«Nadar»

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No oitavo dia, o rapaz loiro não estava muito diferente da manhã anterior.
Trouxe seu celular apenas para ouvir músicas que o relaxassem, deixando-o seguro em cima da rocha.

Era bem bizarro, ao seu ver, como aquelas músicas podiam tanto acalmá-lo e fazê-lo viajar enquanto mergulhava os olhos naquelas águas infinitas. Novamente, estava hipnotizado pelo oceano.

Mas não por muito tempo.

Ao chegar, Kirishima notou seu estado de transe e lembrou-se do dia anterior, onde o próprio loiro havia dito que deveria “cutuca-lo ou algo do tipo”. Então, sem a menor hesitação, aproximou-se do humano e o puxou pelos pés, arrastando-o para a água.
Katsuki se assustou com o choque entre seu corpo e a água gelada, ainda tentando agarrar-se à rocha, falhando e caindo desesperado na água.

— O que tá fazendo cacete? — berrou, tossindo desesperado enquanto mexia suas pernas para nadar.

— Você disse que eu não deveria gritar para te chamar, então apenas te puxei! — explicou-se — Não gostou? — indagou já sentindo o remorso o consumir.

— É claro que não, cacete! — rosnou irado e ainda desesperado pela situação tão repentina, agarrando-se na rocha para não afundar graças a sua impaciência em nadar.

— N-não sabe nadar? — perguntou pensando ser esse o problema.

— Claro que sei!

Eijirou engoliu seco, vendo que o loiro ainda estava possesso de raiva.

— Foi tão ruim assim? — perguntou tristonho, queria muito animar o outro e tentou brincar. Não achou que sua reação fosse ser tão negativa — Eu sinto muito, não fiz com a intenção de te assustar nem nada assim. — Sentia a garganta se fechar e o choro vindo, não era nada másculo, julgava, então se esforçaria para conter.

O humano iria rosnar outra vez se não tivesse avistado as lágrimas que se formavam nos olhos alheios.
As palavras simplesmente escaparam de sua boca e a raiva esvaiu-se de seu corpo quando fitou aquele ruivinho extremamente arrependido e choroso, mas que esforçava-se para conter-se.

— Tanto faz — foi a coisa menos ofensiva que foi capaz de pronunciar antes de nadar na direção do tritão — Agora para de chorar, idiota. — seu peito apertava. A imagem do ruivo chorando não lhe era boa.

Um fragmento de memória passou por sua mente, onde avistou um momento que fez seu ex-amigo de infância - e ex-namorado - chorar. O esverdeado sempre fora carinhoso e gentil, mas Katsuki pouco se importava, simplesmente surtando e xingando-o incansavelmente.

Não queria que aquilo se repetisse. Jamais.
Não queria alguém chorando por sua causa.

— Ah, me desculpe —  Kirishima sentiu-se leve de repente, vendo que o outro não estava mais tão irritado — Não é nada másculo chorar assim. — colocou um pequeno sorriso na cara.

— Agora vai ter que me aguentar na água. — riu de forma desafiadora e começou a nadar, ainda com roupas, na água fria, como se fosse uma competição.

E ficaram assim por uma boa parte da manhã, com Katsuki jurando que poderia ganhar em uma corrida contra um tritão, era cômico de se ver.

Voltou encharcado para almoçar, e obviamente foi questionado por seus progenitores, que apenas receberam resmungos em resposta. Katsuki recusou-se até mesmo a trocar de roupa, estando eufórico para retornar à praia, não que admitisse isto, mas era muito visível para seus velhos, que decidiram não interferir, já que eram poucas as vezes que seu filho encontrava-se assim.

Voltou rapidamente ao lugar, recebendo avisos preocupados como “Espere alguns minutos antes de nadar, você acabou de almoçar!” e afins, apenas acenando silenciosamente e continuando seu caminho.
Não precisam avisá-lo algo assim, ele tinha quase 18, pensou irritado.

Avistou o ruivo esperando-o encostado na rocha e tratou de assusta-lo, arrancando risadas gostosas dele. Esperou, a contragosto, alguns minutos antes de finalmente pular na água e competir novamente com o rapaz que era no mínimo cinco vezes mais capacitado ao nado que ele.

Na realidade, não importava se ganharia ou não. Era divertido, como se fossem duas crianças idiotas nadando no mar pela primeira vez, contudo, já eram adolescentes.
Mas isso importava? Podia ouvir os risos que faziam seu coração vibrar, ao mesmo tempo que trazia-o um conforto enorme.

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The Redheaded Merman [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora