24 de fevereiro - sexta-feira

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24 de fevereiro – sexta-feira

Hoje no trabalho os meninos estavam super ocupados e quase não paravam na mesa, assim como Serena. Eu tive que mandar uns e-mails para alguns editores de revistas e nada mais. Ainda perguntei se Roberto e Felipe queriam ajuda, o que eles negaram educados e carinhosamente. De fato eles preferiam que eu ficasse mais calmo esta semana mais, uma vez que, a partir de segunda, o bicho ia pegar.

Quatro horas da tarde e vinte e seis minutos: Tédio. Enquanto os meninos estavam atolados em trabalhos, eu estava ali na minha mesa quase morrendo de tédio. Éramos apenas eu e a secretária de Serena, porém ela digitava frenética em seu computador. Decidi entrar no Facebook.

Nada de mais, como quase sempre nessas redes sociais. Só os de sempre: uns fazendo piadinhas, outros jogando indiretas, outros fazendo protesto de cadeira e tantos outros que me entendiam ainda mais.

Ainda bem que eu tinha poucas pessoas adicionadas. Chegavam pouco mais de 700 apenas.

Quando eu estava vendo mais alguns post na rede social, um menino me chamou a atenção. Ele chamava-se Marcos. Não o conhecia pessoalmente, nem sei por que eu o adicionei ou se foi ele quem adicionou, não lembro mesmo, mas isso não faz diferença, ele me parecia lindo, morena, cabelos rebeldes e volumosos e a boca, Deus que boca. Ai essas bocas que acabam comigo. E ele estava online, então o chamei com um simples "oi". Logo ele respondeu perguntando como eu estava. E assim, o papo logo fluiu e o tédio do qual eu estava logo foi sumindo.

Eu era interrompido apenas quando alguns dos garotos voltavam à sala e eu minimizava a janelinha do Facebook. Assim que eu ficava só, apenas com a secretaria que não parava de digitar, eu maximizada a janelinha e voltava a falar com Marcos.

Quando ele perguntou o que eu estava fazendo, eu respondi:

"Estou no trabalho. Vim aqui no Facebook porque não tinha nada o que fazer".

"Hahahahah", ele me escreve, "eu também estou no trabalho com o mesmo caso que você".

Perguntei onde ele trabalhava e ele falou que era no bairro de Pinheiros, numa loja de móveis planejados. Quando eu disse que estava na Vila Olímpia, notei que o interesse dele aumentou.

"Estamos perto", ele me mandou.

"Que horas você sai do trabalho?", eu perguntei, já querendo uma resposta dele e me animando pois eu ia querer vê-lo depois do trabalho. Queria tirar a culpa do que aconteceu com Wagner e ver que eu podia marcar um encontro com outro cara e que nada ia atrapalhar, pois desta vez eu ia saber me dar com os defeitos dos outros, aceitando-os, pois também tenho os meus.

"Saio às 18h e você?", ele escreveu.

"Eu também. Quer tomar um sorvete comigo depois que sair do trabalho?"

"Jura?!?!", ele parecia espantado com o convite, mesmo eu não vendo sua expressão, mas pelo modo como digitou, acho que era isso. "Que legal. Vamos sim. Onde podemos nos encontrar?"

Marcamos de nos vermos ali mesmo em Pinheiros, numa sorveteria.

Viu, eu não sou um fracasso ao que se diz relacionar-me com as outras pessoas. Eu não ia conhecer Marcos com o intuito de sexo. Não. Ia tomar um sorvete com um menino bonito, num final de tarde e, quem sabe, ia conhecer uma pessoa ótima. Agora, eu tinha que ter em mente tudo o que eu já tinha, que era ouvir a pessoa, não ficar encarando a boca nem o bumbum quando virar de costas, me envolver na conversa... e agora, respeitar o que são as pessoas e, mesmo que elas ronquem, eu não seja julgador e tente conviver com aquilo.

Noite: Será eu uma pessoa estranha? Um louco? Quem sabe esquisito, neurótico e incompreensível.

Sabe terapia, sabe porque estou assim? Por causa do meu sorvete com Marcos. Ai céus, eu devo ter um bloqueio que acaba com minha socialização.

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