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Algo estava muito, muito errado no complexo da Umbrella na Antártida, mas Chris não sabia o que
era.
No quinto nível da escura e deserta base, dezenas de metros abaixo da neve, Chris parou na
frente do que parecia ser uma grande mansão feita de tijolos brancos. Uma fonte atrás dele, vasos
de plantas, até um carrossel decorado. Ele tinha sido conduzido até lá, presumivelmente porque
alguém queria que ele entrasse, mas ele não sabia quem ou o porquê.
Seus instintos diziam para sair de lá, mas ele os ignorou. Ele precisava. Não sabia se era um
animal indo para o abate, ou se estava sendo levado para Claire. Desde que pousou o jato no
hangar, ele foi guiado durante cada passo do caminho – entrando em corredores e ouvindo portas
trancando atrás dele, outras abrindo à sua frente... duas vezes, ele encontrou jóias no frio chão de
cimento, apontando numa direção em particular, e uma vez, depois de fazer uma curva errada,
todas as luzes se apagaram. Elas acenderam de novo quando ele voltou para o caminho “correto”.
Já foi estranho bastante achar o complexo depois de cruzar intermináveis quilômetros de gelo e
neve... e vê−lo pela primeira vez, surgindo das vazias planícies como uma miragem...
Mas ser atraído para algum lugar como um animal, sem saber o motivo...
Chris estava assustado, mais assustado do que queria admitir. Ele tentou parar, procurar armas ou
pistas, mas tudo se desligava, toda a porta trancava – exceto as que deveria seguir, claro. As
câmeras que deviam observar seus movimentos estavam tão bem escondidas que ele não viu
nenhuma delas... até parecia que seu pastor conhecia sua mente, sabia que sinais mostrá−lo para
seguir adiante. A princípio ele achou que fosse Wesker, que tudo seria uma armação para
capturá−lo – mas por que se preocupar? Ele podia ter estrangulado Chris na ilha se quisesse. Não,
ele estava sendo guiado por algum motivo, e parecia não ter escolha senão continuar... a não ser
que não quisesse achar Claire.
Ele respirou fundo e abriu a porta da frente da mansão, entrando.
Era bonita, tão extravagante quanto a fachada sugeria, uma grande escadaria, pilares decorados –
e estranhamente familiar, apesar de ter levado um momento para entender, as cores e decorações
diferentes. Era a configuração – o mesmo desenho básico do saguão principal da mansão de
Spencer. Era surreal, mas tão perfeitamente harmoniosa no meio de todas as outras estranhezas
que ele nem se importou.
Chris parou por um momento, esperando, olhando em volta por outro sinal – e então ouviu o que
parecia ser uma risada vindo de trás da escada. Era a mesma risada que tinha ouvido no complexo
em Rockfort, aquela mulher.
O que ela disse? Algo sobre querer jogar?
Definitivamente se parecia com um jogo, como se ele fosse um personagem controlado por alguém
se divertindo – e estava começando a deixá−lo irritado. Ficar com medo só o deixava mais bravo.
Chris foi até a parede do fundo, pronto para confrontar a mulher, para exigir algumas respostas –
– Mas quando ele contornou um dos pilares decorados, viu que não havia ninguém lá.
“Mas que diabos é isso”. Ele murmurou, virando –
– e lá estava Claire. Presa com teia na parte de trás da escada, como se feita por uma aranha
gigante, de olhos fechados, sua cabeça abaixada.
Wesker não ficou surpreso ao achar partes do complexo antártico construídos à semelhança da
mansão de Spencer. A extravagância subterrânea era um incrível desperdício, mas como tinha reparado outras vezes, era coisa da Umbrella.
Tudo se resumia a intrigas, no começo. Depois, tudo virou um filme de espionagem ruim.
Oswell Spencer e Edward Ashford foram responsáveis pela criação do T−virus, mas esse foi sua
única realização; o resto era dinheiro jogado fora. Verdade, os complexos inteiros – com exceção
dos laboratórios, claro – eram uma cara piada, mantidos por homens velhos e crianças com pouca
imaginação e dinheiro demais.
Ciente de que Alexia o estava observando, Wesker fez seu tempo, indo de andar em andar,
eliminando alguns zumbis restantes. Ele não carregava uma arma, ele simplesmente agarrava
seus pescoços e os deixava asfixiar. Em duas ocasiões, ele foi visto por outras criaturas, ele as
sentiu, mas não as viu, e elas não atacaram, talvez o reconheceram como um deles.
Wesker continuou andando, certo de que Alexia o encontraria quando estivesse preparada. Ele
tinha deixado seu jato a uma certa distância do complexo, querendo ter certeza de que ela
entendia como ele era diferente – que os elementos não o afetavam, que era mais forte do que
cinco homens juntos, com melhor resistência e sentidos mais aguçados. Ele também queria que
ela o visse respeitando seu espaço, que ele seria paciente... e que estava extremamente
determinado.
Na hora que quiser, querida, ele pensou, andando por um frio corredor no quinto subsolo. Ele já
tinha passado por ali antes, mas sabia que a mansão estava lá, e suspeitava de que ela iria querer
recebê−lo em grande estilo. Mas não importava, ela podia jogá−lo numa cocheira e não faria
diferença, mas ele sabia que ela era provavelmente tão vaidosa e mimada quanto seu irmão.
Apesar de poderosa e brilhante, ela também era uma menina rica de vinte e cinco anos que passou
quinze desses anos dormindo.
Rica, bonita... travessa. Ela provavelmente ainda não entendia seus poderes, e não demoraria
muito, ele podia sentir. Ele sentiu a fria calmaria do corredor e avançou para a mansão novamente.
Claire acordou devagar, seu corpo dolorido segurado gentilmente por mãos quentes. Ela foi
deitada, a frieza do chão a acordando, e quando abriu os olhos, viu seu irmão. Sorrindo para ela.
“Chris!”. Ela sentou e o abraçou, ignorando seus músculos doloridos, tão feliz em vê−lo que por um
momento ela se esqueceu de tudo mais. Era Chris, era ele, finalmente!
“Ei, irmãzinha”. Ele disse, abraçando fortemente suas costas, o familiar som de sua voz fazendo−a
segura. Ela desejou que pudesse durar para sempre, depois de tanto tempo!
“Claire... eu acho que devemos sair daqui agora”. Ele disse, e pôde sentir a preocupação por trás
de suas palavras, lembrando−a de tudo que tinha acontecido. “Eu não sei exatamente o que está
acontecendo, mas não acho seguro”.
“Nós temos que achar Steve”. Ela disse, e começou a levantar, preocupada. Chris a ajudou,
segurando−a enquanto se equilibrava.
“Quem é Steve?”.
“Um amigo”. Claire disse. “Nós escapamos de Rockfort juntos, e íamos escapar daqui também –
mas algo... algum tipo de criatura agarrou o carro de neve e o arremessou –“.
Ela olhou para Chris, de repente, mais do que apenas preocupada. “Antes de eu apagar, eu o ouvi
dizer meu nome – ele está vivo, Chris, não podemos deixá−lo –“.
“Não vamos”. Chris disse firmemente, e Claire sentiu−se fraca de alívio. Chris tinha vindo, ele sabia
tudo sobre a Umbrella, ele encontraria Steve e os tiraria de lá.
Risada. Uma mulher estava rindo, uma alta e cruel risada. Chris saiu de trás da escada, Claire o
seguiu, ambos olhando para o andar de cima, e havia uma mulher, era –
Alfred?
Não, não era Alfred. E isso significava...
“Então existe uma Alexia”. Claire disse suavemente.
Ainda rindo, Alexia Ashford virou e foi embora, saindo por uma porta no topo da escada.
“Ela deve saber onde Steve está”. Chris disse, apressado, ao mesmo tempo que Claire pensou, e
então ambos estavam correndo, subindo, Claire o ultrapassando rapidamente, pronta para arrancar
a verdade da irmã de Alfred a tapas –
– e CRASH, atrás dela, a escada desmoronando, Claire rolando para o chão enquanto um
gigantesco tentáculo destruía o andar de cima, igual ao que tinha pego o veículo de neve –
– e então sumiu, recolhendo−se para a parede através do buraco que tinha criado, deixando um
lance de escada destruído para trás. O lance principal ainda estava inteiro, mas Claire estava presa
no andar superior. Ela teria que descer. “Claire!”.
Claire se ajoelhou, viu Chris lá embaixo, franzindo com uma dor em sua perna, no meio de madeira
e gesso quebrado.
“Você está bem?”. Claire perguntou, e Chris acenou – e então houve um grito, e ela sentiu seu
sangue gelar.
Veio da porta que Alexia tinha cruzado, e era de Steve, não havia dúvida na consciência de Claire.
Era de Steve, e ele estava sofrendo.
Não posso deixar Chris, mas –
“Chris, é ele”. Claire disse, trocando olhares entre seu irmão e a porta, sem saber o que fazer.
“Vá, eu te alcanço!”. Chris disse.
“Mas –“.
“Vá! Eu ficarei bem, tome cuidado!”.
Aterrorizada, Claire virou e correu, esperando não chegar tarde demais.
Wesker entrou no grande saguão da mansão subterrânea, e viu que não era mais grandiosa. Algo
tinha acontecido com a escadaria, parte do balcão superior em pedaços no chão.
Ele ouviu alguém se mexendo atrás de um grande pedaço do andar superior, ainda pendurado pelo
carpete, e deu um passo adiante –
– e lá estava ela. Parada no topo da escadaria usando um longo e escuro vestido, seu sedoso
cabelo loiro amarrado atrás de seu pálido e bonito rosto.
“Alexia Ashford”. Wesker disse, surpreso por estar ansioso agora que o momento tinha chegado.
