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Claire apagou o isqueiro na base da escada coberta e respirou fundo, tentando se preparar
psicologicamente para o que viria em seguida. O frio do escuro corredor a empurrando como uma
mão gelada, mas ainda assim hesitou, a faca meio suada entre seus dedos enquanto guardava o
isqueiro em seu colete. Ela não estava muito a fim de subir para o desconhecido, mas não tinha
para onde ir a não ser que quisesse voltar para a cela. Ela sentia cheiro de óleo queimado, e
adivinhou que as sombras dançando no topo dos degraus de cimento eram de fogo.
Mas o que há lá em cima? Esse é um complexo da Umbrella...
E se estiver igual a Raccoon City, e se o ataque libertou um vírus, ou algumas das criaturas que a
Umbrella criava? Ou será que Rockfort era apenas um presídio para seus inimigos? Talvez os
prisioneiros se rebelaram, talvez as coisas estão ruins apensas sob o olhar de Rodrigo...
...talvez você devesse subir os malditos degraus e ver por si mesma ao invés de ficar aí tentando
adivinhar, que tal?
De pulsação acelerada, Claire forçou a si mesma para dar o primeiro passo, vagamente
imaginando porque os filmes faziam isso parecer tão fácil, atirar−se corajosamente no provável
perigo. Depois de Raccoon, ela sabia. Talvez ela não tivesse muita escolha sobre o que fazer, mas
não significava que não estava com medo.
Ela subiu devagar, aguçando os sentidos enquanto nova adrenalina varria seu sistema, lembrando
do pequeno lance que teve do pequeno cemitério quando os guardas a trouxeram. Não ajuda
muito, ela só tinha visto algumas lápides, bizarramente ornadas para um cemitério de presídio.
Havia definitivamente um incêndio perto do topo da escada, mas aparentemente não tão grande −
não havia calor descendo, só uma fresca e úmida brisa que carregava o impregnante odor. Parecia
calmo, e assim que chegou no topo, ouviu pingos de chuva evaporando ao cair no fogo, um som
estranho, porém confortante.
Quando emergiu da escadaria, ela viu a origem do fogo, a metros de distância. Um helicóptero
tinha caído, uma grande parte dele queimando no meio da fumaça. À sua esquerda havia uma
parede, e outra atrás dos destroços; à direita, o cemitério, sombrio e coberto pela crescente chuva
e pelo cair da noite.
Claire franziu ao olhar para a chuva e viu um número de escuras formas, apesar de nenhuma estar
se movendo; mais lápides, ela pensou. Um suspiro de alívio cruzou pela sua ansiedade; seja lá o
que tinha acontecido, parecia ter acabado.
Incrível como ela poderia estar aliviada estando sozinha num cemitério à noite. Há seis meses, sua
imaginação teria aparecido com todos os tipos de coisas horríveis. Parecia que fantasmas e
espíritos amaldiçoados não assustavam mais, não depois de seus encontros com a Umbrella.
Ela entrou à direita seguindo um caminho em forma de U, andando devagar, lembrando de como
tinha sido conduzida pelo cemitério antes de ser levada escada abaixo. Ela identificou o que
poderia ser um portão depois da linha de túmulos no centro do pátio, ou ao menos um espaço
aberto na parede mais distante −
− e de repente ela estava voando, o som de uma explosão atrás dela, WHUMP, uma onda fervente
de calor jogando−a na lama. A úmida luz da lua ficou mais clara de repente, o odor de combustível
queimando cobrindo seu nariz e olhos. Ela aterrissou sem graça, mas conseguiu não se machucar
com a faca, tudo acontecendo tão rápido que mal teve tempo para registrar a confusão. − acho que não me machuquei − o tanque de combustível do helicóptero deve ter explodido −
"Unnnh...".
Claire ficou de pé instantaneamente, o suave, patético e inconfundível gemido inspirando uma ação
quase apavorada, o som acompanhado por outro, e outro. Ela girou e viu o primeiro tropeçando em
sua direção, vindo do que restou do helicóptero, um homem, suas roupas e cabelo em chamas, a
pele de seu rosto escurecida e cheia de bolhas.
