Quatro

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Meus olhos demoraram um tempo até obter uma imagem nítida e sem desconforto pela claridade.
A primeira imagem que vi foi minha mãe no sofá, deitada de mal jeito.

- mãe? Mãe?

- hum?! Lia?! Meu amor, está tudo bem?- ela levantou rapidamente ignorando as lágrimas rápidas que percorreram sua bochecha.- está se sentindo bem, meu amor.

- sim mãe.- sorri de leve.

- meu deus, Liara, nunca faça isso comigo novamente.

Abaixei meu olhar para o curativo em meu braço e encarei seus olhos novamente, completamente encharcados.

- me desculpe mãe. Eu não pensei nisso. Eu só quiz acabar com tudo.

Ela se endireitou limpando as lágrimas.

- vou chamar a enfermeira.

Minha mãe saiu do quarto me deixando com o enorme peso da solidão e da culpa.
Eu nunca seria uma ótima mãe como a minha. E também havia falhado como filha.

As duas mulheres entraram pela porta e minha mãe veio um pouco atrás.
A primeira identifiquei como minha médica e a segunda devia ser a enfermeira.

- Olá Lia, como se sente?

- bem, eu acho.- ela sorriu e concordou com a cabeça.- ele está bem?

A médica me encarou por um tempo talvez tentando identificar  a pessoa que me estava referindo.

- está. Você não perdeu muito sangue por causa de sua mãe que agiu rápido. Não afetou nada. Aliás, aproveitamos e fizemos uma especie de primeira consulta iniciando o pré-natal.

- hum.

- está tudo bem com seu bebê.- a enfermeira falou e sorriu junto com a médica. Franziu o cenho quando não expressei nenhuma reação.- não está feliz?

- estou indiferente.- falei.- quando posso sair daqui.

•••

Me aconcheguei melhor no travesseiro e minha mãe entrou no quarto segurando uma bandeja com frutas, suco e um sanduiche.

- terá que comer tudo para ficar fortinha.

Esbocei um mini sorriso para ela e beijei sua bochecha.

- estou com fome mesmo.

Coloquei uma uva na boca e ela voltou a falar.

- ele está ai.

Meu olhar se levantou encontrando o rosto de minha mãe completamente inexpressivo. Com certeza sabia de quem ela falava. E com certeza não queria vê-lo assim como ela.

- eu deixo entrar?

- deixa.

Uma hora eu teria que enfrentá-lo.

Minha mãe saiu e logo Zach entrou me encarando. Franziu o cenho encarando meu pulso e se sentou na cama.

- como você está?

- bem.

Ele concordou com a cabeça e continuei fazendo meu lanche.

- e ele?

- você se importa?- levantei meu olhar. - você não está aqui comigo, Zach. Me deixou sozinha como se eu fiz isso sozinha.

- não foi minha culpa!

- MUITO MENOS A MINHA!

- calma Lia?

- calma? Você está maluco de colocar a porra do seu pé em minha casa. Como consegue olhar em minha cara depois do que você fez?

- você tem que me entender, porra. Tudo isso é muito novo para mim e eu estou com medo disso tudo. Eu não sei o que fazer.

- ora, adivinhe uma coisa, Zach: eu também estou com medo. Isso está dentro de mim e eu sinto tanto medo quanto você. Ou talvez até mais.

- lia..

- você fugiu. Você tem por onde correr para tentar espairecer ou o caralho. EU NÃO! EU TENHO ESSA COISA DENTRO DE MIM E NÃO POSSO FUGIR DISSO. ENTÃO NÃO ME VENHA DIZER QUE VOCÊ PRECISOU ESPAIRECER E POR ISSO ME DEIXOU SOZINHA PORQUE. EU. NÃO. POSSO!

- calma, por favor. Calma.

- eu estou calma.- falei sentindo a raiva se apossar de meu corpo.- isso é muito injusto!

- eu sei.

- você não sabe, Zach. Você não faz ideia do que é não poder fazer nada para esquecer isso por um minuto. Você tem esse privilegio, eu não!

- me desculpa.- pediu.

- não.- falei dura.- eu quero que saia daqui porque eu realmente não preciso de você para nada.

- e o que vai fazer?

- eu não sei, porra. Só sai da minha vida.

- lia..

- finja que você está espairecendo, Zach. Não é muito difícil já que já fez isso. - me endireitei.- eu estou te dando a oportunidade de fugir disso e fingir que nunca aconteceu.

- eu te amo.- disse antes de sair com ar derrotado.

InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora