Minha mão estava suada e fria. Meu coração estava a mil e quase não conseguia segurar o choro de desespero.
- então doutora?- minha mãe perguntou enquanto a mulher não tirava os olhos do papel.- minha filha está grávida?
Ela levantou o olhar e nos encarou antes de falar.
- isso é incomum. Raro, na verdade, mas como todos os métodos contraceptivos, tem falhas, uma gravidez é possível sim. Já ouvi sobre histórias como essas, mas presenciando é a primeira vez.- me encarou.- Liara você está grávida sim.
- mas como é possível doutora?
- como disse, os métodos oferecem uma proteção, alguns mais do que os outros, mas nada a 100%, então esses casos podem ser mais comuns do que conhecemos.
- meu deus.
- tinha ausência de menstruação?
- sim, mas isso não é característico do DIU hormonal?- a encarei e ela assentiu com a cabeça.
- isso mesmo, por isso fica um pouco mais difícil de identificar.
- doutora, então sobre o aborto?
- bem, isso já é mais complicado.
- por causa do DIU?- perguntei com o coração na mão.
- não. Ele pode ser retirado porém apenas se não correr risco de aborto.
- mas eu quero abortar.
- isso já não é mais possível. Está de 16 semanas. O aborto após 12 semanas é complicado e arriscado, além de não ser permitido por lei.
Naquele momento eu poderia sentir que eu não tinha mais chão. Não consegui sentir se minhas mãos tremiam, se tinha vontade de vomitar ou se estava fria. Apenas pude chorar. Na frente de minha mãe e da médica.
Chorei de desespero, de medo e de raiva com tamanha injustiça.
Eu não queria aquilo para mim.
Não queria nem agora e nem nunca. Nem mesmo poderia me imaginar mãe.- meu amor, se acalma.
- acalmar, mãe? Eu fiz tudo certo! Eu sempre me protegi, sempre me preocupei com isso. Sempre fiz consultas de revisão, pesquisas, tudo! E agora eu estou grávida de quatro meses e vocês estão me dizendo que não posso abortar?! Eu não me importo com o risco, tira isso de mim!
- se acalme por favor. - a médica se agachou em minha frente segurando minhas mãos.- vai ficar tudo bem, ok? Só não podemos fazer isso. É contra a ética médica e contra a lei.
- nada vai ficar bem! Eu odeio essa merda.
- você pode optar pela adoção.- tentou sorrir.
- eu não quero adoção, não quero bebê eu não quero nada, apenas que tirem isso de mim.
•••
Eu não vi a cara de Zach por dois dias que fiquei trancada em casa apenas chorando, comendo e tirando tudo do estômago novamente. Eu não sabia nada dele, e nem se minha mãe havia contado algo a ele.
Apenas parecia que ele não se importava com aquilo e que eu estava vivenciando o pior momento da minha vida sozinha.Não fui a mais nenhuma consulta apenas me recusando a pensar naquilo.
Eu não me importava como ele estava, se estava bem ou não. Não me importava se ele era um ele ou ela. Eu não queria me importar. Não poderia parar de pensar que carregar toda aquela culpa sozinha era uma merda muito injusta e que eu estava sozinha.Minha mãe entrou no quarto e se sentou na cama me puxando para seu colo.
- vai ficar tudo bem meu amor.
- eu odeio isso, mãe.
- não fala assim, vai ficar tudo bem, eu prometo.
- todo mundo diz isso, mãe. Nada vai ficar bem. Eu vou ser uma pessima pessoa como mãe.
Ficamos por mais algum tempo quietas apenas chorando e abraçando uma a outra até minha mãe cair no sono e eu me levantar indo até ao banheiro.
Eu não sabia o que faria e estava tomada pelo medo.
Encarei meu reflexo no espelho e abri o armário procurando o objeto prateado.
O posicionei sobre meus pulsos e num ato de coragem fiz o primeiro corte soltando um grito logo de seguida.- Lia? Meu deus!!
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Inesperado
Chick-LitAtenção: esse é um livro sobre ( ou pelo menos tento): • maternidade real • aborto • e outras coisas. Eu vou apresentar minha opinião, se você não estiver disposto a saber, não leia. Se você estiver lendo essa história em qualquer outra plataforma...