Minha nossa. Isto é... uau, Claire pensou.
“Uau”. Steve suspirou, e ela acenou, sentindo−se completamente fora de si enquanto analisava o
novo ambiente. Ela tinha dito assassino maluco? Parece mais com uma convenção de assassinos. Eles encontraram outro quebra−cabeça depois das Lugers, um que tinha a ver com números e uma
passagem bloqueada, mas eles o ignoraram completamente – com ambos empurrando a
passagem não ficou bloqueada por muito tempo. Lá fora novamente, eles conseguiram ver a casa
privativa, no topo de uma baixa colina como uma águia em repouso sob a chuva. Era uma mansão,
porém diferente da que eles acabaram de deixar – era bem mais velha e escura, cercada pelas
gastas ruínas do que uma vez foi algum tipo de jardim. Querubins de pedra com olhos cegos e
dedos quebrados os observavam enquanto iam na direção da casa, gárgulas com asas erodidas,
pedaços de mármore sob os pés.
Definitivamente de arrepiar... mas de longe tão apavorante, que não está nem na mesma categoria.
Eles pararam no saguão, iluminado por algumas velas estrategicamente posicionadas. Havia um
cheiro de velho no ar, como o de pó e papel velho. O chão era formado por um carpete aveludado,
mas era tão velho que estava gasto em alguns lugares; era difícil distinguir outra cor além de
“escuro”. A uma vez grandiosa escadaria estava diretamente na frente deles, levando aos dois
andares superiores; ainda havia um tipo de modesta elegância em seus envelhecidos corrimãos e
degraus ondulados, igual à empoeirada biblioteca à direita e às velhas pinturas penduradas nas
paredes. A palavra assombrada descreve o lugar perfeitamente... com exceção das bonecas.
Pequenos olhos os encaravam de todos os lados. Bonecas chinesas de porcelana frágil, muitas
delas quebradas ou desbotadas, vestidas para o chá da tarde com roupas de seda manchada.
Crianças de plástico, com olhos de plástico abertos e bocas rosas fechadas. Bonecas de pano com
estranhos rostos de botão, pedaços do estofamento saindo pelos membros. Havia montes delas,
pilhas, até bebês de pano enfiados em espetos. Claire não via ordem sã para a organização delas.
Steve a cutucou, apontando para cima. Por um segundo, Claire pensou estar olhando para Alexia,
pendurada no teto – mas claro que era outra boneca, em tamanho real, vestida para seu bizarro
linchamento com um simples vestido de gala, a barra e florida flutuando até seus calcanhares
sintéticos.
“Talvez nós devêssemos –“. Claire começou a falar – e congelou, ouvindo. O som de alguém
falando filtrado até eles lá de cima, a voz de uma mulher. Ela parecia irritada, a fluência de seu
discurso rápido e rude.
Alexia.
A irritada voz foi seguida por um tom chorão e apelativo que Claire reconheceu imediatamente
como sendo de Alfred.
“Vamos lá bater um papo”. Steve sussurrou, e foi para a escada sem esperar por uma resposta.
Claire correu atrás dele, incerta sobre ser uma boa idéia, mas não querendo deixá−lo ir sozinho.
As bonecas os observaram em silêncio com olhos sem vida, mantendo sua vigília e paz como o
fizeram por tantos anos.
Alfred nunca se sentia tão perto de Alexia se não estivessem em seus aposentos, onde brincavam
e riam quando pequenos. Ele se sentia perto dela agora, também, mas também profundamente
perturbado por sua raiva, querendo desesperadamente fazê−la feliz novamente. Afinal, foi culpa
sua tê−la deixado preocupada.
“... e eu simplesmente não entendo porque essa Claire e o amigo estão provando ser um desafio
para você”. Alexia disse, e apesar da vergonha, ele não conseguia parar de adorá−la, enquanto ela
desfilava pela sala em seu vestido sedoso. Sua irmã gêmea era tremendamente refinada quando
zangada.
“Eu não vou falhar de novo, Alexia, eu prometo –“.
“Claro, não vai”. Ela disse diretamente. “Porque eu pretendo cuidar disso eu mesma”.
Alfred ficou horrorizado. “Não! Você não deve se arriscar querida, eu... e não permitirei isso!”.
Alexia o encarou por um momento – depois suspirou, balançando a cabeça. Ela deu um passo até
ele, seu olhar suave e amável novamente.
“Você se preocupa demais, irmão”. Ela disse. “Você deve sempre se lembrar de abraçar a
dificuldade com orgulho e vigor. Nós somos os Ashford, afinal. Nós –“.
Os olhos de Alexia arregalaram, sua face empalidecendo. Ela virou na direção da janela com vista
para o corredor lá fora, seus finos dedos subindo ansiosamente para o colar em seu pescoço. “Tem
alguém no corredor”.
Não!
Alexia devia ser mantida a salvo, ninguém devia tocá−la, ninguém! Era Claire Redfield, claro,
finalmente lá para completar sua missão, assassinar sua amada. Frenético para protegê−la, Alfred deu meia volta, procurando – ali, o rifle estava apoiado na penteadeira de Alexia, onde o tinha
deixado antes de abrir a passagem para o sótão. Ele correu para a passagem, sentindo o medo
dela como seu, a ansiedade compartilhada como se eles fossem um só.
Alfred alcançou a arma – e hesitou, confuso. Alexia tinha insistido em lidar com a situação, ela
poderia ficar irritada novamente se ele interferisse... mas, e se algo acontecesse com ela, e se ele
a perdesse...
A maçaneta da porta chacoalhou de repente, bem na hora que Alexia andou e pegou o rifle
sozinha. Ela mal teve tempo de erguer o rifle antes da porta abrir violentamente. Foi a primeira vez
em quase quinze anos que seu quarto foi invadido, e Alexia ficou tão chocada que não atirou de
imediato, não querendo que Alfred se machucasse, não querendo morrer. Os dois prisioneiros
tinham ambas as armas apontadas para ela.
Alexia se conteve, recusando se aterrorizar por duas crianças – que a olhavam estranhamente.
Aparentemente não estavam acostumados a encontrar seus superiores.
Use isso a seu favor. Mantenha−os distraídos.
“Srta. Redfield, e Sr. Burnside,”. Alexia disse, seu queixo empinado, seu tom de voz tão digno
quanto o nome Ashford requeria. “finalmente nos encontramos. Meu irmão me disse que vocês
causaram uma baita confusão”.
Claire andou até ela, o cano da arma abaixando enquanto examinava o rosto de Alexia. Alexia
recuou involuntariamente, repelida pelo avanço e suas roupas molhadas, mantendo seu olhar na
arma de Claire.
Alexia recuou outro passo. Ela ficou encurralada entre a penteadeira e o pé da cama, mas
novamente tudo a seu favor. Quando eles acreditarem que não sou uma ameaça...
“Você é Alexia Ashford?”. O rapaz perguntou, impressionado ou apavorado, de boca aberta.
“Eu sou”. Ela não seria capaz de tolerar tal grosseria por muito tempo, não de alguém tão inferior.
Claire acenou devagar, ainda olhando nos olhos dela, impertinentemente. “Alexia... onde está seu
irmão?”.
Alexia virou para olhar Alfred – e ficou pasma, porque ele não estava no quarto. Ele a tinha deixado
para enfrentar essas pessoas sozinha.
Não, não pode ser, ele nunca me abandonou assim –
Houve movimento à sua direita – e percebeu que era apenas o espelho, e... e...
Alfred estava olhando para ela. Era seu rosto, seu batom e cílios, mas seu cabelo, sua jaqueta. Ela
levantou a mão direita até a boca, chocada, e Alfred fez o mesmo, olhando para ela. Sentindo o
próprio espanto.
Como se fossem um só.
Alexia gritou, derrubando o rifle, esquecendo tudo exceto os dois intrusos enquanto passava por
eles, sem se importar se atirariam ou não. Ela correu para a porta que conectava seu quarto ao de
Alfred, gritando de novo assim que viu a longa peruca loira no chão, o bonito vestido ao lado.
Chorando, ela passou pela porta, um painel giratório, fugindo para o quarto de Alfred –
– meu quarto –
– sem saber para onde ia, correndo para a escada. Estava acabado, tudo acabado, tudo arruinado,
tudo uma farsa. Alexia se foi e nunca voltará, e ele tinha – ela era –
Os gêmeos de repente sabiam o que devia ser feito, a resposta brilhando na bagunçada escuridão
de suas mentes, mostrando−os o caminho. Eles alcançaram a escada e a desceram fazendo
planos, entendendo que era hora de finalmente ficarem juntos, porque finalmente era hora.
Mas antes, eles destruiriam tudo.
“Meu Deus”. Steve disse, e quando não conseguiu pensar em outra coisa, ele repetiu.
“Então a Alexia nunca esteve aqui”. Claire disse, com a mesma expressão confusa que ele
acreditava estar usando. Ela andou e pegou a peruca balançando a cabeça. “Você acha que ela
realmente existiu?”.
“Talvez quando criança”. Steve disse. “Um velho guarda na prisão disse que a viu uma vez, uns
vinte anos atrás. Quando Alexander Ashford comandava as coisas”.
Por alguns segundos, eles apenas olharam o quarto, Steve pensando em como Alfred reagiu ao
ver a si mesmo no espelho. Foi tão patético que Steve quase sentiu dó do cara.
Acreditar por todo esse tempo que sua irmã vivia aqui – talvez a única pessoa no mundo que não o
considerava um maluco total – e acabou descobrindo que nem isso tinha.
Claire se sacudiu como quem sente um frio repentino e voltou à realidade. “É melhor nós procurarmos aquelas chaves antes que os gêmeos voltem”.
Ela apontou com a cabeça para a escada de mão na cabeceira da cama. Ela levava a um buraco
quadrado no teto. “Eu vejo lá em cima, você vê aqui embaixo”.
Steve acenou, e assim que Claire desapareceu no teto, ele começou a abrir gavetas e revirá−las.
“Você não vai acreditar no que tem aqui em cima”. Claire gritou, bem quando Steve descobriu uma
gaveta cheia de lingerie de seda, calcinhas, sutiãs e outras coisas que não podia ficar adivinhando.
“Idem”. Ele respondeu, imaginando até que ponto Alfred foi para fingir ser Alexia. Ele decidiu que
não queria saber.
Ele ouviu Claire andando lá em cima enquanto ia para a penteadeira e começava a vasculhar.
Muita maquiagem, perfumes e jóias, mas nenhuma peça ou emblema, nem uma chave doméstica.
“Nada ainda, mas... ei, tem outra escada!”. Claire gritou.
Isso é bom, Steve pensou, achando uma caixa de envelopes com pequenas flores brancas no
papel. Ele estava com mais medo de Alfred voltar e queria sair daquele quarto de irmãos psicóticos
o mais rápido possível. Havia um pequeno cartão branco em cima dos envelopes. Steve o pegou,
reparando na forte escrita feminina.
Querido Alfred – você é um brilhante e corajoso soldado, sempre lutando para restaurar o nome
dos Ashford para sua glória original. Meus pensamentos estão sempre com você, meu amado.
Alexia.
Eca. Steve soltou o cartão, fazendo cara feia. Era sua imaginação, ou Alfred tinha desenvolvido
uma relação seriamente anormal com sua irmã imaginária?
É, mas aquilo não era real, não podiam fazer nada... físico. Eca duplo. Novamente, Steve decidiu
não querer saber –
“Steve! Steve, eu acho que as encontrei! Estou descendo!”.
Tomado por uma instantânea descarga de esperança e otimismo, Steve sorriu, olhando para a
escada, as palavras como música para seus ouvidos. “Não brinca?”.
As pernas curvilíneas de Claire apareceram, sua voz bem mais clara e apresentando a mesma
empolgação na resposta enquanto descia rapidamente. “Sem brincadeira. Tinha um pequeno
carrossel lá em cima, e um sótão, dê uma olhada nesta chave em forma de libélula –“.
