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As coisas foram de mal a pior bem rápido quando ele finalmente alcançou a ilha. Chris ficou de pé
no topo do rochedo no começo da noite, recuperando o fôlego, xingando a si mesmo. Tudo estava
naquela mochila – armas e munição, equipamento de escalada para que pudesse voltar ao barco,
lanterna, kit básico de primeiros socorros, tudo.
Nem tudo. Você ainda tem três granadas no seu cinto, sua mente lhe disse. Ótimo. Na metade da
subida ele perdeu o equilíbrio e perdeu a mochila, mas parecia que ainda tinha seu senso de
humor.
É, vai ser um longo caminho para salvar Claire. Barry estava certo. Eu devia ter trazido reforços.
Bom. Ele podia ficar parado lá o dia inteiro desejando que as coisas fossem diferentes, ou podia ir
andando; ele escolheu andar.
Chris se curvou e entrou na baixa caverna que escolheu como ponto de partida, uma área isolada,
mas definitivamente conectada o resto do complexo – havia uma antena de rádio do lado de fora, e
quando corrigiu a postura, viu que ele estava numa grande câmara aberta, as paredes e teto em
sua forma natural, mas o chão completamente nivelado.
Havia luz em algum lugar adiante, e Chris foi até ela, cruzando os dedos para que não
atrapalhasse nenhum jantar de militares da Umbrella. Ele duvidava. Pelo que tinha visto da ilha, o
ataque mencionado por Claire tinha sido extremamente brutal.
Ele tinha dado doze passos dentro da sombria caverna quando um pequeno tremor a chacoalhou,
fazendo pedras e poeira choverem em sua cabeça – e bloqueando a entrada que acabara de
cruzar, o som das rochas bem distintos. Parece que o ataque tinha tornado a ilha um pouco
instável.
“Que maravilha”. Ele murmurou, mas de repente ficou feliz sobre as granadas. Não que fossem
ajudar muito aqui. Mesmo se conseguisse explodir a abertura sem trazer tudo abaixo, ainda seria
muito alto para pular, e a corda estava na mochila; a não ser que estivesse tendo aulas, Claire não
poderia descer sem ajuda –
“O que?”. Alguém sussurrou, e Chris se abaixou na defensiva, procurando nas sombras –e viu um homem no chão da caverna, encostado numa parede. Ele vestia uma camiseta branca
rasgada com sangue, suas calças e botas militares – ele era da Umbrella, e não estava muito bem.
No entanto, Chris virou de lado, pronto para chutar seu traseiro caso espirrasse.
“Eu não sabia que ainda tinha gente por aqui”. O homem disse, fraco, e tossiu um pouco. “Pensei
que eu fosse o último... depois da autodestruição”.
Ele torceu de novo, obviamente não muito longe da morte. Suas palavras sumiram, criando um nó
no estômago de Chris. Autodestruição?
Ele agachou, tentando manter seu tom de voz. “Estou aqui procurando uma garota, seu nome é
Claire Redfield. Você sabe onde ela está?”.
Ao ouvir o nome de Claire, o homem sorriu, mas não para Chris. “Um anjo. Ela fugiu. Eu ajudei... a
deixei ir. Ela tentou me salvar, mas foi tarde demais”.
A esperança se renovou.”Você tem certeza que ela fugiu?”.
O homem condenado acenou. “Ouvi os aviões partindo. Vi um jato saindo do subsolo, debaixo
do...”. Ele tossiu. “do tanque. Você deve ir, também. Não há mais nada aqui”.
Chris pôde sentir um pouco de seu estresse e medo ir embora, tensões em seu pescoço e costas
aliviando. Se ela foi embora, estava a salvo.
“Obrigado por ajudá−la”. Ele disse, com sinceridade. “Qual é seu nome?”.
“Raval. Rodrigo Juan Raval”.
“Eu sou irmão de Claire, Chris”. Ele disse. “Deixe eu te ajudar, Rodrigo, é o mínimo que posso
fazer e –“.
Eeaaaaaaa!
Um ensurdecedor choro animal preencheu a caverna, e na mesma hora, outro tremor aconteceu,
um dos ruins, o solo tremendo tão forte que Chris perdeu o equilíbrio –
– e terra irrompeu, e Chris pensou ser uma explosão, uma fonte de areia e rochas cuspindo para
cima – mas continuou subindo, e Chris conseguiu ver uma grossa e asquerosa meleca por debaixo
dela, por de sentir o cheiro de enxofre e podridão, viu o imenso cilindro de borracha continuar
subindo –
– e então gritou de novo, o topo do cilindro ser contorcendo, pequenos tentáculos em sua uivante
garganta, e Chris ficou de pé, tirando uma granada do cinto –
– e a minhoca gigante voltou ao chão, de boca aberta –
– e engoliu Rodrigo antes de mergulhar no solo onde estava sentado. O monstro mergulhou no
solo como um mergulhador na água, seu impossível e longo corpo arqueando, acompanhando o
resto.
Jesus!
Chris se afastou de lá enquanto o chão continuava tremendo, a criatura remanejando pedras, terra
e areia em torno dele, e percebeu que devia matá−la ou fugir rápido, que podia facilmente surgir de
novo para outro lanche rápido.
Ele correu para parede de fora da caverna, bolando um plano de emergência enquanto o verme
emergia do chão atrás dele, sua boca insana abrindo enquanto hesitava no ápice da elevação,
pronto para mergulhar sobre ele, pedras chovendo –
– e Chris tirou o pino da granada e correu na direção da parte da criatura que se encontrava com o
chão.
Loucura, isso é loucura –
Ele agachou pouco antes de alcançar o sujo e musculoso corpo, e posicionou a granada no chão
bem na frente da criatura, com o máximo de cuidado para não ativá−la – e então procurou
cobertura atrás do corpo da minhoca, rolando no chão, cobrindo a cabeça enquanto a criatura
começava a descer, berrando –
– e BOOM, a explosão fez o chão tremer mais forte do que o animal, o berro parou, o som da
granada abafado por meia tonelada de tripas da minhoca que voaram em todas as direções,
fedendo e quentes, pintando as paredes da caverna com baldes de gosma viscosa.
Chris rolou pelo chão, ensopado, observando a frente do animal se contorcendo, já morto – e
enquanto seus músculos e reflexos apertavam pela última vez, a minhoca expeliu um jato de ácido
estomacal e pedras por seu ventre, vomitando sua última refeição.
Rodrigo!
Antes que o enorme corpo tocasse o chão, Chris já estava ao lado de Rodrigo, horrorizado e
indefeso, dominado pelo choque e pela dor. Ele estava coberto por uma bile amarela, e Chris podia
ver lugares onde o líquido já tinha começado corroer sua pele. Rodrigo soltou um leve gemido, fraco demais para gritar com a incrível dor, e Chris rasgou a
própria camiseta para limpar o rosto de Rodrigo.
“Você vai ficar bem, apenas relaxe, não tente falar”. Chris disse, totalmente ciente de que Rodrigo
estaria morto em minutos, talvez segundos. Ele continuou falando, mantendo o tom de voz apesar
do pavor.
Rodrigo abriu os olhos, e apesar de estarem cheios de sofrimento, também tinham aquele molhado
e distante olhar de alguém que está partindo, alguém perto de se livrar da dor e do medo.
“Direito... bolso...”. Rodrigo suspirou. “O anjo... deu... para sorte”.
Rodrigo respirou fundo bem devagar, e exalou com a mesma velocidade, uma exalação que
parecia não terminar mais, e então se foi.
Chris automaticamente fechou seus olhos entre abertos, triste e ao mesmo tempo aliviado com a
morte de Rodrigo, pelo fim de uma vida, mas também pelo fim do sofrimento.
Descanse, amigo.
Suspirando, Chris alcançou o bolso de Rodrigo, sentiu um metal morno – e tirou o velho e pesado
isqueiro que tinha dado a Claire há muito tempo. Para dar sorte.
Chris o segurou em seu peito, de repente tomado por uma onda de amor por sua irmã. Ela
carregou o isqueiro com ela durante anos, mas desistiu dele para aliviar a mente de um homem
morrendo, possivelmente o homem responsável por sua captura.
Ele o guardou em seu bolso e levantou, grato pela oportunidade de devolvê−lo para ela – e de
dizer que o objeto tinha feito a diferença nas últimas horas de Rodrigo, que tinha sorrido ao ouvir
seu nome. Mesmo Claire não precisando ser resgatada, a viagem de Chris para ilha já tinha valido
a pena.
O fedor da caverna estava chegando até ele, e agora que sabia que sua irmã estava a salvo, tudo
que restava era ir para casa. A entrada tinha sido bloqueada, e ele não tinha uma arma decente,
mas se alguém ativou o sistema de autodestruição da Umbrella – parecia que todos os seus
laboratórios ilegais tinham esse tipo de dispositivo, um bom jeito de destruir evidências caso algo
desse errado – então não teria problemas para achar o tanque que Rodrigo tinha mencionado,
poderia ter outro jato à disposição.
“Não tenho escolha”. Ele disse suavemente, e com uma oração final por Rodrigo, ele foi atrás do
que procura.
***
Havia uma briga prestes a começar em um dos monitores restantes da sala de controle, e Albert
Wesker, frustrado com um dia de procura sem resultados e não querendo enfrentar outro longo
vôo, puxou uma caixa e sentou para observar. Ele tinha dispensado todo mundo e estava sozinho
– mas disse que tinha esquecido de alguém, que alguém ainda estava andando pela ilha...
... mas não por muito tempo, ele pensou, feliz, desejando que a recepção fosse melhor; graças
àquele fracassado Alfred Ashford, o sistema de autodestruição tinha bagunçado tudo... e
finalmente, algo interessante estava para acontecer.
Deus, ele está desarmado!
Maluco, pouco ou totalmente ignorante quanto à situação da ilha. Wesker sorriu. O homem
desarmado estava andando pelo complexo de treinamento um andar abaixo, e estava para
encontrar uma das mais novas armas biológicas da Umbrella, uma que estava presa nos esgotos
até que Wesker apareceu e a libertou. Eles estavam próximos; quando o idiota fizer a curva, estará
morto.
Wesker ajustou seus óculos escuros, prazerosamente despreocupado com seus afazeres.
Sweepers (varredores), era como a Umbrella os chamava, mas eles eram basicamente Hunters
com garras venenosas – enormes anfíbios violentos. Na opinião de Wesker, os Hunters, a série
121, já era perfeitamente eficaz sem o toque extra de veneno.
Mas é a cara da Umbrella, sempre desperdiçando recursos, fazendo brincadeiras enquanto podiam
estar vencendo guerras.
Sim, sim, mas em alguns segundos haveria carnificina. Wesker deixou seu desgosto pela
companhia de lado e se curvou para assistir.
O idiota sem arma – um homem alto com cabelo castanho avermelhado, era tudo o que a estática
permitia enxergar – estava a dois passos do desastre, o Sweeper esperando na próxima curva...
até que ele parou e encostou na parede danificada. Wesker franziu. O homem começou a recuar, devagar e com cuidado, ainda encostado na parede.
Talvez não fosse um idiota completo.
Ele tinha recuado metade do corredor quando o Sweeper finalmente perdeu a paciência, decidindo
entrar em ação. Não havia sistema de som ativo, mas a criatura tinha levantado a cabeça e estava
gritando, aquele esquisito e rouco grito ecoando até Wesker através do prédio arruinado um
segundo depois.
“Pega ele”. Wesker falou, ansioso, olhando para o pobre condenado... bem a tempo de vê−lo
arremessando algo, algo pequeno e escuro, o Sweeper saltando ainda gritando, o objeto caindo à
sua frente –
– E o prédio chacoalhou, os monitores mostrando branco e depois preto, o profundo trovão do
explosivo fazendo o chão tremer.
Wesker ficou impressionado. E furioso. A criatura era um milagre da ciência, um guerreiro criado
para batalhar – quem era o idiota que o tinha explodido?
Um idiota morto, Wesker pensou, empurrando a caixa e indo para a escada. Ele desceu dois
degraus por vez, cuidadosamente passando por alguns focos de incêndio, ciente de que estava
canalizando todas as suas frustrações e preocupações para o desconhecido soldado, sem se
importar. Alexia não estava em Rockfort, o que significava que precisava ir para a Antártida, para o
único outro complexo que poderia estar; para o que mais Alfred teria ido lá? E se Wesker não
achá−la antes de acordar, irá para casa de mãos vazias... o que o levaria ao fracasso, e se havia
alguma coisa que Wesker odiava, era perder.
Ele marchou através dos destruídos restos do complexo de treinamento, alcançando o corredor
que queria, silenciando seus passos enquanto avançava. Ainda havia fumaça no ar quando
alcançou a curva onde o conflito tinha acontecido, não tinha sobrado muito do Sweeper. A maior
parte dele estava grudada nas paredes e no teto.
Ali, adiante e a esquerda; ele podia cheirar o intruso, podia sentir o cheiro de suor e ansiedade
emanando do pequeno laboratório onde estava refugiado.
Isso vai machucá−lo mais do que machucaria a mim, ele pensou, seu humor aumentando um
pouco com a possibilidade de uma pequena interação pessoal.
Não querendo ser explodido, Wesker não hesitou, não deu a chance para o cara ficar alerta. Ele
invadiu a sala, viu o futuro cadáver de costas e andou. Movendo−se do modo como só ele podia –
num segundo ele estava na porta, no outro ele estava contornando o intruso, levantando−o pelo
pescoço –
Ah, não!
Chris, que esteve no S.T.A.R.S. de Raccoon, levado – sob o comando de Wesker – para a mansão
de Spencer, onde acabou arruinando os planos de Wesker. Chris Redfield o fez perder dinheiro e,
por pouco, sua vida – mas o pior de tudo, ele foi o principal responsável pelo maior fracasso da
carreira de Wesker.
Wesker se recuperou rapidamente, uma obscura e maravilhosa alegria tomando conta de seu
corpo. “Chris Redfield, enquanto eu viver e respirar – o que o trouxe a Rockfort, se não se importa
em...”.
Wesker parou, ainda olhando para a avermelhada face de Redfield enquanto lutava inutilmente
contra seus dedos. A garota, claro! Ele nem sabia que Chris tinha uma irmã, mas a carta que Alfred
Ashford tinha deixado para trás explicava tudo... incluindo seus planos para a jovem Claire
Redfield.
“Ela não está aqui”. Wesker disse, sorrindo. Com sua mão livre, ele ajustou os óculos escuros.
“Você... você está morto”. Chris engasgou, e Wesker sorriu mais, não se importando em responder
tal afirmação.
“Não mude de assunto, Chris. Você quer saber onde Claire está, hein? Você sabia que o avião
dela fez com pequeno desvio não planejado para a Antártida?”.
Chris estava morrendo de choque lentamente, mas Wesker podia ver que a notícia sobre sua irmã
o estava afetando mais do que sua morte iminente. Maravilha!
“Há experiências sendo conduzidas lá”. Wesker zombou sussurrando, como se estivesse contando
um segredo. “Eu planejo ir para lá, ver se consigo fazer um ou dois dos experimentos... me diga, a
sua irmã é atraente? Será que ela estaria interessada em alguma ação, porque eu tenho uma
dureza que você não imagina –“.
Chris golpeou Wesker, a indefesa fúria em seus olhos absolutamente maravilhosa. Ele acertou
Wesker no rosto, derrubando seus óculos escuros no chão... e Wesker riu, levantando olhar e piscando devagar, deixando−o ver. Ele próprio ainda não estava acostumado, o olho felino
vermelho e dourado ocasionalmente o surpreendia na frente do espelho – e causaram o efeito
exatamente como esperava.
“O que... é você?”. Chris roncou.
“Eu estou melhor, é isso”. Wesker disse. “Novos patrões, você sabe. Depois da mansão de
Spencer, eu precisei de uma pequena ajuda para ficar de pé, coisa que eles estavam perfeitamente
desejando fornecer. Você acha que Claire gostará?”.
“Monstro”. Chris resmungou.
Eu vou te mostrar o monstro, seu merda.
Wesker começou a fechar a mão, devagar, observando os olhos de Chris saltarem, a veia em sua
testa inchando –
– e foi interrompido pelo som de uma gargalhada. Fria, feminina, preenchendo a sala,
cercando−os.
“Vocês não querem jogar comigo?”. A voz disse, a mesma mulher, suave, sensual e perigosa, e
então começou a rir de novo, um impiedoso e bonito som que finalmente terminou em nada.
Alexia!
Deus, ela já tinha acordado... e o tipo de poder que a fez achá−lo aqui, que a fez se projetar tão
longe...
Wesker jogou Chris para o lado, mal ouvindo a parede de gesso rachar sob seu inútil corpo, seus
pensamentos tomados por Alexia. Ele tinha que ir até ela imediatamente. Ele precisava dela, e não
apenas pela amostra... ele pegaria o que pudesse.
“Estou indo”. Ele disse, pegando seus óculos escuros e movendo−se, correndo pelo arruinado
complexo até onde seu avião particular esperava. Chris Redfield era seu passado; Alexia era seu
futuro.
Chris engatinhou e ficou de pé logo depois que Wesker partiu, machucado numa dúzia de lugares,
sua garganta terrivelmente dolorida. Ele não sabia o que tinha acontecido exatamente, não sabia
quem era a mulher ou porque Wesker parecia tão ansioso em achá−la – mas agora ele sabia quem
tinha atacado Rockfort, e suspeitava do motivo. Albert Wesker deveria ter morrido quando a
mansão de Spencer explodiu, mas parecia que tinha vendido sua alma para alguém novo pelo
preço de sua vida, alguém obviamente tão sujo e imoral quanto Umbrella – alguém desejando
matar em troca de sua necessidade, por algo que a Umbrella tinha.
Chris não se importava. No momento, tudo com que se importava era Claire, e chegar nesse
complexo da Antártida. Ele sabia que a Umbrella tinha uma base legítima lá... devia ser a mesma,
e se não fosse, alguém lá saberia dizer onde os experimentos eram conduzidos.
Ele só tinha uma granada restando. Se ele pudesse achar o aeroporto subterrâneo, não teria
problemas para entrar, e podia pilotar qualquer coisa com asas. Ele usaria o rádio para localizar a
base da Umbrella, e caso não achasse uma arma, usaria as próprias mãos.
Tudo o que importava era Claire. E já estava a caminho.

Resident evil 6# Código Verônica Onde histórias criam vida. Descubra agora