Ela virou de novo e viu mais dois emergindo do chão de lama, seus rostos com um adoentado
branco acinzentado, seus dedos esqueléticos sedentos em sua direção, apertando o ar enquanto
se arrastavam na direção dela.
Droga! Igual em Raccoon, o vírus da Umbrella tinha transformado eles em zumbis, roubando sua
humanidade e suas vidas.
Ela não tinha tempo para descrença e medo, não com três deles se aproximando, não quando
percebeu que havia outros ao longo do caminho. Eles surgiram das sombras, faces brutalizadas
voltando−se lentamente para ela, bocas abrindo, seus olhares vazios e sem movimento. Alguns
vestiam farrapos de uniformes, camuflados ou cinza chapado, guardas e prisioneiros. Afinal, houve
um vazamento.
"Uhhhh...".
"Ohhh...".
As transições de choro traziam lembranças, cada gemido como o de um homem faminto num
banquete. Amaldiçoada seja a Umbrella pelo que fez! Era mais que trágico, a transformação de
humano para criaturas apodrecidas sem mente, morrendo enquanto andavam. O fim inevitável de
cada contaminado era a morte, mas ela não podia ficar de luto por eles, não agora, sua pena
limitada pela necessidade de sobrevivência.
Vai vai vai AGORA!
Sua avaliação e decisão tomaram menos de um segundo e já estava se movendo, nenhum plano
exceto o de fugir. Com o caminho bloqueado em ambas as direções, ela saltou para o centro do
pátio, escalando as pedras de mármore que marcavam o local de descanso dos verdadeiros
mortos. Sua calça suja de lama grudando em suas pernas, atrasando−a, suas botas escorregando
nas lisas lápides, mas ela conseguiu subir em duas delas e se equilibrar, a salvo por enquanto.
Por um segundo! Você tem que sair daí, rápido. A faca não ajudaria, ela não ousaria chegar perto o
bastante para usá−la − uma única saborosa mordida a faria se juntar à turma deles, caso não a
comessem antes.
O de rosto escurecido estava mais perto, seu cabelo derretido, parte de sua camisa ainda
queimando. Ele estava perto o bastante para ela sentir o oleoso e nauseante cheiro de carne
queimada, coberto pelo odor de combustível que o tinha cozinhado. Ela tinha dez, quinze segundos
no máximo antes que ele chegasse perto o bastante para agarrá−la.
Ela olhou para o canto sudeste do pátio, seus braços abertos para manter o equilíbrio. Só havia
dois deles entre ela e a saída, mas era demais, ela nunca conseguiria passar por entre os dois. Ela
aprendeu com Raccoon que eles eram lentos, e que suas habilidades de raciocínio eram nulas −
eles viam uma presa e iam atrás dela em linha reta, independente do que estava no caminho. Se
ela ao menos pudesse afastá−los do portão −
Boa idéia, só que havia muitos deles no chão, seis ou sete, ela terminaria cercada −
− mas não se você subir nas lápides
Havia vários zumbis de cada lado da linha central de túmulos, mas apenas um de pé no fim da
linha, diretamente na frente dela... e esse mau se agüentava de pé, um olho pendurado, um braço
quebrado e solto.
Era um plano arriscado, um tropeço e estaria frita, mas o homem queimado já estava alcançando
seu tornozelo com suas mãos carbonizadas e trêmulas, chuva gotejando em sua face voltada para
cima.
Claire saltou, braços remando assim que pousou com ambos os pés na estreita superfície da pedra
ao lado. Ela começou a cair para frente, balançando e girando o corpo para manter seu centro de
gravidade, mas não estava funcionando, ela iria cair −
− e sem pensar, ela rapidamente pulou de novo, e de novo, usando as desordenadas lápides como
pedras num rio, usando sua falta de equilíbrio como fonte de impulso. Um infectado de cara
desintegrada esfregou suas canelas, gemendo de fome, mas ela já tinha passado por ele, saltando
para a próxima. Ela não tinha tempo para considerar como ia parar − e era necessário − porque as
pedras acabavam com o próximo salto, e seu próximo movimento foi um salto, caindo e rolando no chão de lama um metro abaixo.
