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Por mais terrível e dolorosa que seja a destruição em Rockfort, Alfred não podia negar que gostou
de derrubar alguns de seus empregados a caminho da sala de controle principal do complexo. Ele
não fazia idéia do quanto gratificante seria vê−los doentes e morrendo, pulando em cima dele com
fome – os mesmos homens que zombavam dele pelas costas, que o chamavam de anormal, que
fingiram amizade com os dedos cruzados – e agora mortos pelas suas mãos. Haviam escutas e
câmeras escondidas espalhadas no complexo, instalados por seu próprio paranóico pai, um
monitor escondido em suas casa; Alfred sempre soube que não gostavam dele, que os
empregados da Umbrella o temiam, mas não o respeitavam como merecia.
E agora...
Agora não importava, ele pensou, sorrindo, saindo do elevador para ver John Barton no final do
corredor, indo na direção dele com os braços estendidos. Barton era o responsável por treinar a
milícia de armas leves da Umbrella, ao menos em Rockfort, e era um bárbaro vulgar –
fanfarronando por aí com seu cigarro barato, tensionando seus músculos ridiculosamente
inchados, sempre suando, sempre sorrindo. A pálida e ensangüentada criatura tropeçando em sua
direção não tinha mais a mesma aparência, mas era o mesmo homem.
“Você não está sorrindo mais, Sr. Barton”. Alfred disse baixo, levantando seu rifle calibre .22,
usando a mira para colocar um pequeno ponto vermelho sobre o olho esquerdo injetado de sangue
do treinador. O babante Barton não percebeu –
Bam!
– certamente teria apreciado a excelente mira e escolha de munição de Alfred. A .22 estava
carregada com balas de segurança, balas projetadas para se expandirem com o impacto –
designadas “seguras” por não atravessarem o alvo e ferir alguém. O tiro de Alfred estilhaçou o olho
de Barton e certamente uma boa parte de seu cérebro, resultando em uma inofensiva morte. O
grande homem caiu no chão, uma poça de sangue se espalhando em volta dele.
Algumas das BOWs não o atacaram, e estava aliviado por muitas delas estarem trancadas ou
mortas devido ao ataque – ele certamente não andaria por aí caso houvessem algumas delas
soltas – mas não achava os zumbis tão assustadores. Alfred tinha visto muitos homens – e
mulheres também – virarem zumbis com o emprego do T−virus, experimentos que presenciou em sua infância e que ele mesmo conduziu como adulto. Nunca houve mais do que cinqüenta ou
sessenta prisioneiros vivendo em Rockfort ao mesmo tempo; entre o Dr. Stoker, o anatomista e
cientista que trabalhava na “enfermaria”, e a constante necessidade de alvos para treinamento e
peças de reposição, nenhum prisioneiro do complexo apreciava a hospitalidade da Umbrella por
mais de seis meses.
E onde estaremos daqui a seis meses, fico imaginando.
Alfred passou por cima do corpo de Barton, indo para a sala de controle para falar com seus
contatos no quartel general da Umbrella. Será que a Umbrella escolherá reconstruir Rockfort?
Alfred concordaria? Alexia e ele estiveram perfeitamente a salvo do vírus durante seu período
“quente”, ambas as passagens de sua casa para o resto do complexo bloqueadas pelo ataque,
mas sabendo que o inimigo da Umbrella podia usar medidas extremas, será que Alfred aceitaria
reconstruir o laboratório tão perto de sua casa? Os Ashford não temiam nada, mas também não
eram inconseqüentes.
Alexia nunca concordaria em fechar o complexo, não agora, não estando tão perto de seu
objetivo...
Alfred parou onde estava, olhando para os rádios e equipamentos de vídeo, para o monitor em
branco do computador que o olhava com olhos mortos. Ele olhava, mas não via, um estranho vazio
crescendo dentro dele, o confundindo. Onde estava Alexia? Qual objetivo?
Ela se foi.
Era verdade, ele podia sentir em seus ossos – mas como ela podia deixá−lo, como podia sabendo
que ela era seu coração, que ele morreria sem ela?
A monstruosidade, gritando e cega, um fracasso e estava frio, tão frio, a formiga rainha nua,
suspensa no mar e ele não podia tocá−la, só podia sentir o forte vidro sob seus carentes dedos.
Alfred respirou, o pesadelo imaginário tão real, tão horrível que não sabia onde estava, o que fazia.
Distantemente, ele sentiu suas mãos apertando algo, os músculos de seu braço tremendo –
– e houve um estouro de estática no console à sua frente, alto e quebradiço, e Alfred percebeu que
alguém estava falando.
“... por favor, se alguém puder me ouvir – aqui é o Doutor Mario Tica, no laboratório do segundo
pavimento,”. A voz disse, falhando de medo. “Eu estou trancado, e todos os tanques quebraram,
eles estão acordando – por favor, você tem que me ajudar, eu não estou infectado, eu estou de
roupa, juro por Deus, você tem que me tirar daqui –“.
Dr. Tica, trancado na sala dos tanques do embrião. Tica, que tem constantemente enviando
relatórios particulares para a Umbrella sobre o progresso do projeto Albinóide, relatórios secretos
diferentes dos que mandava para Alfred. Alexia tinha sugerido mandá−lo para o Dr. Stoker há
alguns meses... ela não ficaria feliz em ouvi−lo agora?
Alfred esticou o braço e desligou o apelo de Tica, sentindo−se muito melhor. Alexia o tinha alertado
sobre esses sentimentos, os flashes de intensa solidão e confusão – estresse, ela insistiu, dizendo
que ele não devia levá−los a sério, que ela nunca o abandonaria voluntariamente, ela o amava
muito para fazer isso.
Pensando nela, pensando em todos os problemas e sofrimento que as defesas incompetentes da
Umbrella tinham trazido, Alfred decidiu abruptamente que não faria a ligação. O quartel general
certamente já ouviu falar do ataque, e estaria enviando uma equipe em breve; realmente, não havia
necessidade de falar com eles... além disso, eles não mereciam ouvir suas observações da
situação, não mereciam saber com antecedência dos perigos que encontrariam. Ele não era um
empregado, não era um criado que precisava reportar aos seus superiores. Os Ashford tinham
criado a Umbrella; eles é que deviam estar reportando para ele.
E eu falei com Jackson há apenas uma semana, sobre a Redfield –
Alfred sentiu seus olhos arregalarem, sua mente trabalhando insanamente. Claire Redfield, irmã de
Chris Redfield, ele, o intrometido do S.T.A.R.S., tinha chegado algumas horas antes do ataque. Ela
foi pega em Paris, dentro do prédio administrativo do quartel general da Umbrella, alegando estar à
procura de seu irmão – e eles a enviaram para Alfred, para mantê−la presa enquanto decidiam o
que fazer com ela.
Mas... e se o plano foi para atrair o irmão dela, para acabar com sua rebeldia de uma vez por
todas, um plano que eles convenientemente esqueceram de contá−lo? E se ela foi seguida até
Rockfort por Redfield e seus amigos, sua presença como um sinal para atacar...
... ou ela se deixou capturar de propósito?
Era como seu um quebra−cabeça estivesse sendo resolvido. Claro, claro que ela deixou. Garota esperta, ela fez sua parte muito bem. Se a Umbrella causou o ataque sabendo ou não, não
importava mais, não agora, ele lidaria com eles depois; o que importava era que a Redfield ainda
podia estar viva, roubando informações, espionando, talvez até, até planejando machucar sua
Alexia –
“Não". Ele suspirou, o medo imediatamente se transformando em fúria. Certamente esse foi o
plano desde o começo, causar o máximo de estrago possível na Umbrella – e Alexia era
indubitavelmente a mente mais brilhante trabalhando na pesquisa com armas biológicas, talvez a
mais brilhante em todas as áreas.
Claire não faria isso. Ele a acharia... ou melhor, esperaria ela chegar até ele como certamente faria.
Ele podia observá−la, esperar como um caçador, ela como sua presa.
E por que matá−la de imediato, se você pode se divertir com ela antes? Era a voz de Alexia em
seus pensamentos, lembrando de suas brincadeiras na infância, o prazer que dividiam em seus
próprios experimentos, criando ambientes de dor, observando coisas sofrendo e morrendo. Isso
tinha forjado seus laços com aço, compartilhando coisas tão íntimas...
... eu posso mantê−la viva, deixar Alexia brincar com ela, eu podia inventar um labirinto para ela,
ver como ela lidaria com alguns de nossos bichinhos... havia muitas possibilidades. Com poucas
exceções, Alfred podia destrancar a maioria das portas da ilha por computador; ele podia
conduzi−la facilmente para onde quiser, e matá−la com sua sensatez.
Claire Redfield o tinha subestimado, todos tinham, até agora... e se as coisas correrem do jeito que
Alfred desejava, o dia terminaria mais feliz do que a triste discórdia que marcou seu início.
Se haviam cães infectados ali, estavam se escondendo. O pátio aberto que Claire entrou estava
forrado de corpos, sua carne acinzentada sob a pálida luz da lua com exceção dos incontáveis
espirros de sangue; nenhum cachorro, nada se movendo além das nuvens no céu. Claire parou por
um momento, observando as sombras, analisando o ambiente antes de se afastar da porta.
“Steve”. Ela suspirou asperamente, com medo de gritar, com medo do que possa estar a espreita.
Infelizmente, Steve Burnside sumiu tal como o rosnado do cachorro; parece que ele disparou
correndo.
Por que? Por que ele escolheria ficar sozinho? Talvez ela esteja errada, mas aquele papo de
atrasar Steve não parecia sério. Quando ela desembarcou em Raccoon, encontrar com Leon fez
toda a diferença; eles não ficaram juntos o tempo todo, mas só de saber que havia mais alguém
por aí tão assustado como ela... ao invés de se sentir indefesa e isolada, ela foi capaz de formar
um plano claramente, objetivos mais do que apenas sobrevivência – achar transporte para fora da
cidade, procurar Chris, cuidar de Sherry Birkin.
E simplesmente pela segurança, ter alguém para vigiar sua retaguarda é muito melhor do que ir
sozinho, sem dúvida.
Seja qual fosse o motivo dele, ela tentaria convencê−lo, caso o ache. Esse pátio era maior do que
o outro, uma longa cabana térrea à sua direita, uma parede sem portas à esquerda, talvez a parte
de trás de um prédio maior. Havia um foco de incêndio baixo em uma das janelas quebradas da
parede, e havia vários destroços entre os corpos, evidências de um forte ataque. Diretamente à
sua direita havia um portão trancado e depois dele um caminho de terra e uma porta fechada... ou
Steve entrou na cabana ou deu a volta em torno dela, seguindo o caminho até o fim e virando à
direita.
Ela decidiu tentar a cabana primeiro... e enquanto subia os poucos degraus da varanda ao longo
da cabana, ela pensou em quem teria atacado Rockfort, e porque. Rodrigo disse algo sobre uma
equipe de forças especiais, e se fosse verdade, quem ordenou o ataque? Parecia que a Umbrella
tinha seus inimigos, o que era uma boa notícia – mas o ataque à ilha não era. Prisioneiros
morreram junto com seus empregados, e o T−virus – talvez o G−virus, também, e só Deus sabe
quantos outros – sem diferenças entre os culpados e os inocentes.
Ela subiu na sacada, e segurando a 9mm, ela gentilmente empurrou a porta, seu percurso definido
por dois contaminados que viu lá dentro, ambos cambaleando em volta da mesa. Um segundo
depois, houve uma pancada na porta, um baixo e triste gemido saindo.
Então o caminho é... ela duvidava que o convencido do Steve teria deixado alguém de pé se
tivesse entrado na cabana, e ela teria ouvido os tiros –
– a não ser que o pegaram primeiro.
Claire não gostou da idéia, mas a dura realidade era que ela não poderia gastar munição para
descobrir. Ela contornaria a cabana para ver onde dava... e se não conseguir achá−lo, ela o deixaria por conta própria. Ela queria fazer a coisa certa, mas também estava muito certa de que
queria salvar seu traseiro; ela tinha que voltar para Paris, para Chris e os outros, coisa que
certamente não conseguiria fazer se gastasse toda sua munição e acabasse virando o almoço de
alguém.
Ela voltou pela varanda, todos os seus sentidos alertas enquanto se aproximava da quina da
cabana. Ela não tinha se esquecido dos cães zumbi, e procurou o som de patas sob a lama, e pelo
pesado arfar que lembrava através de sua experiência em Raccoon. A úmida e fria noite estava
quieta, uma brisa correndo levemente pelo pátio, ouvindo apenas sua respiração.
Uma rápida olhada na esquina e nada, só a metade de um homem para fora de um buraco do
porão, uns cinco metros adiante. Outros dez depois dele e o caminho virava à direita de novo, para
o alívio de Claire – ela tinha visto o fim daquele caminho através do portão e estava vazio.
Então ele deve ter passado por aquela porta, a da parede oeste... também era um alívio saber de
algo, ter certeza de algo em se tratando da Umbrella. Ela começou a andar, pensando sobre o que
convenceria o jovem machão a ficar com ela. Talvez se o contasse sobre Raccoon, se explicasse
que ela tinha prática com desastres da Umbrella...
Claire estava para pular o corpo do homem quando ele se mexeu.
Ela pulou para trás, sua semi apontada para a cabeça ensangüentada do homem, seu coração
martelando – e ela percebeu que ele estava morto, que alguém ou algo o estava puxando pelas
pernas para dentro do buraco, fortes e ritmados puxões –
– como um cachorro recuando com algo pesado na boca.
Ela não pensou em nada depois disso, instintivamente saltando sobre o corpo e correndo, ciente
de que o cão – se é o que era – não se preocuparia para sempre. Perceber que esteve a menos de
um metro dele aumentou sua velocidade ao fazer a curva, suas botas socando a molhada e dura
terra, seus braços remando. Zumbis eram lentos, desengonçados; os cães eram violentos e
velozes. Mesmo armada, ela não tinha interesse em enfrentar um deles, uma única mordida e
também seria infectada.
Arrroooooo! O rosnado veio de longe, além do buraco de algum lugar na parte de trás do pátio.
Droga, quantos – Não importava, ela já estava quase lá, sua salvação à frente e à esquerda. Sem
ousar olhar para trás, ela não diminuiu o passo até alcançar a porta, agarrar a maçaneta e
empurrar. Ela abriu facilmente, e não vendo nada com dentes diretamente à frente, ela pulou e
bateu a porta –
– só para ouvir vários lamentos de zumbis, para sentir o cheiro de podridão dos contaminados
assim que algo bateu forte na porta atrás dela e começou a arranhar, rosnando como um monstro
feroz.
Quantos cães, quantos zumbis? O pensamento cruzou mente em pânico, a necessidade de poupar
munição profundamente gravada depois de Raccoon, e se eu estiver à beira de um beco sem
saída? Ela quase voltou apesar do risco, até ver onde os zumbis estavam.
A passagem em que entrou estava pesada com sombras, mas podia ver vários infectados
trancados num cercado à esquerda dela. Um deles estava batendo na porta gradeada, suas quase
esqueléticas mãos com fitas de tecido penduradas, indiferente com a dor de seu corpo
desintegrando.
Deve ser o canil...
Claire avançou alguns passos, olhando preocupada para a simples e frágil trava que mantinha a
porta fechada – e viu os três zumbis livres enquanto o primeiro ia para cima dela, sua boca
pingando com saliva e outro líquido escuro, seus dedos sem carne esticando−se para tocá−la. Ela
ficou tão distraída com os enjaulados que não percebeu haver mais deles.
Ela reflexivamente derrubou seu peso e chutou o peito da criatura, um sólido e efetivo chute lateral
que o derrubou. Ela pode sentir sua bota afundar na carne deteriorada, mas não tinha tempo para
sentir nojo, já levantando a 9mm –
– e com um metálico crash, a porta do canil escancarou, e subitamente estava enfrentando sete ao
invés de três. Eles se amontoaram na direção dela, desviando desajeitadamente de um contêiner,
de alguns barris e de seus amigos caídos.
Bam! Ela atirou no mais próximo sem pensar, um limpo buraco em sua têmpora direita, entendendo
que estava ferrada enquanto ele caía no chão. Muitos e muito perto, ela nunca conseguiria –
– os barris! Um deles estava marcado como inflamável, o mesmo truque que usei em Paris –
Claire mergulhou atrás do contêiner para se proteger, mudando a arma para sua mão esquerda
enquanto aterrissava. O alvo marcado em sua mente, ela atirou, somente seu braço para fora enquanto os zumbis confusos procuravam, gemendo de fome –
Bam! Bam! B –
– KA−BLAM!
O contêiner bateu em seu ombro direito, derrubando−a de costas. Ela se curvou como uma bola,
seus ouvidos apitando enquanto entalhes de metal queimando choviam do alto, caindo em cima do
contêiner, alguns deles caindo em sua perna esquerda. Ela os afastou, mal acreditando que tinha
funcionado, que estava viva.
Ela sentou, agachando−se, olhando para o que tinha restado dos zumbis. Só um deles ainda
estava inteiro, apoiado no canil, suas roupas e cabelo pegando fogo; a parte de cima de outro
estava tentando se arrastar para ela, sua escura e borbulhante pele rasgando enquanto avançava.
Os outros estavam em pedaços, a terra em chamas clamando os restos patéticos como seu.
Claire rapidamente despachou os dois vivos, sua cabeça doendo um pouco com o fim triste que
eles tiveram. Desde Raccoon City, seus sonhos foram assombrados por zumbis, por criaturas
fedorentas que se alimentavam de carne viva. A Umbrella não teve intenção de criar esses
monstros, como se fossem cadáveres vivos vindos diretamente dos filmes, e era matar ou morrer,
não havia escolha.
Exceto por terem sido pessoas há pouco tempo. Pessoas com famílias e vidas, que não mereciam
morrer de tal modo, não importava que males tinham cometido. Ela olhou para os pobres corpos
queimados, sentindo−se quase enjoada de dó – e um baixo, mas insistente ódio pela Umbrella.
Claire balançou a cabeça e fez o possível para esquecer, ciente de que carregar essa dor poderia
fazê−la hesitar em algum momento crucial. Como um soldado na guerra, ela não podia humanizar
o inimigo... apesar de não saber ao certo quem o inimigo era, e desejou fervorosamente que os
líderes da Umbrella queimassem no inferno pelo que tinham feito.
Sem querer ser surpreendida novamente, ela cuidadosamente verificou as sombras antes de dar o
próximo passo. No fundo do canil estava uma guilhotina de verdade, manchada com o que parecia
ser sangue de verdade. Olhar para o dispositivo a fez tremer, fazendo−a se lembrar do Chefe Irons
e de seu calabouço secreto; Irons era a prova viva de que a Umbrella não fazia testes psicológicos
antes de contratar seus empregados. Atrás do nojento aparelho de execução estava uma porta,
mas Steve obviamente não tinha passado por ela, não com os zumbis trancados. Ao lado do canil
havia uma porta metálica de enrolar, trancada... e ao lado dela, a única porta que ele poderia ter
usado, pois a passagem não continuava a partir dali.
Claire andou para a porta, sentindo−se cansada e velha de repente, suas emoções gastas. Ela
checou a 9mm e tocou na maçaneta, imaginando se jamais veria seu irmão. Às vezes, apoiar−se
na esperança tornava tudo mais difícil, tornava tudo mais pesado porque não conseguia deixá−la
de lado, nem por um momento.
* * *
Steve pulou quando ouviu a explosão lá fora, olhando em volta no pequeno escritório como se
esperasse as paredes caírem. Depois de algumas batidas de coração, ele relaxou. Desde o
ataque, os focos de incêndio no presídio ocasionalmente atingiam algo combustível, um cilindro de
oxigênio ou querosene, e bum, outra explosão.
Na verdade foi esse tipo de explosão que o manteve vivo – ele tinha sido nocauteado por um
pedaço de parede quando um barril de óleo explodiu, os destroços cobrindo ele completamente,
escondendo ele. Quando ele finalmente acordou, o espetáculo de zumbis tinha acabado, todos os
guardas e prisioneiros mortos...
Péssima lembrança. Ele voltou sua atenção para a tela do computador, para o diretório de arquivos
que encontrou ao acaso enquanto procurava por um mapa da ilha. Algum tonto escreveu a senha
em uma nota e colocou no disco rígido, dando fácil acesso a algumas coisas obviamente secretas.
Pena que a maioria das coisas era besteira – orçamento do presídio, nomes e datas que não
reconhecia, informações sobre algum tipo de liga metálica antidetecção... essa até que era
interessante, considerando o fato de ter precisado passar por dois detectores de metal para chegar
ao escritório, nada que três ou quatro balas bem colocadas não dessem conta do recado. Isso
também foi bom; ele achou uma das peças−chave do portão principal numa gaveta, o que
definitivamente teria acionado o detector.
Tudo o que eu preciso é de um maldito mapa até o barco ou avião mais próximo e fim de papo. Ele
também buscaria a garota depois de abrir caminho, bancar o cavaleiro de armadura brilhante... e ela certamente ficaria agradecida, talvez o bastante para querer –
Um nome no diretório de arquivos chamou sua atenção. Steve franziu, olhando mais de perto.
Havia uma pasta intitulada Redfield, C... como em Claire Redfield? Ele a abriu, curioso, e ainda
estava lendo, completamente absorvido quando ouviu um barulho atrás dele.
Ele pegou sua arma da mesa e girou, brigando consigo mentalmente por não ter prestado mais
atenção – e lá estava Claire, a arma dela apontada para o chão, um leve olhar irritado no rosto
dela.
“O que você está fazendo?”. Ela perguntou casualmente, como se não tivesse assustado ele. “E
como você passou pelos zumbis lá fora?”.
“Eu corri”. Ele respondeu, incomodado com a pergunta. Ela achava que ele era indefeso ou o quê?
“E eu estou procurando por um mapa... ei, você tem algum parente chamado Christopher
Redfield?”.
Claire franziu. “Chris é meu irmão. Por quê?”.
Irmãos. Então está explicado. Steve foi até o computador, vagamente imaginando se toda a família
Redfield detonava. O irmão dela certamente detonava, ex−piloto da Força Aérea e membro do
S.T.A.R.S., atirador de elite e um baita espinho na pele da Umbrella. Steve jamais diria isso em voz
alta, mas estava bem impressionado.
“Você deve dizer para ele que a Umbrella o está vigiando”. Ele disse, recuando para que ela
pudesse ver o que estava na tela. Aparentemente Chris estava em Paris, apesar da Umbrella não
ter localizado seu paradeiro. Steve ficou grato por ter achado um arquivo que significasse algo para
ela; um pouco de gratidão de uma garota bonita era sempre uma coisa boa.
Claire olhou a informação e apertou algumas teclas, olhando para ele com alívio. “Deus abençoe
os satélites particulares. Eu posso falar com Leon, é meu amigo, ele já deve estar com Chris
agora...”.
Ela já tinha começado a digitar, dando explicações enquanto movia as mãos sobre o teclado. “Tem
um quadro de mensagens que sempre usamos... ali, viu? ‘Entre em contato assim que possível,
todos estão aqui.’ Ele escreveu na noite em que fui pega”.
Steve deu com os ombros, sem interesse na vida dos amigos de Claire. “Volte um arquivo, a
latitude e longitude dessa pedra estão lá”. Ele disse, sorrindo um pouco. “Porque você não dá as
direções para o seu irmão, deixe−o vir pra salvar o dia?”.
Ele esperou outro olhar irritado, mas Claire apenas acenou, suas expressões mortalmente sérias.
“Boa idéia. Eu vou dizer que houve um vazamento nessas coordenadas. Eles saberão o que quero
dizer”.
Ela era bonita, mas bem ingênua. “Foi uma piada”. Ele disse, balançando a cabeça. Eles estavam
no meio do nada.
Ela estava olhando para ele. “Muito engraçado. Eu vou contar pro Chris quando ele aparecer”.
Sem aviso, uma ardente raiva cresceu dentro dele, um tornado de irritação e desespero e um
monte de coisas que mal podia entender. Mas o que ele sabia era que a Senhorita Claire estava
errada, ela era burra, orgulhosa e equivocada.
“Você está brincando? Você acha que ele vai aparecer, do jeito que as coisas estão aqui? E olhe
para as coordenadas!”. As palavras saíram mais quentes, rápidas e mais altas do que queria, mas
não se importou. “Não seja tão idiota – acredite em mim, você não pode depender de pessoas
como elas, você só vai se machucar no final, e não terá ninguém para culpar a não ser você”.
Agora ela estava olhando para ele como se tivesse perdido a cabeça, e sentiu uma esmagadora
onda de vergonha, como se tivesse pirado sem motivo algum. Ele podia sentir lágrimas ameaçando
cair, contribuindo para sua humilhação, e não iria chorar na frente dela como um bebê, de jeito
nenhum. Antes que ela dissesse algo, ele virou e correu, ficando vermelho.
“Steve, espere!”.
Ele bateu a porta do escritório e continuou andando, querendo apenas sair dali, que se dane o
mapa, eu tenho a chave, eu me viro, vou matar qualquer coisa que tentar me impedir –
Depois dos detectores de metal e do longo corredor, de arma pronta, uma parte dele estava
amargamente desapontada enquanto passava pelo canil, quase tropeçando pela segunda vez em
molhadas e queimadas partes de corpos – não havia nada para matar, ninguém para contestar,
para impedi−lo de pensar em seja lá o que estava pensando.
Ele cruzou a porta que dava atrás da cabana e começou a contorná−la, suando, seu coração
pulando, seu cabelo grudando na pele apesar do ar frio – e ele estava tão concentrado em sua
própria loucura e na necessidade de correr, que não ouviria nem veria nada até que fosse tarde demais.
Wham, algo acertou ele por trás, derrubando−o no chão. Steve imediatamente rolou de costas, um
súbito terror mortal bloqueando tudo mais – e havia dois deles, dois dos cães de guarda, um deles
fazendo a volta depois do salto, o outro rosnando profundamente, suas pernas duras e cabeça
abaixada enquanto se aproximava devagar.
Jesus, olhe para eles –
Eles eram rottweilers, eram; eles foram infectados, dava para perceber em seus olhos
avermelhados e em seus focinhos pingando, em seus músculos estranhos flexionando sob sua
melecada pele. E pela primeira vez desde o ataque, a imensidão da loucura da Umbrella – seus
experimentos secretos e sua ridícula mentalidade capa e espada – atingiram seu lar. Steve gostava
de cães, muito mais do que gostava de gente, e o que aconteceu com os dois pobres animais não
era justo.
Nada justo, hora errada e lugar errado, eu não merecia nada disso, eu não fiz nada errado –
Ele nem estava ciente de que o objeto de sua piedade tinha mudado, que estava admitindo a
seriedade da situação, o quanto estava encrencado; ele não teve tempo para perceber. Passou
menos de um segundo desde que rolou no chão, e os cães estavam se preparando para atacar.
Tudo acabou e outro segundo, o tempo que levou para atirar uma vez, girar e atirar de novo.
Ambos os animais morreram instantaneamente, o primeiro na cabeça, o segundo no peito. O
segundo cachorro deu um único ip de dor ou medo ou surpresa antes de cair na lama, e o ódio de
Steve pela Umbrella se multiplicou exponencialmente com um som estrangulado, sua mente
repetindo de novo e de novo, o quanto injusto tudo era enquanto ficava de pé e começava a correr.
Ele tinha a chave do portão principal; ele não seria mais um prisioneiro.
Hora de um pequeno troco, ele pensou com raiva, de repente esperando, rezando para cruzar com
um deles, um dos desgraçados superiores idiotas que trabalhavam para a Umbrella. Talvez se ele
os ouvisse implorar pela morte, poderia se sentir melhor.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora