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" Os suicidas, mesmo os que planejam a morte, não querem se matar, mas matar a sua dor "
(Augusto Cury)

Cá estou eu parada no pequeno e grosso murrinho da orla da praia que parece mais uma parte do oceano, já que a maré é alta, com as estrelas bem brilhantes no céu.
É exatamente isso, quero me suicidar. Preparada para ir para o outro mundo, talvez no inferno, enxuguei as lágrimas que insistiam em cair, estiquei os braços e respirei fundo inalando pela última vez o oxigénio.

Dei um curto passo para a morte, pronta para cair, mas alguém segurou minha mão...

Abri os olhos e chorei mais uma vez, o homem que me segurou me carregou e me fez sentar ,ele não falou nada só me encarou e eu continuei chorando por longos segundos, até que decidi parar e funguei o nariz- falta de educação.

- Me conte sua história!-disse calmo

Ri amargamente.
-Isso não vai mudar minha vida -digo melancólica

-Talvez não, mas vai te ajudar na consciência -respondeu -Apenas desabafe tudo que sente.

- Tudo bem, se te faz sentir melhor eu conto . É uma longa história cheia de pontos de interrogação- Suspirei -Porque os que amamos sempre vão embora?Por que se vão e não avisam quando chega a hora ? Dói e Rói porque estão longe, muito longe onde não podemos vê-los, pegá-los, senti-los e muito menos tê-los.
Limpei a lágrima que escorria em minha bochecha e o homem abanou a cabeça, me incentivando a continuar.

- Meu filho morreu e a pouco tempo esteve cá, Foi espontâneo, nem sei como aconteceu. Ele nasceu e logo morreu, foram nove meses na minha barriga que eu carreguei, para no fim acontecer essa tragédia. Várias vezes perguntei a quem tentava me consolar, o que faria com o nome dele, a roupa, o quarto, os brinquedos dele, ele era apenas um bebé inocente, eu parei toda minha vida para esperar a ele. -Fiz uma pausa, com as lágrimas já caindo - Também me pergunto se isso é consequência do meu passado, talvez por eu ter me envolvido com meu cunhado ou por outro motivo pelo qual não lembro.

- Se você não quiser continuar, tudo bem - me olhou com pena.

- Não, tudo bem, eu continuo -olhei os meus dedos - A primeira e a segunda gravidez eu abortei, eu sei, fui estúpida naquele momento não pensei, achei que não fosse nada quando analisei.
Meus pais falavam e avisavam para mim, eu ouvia, ignorava e hoje estou aqui, queria um filho, tentei mas não consegui, Perdi a felicidade e estou arrependida. Eu estava casada à 3 anos, e engravidei depois de 2 anos, logo perdi o meu filho. Eu e meu marido nos conformamos depois da minha depressão pós- perda, vivemos felizes e traçamos planos, foram planos bem feitos. -Sorri melancólica - Mas logo meu marido morreu depois de 1 ano, tudo foi ao avesso, inclusive os planos, as pessoas tentavam me consolar dizendo, que o destino é que quis assim, no tempo me conformei e não discuti.

Olhei o homem :
- Mas veja agora - digo gesticulando com as mãos -Por causa do meu silêncio, perdi o meu marido a exatos 7 meses, mas eu não entendo o que esse destino quer de mim, será que quer que eu fique assim, sofrendo e aos poucos morrendo assim ? -Ele segurou minhas mãos -Mas eu assumi os erros que cometi, mereço ser perdoada porque me arrependi, Ou não... - O homem me encarou com o semblante inexpressivo - Eu me arrependo de tudo que fiz na vida, inclusive depois de me casar, perdi tudo, queria apenas começar do zero, mas o vazio que eles me deixaram não se ocupa assim, o lugar deles é aqui perto de mim, você me entende nem!?- Ele assentiu lentamente e desviei o olhar - Eles me abandonaram, mas agora percebo que eles têm razão, Depois que me casei, eu não tinha tempo para meu marido, nem para vida de casada, pensava só em baladas, o espírito de solteira ainda estava em mim com toda força, bastava ver uma festa eu não perdia tempo, estraguei a minha vida só para viver momentos.

Respirei fundo e continuei:

- Enquanto ele me esperava, eu estava com amigos, nem eram bem amigos, eram quaisquer indivíduos, só que tínhamos os mesmos vícios, eu admito agora que fiz algo que não se faz mais. Perdi a chance de dar um neto aos meus pais e seguir em frente, não é fácil para alguém como eu, que está muito atrás. Ignorei os conselhos dos que me deram a vida, agora me sinto sozinha e arrependida, fico apenas escondida atrás do sofrimento procurando uma forma de reciclar minha vida.

As lágrimas que antes tinham ressecado, caíram com todas as forças e chorei com tudo, o homem apenas me envolveu em um abraço eu não recuei porque era o que eu precisava.
No momento chorei por tudo , pelos meus erros, pelo meu filho e marido,e por todo o sofrimento que tenho passado.

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