Oof, uma queda difícil, mas ela continuou e ficou de pé, ou quase, suas pernas escorregando no
barro. O zumbi de um olho avançou sobre ela, gargarejando, bem perto − mas ela rapidamente o
contornou, ficando em seu lado cego, de faca preparada. A criatura girou de novo para procurar
sua refeição, mas ela ficou facilmente fora de seu campo de visão.
Ela arriscou desviar o olhar de sua desajeitada dança com o zumbi e viu os outros se aproximando.
A chuva ficou mais intensa, lavando a lama de seu corpo.
Está funcionando, só mais alguns segundos −
Frustrado com sua falta de sucesso, o zumbi parcialmente cego varreu o ar com seu braço bom.
Suas unhas sujas rasparam no peito dela e o zumbi gemeu ansiosamente, mas não conseguiu
agarrar nada.
Deus, ele está encostando em mim −
Com um choro sem palavras de medo e nojo, Claire retalhou com a faca, profundamente, cortes
quase sem sangue em seu pulso. O zumbi continuou agarrando ela, indiferente com os danos que
ela estava fazendo, e Claire decidiu que era hora de partir.
Ela jogou os braços para trás, fechou as mãos e as jogou no peito da criatura, empurrando o mais
forte que podia. Ela virou de novo para a linha central de lápides enquanto a criatura caia para trás,
os outros muito perto agora.
Como ela conseguiu subir tão rápido ela não sabia; um segundo ela estava no chão, no outro ela
estava no topo angulado de uma lápide de granito. Ela viu que a saída estava livre, os zumbis
agora agrupados na parede oeste.
Sua segunda jornada por cima das pedras foi um pouco mais controlada do que a primeira, cada
salto bem pensado, ela não iria escorregar e se machucar seriamente. A chuva estava afinando e
ela conseguiu ouvir os enlameados passos de seus lentos perseguidores; a não ser que algum
deles se lembre como correr, estavam muito longe para alcançá−la.
Agora eu só devo rezar para que a porta não esteja trancada, ela pensou enjoada, pulando da
última lápide. O portão estava aberto, mas a porta depois dele não; se estiver trancada, estaria
condenada.
Três gigantes passos de onde aterrissou e cruzou o portão, tocando a maçaneta da porta de metal
da parede de pedras. Ela abriu sem problemas e preparou a faca, esperando que se houvessem
infectados do outro lado, talvez as chances seriam melhores. Atrás dela, os canibais lamentaram a
perda, gemendo alto assim que sumiu.
Era algum tipo de pátio, com pilhas de destroços espalhados, vigiados por uma baixa torre de
segurança. Havia um caminhão tombado à esquerda, um pequeno foco de incêndio lá dentro. A
noite estava caindo rapidamente, mas a lua também estava subindo, cheia ou quase, e assim que
fechou a porta, pôde ver que não havia perigo imediato − nenhum zumbi apareceu. Haviam vários
corpos espalhados, nenhum se mexendo, e ela cruzou os dedos mentalmente para que algum
deles tivesse uma arma e munição −
Uma brilhante luz acendeu de repente, um holofote na torre de vigilância, a potência dela
cegando−a instantaneamente −
− e ela desviou o olhar instintivamente, o ensurdecedor clicar de uma metralhadora começou a
soar, balas mergulhando na lama aos seus pés. Cega e apavorada, Claire procurou cobertura, o
pensamento de que estaria melhor trancada na cela passando em sua mente.
A batalha cessou por um tempo, os últimos tiros há talvez uma hora, mas Steve Burnside pensou
em ficar mais um pouco onde estava, só por precaução. Além disso, ainda chovia um pouco, um
amargo vento oceânico passando. A torre de vigilância era segura e seca, nenhum cadáver e
nenhum zumbi, era capaz de ver qualquer um e teria muito tempo para reagir... com uma pequena
ajuda da metralhadora montada na janela, claro, uma baita arma. Ele derrubou todos os zumbis do
pátio sem uma gota de suor. Ele tinha um revólver também, uma 9mm semi−automática que tinha
pego de um guarda, que também era uma baita arma, mas nem tanto.
