«Contato»

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Bakugou ainda estava meio aturdido com o ambiente nostálgico daquele lugar. Não tinha barulho de carros ou de pessoas, era simplesmente o barulho usual da natureza. Era como se estivesse no paraíso.
Bom, quase.

— Katsuki, quero que faça uma coisa — Masaru tirou-o de seu momento nostálgico, fazendo-o substituir o semblante calmo por uma carranca.

— O que? — indagou mal-humorado.

— Você quer ir embora daqui, certo?

Arregalou os olhos. Havia acabado de ser arrastado contragosto para aquela ilha e agora o maldito está perguntando se queria ir embora?
Não queria ir embora, mas sentiu que deveria. Não gostaria de admitir que seu velho estava certo ao levá-lo para aquela ilha a fim de acalmá-lo.
Esse seu orgulho ridículo sempre o atrapalhava.

— Óbvio.

— Então quero que pesque para mim um peixe grande – disse, lhe dando o anzol e as iscas que estavam na mesa.

— Porra, é sério essa merda?

— Você precisa aprender a ter paciência, Katsuki.  — explicou — pescar é uma boa forma de aprender a ser paciente.

Depois de muita insistência, o loiro cedeu, rumando à praia mal-humorado. Ao menos desfrutaria do oceano em seu lugar favorito enquanto pescava descrente de que iria pegar algo.
Ficou ali por alguns por bons minutos, se esquecendo até do que deveria fazer. Em dado momento, as memórias de seus romances começaram a tomar espaço em sua mentes. As brigas, as palavras, os términos.
Sempre era do mesmo jeito.
Sempre era o problema.
Deveria mudar? Pensava.
Sua forma grosseira de agir feria as pessoas, feria àqueles ao seu redor. Estava certo de que não tinha sido abandonado pelos progenitores pois eles tinham de suporta-lo.
Começou a gritar aos quatro ventos suas frustrações.

— Porra, por que caralhos eu tenho que ser tão filho da puta? – Perguntou ao oceano, mesmo ciente de que nunca teria uma resposta — Sou um ingrato do caralho. Como meus pais me aguentam? — começou a encarar a água azulada, sentindo a garganta se fechar e os olhos arderem — Talvez fosse melhor se eu só morresse de vez — sussurrou, levando suas mãos aos cabelos espetados e puxando-os violentamente.

— Ei! Não diga isso! — deu um pulo para trás quando ouviu e viu um garoto de madeixas ruivas e peitoral desnudo aparecer na água.

— Mas que porra? — Encarou-o assustado. Por quê tinha um cara pelado na praia particular de sua família?

— Ah, droga — e afundou na água.

— Não, espera! — viu-o ressurgir  na água e fita-lo envergonhado — Quem caralhos é você?

— Ah, eu... — Se remexeu nervoso, tanto que acabou deixando uma parte de sua cauda vermelha aparecer, que, obviamente, não passou despercebido pelo olhar perspicaz do loiro.

— Isso é um rabo? — lançou uma indagação óbvia — Puta merda, uma sereia — tratou de se afastar.

— Ei, eu não sou uma sereia — manifestou-se, levantando um pouco mais seu corpo e, consequentemente, sua cauda — Sou um Tritão!

— Mesma merda — rosnou antes de dedicar sua vista à grande cauda rubra cuja o dono exibia uma beleza surreal.

— Enfim, lindo moço, por que morrer? — questionou tristonho.

Katsuki sentiu um leve rubor formar-se em suas bochechas antes de pensar negativamente sobre aquele elogio simpático que o outro o direcionou.

— O que você quer me elogiando assim? — ignorou a pergunta do outro

— Ah, nada! Eu só digo o que vejo. — sorriu.

Estalou a língua antes de falar.

— Se me conhecesse não me acharia tão lindo assim. — desviou o olhar.

— Eu acho que não — discordou — Me deixe te conhecer para comprovar!

Katsuki sentiu a queimação subir na pele. Será que era o sol? Ou talvez fosse aquele sorriso entusiasmado do ruivo que era tão radiante quanto o sol.

Sem que quisesse, acabou completando a missão de “pescar” um grande peixe. Todavia, não planejava que ele falasse ou tivesse um lindo sorriso de dentes pontiagudos.

. . .

The Redheaded Merman [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora