3 de janeiro - terça-feira

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Foi em outubro do ano passado que eu tive a ideia de escrever, para mim mesmo, tudo que se passa. Mas só agora, janeiro desde ano, que faço isso. Decidi que seria melhor começar em um começo de um ano.

Tá! aí me perguntariam por que não comecei dia 01? Eis por quê:

Até as 17h deste primeiro dia do ano, eu dormia me recuperando de uma festa que fui no réveillon.

Cheguei à festa na casa de Zeca às onze horas do dia 31 de dezembro. Como era de se esperar, quase todos os convidados eram gays, afinal, a maioria de nossos amigos são gays.

Como em toda festa, eu fico muito, mas muito desconfortável no começo. Mas eu comecei a beber para ficar mais solto, se é que me entendem.

Cada minuto ali era como se um penhasco se abrisse aos meus pés e me convidasse para eu me jogar.

Aí Deus, como pode uma pessoa com todas as minhas qualidades ser tão pouco sexual e atratível. Eu devo sofrer o que todo garoto gay da minha idade sofre; uma mistura de insegurança em ser aceito, com medo surpreendendo que já vivemos, que é a solidão.

Alguns meninos me olhavam, eu retribuía, mas por que não passava disso? Qual o problema? Melhor: em qual lado está o problema. Com um rapaz eu até fui falar, mas foram duas longas horas até eu perceber que o garoto era uma tremendo babaca que, após um louco sexo selvagem, não saberia conversar coisas legais. Adoro bons papos pós-orgasmos.

Saco! Tenho que parar de ficar visualizando o futuro, que sempre acaba na cama, quando estou ainda em um presente de caça sexual.

Logo a festa foi ficando mista. Para meu alívio, vieram meninos gays e casais héteros, assim, o foco de caça não cairia sobre mim, não queria ser visto como a noite em que fiquei encalhado na virada do ano novo. Mas, e eu? Continuava de um lado para o outro sempre com um copo de uma diferente bebida, que nem mais gosto eu estava sentindo. Muitas vezes me sentia desejado. Mas parece que há uma barreira invisível no meu destino que não me deixa passar dessa etapa.

Às duas horas da manhã, Zeca veio até mim e falou que tinha um amigo que queria me conhecer. Então por que raios não veio ele mesmo até mim? Adoro pessoas com atitudes e iniciativas.

- Ele é tímido – confessou Zeca.

- Ah, legal – eu respondi. - Sou um imã que só atrai pessoas tímidas.

Sei que fui pouco grosso com a Zeca, mas a verdade é que aquilo me subiu o sangue, pois todo mundo que algum amigo meu quer apresentar é tímido. Eu devo ser a cara-de-pau em pessoa.

- Então, vai querer ou não conversar com ele?

- Claro. Por que não?

- Ok! vou chamá-l. O nome dela é Junior.

Dois minutos depois me veio Zeca com o Junior; um garoto mediano, com uma bunda enorme, cabelos curtos e tênis. Vinha com uma cara de que não sabia de nada.

O Zeca nos apresentou e logo em seguida saiu.

Conversamos poucos minutos, e eu nunca em uma balada bebi tanto. A todo o momento pegava um copo para sempre estar com a mão cheia... e a boca também, pois não queria que, a qualquer momento, Junior me puxasse e me desse um beijo.

- Então – falou Junior com sinais de cansaço e que queria beijar logo -, estou louquinho para beijar essa sua boca.

E deu um sorriso de lado, malicioso. Eu baixei os olhos e retribui a risada, mas respondi:

- Olha, sei que você nunca mais vai me olhar na cara, nem vai querer ser meu amigo, mas não rola... Mas não fique chateado, eu só estou sendo tão franco assim porque estou bebendo muito e já estou tonto... Só espero que você não fique chateado com essa confissão, pois todos falam que quando alguém é feio só bebendo para se pegar, e no seu caso eu estou bebendo e não quero nada... Mas não estou te chamando de feio, você é lindo e...

Calei a boca e dei um grande gole de uma bebida verde no meu copo.

- Tudo bem – disse Junior. - Até mais lindo.

E me deu um beijo no rosto.

Céus, sou o maior fracasso conjugal do mundo. Eu me odeio, me odeio, me odeio. Dei um gole final na bebida e fui pegar outra.

A única coisa a mais que eu lembro, foi ficar muito enjoado com a mistura das bebidas e corri para o banheiro vomitar. Esqueci de trancar a porta e no meu segundo jato de vômito, a porta foi escancarada e entraram dois rapazes se atracando como se aquele fosse o último beijo na vida de cada um. Eles na hora pararam o ato selvagem quando me viram no chão, agarrado ao vaso e com a cara lá dentro pronto para jogar mais poções do meu jantar fora.

- Oh – um dos rapazes falou. - Desculpa.

- Você... - completou o outro – está bem? Quer ajuda?

Eu os olhava e tinha certeza que minha aparência era deplorável. Meus olhos ardiam e deveriam estar muito vermelhos.

- Não – eu respondi. - Estou bem. Obrigado. Não se preocupem comigo. Fiquem a vontade. Só vou precisar ficar com a cara dentro do vaso mais uns minutinhos... mas vocês podem continuar o que iam fazer ali na parte do chuveiro... tem uma cortina muito boa.

Eles a principio pensaram no caso. Mas pelas calças elevada de um a coisa não podia esperar e eles trancaram a porta do banheiro com a chave e foram para a parte do chuveiro se pegando assim como entraram.

A cortina não era boa assim como eu pensei e era possível ver quase tudo.

Tive que sair do banheiro. Só esperava que ninguém entrasse ali, já que a porta voltara a ficar destrancada.

NOTA: Talvez pegar alguns depoimentos de alguém para me falar mais algumas coisas que aconteceu na festa e eu escrever aqui.



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