Subitamente um alarme começou a soar, ecoando pela enorme casa, alto e persistente. Claire
saltou da cama, segurando três emblemas e um fino objeto de metal. Os dois travaram o olhar,
compartilhando e confusão, e Steve percebeu que conseguia ouvir o alarme lá fora também, junto
com uma vazia e metálica voz através de um barato sistema de comunicação. O parecia estar
sendo transmitida para a ilha inteira.
Antes que um dos dois pudessem dizer uma palavra, a calma voz começou a dividir espaço com as
sirenes, fria e feminina, era uma gravação.
“O sistema de autodestruição foi ativado. Todos devem evacuar imediatamente. O sistema de
autodestruição foi ativado. Todos devem...”.
“Aquele desgraçado”. Claire berrou, e Steve a acompanhou, xingando o engomadinho esquisito em
silêncio – mas apenas por dois segundos. Eles tinham que ir para o avião.
“Vamos”. Steve disse, pegando o rifle de Alfred e tocando as costas de Claire, apressando−a para
a porta. O Centro Carcerário e de Treinamento da Umbrella em Rockfort – lugar onde Steve sofreu
por sua mãe e onde perdeu seu pai, onde os últimos descendentes da linhagem dos Ashford
ficaram insanos e onde os inimigos da Umbrella desencadearam o começo do fim – estava para ir
pelos ares, e ele particularmente não queria estar por perto.
Claire não precisava de explicações para isso. Juntos, eles atropelaram a porta e correram,
deixando para trás o que havia sobrado das bizarras fantasias de Alfred.
Depois de ativar a seqüência de destruição em sua casa privativa, Alfred e Alexia correram para a
sala de controle principal, Alexia assumindo os complicados controles da mesa. Por toda parte ao
redor deles, luzes piscavam e o computador ditava instruções sob as sirenes. Estava uma
confusão, irritante para ela, mas certamente aterrorizante para os assassinos.
Alexia tinha um plano de fuga, uma chave para o hangar subterrâneo onde os jatos ficavam, mas
ela tinha que ter certeza de que os pirralhos ficariam para trás. Até ela ter certeza de que
morreriam, ela e Alfred não podiam partir.
Ah, eles vão morrer, ela pensou, sorrindo, esperando que nenhum deles fosse pego por uma
explosão direta. É melhor que fiquem feridos por estilhaços, que morram lentamente em tormenta...
ou que talvez fossem caçados e mortos pelos predadores sobreviventes da ilha, engolidos em grandes pedaços ensangüentados.
Alexia ligou o sistema de câmeras da mansão de recepção, ansiosa para ver Claire e seu pequeno
cavaleiro cobertos de medo, ou gritando de pânico. Ela não viu nada disso; a mansão estava vazia,
as luzes e sons do desastre iminente inúteis, alertando corredores vazios e salas fechadas.
Eles ainda devem estar na nossa casa, assustados demais para fugir, esperando
desesperadamente que a destruição não os atingisse... não iria, claro, independente do que
acontecesse na ilha, a casa não seria afetada –
Alexia os achou depois e sentiu seu bom humor desaparecer, seu ódio fervendo para raiva. O
monitor os mostrou na doca do submarino, o rapaz girando o timão. O céu estava começando a
clarear, mudando de preto para azul escuro, a fraca luz da lua se pondo definindo suas traiçoeiras
e furtivas silhuetas.
Não. Não havia chance para eles. Verdade, o avião de carga ainda estava atracado e a ponte
levantada, mas Alfred tinha jogado os emblemas no mar após o ataque aéreo. Eles não tinham a
mínima chance...
... só que os emblemas estavam no meu quarto.
“Não!”. Alexia gritou, socando a mesa de controle com o punho, furiosa. Ela não passaria por isso,
não iria! Ela os matará em pessoa, arrancar seus olhos e rasgá−los ao meio!
Tente o Tyrant, Alfred cochichou em seu ouvido.
A raiva de Alexia virou paixão, alegria. Isso. Isso, o Tyrant ainda estava em estase! E era
inteligente o bastante para seguir instruções, desde que fossem simples, direto ao ponto.
“Vocês não vão escapar!”. Alexia gritou, gargalhando, girando de prazer e vitória... e depois de um
momento, Alfred se juntou à comemoração, incapaz de negar o quanto profundamente gratificante
seria, enquanto mudava seu discurso para a contagem final.
