19 de fevereiro - domingo

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19 de fevereiro – domingo

Noite: Cá estou eu, sozinho em meu quarto, ainda me recuperando do ronco. Mas agora me sentia em meu território, a salvo de qualquer perigo e ronco.

Ainda tentei arrumar meu quarto e mexi nas coisas, já cheias de pó, da faculdade. Lembranças invadiram minha mente. Onde será que estão todos aqueles que estudaram comigo? Vi um trabalho onde eu fiz com Bruno Santiago, que foi meu "namoradinho". Onde ele estaria agora? Fazendo o quê? Com quem? Senti leve saudade de tudo aquilo, mas logo passou. O tempo da faculdade não representa muita coisa para mim, além do fato de uma formação e uma fase importante na minha vida. Nada sentimental...

NOTA TRISTE: Será que a lua é meu destino? Terei que morar em outro planeta sozinho? Acho que sim.

20 de fevereiro – segunda-feira

Sinto-me um pouco mal por Wagner. Um menino tão legal e gostoso e eu desanimo por causa de um ronco. Aí, às vezes acho que o ronco foi só uma desculpa para eu fugir dele. O que será que eu tenho? Por que essa terapia não me revela qual é o meu problema? Não posso passar a vida toda fugindo das pessoas ao encontrar defeitos que eu mesmo coloco.

Vou trabalhar.

Noite: Não resisti e fui ao barzinho com os meninos. Eles queriam saber de tudo que houve comigo no encontro com Pedro.

- Aí, nem me fala – fiquei pouco triste. Então, expliquei a eles sobre o problema do ronco que me incomodava muito. Eles ficaram perplexos.

- Um simples ronco? - surpreendeu-se Felipe.

- Para Felipe – Roberto me defendeu. - Tem coisas que de fato incomodam as pessoas, e pode ser a coisa mais boba.

- Eu não sei mais o que faço, meninos – eu deu um grande gole na minha cerveja. - Sabe, eu não reclamo que estou solteiro. Às vezes isso me deixa muito bem, até. Mas é que parece que é tão difícil me relacionar com as pessoas. Parece que eu sou um desastre, mesmo sendo... - parei de falar. Não queria que os meninos soubessem que eu sou inteligente e bonito e gostoso, mesmo sabendo que eles já sabiam, pois estavam me vendo.

- Ah, Beto – Roberto tentou me animar – relaxa. Vai ver não é seu momento. Aproveite apenas. Tudo tem sua fase. Não adianta tentar ficar buscando uma coisa desesperadamente. Uma hora acontece.

Por um lado ele tinha razão. Quem sabe não fosse meu tempo ainda. E por que a droga dessa terapia não falou logo? Tive que ir parar na mesa de um boteco, com dois gays para ouvir isso. Dei um sorriso para os meninos. Eles eram demais.

Droga. Recebi uma mensagem no meu celular de Sam. Queria saber de tudo que houve no meu encontro também. Aí, eu não podia falar de novo tudo que já falei de novo em apenas um dia. Mandei uma resposta para ele falando que eu estava com os meninos no barzinho e que conversaria com ele outro dia, pois eu estava indo para casa.

21 de fevereiro – terça-feira

Hoje optei por deixar o pretinho básico um pouco de lado. Usei uma camisa de frio de cor de vinho, porém um pouco mais claro, uma calça cinza e um sapato branco. Usei um relógio de pulso, não estava muito acostumado com esse acessório, mas ficou bonito. Meu cabelo estava enorme, devo cortá-lo. Acho que estava melhorando na aparência e eu estava me cuidando mais.

Aos poucos, o remorso com Wagner ia sumindo. Que bom.

Noite: Todo mundo querendo me ver e socializar comigo e eu dispensando. O que há comigo? Sam me ligou de novo e de novo dei cano nele. Os meninos foram para o barzinho, mas chega de álcool está semana, não é mesmo? Pedro, como sempre, queria uma foda gostosa e estava pelado e, mesmo me deixando molhadinho de tesão, eu recusei de novo. Zeca falou comigo e tentou me convencer a ir com ela e Sam à algum lugar e eu disse que não. Para ambos falei que estava um pouco pra baixo e não queria nada hoje. Roberto perguntou se eu estava deprimido. Apenas respondi que estava cansado e com problemas na família, pelo menos assim eu teria uma desculpa e eles não insistiriam com mais perguntas. Mas eu não estava com aqueles problemas, quero dizer, ao menos como eu imagino que eles estão pensando.

E, mesmo com todos aqueles convites, eu queria ficar só. Eu tinha desses momentos; uma grande vontade de solidão. Às vezes isso me faz um bem danado e era este o momento de ficar só. Depois do trabalho, eu fui para uma livraria que fica na Avenida Paulista, onde eu sei que lá eu vou poder relaxar a mente e ficar tranquilo, sem compromissos, neuroses, cobranças. Era a terceira vez que aquela livraria era meu refugio. Pode parecer estranho, mas aquele lugar me reconforta. Eu peguei alguns livros, mesmo sabendo que não ia ler nem cinco páginas de cada um e fui para os puffs e almofadas que ficavam no centro onde leitores liam, dormiam e descansavam tranquilos. E não pensei em mais nada.

Acho que relaxei um pouco.

Eu espero que não esteja preso a essa terapia, onde terei que passar a vida toda escrevendo minha vida aqui. Não quero isso. Mas eu me sinto mais leve relatando algumas coisas aqui. Ainda bem que ninguém lê isso.


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