar sua amada Alexia. Nunca, não enquanto ele viver, deixaria isso acontecer.
“Sim, Alexia,”. Ele disse apaixonadamente. “eu os farei sofrer, eu juro”.
Ele podia ver nos olhos dela que acreditava nele, e seu coração encheu de orgulho, enquanto seus
pensamentos voltavam−se para a descoberta do inimigo. Um absoluto ódio pelos agressores de
Rockfort estava crescendo dentro dele, pela mancha de fraqueza que tentaram colocar no nome
dos Ashford.
Eu os ensinarei a se arrepender, Alexia, e eles nunca se esquecerão da lição.
Sua irmã confiava nele. Alfred morreria antes de desapontá−la.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora