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"Siga sempre em frente.
Nunca pare
Sorria e nunca chore.
Se precisar desistir, Desista.
E então chore.
Chore sozinho, com amigos ou diante do espelho.
Simplesmente chore.
E quando você decidir parar de seguir em frente, Pare.
Mas parado lembre-se dos momentos em que um sorriso era o que te mostrava o caminho;
Enxugue as lágrimas, e mesmo sem um sorriso continue em frente, simplesmente com as lembranças de belos e doces momentos vividos, pois são os momentos que dão sentido a vida... "
(Lucas Tadeu)


Jenna com 29 anos, casada/viúva, o marido se chamava Charles.

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- Do que adianta viver?- Perguntei entre soluços.
Ele ficou em silêncio e eu continuei soluçando.

- Eu também tenho uma história -Disse o homem - Não se compara a sua e acho que nem chega aos pés.

O olhei e ele sorriu levemente.  Eu retribui.

- Pode falar - digo me ajeitando.

- Meus pais morreram quando eu era criança, tinha 7 anos e desde então morava com a minha avó. As condições não eram as melhores do mundo, mas dava para sobreviver minha Vó ficou aposentada, ela conseguiu pagar escola para mim, eu ia para escola e trabalhava como garçon numa lanchonete, não recebia muito mas para a nossa situação era muito.
Nos tempos livres, eu trabalhava como jardineiro na vizinhança, quando terminei o secundário não tinha como pagar a faculdade, minha Vó vendeu algumas joias da família,fazia alguns bolos e vendia, ela gostava de cozinhar, eu consegui entrar na faculdade.  Estudei administração e na minha formatura assim como em outros momentos, ela ficou orgulhosa de mim, chorou tanto... -Disse visivelmente triste.

- Eu a prometi um bom futuro -continuo -O que for de bom, para compensar todo o sacrifício que ela fez por mim.  O tempo passou, eu tinha conseguido um emprego, passei de muitas fases até ser considerado o melhor administrador da empresa, passei dessa fase e com as condições financeiras totalmente melhoradas ,me tornei sócio.
Em pouco tempo serei independente e terei uma empresa minha.

-Minha Vó ficou mais orgulhosa ainda, mas a velhice e a doença que ela tinha,acabou com ela, ela tinha Alzheimer,por vezes até esquecia do próprio nome ,um dia pior que o outro  ou melhor que o anterior.
Depois de tanta amnésia,ela não resistiu se foi faz 5 meses, sinto falta dela mas já superei a perda, ela se foi feliz, cuidou de mim e eu cuidei dela, cumpri minha promessa para com ela, Agora estou apenas seguindo em frente.

Ficamos longos segundos em silêncio.

Até que eu quebrei o silêncio rindo levemente :
- Contei toda a minha vida a um estranho -digo

- É -disse só isso - O destino é estranho as vezes.
Sorriu.

- Acho que o meu, não é nada estranho -falei num sussurro - É apenas ruim. E eu continuo não querendo viver.

- Podemos esquecer isso, fingindo que nunca aconteceu -disse sorrindo -Vamos nos conhecer normalmente.

Sorri pela primeira vez depois de muito tempo francamente.

- Prazer, sou Paul Walker - Me estendeu a mão.

- Igualmente,Jenna Turner.-Peguei em sua mão.

A gente sorriu com isso.

- Está um pouco frio aqui -disse -Até convidaria você para tomar café,agora ,em alguma cafeteira por aqui mas o tempo não permite.

- Com certeza essa não é a melhor hora -digo -suponho que já são quase 23hrs .

-É -disse apenas -Mas a gente pode combinar outro dia ou não? -Perguntou hesitante

- Claro que a gente pode -respondi

-Então,que tal amanhã na hora do almoço -questionou.

-Está perfeito -digo me abraçando pelo frio.

Ele percebe isso e retira sua jaqueta e coloca em mim.

-Obrigada -digo e ele retribui sorrindo.

Logo peguei a pequena bolsinha que trazia e quis me levantar, mas falhei miseravelmente na tentativa e Paul me segurou.

- Você está bem? -Quis ele saber.

- Claro só me levantei rápido demais. -digo sorrindo a força.

A verdade é que durante o tempo que estive me lamentando, troquei as refeições por momentos de choro ,eu não tinha vontade de comer, nem sentia nenhuma dor física ou cansaço, apenas a dor do coração, só chorava e ficava olhando o nada.
Provavelmente estou menos desidratada do que tomate seco ao sol (eu sei, é um péssimo exemplo).

Ele me encarou e como me segurava, abriu um pouco de espaço e me olhou quase de ponta a ponta.

Franziu a testa e disse :
-Você não parece bem -continua me olhando -Você está mais pálida do que a neve, parece que não se alimenta a muitos dias.

Desviei o olhar e fiquei cabisbaixa.

-Muito obrigada por me ajudar -digo desconversando -Se não fosse você, eu já estaria morta.

Me soltei dele e tirei meu cartão para entregá-lo.

- Você pode me ligar amanhã, para confirmar o almoço - Ele pegou o cartão ainda me olhando.

Dei dois passos para frente e quando ia começar a caminhar, Paul me impediu segurando-me pelo braço.

-Não pense mais nessa besteira de morte, você precisa aceitar e superar essas perdas -disse sério -você não pode viver para sempre nessa bolha sombria e solitária, a vida segue para frente, não para trás, aproveite cada minuto ou mesmo segundos com as pessoas te amam e você ainda tem por perto.

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