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" Gostaria de dizer para você, que viva como quem vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito. "

Continuando...

Jenna narrando:

Eu estava tão contente e ansiosa, que me despedi da minha mãe logo indo ao restaurante, acho que cozinhar para ela no meu lugar preferido fará a comida saber melhor.

Esse será o melhor jantar, por mais que seja em um hospital.

- Chefa, está de bom humor - disse Lise, assim que coloquei as mãos nas panelas cozinhando, sorridente.

Ela -Lise -é uma das cozinheiras mais alegre e extrovertida que eu tenho.

- Estou mesmo -digo sorrindo amplamente.

- Que bom que está de volta -diz Suzan, chamando minha atenção logo me dando um abraço. Ela é a mais sensata dos cozinheiros e sempre coloca ordem na cozinha, eu sou uma boa chefe, mas exijo respeito. -Espero que tudo esteja bem agora.

- Eu não sei se estou de volta, mas vim fazer o jantar para mamãe, ela que pediu - respondo mesmo não sendo de facto uma questão - As coisas não estão tão bem quanto eu queria, mas no momento está tudo bem.

Continuamos conversando, enquanto cada fazia o seu trabalho -claro nem - o ambiente estava tão agradável, que amenizou mais ainda os acontecimentos recentes.

No final do dia voltei ao hospital encontrando mamãe dormindo tranquilamente, meu pai estava sentado no sofá do canto lendo um livro, que por acaso nem me dei ao trabalho de olhar bem, estou longe de gostar de leitura.

Paul não estava, como eu já sabia, o mesmo é dono de uma empresa e precisa geri-la, não podendo ficar tanto tempo ausente.

Dei um beijo na testa de minha mãe, acariciando seu rosto logo indo saudar papai com o mesmo gesto. Me sentei ao seu lado e logo me abraçou beijando o topo de minha cabeça, Me aninhei em seus braços, e nossa era confortável, nos últimos tempos tenho recebido muitos abraços assim de papai.

Fiquei alguns minutos assim até ouvir a voz da minha mãe chamando por papai, soava muito baixa e fraca.

Nos levantamos quase que num pulo indo até ela, a mesma deu um sorrisinho fraco assim que lhe tocamos as mãos, nos sentando ao seu lado na pequena cama.

- Que tal jantarmos no terraço? - Questionou com a sombra de um sorriso.

No momento a ideia nos pareceu boa, mas assim que pensei novamente, ficou fora de questão, seus membros eram inválidos, não havia como.

-Eu consigo ficar sentada - falou num fiapo de voz, insistindo após nós dois negarmos o pedido.

- Por favor, só quero ter um momento com vocês a luz do céu estrelado e da lua - fala fazendo um grande esforço para desfazer o sussurro que se fazia ouvir sempre que ela falava.

Mamãe nos convenceu e decidimos ceder-lhe o desejo do momento.

Chamamos um enfermeiro, para a colocar numa cadeira de rodas e nos ajudar a levá-la ao terraço.

O enfermeiro empurrou a cadeira de rodas, Papai arrastava o suporte de soro numa mão e na outra carregava o cesto que eu trouxe do restaurante para o jantar, e eu peguei algumas cobertas.

Andamos pelo corredor até ao elevador, nos levando até o terraço do hospital, assim que lá chegamos não pude evitar minha alegria e entusiasmo ao notar o céu estrelado e a lua cheia brilhante. Forma o clima perfeito.

Estendi um lençol no chão dando a liberdade de papai pousar o cesto, o enfermeiro logo se retirou nos dando mais privacidade.

Nos sentamos no chão.

- Vocês deviam confiar mais em mim - mamãe fala num fiapo de voz, sua voz estava tão baixa, que por um milagre conseguimos escutar. Continuou abrindo os olhos momentaneamente, os olhos estavam bastante cansados, logo curvou os lábios num pequeno sorriso - Eu sempre tenho ótimas ideias.

- Eu sei -disse papai - Nós sempre amamos suas ideias.

Papai sorriu e eu o acompanhei, ele sempre fora calmo, o que sua boca não falava , seus olhos diziam sempre. Ele podia até sorrir, mas o brilho em seus olhos dizia o contrário.

- Fiz a Pavlova de frutas -digo depois de um tempo de silêncio acolhedor - A senhora quer comer um pouco?

Embora eu soubesse que ela não fosse comer nem duas colheres, falei com entusiasmo tentando incentivá-la.

Mamãe apenas balançou a cabeça num sim, seus olhos agora se encontravam fechados, mas em sua expressão deu para notar uma linha de sorriso.

Peguei uma colherada dando-a (Mamãe) de comer.

Ela saboreou tão lentamente, que por um momento temi que ela não gostasse.

- Você é a melhor cozinheira - disse e eu sorri querendo dar-lhe outra colher da sobremesa, porém ela abriu um pouco os olhos, logo abanando a cabeça para os lados se negando a comer. -Estou satisfeita filha.

Eu sabia que ela não estava satisfeita, mas não insisti, contudo que se passou deu para perceber que aqueles soros e outros remédios para o tratamento, podiam causar-lhe esses efeitos.

Passamos a noite daquele jeito, mamãe conversava - de maneira lenta, mas conversava -rimos de algumas coisas, e assim que ela se cansou e pegou no sono a levamos para o quarto.

Papai insistiu em passar a noite ali no hospital, então dividimos o sofá cama.

Era inevitável não sorrir com o progresso da minha mãe, depois de tanto tempo a vendo deitada e cansada, sem vontade alguma de se mover ou fazer alguma coisa, esse foi um grande passo e nós não podíamos ficar mais entusiasmados e felizes.

Falei com Paul, ele ficou muito feliz e prometeu que viria de manhã, o trabalho lá estava bastante pesado, o mesmo precisava resolver alguns assuntos.

Conversei um pouco com papai, e eu podia imaginar o sorriso que estava estampado em meu rosto, ele -Papai - estava mais aliviado, ele também tinha o mesmo pensamento feliz que os meus.

Em meio a tantos planos para o futuro, acabei sendo arrastada pelo cansaço, me deixando levar pelo sono.

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