O caminho para o avião foi uma sujeira − a corrida violenta para fora da casa dos Ashford, a
escorregadia descida da colina molhada de chuva até a recepção e escada abaixo, outra escada
até a doca onde Steve chamou o submarino. Cada passo do caminho parecia acelerar os alarmes,
a contínua voz lembrando−os do óbvio.
Enquanto saíam do submarino, a insensível voz feminina começou uma nova mensagem – e
apesar das palavras não serem exatamente iguais, Claire teve uma súbita lembrança de Raccoon,
de estar parada na plataforma do trem enquanto outro anúncio de autodestruição anunciava que o
fim estava próximo.
“O sistema de destruição está agora ativo. Faltam cinco minutos para a detonação inicial”.
“Bom, isso é uma droga”. Steve disse, pela primeira vez desde que saíram da mansão. E apesar
do medo de não conseguirem fugir a tempo, da exaustão e das terríveis lembranças que ela levaria
consigo, a expressão facial de Steve a fez achar o comentário engraçado.
É uma droga mesmo, não é?
Claire começou a rir, e apesar de ter tentado parar imediatamente, ela não conseguiu. Parecia que
até a morte iminente não conseguiria fazer a risada parar. Isso ou a histeria acabou sendo mais
divertido do que imaginava... e o olhar no rosto de Steve não estava ajudando.
Histérica ou não, ela sabia que precisava andar. “Vai”. Ela falou apertado, empurrando−o para
frente.
Ainda olhando para ela como se tivesse perdido o controle, Steve agarrou seu braço e a trouxe
consigo. Depois de alguns degraus cambaleantes – e perceber que a risada dela poderia acabar
matando os dois – Claire conseguiu se conter.
“Eu estou bem”. Ela disse, respirando fundo, e Steve a soltou, um olhar de alívio em seu rosto
pálido.
Eles correram algumas escadas abaixo e através de um túnel submerso, e assim que alcançaram
a porta no final do corredor, o computador lhes informou que outro minuto havia passado, que
restava apenas quatro minutos. Isso tinha acabado com qualquer chance de começar a rir de novo.
Steve abriu a porta e correu para a direita, ambos saltando sobre o trio de cadáveres, todos
contaminados, todos com uniforme da Umbrella. Claire pensou em Rodrigo, e seu coração apertou.
Ela esperava que ele estivesse seguro onde estivesse, e que estivesse em condições de fugir do
complexo... mas não podia se enganar quanto suas chances. Ela o desejou sorte silenciosamente,
e seguiu Steve através de outra porta.
Sua jornada havia terminado numa grande e escura caverna, um hangar para aviões aquáticos, e a
esperança de fuga parada bem na frente deles – um pequeno avião de carga flutuando logo após a plataforma que estavam. Não muito longe à direita, a luz azul do amanhecer definia a passagem
para o mar.
“Ali”. Steve disse, e correu para o pequeno elevador no fim da plataforma, um com um painel de
controle. Claire o alcançou, tirando os três emblemas da bolsa.
“A seqüência de autodestruição está agora ativada. Restam três minutos para a detonação inicial”.
O painel de controle tinha três espaços hexagonais. Steve pegou duas das peças e juntos, eles
encaixaram as três.
Ah, Deus, por favor, por favor , por favor –
Deu para ouvir um click – as luzes do painel acenderam, e um profundo ruído veio do maquinário.
Steve riu, e Claire percebeu que estava prendendo a respiração quando repentinamente começou
a respirar de novo.
“Agüente firme”. Steve disse, e varreu sua mão sobre o painel, apertando tudo.
Com um pequeno chacoalho, o elevador começou a abaixar na diagonal, e a porta de cantos
arredondados do avião abriu, expondo um pequeno conjunto de degraus. Claire sentiu que tudo
parecia acontecer em câmara lenta, um tipo de surrealidade enquanto o elevador encontrava−se
com a base dos degraus, chacoalhando de novo; era difícil imaginar que estava finalmente
acontecendo, que estavam saindo da ilha amaldiçoada da Umbrella.
Que se dane acreditar, apenas vá!
Eles entraram no avião, Steve correndo para iniciar o vôo enquanto Claire verificava rapidamente o
resto do lugar − uma grande e praticamente vazia área de carga constituía a parte de trás do avião,
separada da cabine por uma porta a prova de som. Não havia muito conforto além de um armário
atrás do assento do piloto e um armário embutido que continha dois galões de água, para o alívio
de Claire.
Apesar de abafado, eles ainda podiam ouvir o alerta soando pelo hangar enquanto Steve achava
os controles da porta, a mesma levantando e trancando assim que a contagem marcava dois
minutos. Claire correu até ele, e seu coração realmente começando a bater; dois minutos não era
muito.
Ela queria ajudar, perguntar o que podia fazer, mas toda a atenção de Steve estava no painel. Ela
lembrou o que ele disse sobre habilidades de vôo duvidosas, mas sendo que não possuía
nenhuma, ela ficou quieta. Os segundos passaram e ela teve que se conter para não tagarelar,
para não distraí−lo.
Os motores começaram a ligar, o som aumentando e estabilizando, os nervos de Claire também –
e quando a voz feminina falou de novo, Claire se viu agarrando a cadeira de Steve por trás, seus
dedos brancos.
“Resta agora um minuto até a detonação inicial, 59... 58... 57...”.
E se for complicado de mais e ele não conseguir, Claire pensou, certa de que estava para explodir.
“44... 43...”
O Steve ergueu−se de repente, agarrando uma alavanca – olhando para a direita e empurrando−a
para frente antes de segurar o manche. O som do motor ficou mais alto, e bem devagar, o avião
começou a andar.
“Está pronta?”. Ele perguntou, um sorriso em sua voz, e Claire quase caiu de alívio, seus joelhos
fracos.
“30... 29... 28...”.
O avião passou pela baixa ponte de metal, perto o bastante para ver as ondas. Houve uma forte
pancada acima, como se a ponte tivesse acertado o avião, mas eles continuaram em movimento,
devagar e constante.
“17... 16...”.
Steve manobrou em mar aberto, a contagem chegando a dez... e então ficou longe demais para
ser ouvida assim que os motores ficaram bem mais altos enquanto ganhavam velocidade, o suave
passeio ficando turbulento enquanto começavam a voar sobre as ondas. Havia luz o bastante para
Claire ver a costa da ilha à direita, rochosa e traiçoeira. Tinha baixos penhascos cercando a maior
parte de Rockfort, levantando−se das águas como as paredes de um forte.
Logo depois que Steve puxou o manche para trás, para levantar o veloz avião, Claire viu as
primeiras explosões, o som alcançando−os um segundo depois – uma série de profundos booms
que se distanciavam rapidamente, desaparecendo enquanto Steve levantava−os gentilmente.
Assim que o avião de carga decolou, gigantes nuvens de fumaça preta subiram ao céu matutino,
formando sombras sobre o complexo desintegrado. Chamas estavam por toda parte, e apesar de não conhecer o layout do lugar, pensou ter visto a casa particular dos Ashford sendo engolida pelo
fogo, uma imensa luz laranja atrás do que tinha sobrado da mansão de recepção. Ainda havia
estruturas de pé, imensos pedaços estavam faltando, reduzidos a escombros e poeira.
Claire respirou fundo e exalou devagar, sentindo músculos amarrados começarem a desatar.
Estava acabado. Outro complexo da Umbrella perdido, por causa de uma integridade científica que
continuavam a violar, por causa da ausência de moral que parecia ser um elemento fundamental
nas normas de uma companhia. Ela esperava que a alma torturada e distorcida de Alfred Ashford
pudesse finalmente pudesse ter achado um pouco de paz... ou seja lá o que realmente merecia.
“Então, para onde?”. Steve perguntou casualmente, e a tirou de seus pensamentos, Claire se
afastou da janela lateral, sorrindo, pronta para beijar o piloto.
Steve encontrou o olhar dela, sorrindo – e enquanto olhavam nos olhos, os segundos esticaram,
pela primeira vez ela percebeu que ele não era uma criança. Nenhuma criança olharia para ela do
modo como ele a estava olhando... e apesar de sua decisão de não encorajá−lo, ela não desviou o
olhar. Ele era atraente, mas ela tinha passado as últimas doze horas pensando nele como um
irmão insolente – não exatamente fácil de se livrar, mesmo se quisesse. Por outro lado, depois de
tudo o que passaram, ela se sentia íntima dele, de modo sólido, forte, uma afeição que parecia
perfeitamente natural...
Claire interrompeu o contato visual primeiro. Eles estavam livres e a salvo durante um minuto e
meio; ela queria digerir aquilo um pouco antes de seguir adiante.
Steve voltou sua atenção para os controles, corado – e houve uma pancada no teto, como da
última vez no hangar.
“O que foi isso?”. Claire perguntou, olhando para cima como se esperasse algo atravessar o metal.
“Não faço a mínima idéia”. Steve disse, franzido. “Não há nada lá em cima –“.
CRUUNCH!
O avião parecia balançar no ar e Steve tentou compensar, enquanto Claire olhava instintivamente
para trás. O som destrutivo vinha da área de carga.
“A comporta abriu”. Steve disse, apertando uma pequena luz piscando no painel, e depois outro.
“Eu não consigo fechá−la”.
“Eu vou até lá”. Claire disse, e sorriu com a triste expressão de Steve. “Apenas mantenha a gente
no ar, tá bom? Eu prometo não pular”.
Ela virou para a porta, e assim que Steve olhou para frente, ela pegou o rifle atrás do assento do
piloto, aquele que Alfred tinha derrubado. Ela ainda tinha a semi−automática, mas a mira laser
significava precisão − e sendo que não queria encher o avião de buracos, a .22 era a melhor
escolha. Teve um monstro ou dois na ilha, e podem estar com um passageiro clandestino, mas não
queria que Steve se preocupasse, ou se envolvesse. Ambos precisavam dele no comando.
Seja lá o que for, eu vou te que resolver, ela pensou firmemente, tocando a maçaneta. Ela
provavelmente estava subestimando um probleminha mecânico, uma placa solta do teto e uma
dobradiça quebrada. Ela abriu a porta –
– e entrou, batendo a porta antes que Steve ouvisse o barulho, demais para um pequeno –
A comporta estava faltando, arrancada de lá, nuvens e céu passavam incrivelmente rápido.
Confusa, Claire deu um passo adiante – e viu qual era o problema.
Mr. X, ela pensou de repente, lembrando da monstruosa coisa em Raccoon, o perseguidor
implacável de sobretudo escuro – mas a enorme criatura abaixada perto dos trilhos hidráulicos não
era igual. Era humanóide, gigante e careca como o monstro X, sua pele semelhante, quase um
cinza metálico escuro – porém, era mais alto e musculoso, como um fisiculturista de dois metros e
meio de altura, seus ombros extremamente largos, seu abdômen detalhado com músculos. Não
tinha sexo, um calombo em sua virilha, e as mãos não eram humanas, eram bem mais letais. Seu
punho esquerdo era uma massa redonda de carne maior que a cabeça de Claire inteira, sua mão
direita era uma mistura de carne e facas curvas, duas delas com pelo menos trinta centímetros.
E não está usando um casaco, ela pensou enquanto o monstro virava seus brancos para ela antes
de olhar para cima e gritar, uma explosão de fúria e sede de sangue.
Aterrorizada, mas determinada, Claire levantou sua agora ridícula arma enquanto a criatura ia para
a ela, e colocou o ponto vermelho em seu olho direito incolor. Ela apertou o gatilho –
– e ouviu o clique seco do pente vazio, ensurdecedoramente alto mesmo em meio aos ferozes
ventos que passavam pela porta danificada.
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Resident evil 6# Código Verônica
HorrorEm sua luta contra a Umbrella, Claire Redfield invade um prédio da companhia e é capturada, sendo levada presa à Ilha Rockfort, palco de mais um incidente biológico. No sexto livro de sua série, S.D. Perry relata as aventuras da personagem, seu irmã...