Ela parecia humana, delicada e indefesa, mas ele sabia que não.
Faça seu arremesso, e faça direito.
Wesker limpou a garganta, dando um passo adiante e tirando seus óculos escuros. “Alexia, meu
nome é Albert Wesker. Eu represento um grupo que sempre admirou seu trabalho e que esteve
ansiosamente esperando por seu, é, retorno”.
Ela o observou indiferente, de cabeça levemente inclinada, postura ereta e rígida. E parecia uma
debutante em sua primeira festa social.
“E permita−me dizer que é uma honra pessoal conhecê−la”. Wesker disse sinceramente. “Meus
empregadores contaram tudo sobre você. Eu sei que seu pai a inoculou com os genes de sua
tataravó, Veronica – que com esse material genético, a verdadeira fundação da linhagem dos
Ashford, ele criou você e Alfred para serem gênios. Veronica certamente ficaria orgulhosa”.
“Eu sei que você criou o T−Veronica em sua homenagem...”. Cuidadoso, ele não deveria
mencionar o que aconteceu a seu pai, não estrague tudo. “... e que você é o único, é, ser vivo com
acesso ao vírus”.
“Eu sou o vírus”. Alexia disse friamente, estudando−o com olhos estreitos.
“Sim, claro”. Wesker disse. Deus, ele odiava essa porcaria diplomática, ele era péssimo nisso, mas
queria impressioná−la, impressioná−la com o quanto valiosa era para certos partidos interessados.
“Então”. Ele continuou, pensando no quanto fácil as coisas teriam sido se a tivesse achado em
estase. “Eu apreciaria muito – todos nós apreciaríamos muito se você concordasse em fazer uma
reunião particular com meus empregadores, para discutir uma aliança. Eu posso garantir que não
ficará desapontada”.
Ela esperou para ver se já tinha acabado – e então riu, bem alto. Wesker sentiu−se corado. Ficou
claro o que ela achava de seu pedido.
Certo. A gentileza acabou.
Wesker deu um passo à frente e esticou a mão. “Nós queremos uma amostra do T−Veronica”. Ele
disse, o disfarce sumindo de sua voz. “E eu insistirei que você o dê para mim”.
Quando ela começou a descer a escada, por um segundo ele pensou que ela o faria – mas então
ela começou a mudar, e ele parou de pensar. Ele só pôde olhar, seu medo voltando multiplicado
por dez.
Um degrau abaixo, e seu vestido se desfez em chamas, sob veias de luz dourada, a luz vindo de
seu corpo. Outro degrau, e sua pele mudou para um cinza−escuro, seu cabelo desaparecendo,
mechas de carne cinza crescendo do topo de sua cabeça até enquadrar−seu rosto. Sua nudez foi
transformada no próximo degrau, assim que uma armadura áspera cresceu sobre uma perna até a
virilha, enrolando para suportar um dos seios e cobrir seu braço direito. Ao chegar no primeiro
degrau, ela não se parecia mais com Alexia Ashford.
Sem fôlego, Wesker tentou tocá−la – e com as costas da mão, ela o acertou, e ele voou para perto da porta de entrada.
Que poder!
Ele se levantou, entendendo que força poderia ser útil, e se preparou para mover, para usar seu
próprio poder –
– e com um sorriso, ela abanou o braço e fogo se espalhou pelo chão de mármore, cercando−o.
Ela abaixou o braço e o jato de chamas cessou, mas o que estava no chão continuou queimando,
sobre pedra bruta.
Wesker soube aí que ele estava acabado. Se ela optasse por matá−lo, seria melhor para ele. Sem
outra palavra, ele virou e saiu de lá, correndo assim que a porta fechou atrás dele.
O metade−criatura foi embora, e segundos depois, o jovem rapaz o seguiu, acreditando ter
escapado sem ser visto. Alexia os observou correndo, impressionada e um pouco desapontada.
Ela esperava mais.
O metade−criatura não era ameaça, e ela decidiu se livrar dele. Sua arrogância a tinha agradado,
tanto quanto sua patética “oferta”. O jovem rapaz, por outro lado... corajoso e capaz de
auto−sacrifício, leal e cheio de compaixão. Fisicamente uma boa cobaia. E ele amava sua irmã,
que estava para morrer – serviria para uma interessante reação fisiológica.
Alexia decidiu criar um confronto para fazê−los interagir. Ela testaria uma nova forma para si e
veria se o sofrimento o tornaria mais forte, ou se provaria ser um dom –
Ela riu, imaginando uma forma apropriada para adquirir. Exceto por Alfred, ninguém mais sabia o
simples segredo do T−Veronica, que era baseado na química de uma formiga rainha. Ela tentaria
uma configuração insetóide, vivenciar as forças e vantagens que tal forma dispunha.
Sua decepção tinha passado. A garota e o garoto morreriam, e depois iria atrás do rapaz.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora