«Celular»

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Outros dois dias se passaram depois deste pequeno "incidente", contabilizando o décimo segundo dia, e Katsuki ainda estava abismado com os riscos que o ruivo correu passando a madrugada inteira naquela praia.
Por que havia feito isto? Ele era idiota? Talvez fosse.

Eijirou parecia agir com mais cautela quando conversavam e aquilo o incomodava, não queria ser tratado como se fosse explodir a qualquer momento. Aquilo fazia-o se lembrar de seus relacionamentos anteriores.

Estavam no mesmo lugar em uma conversa trivial, onde Kirishima contava sobre algum monstro marítimo que havia visto no dia anterior e Bakugou o ouvia enquanto suas músicas soavam ao fundo daquele conversa.
Quando o tritão terminou, um pequeno silêncio instaurou-se entre eles, a música continuava tocando, o que fez Eijirou lembrar-se de algo.

— Tsuki, o que é isso? — apoiou-se na rocha e apontou para o aparelho.

— Hã? É um celular — respondeu simples, esquecendo-se que não estava falando com um ser humano.

— Não ajudou... — murmurou — Por que tem essas melodias saindo dele?

— Tsc — estalou a língua irritado, o ruivo era idiota? Foi então que encarou-o para explicar e sua ficha caiu — Ah, porra. É verdade... — murmurou consigo.

— O que? Olha, não precisa me explicar se quiser — avisou, com o nervosismo evidente.

— Vai a merda — xingou-o pela cautela com qual era tratado — Esses sons são músicas, é uma forma de expressão sabe? Dá pra gravar e colocar no celular e essas merdas.

— Ah, entendo, então é essa sua função? — sorriu entendendo do que se tratava.

— Não é só essa. Ele faz mais coisas.

— Que legal! — soltou animado — Posso pega-lo? — perguntou inocente.

— Mas na sua cauda você não deixa eu pegar, né? — brincou sobre a situação de dias atrás.

— Ei, é diferente! — cruzou os braços fingindo estar irritado — Não vou te roubar nem nada assim — explicou-se.

— Não é esse o problema. É que ele estraga se molhar.

— Ah, que pena — murmurou tristonho. — Tudo bem então...

— Mas eu te mostro o que ele faz — não aguentou ver aquela carinha tristonha que Eijirou exibiu e não haveria problema algum em mostrar para o ruivo o funcionamento de seu celular. Apesar de que, na realidade, não gostaria muito de usa-lo a não ser para ouvir músicas. — Vamos começar com isso — apontou o aparelho para o ruivo, que o fitou confuso, apertando na tela, fazendo a câmera brilhar — Merda, esqueci de desativar o flash.

— Flash? — indagou sem entender.

— Depois eu explico, agora olha — mostrou a foto que tirou depois de desativar o maldito flash. Nela, Eijirou estava com a mesma cara confusa, e isso era simplesmente adorável, ainda mais quando a foto havia ficado boa.

— Hã? Como fez isso? — perguntou embasbacado. Que tipo de magia era aquela que aprisionara sua aparência naquele aparelho humano?

— Não sei te explicar essas merdas — respondeu — Na verdade eu até sei, mas é complicado.

— Tudo bem — mostrou um sorriso —  Mas isso vai desaparecer ou vai ficar ai para sempre? — perguntou meio temeroso.

— Eu posso apagar — afirmou ao notar o desconforto do ruivo.

— Se isso for te deixar triste...

— Porra, para de me tratar assim, imbecil — bufou — Não é como se eu fosse explodir caso você negasse algo!

— Descul-

— Não peça desculpas, caralho! — estava quase perdendo a paciência novamente — Você não fez nada de errado para pedir desculpa. — murmurou baixinho com medo de que o outro ouvisse. E, infelizmente, ele realmente não ouviu.

Eijirou ficou em silêncio depois daquele grito. Teria irritado o rapaz loiro novamente? Temia que a resposta fosse "sim". Temia que o loiro tivesse ficado chateado por este pequeno deslize em pedir desculpas, algo que irritava aquele garoto ao extremo. Continuou silencioso mais alguns segundos, com a face tristonha, sem aquele sorriso radiante que costumava ter.

— Caso te anime, você não ficou feio nela. — vendo aquela carinha triste novamente, decidiu ao menos tentar fazer algo.

— Sou feio na realidade, então? — questionou, pensando que o loiro estava verdadeiramente irritado por sua culpa.

— Não! — negou desesperado, aquele idiota não conseguia entender de primeira? — Quis dizer que você é lindo, caralho — tentou se explicar, sentindo seu rosto esquentar com o que acabara de dizer, o virando rapidamente na esperança de que o tritão finalmente entendesse.

— Ah — depois de ouvir aquilo, foi inevitável não sentir seus batimentos acelerarem e um rubor tomar sua face — O-obrigado? — tentou agradecer, mas soou mais como uma pergunta.

Bakugou estalou a língua irritado com aquela vergonha toda que havia tomado seu ser, tentando mudar de assunto apontando o celular novamente para Eijirou e pedindo que ele sorrisse, o que fez meio hesitante, mas não querendo chatear o loiro.

O loiro nunca gostara tanto de tirar fotos, mas ao ter a chance de capturar aquele sorriso formado por dentes pontiagudos, tornou-se algo adorado.

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The Redheaded Merman [Concluído] Onde histórias criam vida. Descubra agora