Eles correram pela escuridão, Steve na frente de Claire, deixando a porta do escritório aberta.
Havia luz o suficiente para ver onde o corredor virava à direita, que era toda a luz de que
precisavam.
– direita, andar, porta direita, andar, degraus à esquerda – passou por sua mente, as direções
simples para não cometer nenhum erro. A imagem do que Claire tinha tirado de suas costas ainda
estava fresca em sua memória, e eles não sabiam o que mais as mariposas podiam fazer.
Dois saltos à frente e a primeira mariposa foi para eles, um borrão quieto e esbranquiçado, e Steve
abriu fogo.
Bam−bam−bam! Três tiros e a coisa desintegrou, suaves barulhos enquanto os pedaços caíam no
chão, e o resto delas veio, flutuando do corredor que ele e Claire queriam. Eles voavam sobre uma
nuvem de cheiro podre, sombrias e fracas formas... e o que era aquilo, a grande coisa do tamanho
de um homem presa no teto com teia?
– não pense nisso agora, vai logo –
“Agora!”. Steve disse, e Claire correu atrás dele, desviando para a direita até o fim do corredor
enquanto ele abria fogo, duas, três explosões.
Pedaços macios de asas, calor e meleca repulsiva choviam enquanto ele atirava nas formas
escuras adiante, fazendo−o engasgar, as mariposas morrendo tão quietas quanto seu ataque. Ele sentiu uma delas em seu cabelo, sentiu algo quente tocando seu couro cabeludo, e se debateu
desesperadamente, atirando, arrancando um casulo grudento da cabeça.
“Está aberta!”. Claire gritou, mais perto do que esperava, e apesar de planejar recuar, a sensação
do casulo no cabelo foi o suficiente. Ele abaixou, cobriu a cabeça com um braço e correu.
Ele viu a silhueta dela na passagem da porta à direita e acelerou, correndo diretamente para o
braço esticado dela. Claire agarrou sua camiseta de mão cheia e o puxou de lá, batendo a porta
atrás deles – e então virou e começou a atirar, protegendo o corpo dele com o seu.
“Ei, o que–“.
Bam! Bam! A sala era enorme, os tiros ecoando para longe.
Havia um traço de luz vindo de algum lugar, mas Steve os ouviu antes de vê−los. Zumbis,
gemendo e ofegando, aproximando−se deles. Ele só podia perceber os contornos, cambaleando e
avançando, viu dois deles indo ao chão e mais dois ocupando o mesmo lugar.
“Eu estou bem!”. Ele disse entre os tiros, Claire dando um passo ao lado, gritando para ele cuidar
do lado direito.
Steve mirou e atirou, piscando e espremendo os olhos no escuro, tentando tiros na cabeça. Ele
derrubou três deles, depois um quarto, tão perto que ele sentiu sangue espirrando em sua mão. Ele
a limpou imediatamente na calça, rezando para não ter nenhum corte aberto, para que não ficasse
sem munição, mas havia outro zumbi, e outro –
– e então Claire o estava puxando de novo e ele parou de atirar, deixando−a guiá−lo para onde a
sala de mineração deveria estar. Atrás deles, zumbis arrastavam os pés e uivavam, numa
perseguição em câmera lenta. Ele tropeçou num corpo quente e pisou em outro, sentindo algo
quebrar sob seus pés – e por mais indefeso e assustado que parecia, não foi nada se comparado
ao grito de dor de Claire, sentindo os dedos dela soltarem seu braço.
“Claire!”. Aterrorizado, Steve tentou agarrá−la, mas só encontrou ar –
“Cuidado onde pisa, eu machuquei meu dedão”. Claire disse, irritada, não mais distante que meio
metro, e ele sentiu seus joelhos enfraquecerem. Ele também podia sentir um corrimão de metal frio
contra seu ombro direito – os degraus para a sala de mineração. Eles tinham conseguido.
Juntos, eles subiram os degraus, Claire ainda na frente – e quando ela abriu a porta, luz de
verdade vazou, perfurando a escuridão.
“Graças a Deus”. Steve murmurou, segurando a porta enquanto Claire entrava –
– e antes que pudesse seguir, ele ouviu aquela perturbada gargalhada afeminada que tinha
aprendido a odiar, e Claire jogou uma mão para trás acenando para ele parar, e ele soltou a porta e
não se moveu, deixando−a apoiada na perna de Claire enquanto Alfred dizia algo e ela erguia as
mãos vagarosamente.
Parecia que Alfred tinha rendido Claire...
... mas não eu, Steve pensou, sem perceber que sorria um pouco. Alfred tinha muito que
responder, mas Steve estava certo de que em um minuto ou dois, não haveria mais nada para ele
dizer, jamais.
Ele a tinha. Como previsto, eles – bom, ela tinha descoberto o túnel, a única saída do terminal que
não precisava de chave. Ela não era burra, de modo algum, mas ele era superior, em intelecto e
estratégia. Entre outras coisas.
Ainda parada na porta, Claire ergueu as mãos, suas expressões irritantemente vazias. Por que ela
não estava com medo?
“Largue a arma”. Alfred mandou, seu dedo no gatilho do rifle. Sua voz amplificada naturalmente
pelo poço de mineração que ocupava a maior parte do chão, ecoando pela fria câmara, soando
autoritária e um pouco cruel. Ele gostava de como soava forte, e soube que tinha funcionado
quando ela soltou a arma sem hesitar.
“Chute−a para cá”. Ele ordenou, e ela obedeceu, arma batendo contra o concreto. Alfred não a
pegou, e a chutou para o parapeito à sua esquerda, ambos escutando sua única esperança
quicando nas pedras congeladas, perdida nas profundezas do poço.
Que maravilha exercer tanto controle!
“O que aconteceu com seu companheiro de viagem?”. Ele perguntou, com desprezo. “Ele sofreu
um acidente? Ah, e afaste−se da porta, se não se importa. E mantenha as mãos onde eu possa
vê−las”.
Claire avançou, a porta quase que totalmente fechada atrás dela, e ele viu um flash de tristeza
cruzar seu rosto, soube imediatamente que tinha marcado um ponto. Menos comida para o papai, mas Alfred duvidava que a monstruosidade iria reclamar.
“Ele está morto”. Ela disse. “O que aconteceu com Alexia? Ou estou falando com ela – você sabe,
vocês dois se parecem muito...”.
“Cale a boca, mocinha”. Alfred resmungou. “Você não merece dizer o nome dela. Você já sabe que
é hora dela retornar, foi por isso que seus amigos atacaram Rockfort, para atraí−la – ou vocês
esperavam matá−la logo de cara, interromper seu primeiro suspiro?”.
Claire agiu confusa, determinada a continuar seu disfarce, mas Alfred não queria ouvir mais
nenhuma de suas mentiras. O jogo estava perdendo interesse para ele. Perto do iminente triunfo
de Alexia, nada mais importava.
“Eu já sei de tudo,”. Ele falou. “não precisa se preocupar. Agora venha comigo –“.
Claire olhou de repente para cima e à direita, para a plataforma elevada onde o túnel começava.
“Cuidado!” Ela gritou, indo ao chão enquanto Alfred virava, vendo apenas a grande escavadeira e a
escura entrada do túnel –
– e a porta abrir violentamente atrás de Claire, o rapaz mergulhando e aterrissando de lado,
apontando a arma para ele, para ele.
Furioso, Alfred girou o rifle e apertou o gatilho, três, quatro vezes, mas não teve tempo bastante
para mirar apropriadamente, os tiros explosivos desorientados –
– e foi como se uma mão gigante empurrasse Alfred para trás, levando seu fôlego, o rapaz atirando
até a arma clicar.
O camaleão Alfred cambaleou mais um passo para trás e abriu a boca para rir, pronto para matar
os dois e, e o rifle não estava mais em suas mãos, ele o tinha largado por algum motivo, e seu riso
foi apenas uma molhada e dolorosa tosse –
– e algo cedeu atrás dele, e então estava caindo no poço de mineração. Ele aterrissou numa
grossa camada de gelo e começou a levantar, mas havia uma grande dor em seu peito. Seria
possível ter sido baleado?
Quase sem som, o gelo cedeu à sua volta e ele gritou, caindo, Alfred tinha que vê−la mais uma
vez, tinha que tocá−la, mas podia ouvir seu pai gritando também, indo para ele, e então tudo foi
perdido em dor e escuridão.
O som do terrível e monstruoso berro que surgiu para encontrar o de Alfred os fez andar, Claire
parando tempo suficiente para pegar a Remington antes de alcançar Steve na plataforma elevada.
Com Steve sem balas e a sua chutada no poço, era a única arma.
Eles entraram na cabine de uma grande escavadeira amarela, na frente de um túnel ascendente,
Steve assumindo o volante – e de novo, eles ouviram aquele profundo e insano grito, e que
definitivamente estava mais perto, o monstro prisioneiro solto em algum lugar.
Steve apertou um monte de botões, acenando e sussurrando consigo mesmo. Claire ouvia
enquanto verificava o rifle – apenas seis balas – descobrindo que o maquinário de escavação, um
enorme trator em forma de prego, na verdade, aquecia para derreter o gelo. Ela não se importava
como funcionava, desde que saíssem de lá antes que o monstro os achasse.
Com o pesado maquinário ganhando vida, Steve explicou que o túnel provavelmente não foi
terminado porque os trabalhadores resolveram não usar o aquecedor a fim de não inundar o
complexo.
“Mas nós não”. Ele disse, sorrindo. “O que você acha de fazermos um lago?”.
“Vai nessa”. Ela disse, sorrindo também, desejando estar um pouco mais entusiasmada. Deus, eles
estavam escapando, e com Alfred Ashford finalmente morto, não havia ninguém em seu caminho.
Mas porque ela se sentia tão insegura?
Foi aquela baboseira sobre a irmã dele... loucura, sim, mas trouxe uma pergunta que ainda não
tinha resposta – por que Rockfort tinha sido atacada?
Steve acelerou e a máquina avançou. Não havia cinto de segurança, e Claire colocou uma mão no
teto, a escarradeira balançando mais do que o avião antes de bater. A visão estava quase
totalmente bloqueada pelo parafuso gigante, mas deu pra perceber quando atingiram o fundo do
túnel.
O barulho foi incrível, ensurdecedor, como pedras num liquidificador vezes cem. Tinha um cheiro
deu vapor queimado, e enquanto avançavam em total escuridão, ela podia ouvir o gelo derreter
mesmo sob o barulho, enquanto cachoeiras lavavam a cabine.
O barulho parecia não acabar mais enquanto continuavam subindo – e então o veículo gaguejou
chacoalhando, a tração forçando – e de repente luz inundou a cabine, cinza, sombria e bonita. A escavadeira se arrastou para fora do novo buraco perto da torre, Claire reconhecendo o heliporto
enquanto Steve apontava para os veículos de neve perto da base. Estava nevando, o úmido frio
entrando na cabine um minuto depois de chegarem na superfície. Havia um vento soprando, a
neve levemente inclinada – não uma nevasca, mas constante.
“Terra ou ar”. Steve perguntou, e Claire percebeu que ele estava começando a tremer. Tal como
ela.
“Você é quem manda, menino voador”. Ela disse. No helicóptero seria mais rápido, mas ficar no
chão parecia mais seguro. “Dá pra decolar com o parafuso?”.
“Desde que não fique pior”. Ele disse, olhando para a torre, mas não parecia certo. Ela estava para
sugerir um dos carros de neve quando ele deu com os ombros, abrindo a porta e deslizando para
fora, chamando−a por sobre o ombro.
“Eu sugiro a torre, menina voadora”. Ele disse. “Podemos ver se realmente temos escolha”.
Ela também saiu, jogando o pescoço para trás, mas não conseguiu ver o topo da torre. E estava
frio, de congelar.
“Que seja, vamos andar rápido”. Claire disse, pendurando o rifle no ombro.
Steve correu para a escada, Claire o seguindo, congelada, mas alegre, de repente feliz por poder
escolher, por decidir o que podiam fazer, e como podiam fazer. E de qualquer modo, eles estariam
na estação australiana em torno de uma hora, envoltos num cobertor e bebendo algo quente,
contando suas histórias.
Bom, ao menos as partes mais plausíveis, ela pensou, subindo a escada recém lixada atrás dele.
Até mesmo as pessoas com mais mente aberta do mundo não acreditariam em metade do que
tinham para contar.
Sua alegria estava por um fio enquanto se aproximavam do topo, três andares acima, seus dentes
batendo – e quando Steve virou, franzindo, ela não quis mais nada além de ficar quente.
“Não tem helicóptero”. Ele disse, neve começando a grudar em seu cabelo. “Eu acho que iremos
–“.
Ele viu algo atrás dela e sua face de repente se contorceu com terror e surpresa. Ele se esticou
para levantá−la, mas ela já estava em movimento.
“Vai!”. Ela disse, e ele virou para destrancar a escada, Claire a meio passo atrás dele. Ela não
sabia o que ele tinha visto –
– sim você sabe –
– mas pelo olhar no rosto dele, ela sabia que não o queria atrás dela.
Era a coisa, o monstro, estava solto e vindo atrás de você, seu medo bem motivado, e então, Steve
a estava puxando pelo braço, arrastando−a pelos últimos degraus. Ela cambaleou pela grande e
vazia plataforma, as linhas de pouso parcialmente cobertas pela neve, uma neblina acinzentada
tornando difícil enxergar.
“Me dê o rifle”. Ele pediu, e ela ignorou, virando para ver se era verdade, para ver se identificava a
terrível dor que o fazia gritar daquele jeito –
– e assim que ele subiu na plataforma, ela viu que era verdade, e reconheceu o problema
imediatamente. Ela empunhou o rifle e recuou, acenando para Steve ficar atrás dela.
Alfred acordou num mundo de dor. Ele mal podia respirar, e tinha sangue em seu rosto, nariz e
boca, e quando tentou se mexer, a agonia foi instantânea e abrangente. Cada centímetro dele
estava quebrado, cortado, esmagado ou perfurado, e sabia que iria morrer. Tudo o que restou foi
sua rendição ao escuro. Ele estava com muito medo, mas doía tanto que talvez dormir fosse o
melhor...
... Alexia...
Ele não podia desistir, não tendo estado tão perto – não estando tão perto. Ele forçou a abertura
dos olhos, e viu através de uma fina camada vermelha, que estava numa das plataformas do nível
inferior que se sobressaía do poço de mineração. Ele tinha caído pelo menos três níveis, talvez
tanto quanto cinco.
“Aa, lexii−aa”. Ele suspirou, e sentiu sangue borbulhando em seu peito, sentiu ossos estalando
enquanto se movia, sentiu medo da dor que enfrentaria – mas ele iria até ela, porque ela era seu
coração, seu grande amor, e ganharia forças vendo seu nome nos lábios dela.
“Me dá o rifle”. Steve disse de novo, observando a coisa dar seu primeiro passo na direção deles,
mas Claire não estava escutando. Ela tinha um olho na mira telescópica, estava vendo o que ele via, ampliado – e o que ele viu era uma abominação.
De olhos vendados, suas mãos amarradas para trás, vestindo apenas uma capa de couro
manchada em torno da cintura, a criatura tinha sofrido terrivelmente, sem dúvida; ele podia ver as
cicatrizes, as amarras velhas, marcas de sangue nas algemas em seus calcanhares. Parecia
quase humano, mas seu tamanho exagerado e pele estranha – uma variação de cinzas,
sustentado por magros músculos rasgados em alguns lugares, expondo carne crua. Seu peito
estava descoberto, e ele podia ver um vermelho pulsante no centro do tórax, um alvo fácil – e por
alguns segundos, Steve pensou estarem a salvo, o monstro não tinha armas –
– e houve o som de algo eclodindo e rasgando, e quatro tentáculos assimétricos, como as pernas
de um inseto, desdobraram−se de suas costas, o mais longo com cerca de três metros, brotando
de seu ombro direito como a cauda de um escorpião. Ele deu outro passo à frente – e um líquido
escuro estava sendo borrifado de seu corpo, de seu peito ou das costas. Assim que as gotículas
tocavam o cimento congelado, um denso gás roxo começou a evaporar, soprado pelo vento em
várias direções.
A coisa soltou um rosnado pesado sem palavras, e deu outro passo na direção deles, seus novos
braços passando sobre sua cabeça sem cabelo, balançando de um lado ao outro. Ele mal podia se
equilibrar, quando o pensamento lhe ocorreu, Steve já estava correndo.
Vá abaixado, cabeça para baixo, empurre ele enquanto ainda está na beirada –
“Steve!”. Claire gritou amedrontada, mais ele já estava quase lá, perto bastante de seu ácrido gás
natural para agredir suas narinas, devia ser veneno, tenho que afastá−lo dela –
– e pouco antes de empurrá−lo, algo violento o acertou, uma pancada nas costas que o fez voar
para o chão.
“Steve!”. Claire gritou de novo, desta vez horrorizada, porque ele estava deslizando pelo gelo, e
apesar de estar lutando para parar, de repente não havia mais plataforma.
Steve estava a apenas alguns passos do monstro quando seu estranho braço ou acertou,
jogando−o para o lado.
“Steve!”.
Steve deslizou pelo chão como uma pedra achatada na água, e desapareceu no fim da plataforma.
Ah, meu Deus, não!
Claire perdeu fôlego, a dor emocional atingindo ela como um soco, agudo e forte no estômago. Ele
estava tentando protegê−la, e tinha lhe custado a vida. Por um segundo, ela não conseguiu se
mover nem respirar, não conseguiu sentir o frio e nem se importar com o monstro.
Mas só por um segundo.
Ela olhou para o cambaleante e torturado animal indo na sua direção, sabia que sua fúria vinha
sendo alimentada há tempos, longos anos de abuso, experiências, e não sentia nada. O coração
de Claire tinha se fechado, sua mente de repente mais fria que seu corpo. Ela corrigiu a postura,
posicionando uma bala na câmara do rifle, avaliando a situação com critério.
Ela certamente podia contorná−lo, deixá−lo na plataforma e alcançar um quilômetro antes que ele
pudesse fazer a volta – mas isso não era uma opção, não mais. Sua morte seria por piedade, mas
isso não cabia a ela calcular.
Eu matei Steve, e agora vou matar a coisa, ela pensou, e andou para o canto noroeste do
heliporto, o mais distante da escada. De tentáculos pairando sobre a cabeça, o monstro virou−se
dolorosamente devagar, seu rosto cego finalmente em sua direção.
Ele deu um outro ronco profundo e desalmado, e seu corpo expeliu mais líquido, algum tipo de
ácido ou veneno, provavelmente. Ela imaginou quem tinha criado tal coisa, e como – ele não era
um zumbi infectado pelo T−virus, e pelo seu estado de abuso e tormento, não era uma arma
desenvolvida. Ela acreditava que nunca descobriria.
Claire empunhou o rifle e olhou através da mira, focalizando a massa pulsante em seu peito, e
depois em seu vazio rosto cinza. Ela não sabia quanto a massa em seu peito, mas tinha certeza de
que não sobreviveria a um tiro na cabeça de uma 30.06. Ela não queria perder tempo perseguindo
o monstro, ou causar dor desnecessária; ela só o queria morto.
Ela mirou no meio da testa. Ele tinha um queixo forte e um fino nariz abaixo da pele enrugada,
podendo um dia ter sido bonito, ou até mesmo um aristocrata.
Talvez seja outro Ashford, ela pensou com gozação e ironia.
A cabeça do monstro partiu ao meio quando a bala encontrou seu alvo. Pedaços de osso e massa
cerebral voaram, todos tão cinza quanto o cinza do céu, vapor subindo da tigela que um dia foi seu crânio – caindo sobre os joelhos, os braços mutantes chacoalhando sob a neve, sua face arruinada
indo de encontro ao chão.
Claire não sentiu nada, nenhum prazer, medo ou pena. Estava morto, e só, e era hora de partir. Ela
ainda não sentia o frio, embora seu corpo chacoalhasse violentamente e seus dentes batiam fora
do controle, e ela soube que era a hora de se esquentar –
“Claire?”.
A voz era fraca, trêmula e inconfundivelmente de Steve, vinda do canto leste da plataforma. Claire
olhou para o espaço vazio durante uma fração de segundo, totalmente confusa – e correu,
mergulhando de joelhos e mãos sobre a suave camada de neve, esticando o pescoço para
encontrá−lo estranhamente abraçado num cano dar estrutura de apoio, agarrando o metal
congelado com os dois braços e uma perna.
Seu rosto estava quase azul de frio, mas quando a viu, seus olhos acenderam, um olhar de incrível
alívio cruzando suas pálidas feições.
“Você está viva”. Ele disse.
“Essa fala é minha”. Ela respondeu, soltando o rifle e debruçando−se para agarrar seu braço. Foi
difícil, mas em outro minuto, Steve estava de volta na plataforma, e ambos ficaram de joelhos, frio
demais para fazer qualquer coisa além de esperar.
“Eu sinto muito, Claire”. Ele disse miseravelmente, seu rosto enterrado no ombro dela. “Eu não
consegui pará−lo”.
O coração dela se abriu quando o encontrou vivo, e agora estava apertado dolorosamente. Ele
tinha dezessete anos de idade, sua vida destruída pela Umbrella, e quase morreu tentando
salvá−la. Outra vez. E ele sentia muito.
“Não se preocupe, eu o peguei desta vez”. Ela disse, determinada a não chorar. “Você pega o
próximo, tá bom?”.
Steve acenou, sentando nos calcanhares e olhando para ela. “Eu vou”. Ele disse, tão
veementemente que ela teve de sorrir.
“Legal”. Ela disse, e levantou, estendendo a mão para ele. “Isso vai me poupar trabalho. Agora
vamos pegar o carro de neve, sim?”.
Apoiados um ao outro e ficando próximos para aquecer, eles foram para a escada, nenhum deles
querendo se separar.
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Resident evil 6# Código Verônica
HorrorEm sua luta contra a Umbrella, Claire Redfield invade um prédio da companhia e é capturada, sendo levada presa à Ilha Rockfort, palco de mais um incidente biológico. No sexto livro de sua série, S.D. Perry relata as aventuras da personagem, seu irmã...