Fique aqui mais uma hora, caso não comesse a chover de novo, e ache uma saída dessa ilha.
Ele pensou em pegar um avião, ele já viu seu... já esteve numa cabine algumas vezes, mas achou
que um barco seria melhor − não cairia se quebrasse o casco.
Steve encostou casualmente na janela de cimento, olhando para o pátio iluminado pela lua,
imaginando se deveria procurar uma cozinha antes de dar o fora. Os guardas não passaram
servindo almoço, eles estavam morrendo, e não pareciam estocar doces na torre, ele já tinha procurado. Steve estava faminto.
Talvez eu devesse ir para a Europa, pedir um prato internacional, eu posso ir para onde eu quiser
agora, qualquer lugar mesmo. Não há nada me impedindo.
O pensamento devia tê−lo deixado empolgado, mas não, só o fez sentir−se ansioso e meio
estranho, e voltou a pensar em sua fuga. O portão principal da prisão estava trancado, e pensou
que se procurasse nos guardas acharia uma das chaves emblema. Ele tinha achado o carcereiro,
Paul Steiner, mas suas chaves tinham sumido.
Tal como seu rosto, Steve pensou, não tão triste com isso. Steiner foi um completo idiota,
desfilando por aí como se fosse o Rei Bosta da montanha do Cocô, sempre sorrindo quando outro
prisioneiro era levado para a enfermaria. E ninguém jamais voltava de lá −
− a porta...
Steve congelou, olhando para a porta de metal na frente da torre. O cemitério ficava do outro lado,
e sabia que estava cheio de zumbis, ele verificou logo depois de ter baleado os zumbis do pátio.
Jesus, eles sabem abrir portas? Eles eram vegetais vivos com cérebro derretido, eles não deviam
abrir portas, e se podiam fazer isso, do que mais seriam capazes −
− não entre em pânico. Você tem uma metralhadora, lembra?
Todos os outros prisioneiros estavam mortos. Se for uma pessoa, ele ou ela não seria seu amigo...
e se não for humano, ele o tiraria de sua miséria. De qualquer modo, ele não hesitaria, e não ficaria
com medo. Medo era coisa de maricas.
Steve segurou o holofote com sua mão direita, sua esquerda já no gatilho da metralhadora. Assim
que a porta abriu, ele engoliu seco e ligou a luz, atirando assim que o alvo ficou evidente.
A arma cuspiu um feixe de balas, o punho chacoalhando sua mão, balas levantando pequenos
espirros de lama. Ele reparou em algo vermelho, uma camisa talvez, e então seu alvo estava
mergulhando para fora da linha de fogo, movendo−se rápido demais para ser um dos canibais. Ele
ouviu algo sobre monstros que a Umbrella tinha criado, e com ou sem metralhadora, ele rezou para
Deus que não encontrasse um deles.
Eu não estou com medo, não estou − Ele andou com ao holofote para a direita e continuou
atirando, um repentino suor de ansiedade em sua sobrancelha. A pessoa ou a coisa estava atrás
da parede perto da base da torre, fora de visão, mas se não conseguir matar a coisa, ao menos
podia espantá−la. Lascas de cimento voavam sob o feixe de alta−intensidade iluminando as pernas
de um guarda da prisão, lama, e destroços, mas sem acertar o alvo −
− e houve um movimento rápido como relâmpago atrás da parede, a visão de um pálido rosto
voltado para cima −
BAM! BAM! BAM!
− e o holofote estilhaçou, pedaços quentes de vidro espirrando no chão da sala. Steve gritou
involuntariamente enquanto se afastava da metralhadora, alguém estava atirando nele, e ele não
se importava se era coisa de maricas, ele estava quase sujando as calças.
"Não atire!". Ele gritou, sua voz falhando. "Eu desisto!".
Houve um silêncio mortal por alguns segundos, e então uma voz feminina surgiu da escuridão,
baixa e de alguma forma espantada.
"Diga alguma coisa".
Steve piscou incerto, confuso − e lembrou de respirar de novo, sentindo suas bochechas ficarem
vermelhas enquanto o medo ia embora.
"Eu desisto" isso foi totalmente ruim. Nada bom para primeiras impressões.
"Eu estou descendo". Ele disse, aliviado por sua voz não ter falhado desta vez, decidindo que uma
pessoa fazendo uma piada depois de ter sido metralhada não devia ser tão má. Se ela for inimiga,
ele tinha a 9mm... mas amiga ou não, não havia chance de ele pedir para ela não atirar de novo,
isso o faria parecer pior.
E era uma garota... talvez bonitinha...
Ele fez o possível para ignorar esse pensamento, sem motivos para elevar suas esperanças. Por
via das dúvidas, ela tinha noventa anos, careca e fumava... mas mesmo não sendo assim, mesmo
sendo muito bonita, ele não aceitaria assumir a responsabilidade por uma vida que não seja a sua,
que se dane. Ele estava livre agora. Ter alguém contando com ele seria tão ruim quanto depender
dos alguém...
O pensamento era desconfortável, e ele o deixou de lado. De qualquer modo, a situação não era
exatamente romântica, com monstros correndo por aí e morte em cada canto. Morte nojenta, do
tipo com larvas e pus. Steve desceu para o pátio, seus olhos ajustando−se ao pós−holofote para encontrá−la. Ela estava
de pé no meio do pátio, armada... e quando ele se aproximou, fez de tudo para não encará−la.
Ela estava suja de lama e molhada, e era a moça mais bonita que já tinha visto, seu rosto como o
de uma modelo, olhos grandes e bonitas e serenas expressões. Cabelo avermelhado e rabo de
cabalo pingando. Três ou quatro centímetros mais baixa do que ele e talvez a mesma idade − ele
faria dezoito em alguns meses e ela não devia ser mais velha. Ela vestia jeans, botas e um colete
vermelho sem mangas por cima de uma apertada meia−camiseta preta, sua reta barriga de fora, o
conjunto inteiro acentuando seu corpo atlético... e apesar de parecer cansada e desconfiada, seus
olhos azuis acinzentados brilhavam forte.
Diga algo legal, seja maneiro...
Steve queria pedir desculpas por ter atirado nela, dizer quem ele era e o que tinha acontecido
durante o ataque, dizer algo delicado e interessante −
"Você não é um zumbi". Ele disse, xingando a si mesmo enquanto dizia. Brilhante.
"Não brinca". Ela disse pacificamente, e percebeu de repente que a arma dela estava apontada
para ele, ela a mantinha baixa, mas estava definitivamente mirando. Até quando ele parou, ela
recuou um passo e levantou a arma, observando ele atentamente, seu dedo no gatilho, o cano a
centímetros de seu rosto. "E quem diabos é você?".
O garoto sorriu. Se ele estava nervoso, estava fazendo um ótimo trabalho para esconder. Claire
não tirou de dedo do gatilho, mas já estava quase convencida de que ele não era uma ameaça. Ela
tinha apagado a luz, mas ele poderia ter descido no pátio e a eliminado facilmente.
"Relaxa, gatinha,". Ele disse, ainda sorrindo. "Meu nome é Steve Burnside, eu sou − eu era um
prisioneiro aqui".
"Gatinha?" Que ótimo. Nada a incomodava mais do que uma cantada. Por outro lado, ele
certamente era mais jovem do que ela, o que significava que ele estava provavelmente tentando
acentuar seu machismo, tentar ser mais homem do que garoto. Com sua experiência, havia poucas
coisas mais detestáveis do que alguém tentando ser algo que não era.
Ele a olhou de cima para baixo, obviamente a analisando, e ela recuou outro passo, a arma
estável; ela não arriscaria. A arma era uma M93R, uma 9mm italiana, um excelente revólver e
aparentemente arma padrão para os guardas da prisão; Chris tinha uma delas. Ela a tinha achado
depois de mergulhar no chão para se proteger, perto do cara morto de uniforme... e se ela atirar no
jovem Sr. Burnside a essa distância, a maior parte de seu rosto bonito iria para o chão. Ele se
parecia com um ator conhecido, o protagonista daquele filme sobre o navio que afunda; a
semelhança era impressionante.
"E eu acho que você não é da Umbrella também". Ele disse casualmente. "A propósito, me
desculpe por atirar em você daquele jeito. Eu não achei que havia mais alguém vivo por aqui, e
quando a porta abriu...". Ele deu com os ombros.
"Mesmo assim". Ele disse, levantando uma sobrancelha, obviamente tentando fazer chame. "Qual
é o seu nome?".
A Umbrella certamente não contratou esse garoto, ela tinha mais certeza disso a cada palavra que
saia da boca dele. Ela abaixou a semi−automática vagarosamente, imaginando porque a Umbrella
aprisionaria alguém tão jovem.
Eles quiseram te prender, lembra? E ela só tinha dezenove anos.
"Claire. Claire Redfield,". Ela disse. "eu fui trazida aqui como prisioneira ainda hoje".
"Falando em tempo". Steve disse, e ela teve que sorrir com aquilo; ela esteve pensando na mesma
coisa.
"Claire, esse é um belo nome,". Ele continuou, olhando nos olhos dela. "Eu não me esquecerei
dele".
Ai, Deus. Ela pensou se calava a boca dele agora ou depois − ela e Leon estavam bem chegados.
− e decidiu que o calaria depois. Não havia dúvidas de que iria com ele para achar uma saída, e
não queria ter que agüentar as cantadas dele ao longo do caminho.
"Bom, por mais que eu quisesse passear por aí, eu tenho que pegar um avião,". Ele disse,
suspirando melodramaticamente. "caso eu encontre um. Eu procuro você antes de decolar. Tome
cuidado, esse lugar é perigoso".
Ele foi para a porta ao lado da torre, no lado oposto da porta que ela tinha usado. "Te vejo depois".
Ela estava surpresa e quase não achou sua voz a tempo. Ele era maluco, ou apenas burro? Ele já
estava na porta antes dela falar, correndo atrás dele. "Steve, espere! Nós devemos ficar juntos −".
Ele virou e balançou a cabeça, suas expressões incrivelmente condescendentes. "Eu não quero
que você me siga, tá? Sem ofensas, mas você só vai me atrasar".
Ele sorriu triunfantemente, empenhando−se no contato visual o melhor podia. "E você
definitivamente será uma distração. Olha, apenas fique de olhos e ouvidos bem abertos, você
ficará bem".
Ele cruzou a porta e sumiu antes que pudesse falar algo. Chocada e incomodada, ela observou a
porta fechar, imaginando como ele tinha sobrevivido até agora. Sua atitude sugeria que ele
considerava tudo isso como um grande jogo de video game, onde jamais poderia se machucar ou
morrer. Parecia que machismo valia alguma coisa... a única coisa que garotos renegados tinham
de sobra.
Isso e testosterona.
Se sua principal preocupação era aparentar ser um cara maneiro, ele não conseguiria ir muito
longe. Ela tinha que ir atrás dele, ela não podia deixá−lo morrer −
Arroooooooo...
O terrível, feroz e solitário som que apareceu de repente na calma noite, era igual a um que já tinha
ouvido antes, em Raccoon City, e vinha de trás da porta que Steve tinha usado. Era inconfundível.
Um cachorro infectado pelo T−virus, de animal doméstico a assassino brutal.
Depois de uma rápida busca nos guardas mortos, ela achou mais dois clipes cheios e um pela
metade. Despreparada como não deveria estar, Claire respirou fundo algumas vezes e empurrou a
porta vagarosamente com o cano da 9mm, esperando que Steve Burnside tenha sorte até ela o
achar... e que ao achá−lo, sua própria sorte não mude para pior.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora