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Tudo estava perfeito.
As câmeras estavam dispostas para que pudesse ver de quatro ângulos diferentes, todas
coloridas, a “arena de batalha” bem iluminada, sua poltrona confortável. Ele só se arrependia de
não ter retornado para sua mansão privada e assistir o entretenimento com Alexia ao seu lado. A
sala de controle do complexo de treinamento tinha câmeras que podiam ser movidas ao toque de
um botão, garantindo a melhor visão possível. Alfred sorriu, olhando Claire hesitando na porta, bem satisfeito com os frutos de seu plano. Ela o
perseguiu como previsto, caiu em sua armadilha sem nenhum esforço. Ele não esperava que ela
fosse atirar nele, mas devia ter sido previsto. E era verdade, isso fez a antecipação de sua morte
ainda mais doce, a adição de uma vingança pessoal à mistura.
Os OR1, uma bem sucedida B.O.W. criada especificamente para combate em campo, era um dos
favoritos de Alfred. A minhoca An3 era impressionante, com certeza, o Hunter 121 padrão era
rápido e letal, mas os OR1 eram especiais − a estrutura esquelética humana era visível,
principalmente na face e no tronco, dando−os a aparência clássica da Morte. O crânio deles
emergia sobre tendões sintéticos parecidos com cordas, como um cruel ceifador moderno. Eles
não eram só perigosos; sua aparência inspirava terror, no nível mais básico do instinto.
Os empregados da ilha o chamavam de Bandersnatches (membros elásticos), uma palavra sem
sentido de algum poema que se aplicava perfeitamente, considerando sua característica única e
funcionalidade. Havia trinta deles em Rockfort, metade deles em estase, apesar de Alfred só ter
contado oito deles desde o ataque –
– oh! Claire estava abrindo a porta.
Exaltado, Alfred voltou toda sua atenção para a garota, sua mão esquerda nos controles da
câmera, sua direita planando sobre o sistema de trancas da área de armazenamento.
Claire pisou no largo mezanino superior do galpão aberto de dois pavimentos, de arma na mão,
tentando olhar para todos os lados ao mesmo tempo. Alfred deu um zoom em seu rosto, querendo
apreciar seu medo, mas ficou desapontado por sua falta de expressões. Depois que decidiu não
estar em perigo imediato, ela só pareceu observar, nada mais.
Aí eu aperto este botão...
Alfred cacarejou, incapaz de conter sua empolgação, tocando de leve com seu indicador direito os
botões das comportas dos depósitos, um no mezanino e um beirando o elevador de carga no piso
inferior. Com seu capricho, Claire Redfield iria morrer. Verdade, ela não era importante, sua morte
tão insignificante quanto sua vida deve ter sido – mas era o controle que importava, seu controle.
E a dor, a esquisita tortura, o olhar em seus olhos ao perceber que sua existência está no fim...
Alfred controlou seu corpo tão forte como controlava sua vida, e se orgulhou da habilidade com a
qual controlou seus desejos sexuais, não sentir nada a não ser que queira – mas só de pensar na
morte de Claire o inspirava uma paixão que ia além da atração física, além das palavras, muito
além até do simples alcance de consciência humana.
Alexia sabe, Alfred pensou, certo de que sua linda irmã o estava observando, também, de que ela
entendia o que não podia ser explicado. Com a morte de Claire, eles ficariam o mais próximo que
duas pessoas podiam ficar; era a maravilha de seu relacionamento, o auge do legado dos Ashford.
Ele não podia se conter mais. Enquanto Claire olhava cuidadosamente para o centro do galpão,
Alfred trancou a porta atrás dela primeiro, selando sua rota de fuga – e então apertou o botão da
comporta do andar superior.
Instantaneamente, a fina porta de enrolar de metal abriu a menos de três metros dela – e enquanto
Claire cambaleava para trás, tentando se distanciar da ameaça desconhecida, um Bandersnatch
completamente maduro deu um passo para fora, pronto para atacar. Era linda, a criatura. Entre
dois e trinta e dois e sessenta metros de altura, sua face como a de uma caveira sorrindo, sua
cabeça abaixada e ameaçadora. A desproporcional parte superior do corpo carregando sua arma
principal – o braço direito, tão grosso quanto uma de suas pernas, mais comprido que a metade de
seu corpo ereto, a palma de sua mão grande o bastante para cobrir o peito de um homem. Seu
braço esquerdo era murcho, pequeno e deformado, mas o Bandersnatch só precisava de um.
Alfred esperava alguma reação dela, um palavrão ou um grito, mas permaneceu quieta enquanto
alcançava uma distância segura. Ela abriu fogo quase que imediatamente.
O Bandersnatch roncou, um berro áspero e gutural antes de colocar seu truque em ação. Alfred já
tinha visto dezenas de vezes, mas nunca se cansava.
O grande braço direito estendeu−se na direção de Claire, cerca de quatro metros, o músculos
construídos, os tendões elásticos e ligamentos esticando.
– e derrubou Claire no chão praticamente sem nenhum esforço, a garota se esparramando antes
que o braço do Bandersnatch voltasse à posição original.
Isso, isso!
Claire recuou sentada o mais rápido que podia, só parando quando suas costas encontraram a
parede. Alfred ampliou a imagem para ver que uma fina camada de suor tinha coberto seu rosto, e
mesmo assim não possuía expressões além de um intenso estado de alerta. Ela ficou de pé e correu junto à parede, velozmente, provavelmente não querendo ser jogada do mezanino.
Alfred sorriu, ignorando o desapontamento que a falta de terror dela o tinha trazido. Ela ficaria sem
parede em alguns segundos, encurralada no canto –
– e então uma série de golpes, acertando ela até a morte contra a parede... ou um simples agarrão
no pescoço dela, um aperto e um movimento para o lado... ou irá brincar com ela, arremessando
ela por aí como uma das bonecas da Alexia?
Alfred se curvou empolgado, mudando o ângulo de uma das câmeras, observando a garota
condenada erguer sua arma, mirando cuidadosamente apesar de sua infeliz posição –
– bam!
O bandersnatch gritou mais alto que os tiros, balançando a cabeça violentamente, fluidos escuros
escorrendo de sua face em movimento. Ele borrifou as paredes do mezanino com líquido, sangue e
outras coisas, tentando desesperadamente erguer o braço, para proteger ou aparar o ferimento.
Tudo aconteceu tão rápido, tão violentamente, era como olhar um gêiser explodir em um lago
calmo.
Os olhos. Ela mirou nos olhos.
Bam!
Claire atirou de novo, e de novo, e o Bandersnatch gritou de fúria e mais dor, ainda tentando
proteger sua cabeça ferida enquanto cambaleava em círculos... e então, para o espanto de Alfred,
a criatura foi ao chão, seus espasmos ficando cada vez menos urgentes, seu grito virando um
rouco protesto contra a morte.
Abalado com a descrença, Alfred finalmente viu uma emoção no rosto de Claire – dó. Ela andou
para perto da criatura e atirou mais uma vez, congelando os movimentos da criatura de uma vez
por todas. Depois ela virou e foi para a escada, como se tivesse acabado de sair de um almoço
entre amigas.
Não−não−não−não!
Isso estava errado, tudo errado, mas não tinha acabado, ainda não. Furioso, ele apunhalou o outro
botão, libertando a segunda criatura, a porta desenrolando atrás de uma pilha de caixas no nível
inferior.
Você não vai ter tanta sorte desta vez, ele pensou desesperadamente, ainda quase incapaz de
acreditar no que acabara de ver. Claire ouviu a segunda porta abrir, mas a pilha de caixas impedia
sua visão, escondendo a nova ameaça. Ela parou aos pés da escada, bem quieta, procurando a
exata fonte do barulho.
O segundo Bandersnatch saiu de sua jaula e sem esforço algum, subiu no topo da pilha de caixas
três metros acima – e sem Claire perceber, sua atenção intensamente fixada no canto escuro na
frente da escada.
O Bandersnatch saltou para ela. Claire o viu no último instante, tarde demais para sair de seu
caminho. A criatura envolveu sua cabeça com seus dedos musculosos e a levantou, estudando ela
como um gato estuda um camundongo.
Ou um rato, Alfred pensou, algumas de suas alegrias voltando ao ver a garota soltando a arma e
lutando para se libertar, agarrando a pega de aço do OR1 com suas mãos em pânico –
– e a concentração de Alfred foi interrompida pelo som de vidro quebrando em algum lugar fora
daquela câmera, e alguém estava atirando, a repentina fúria de barulho e movimento fazendo o
Bandersnatch gritar, soltando Claire.
O que é –?
A janela, Alfred respondeu a si mesmo, olhando com horror enquanto o jovem prisioneiro,
Burnside, saltou para o campo de visão da câmera, disparando dois revólveres ao mesmo tempo,
estourando a surpresa criatura – surpresa, e depois gritando de agonia quando Claire pegou sua
arma e juntou−se ao combate.
O Bandersnatch tentou atacar, seu braço girando na direção do novo agressor, mas foi
desencorajado pela enorme quantidade de balas colocadas em seu corpo, finalmente caindo num
dos caixotes. Morto.
Sem ter consciência da decisão, Alfred acionou os controles do elevador de carga, uma parte dele
lembrando que havia pelo menos mais um OR1 lá embaixo, junto com mais infectados. Os dois
jovens cambalearam quando o chão sob seus pés começou a descer, levando−os para o subsolo
do complexo de treinamento. Não havia câmeras funcionando lá, mas curtir a morte dos dois já não
era mais uma prioridade – desde que morram.
Não pode, não pode estar acontecendo. Os OR1 deviam ter despachado Claire e seu amigo sem esforço algum, mas estavam vivos e foram seus animais que sofreram e morreram. Ele tentou se
convencer de que os dois pereceriam no subsolo, que foi lacrado e isolado desde o primeiro
vazamento viral, mas de repente, nada mais parecia certo.
“Alexia”. Alfred suspirou, sentindo o sangue encher seu rosto, sentindo seu ser corar de vergonha.
Ele tinha que fazê−la ver que não foi sua culpa, que sua armadilha tinha funcionado perfeitamente,
que o impossível tinha acontecido... e que ele teria de aceitar a subseqüente frieza em seu olhar, o
tom de desapontamento em sua doce voz enquanto lhe dizia que entendia.
A única coisa que superava sua vergonha era o novo ódio que sentia por Claire Redfield,
queimando mais forte do que milhares de estrelas. Nenhum sacrifício seria grande demais para
garantir o tormento de Claire, o dela e de seu cavaleiro de armadura brilhante.
Até que os dois ofereçam penitências de carne e sangue, Alfred não descansaria. Ele jurou.
“Steve, do outro lado”. Claire disse no instante que a plataforma de carga começou a descer. Steve
acenou. Claire recarregou a arma e Steve subiu em duas caixas, ambas as Lugers erguidas. Como
se por um acordo silencioso, nenhum deles falou enquanto o elevador descia, ambos olhando
atentamente para o que viria a seguir.
Ele salvou minha vida, Claire pensou, vendo trilhos engraxados passando pela parede, sangue
ainda pulsando em suas veias de quando percebeu que iria morrer. E Steve Burnside, que tinha
considerado ser bem intencionado, mas perturbado e meio incompetente, tinha impedido isso de
acontecer.
Mas ele pode apenas ter adiado o inevitável...
Ela não sabia o que Alfred tinha em mente agora, mas não queria conhecer mais nenhum de seus
“amigos”. Duas aberrações com cara de caveira e braços elásticos já foram o suficiente. Ela foi
incrivelmente sortuda de escapar com alguns arranhões e um torcicolo.
Claire esperava que o elevador fosse deixá−los em algum depósito de B.O.W.s, mas se
desapontou no bom sentido. O amplo elevador−plataforma apenas parou. Só havia uma saída
visível, e apesar de não ter ilusões sobre a segurança do outro lado da porta, parecia que não
estavam em perigo no momento.
“Ei, Claire, veja isso!”.
Steve desceu das caixas, segurando o que parecia ser um par de metralhadoras, pequenas,
escuras, e aparentemente mortais com pentes compridos.
“Estava em cima de uma das caixas”. Steve disse feliz. Ele já tinha colocado as Lugers douradas
no cinto. “Nove milímetros, igual às Lugers e as armas dos guardas. Ah, antes que me esqueça,
toma”.
Ele procurou em um dos bolsos da calça camuflada e tirou três pentes para a M93R. “Eu vasculhei
alguns guardas voltando da doca. Eu prefiro as Lugers, e agora que eu achei essa...”. Ele levantou
as armas, sorrindo. ‘Eu não preciso de equipamento extra. Pode ficar com a arma também”.
Claire aceitou os pentes e a arma agradecida, sem saber como agradecer pelo que ele tinha feito,
determinada a tentar.
“Steve... se você não tivesse aparecido naquela hora...”.
“Esquece,”. Ele disse, dando com os ombros. “estamos quites agora”.
“Bom, obrigado mesmo assim”. Claire disse, sorrindo calorosamente.
Ele retribuiu o sorriso, e ela viu um piscar de interesse em seu olhar, uma sinceridade bem
diferente de seu comportamento anterior. Incerta sobre o que fazer, por ele ou por si mesma, ela
continuou a conversação.
“Eu pensei que você fosse esperar na doca”. Ela disse.
“Não era uma doca de verdade”. Steve disse, e contou o que aconteceu desde que se separaram.
O avião era uma ótima notícia; ter que resolver o bizarro fetiche por enigmas da Umbrella não era
tão bom.
“... e quando eu não as achei, eu pensei em ver se você tinha achado algo parecido”. Ele terminou,
balançando os ombros de novo, forçando para não parecer frio. “Foi quando eu ouvi os tiros. E
você, algo interessante? Além de se encontrar com alguns dos monstros da Umbrella?”.
“Eu diria, você sabe algo sobre Alfred Ashford?”.
“Apenas que ele e a irmã são totalmente birutas”. Steve disse prontamente. “e que os guardas tem
– tinham medo dele. Eu sabia, o modo como eles evitavam falar sobre ele. Ele mandou seu próprio
secretário para a enfermaria, eu ouvi dizer. Havia um médico perturbado trabalhando lá, acho,
muitos prisioneiros foram levados para a enfermaria e nunca voltaram. Não precisa ser gênio, entende?”.
Claire acenou, fascinada apesar de tudo. “E a irmã dele?”.
“Eu nunca ouvi muito sobre ela, só que ela é do tipo reservada. Eu acho que seu nome é Alexia...
Alexandra, talvez, eu não lembro. Por que?”.
Claire o contou sobre seus encontros com Alfred, seguido por uma sinopse de onde esteve e o que
tinha achado. Quando ela mencionou que tinha o medicamento que estava procurando, Steve fez
cara feia – e depois piscou, suas expressões claramente demonstrando uma mudança de
consciência.
“Talvez esse cara da Umbrella –“.
“Rodrigo”. Claire completou.
“Certo, que seja,”. Steve disse impaciente. “talvez ele saiba de algo sobre as peças−chave. Onde
elas estão”.
Boa idéia. “Seria um saco vasculhar a ilha inteira, não é?”. Claire disse. “Você está a fim de uma
viagem até a prisão? Se é que conseguiremos sair daqui, né?”.
“Ah, eu vou abrir caminho”. Steve disse sem nenhuma dúvida em sua voz. “Deixe essa parte
comigo”.
Claire abriu a boca para falar dos efeitos negativos da superconfiança, especialmente quando a
Umbrella está envolvida, mas fechou boca de novo. Talvez foi a confiança em si mesmo que o
trouxe até aqui – que por não aceitar a possibilidade da derrota, ele estaria assegurando a si
mesmo uma vitória.
Bom na teoria, ruim na prática. Ela estaria lá para dá−lo cobertura, no mínimo.
“Nós estávamos no primeiro andar do complexo de treinamento,”. Ele continuou. “o que significa
que estamos no subsolo... sei por causa da minha –“.
Steve balançou a cabeça, frustrado por algum motivo, mas antes que pudesse perguntar, ele
continuou como se nada tivesse acontecido.
“Tem uma sala da caldeira, e uma área do esgoto... seguiremos esse caminho, basicamente”. Ele
disse apontando para a porta.
Claire decidiu não falar nada sendo que aquela era a única porta, ela já tinha chegado àquela
conclusão. “Estou logo atrás de você”.
“Fique perto”. Steve disse curto e grosso, indo para a porta e olhando sobre o ombro, tentando
parecer durão, seus dentes e olhos apertados. Claire ficou presa entre irritação e gargalhadas,
finalmente decidindo que aquilo era aceitável. Então ele estava abrindo a porta, e a realidade de
sua situação voltou para ela, flutuando no cheiro de tecido gangrenoso. Ela parou de se preocupar
com as pequenas coisas, concentrando−se na necessidade de sobrevivência.
***
O que Steve sabia sobre armas podia ser resumido em cinco segundos, mas sabia do que gostava.
E ele decidiu na hora ao puxar o gatilho de seu mais novo achado que aquela era a arma.
Ele saiu da plataforma de carga pronto para chutar traseiros, e viu sua chance a menos de 3
metros de distância. Havia cinco deles ao todo – bom, cinco e meio, incluindo a bagunça se
arrastando no chão perto das prateleiras – e tudo o que tinha que fazer era tocar o gatilho, e então
se encontrou lutando como nunca para evitar que a arma voasse de suas mãos.
Bam bam bam bam bam bam bam –
Ele varreu a arma para a direita e para a esquerda, soltando o gatilho quando o último cérebro
suíço fez companhia ao seu crânio suíço. Tudo acabou em segundos, tão rápido que parecia
surreal – como se ele tivesse tossido e o prédio veio abaixo.
Claire tinha cuidado da pizza no chão durante o fuzilamento, e quando ele virou para ela, triunfante,
ele ficou um pouco surpreso ao ver que ela não estava sorrindo... até ele pensar por um segundo e
começar a sentir vergonha. Até onde ele sabia, eles não eram mais pessoas. Ele sabia que se
fosse infectado, gostaria que alguém o matasse, para impedi−lo de ferir mais alguém – sem falar
que isso lhe garantiria uma morte rápida, melhor do que apodrecer por aí.
Mas eles já foram humanos. O que tinha acontecido com eles era totalmente péssimo e injusto,
sem dúvida.
E talvez ele devesse ser mais respeitoso – mas por outro lado, a arma era extremamente legal, e
eles eram zumbis. Eles eram cobaias perfeitas, não uma que gostaria de brincar por aí, mas
decidiu que poderia ao menos não rir disso na frente de Claire. Ele não queria que ela pensasse que ele era um idiota com sede de sangue.
Ele apontou para a porta à frente e à direita, bem certo de que estavam na direção certa. Segundo
ele, o caminho levaria até bem perto do pátio frontal do complexo de treinamento.
Claire acenou, e Steve liderou mais uma vez, abrindo a porta e a cruzando. Eles estavam parados
no topo de um curto lance de escada que descia para a área da caldeira. Era uma sala cheia de
grandes e velhos maquinários barulhentos, bom, Steve não sabia como uma caldeira realmente se
parecia. Havia quatro zumbis vagando entre eles e a saída, alguns degraus acima do outro lado da
sala assobiante.
Steve ergueu a metralhadora e estava para atirar quando Claire tocou seu braço, se aproximando
dele.
“Olhe”. Ela disse, e apontou a 9mm para o grupo de zumbis – estranhando, ele viu que ela mirava
baixo para algo atrás dos zumbis –
– e pow, BOOM, três criaturas caíram, queimadas e soltando fumaça. Atrás deles, o que restou do
que parecia ser um barril de combustível, apenas entalhes retorcidos de metal envoltos por fumaça
tóxica. O quarto zumbi foi atingido, mas não tão forte. Claire o derrubou com um único tiro na
cabeça antes de falar de novo.
“Isso economiza munição”. Ela disse, e passou por ele para descer os degraus. Steve a seguiu,
levemente intimidado, bancando o descolado, como se já tivesse pensado nisso. Se tinha uma
coisa que sabia sobre garotas, era que elas não gostavam de caras que resmungavam feito
patetas.
Não que eu ligue para o que ela pensa de mim, ele pensou consigo. Ela é apenas... até que legal,
e só.
Claire chegou na próxima porta e esperou ele chegar, acenando estar pronto. Assim que ela abriu
a porta, eles relaxaram, ele viu seus ombros caindo e sentiu seu coração batendo de novo. Uma
passagem escura feita de pedras, totalmente deserta, um trecho sem parede adiante à direita.
Havia água corrente em algum lugar abaixo, e um estreito portão bem à frente, igual àqueles
elevadores antigos.
“Isto está começando a parecer fácil demais”. Claire disse suavemente.
“É”. Steve suspirou. Mais uma armadilha do parquinho maligno do Alfie.
Eles estavam na metade do caminho quando ouviram o eco vindo de algum lugar abaixo da água
escura – um estranho e alto, agudo e inumano garganteio, mas não era de animal, também. Soou
bastante zangado – e pelos sons de movimento na água, estava se aproximando.
Steve já estava pronto para atirar quando Claire agarrou seu braço e começou a correr,
praticamente arrancando−o do chão. Eles estavam no elevador em dois segundos, Claire
empurrando a grade para o lado e jogando Steve no pequeno elevador, saltando logo em seguida
e fechando a grade.
“Tá bom, caramba, não precisa empurrar”. Steve disse, esfregando o braço indignado.
“Desculpe”. Ela disse, jogando uma mecha de cabelo atrás da orelha. “É só que – eu já ouvi aquele
som antes. Hunters, devia ser esse nome, péssima notícia. Haviam um monte deles soltos em
Raccoon”.
Ela sorriu tremendo, o que de repente fez ele querer abraçá−la, ou segurar sua mão. Mas não fez
nada.
“Traz algumas lembranças ruins, sabe?”. Ela disse.
Raccoon... foi o lugar bombardeado há alguns meses, se ele se lembrava bem, bem antes de ter
vindo para Rockfort. Foi o próprio chefe da polícia que fez isso. “Umbrella tinha algo a ver com
Raccoon?”.
Claire pareceu surpresa, mas sorriu um pouco, voltando sua atenção para os controles do
elevador.
“Longa história. Eu conto quando sairmos daqui. Então, primeiro andar?”.
“Sim”. Steve disse, mas mudou de idéia. “Na verdade, talvez nós devêssemos ir para o segundo.
De lá poderemos ver o pátio de cima, o que há nele”.
“Sabe, você é mais esperto do que parece”. Claire disse provocando, apertando o botão. Steve
ainda estava pensando numa resposta quando o elevador parou, e Claire abriu a grade.
Havia uma porta automática à direita, então foram para a esquerda, o curto corredor vazio. Havia
apenas uma porta naquela direção, também, mas tiveram sorte, a maçaneta girou quando Claire
tentou.
Novamente, nenhuma surpresa. A porta deu num velho mezanino empoeirado de madeira, dando vista para uma grande sala cheia de tranqueiras – um jipe militar enferrujado, pilhas de velhos
galões de óleo e caixas quebradas. Parecia mais um depósito do que outra coisa, e apesar de bem
iluminado, havia vários montes de porcaria impossíveis de ver se estivessem lá embaixo. Apesar
de tudo, Steve ouviu barulhos arrastados.
Ele deu alguns passos à esquerda, tentando ver o canto sob o mezanino, e Claire seguiu. As
tábuas rangendo sob seus pés.
“Não parece muito firme –“. Claire começou a falar, e foi interrompida por um gigante craaack,
pedaços do assoalho voando e ambos caindo lá embaixo.
Droga –
Steve nem teve tempo para amortecer o impacto, tudo acabou muito rápido. Ele caiu de lado,
estalando o ombro, seu joelho esquerdo batendo em um pedaço de madeira.
Quase que imediatamente, uma pirâmide de barris vazios caíram atrás dele, batendo ocos no chão
– e Steve ouviu o gemido faminto do zumbi.
“Claire?”. Steve chamou, ficando de pé, procurando ela e o zumbi. Lá estava ela, no meio dos
barris, ainda no chão, esfregando o calcanhar. Seu revólver estava a uns três metros dela. Steve
viu seus olhos arregalarem e acompanhou seu olhar, um único zumbi indo para ela –
– e tudo o que pôde fazer foi olhar, seu corpo de repente a milhões de quilômetros de distância.
Claire disse algo, mas ele não conseguiu ouvir, concentrado demais no contaminado. Era um
homem grande e gordo, mas alguém tinha arrancado parte de seus intestinos. Os ferimentos
abertos e grudentos em sua barriga estavam pingando, a camiseta escura ainda mais escura com
a camada de sangue grudada no tecido. Seu rosto estava cinza e seus olhos vazios, como todos
eles, e tinha mordido a própria língua ou a comido – sua boca suja de sangue.
Claire disse outra coisa, mas Steve lembrou de algo, uma súbita e vívida memória tão real que foi
quase como reviver a experiência. Ele tinha quatro ou cinco anos quando seu pai o levou para seu
primeiro desfile, um desfile de ação de graças. Ele estava sentado nos ombros do pai, vendo os
palhaços passarem, cercado por pessoas gritando bem alto, e ele tinha começado a chorar. Ele
não se lembrava o porquê; mas ele lembrava que seu pai estava olhando para cima, seus olhos
preocupados e cheios de amor. Quando ele perguntou o que estava errado, sua voz foi tão familiar
e amorosa que Steve envolveu os bracinhos no pescoço do pai e escondeu o rosto, ainda
chorando, mas sabendo que estava seguro, que não estaria em perigo enquanto seu pai o
estivesse segurando –
“Steve!”.
Claire praticamente gritou seu nome – e ele viu que o zumbi estava quase em cima dela, seu
dedos cinza fechando em volta do seu colete, erguendo ela até sua boca sangrenta.
Steve gritou, também, abrindo fogo, o trovão das balas rasgando o rosto e corpo de seu pai,
derrubando ele para longe de Claire. Ele continuou atirando, continuou gritando até seu pai
congelar no chão e as balas acabarem, apenas cliques secos vindos da arma, e então Claire
estava tocando seu ombro, virando−o enquanto ele chamava por seu pai, chorando.
Eles sentaram por alguns minutos. Quando ele conseguiu falar, ele falou sobre o assunto,
abraçando os joelhos e de cabeça abaixada. Falou sobre seu pai, que tinha trabalhado para a
Umbrella como motorista, e foi pego tentando roubar a fórmula de um de seus laboratórios. Ele
falou sobre sua mãe que foi baleada por um trio de soldados da Umbrella em sua própria casa,
sufocando e sangrando e morrendo no chão da sala quando Steve voltou da escola. Os homens
levaram Steve e seu pai para Rockfort.
“Eu pensei que ele tivesse morrido no ataque aéreo”. Steve disse, enxugando os olhos. “Eu queria
que se sentisse mal sobre isso, mas só estava pensando na mamãe... mas eu não queria que ele
morresse, não queria, eu... eu amava ele também”.
Dizer isso em voz alta fez ele começar a chorar de novo. Os braços de Claire estavam ao redor
dele, mas ele mal os sentia, tão triste que achou que fosse morrer. Ele sabia que precisava se
levantar, ele tinha que achar as chaves e fugir com Claire, mas nada disso parecia importante
agora.
Claire ficou quieta na maior parte do tempo, apenas ouvindo e confortando, até que levantou e
disse para ele ficar onde estava, que voltaria em breve para assim partirem. Isso era bom, ele
queira ficar sozinho. Ele estava mais exausto do que jamais esteve, tão cansado e pesado que não
queria se mover.
Claire foi embora, e Steve decidiu que deveria procurar os brasões, em breve, assim que parasse
de tremer.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora