14 de fevereiro - terça-feira

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14 de fevereiro – terça-feira

Cheguei ao trabalho faltando 20 minutos para as 10h. Estava adiantado. Quase não dormir ansioso para escolher com qual roupa iria. Acabei por escolher uma calça, uma camisa muito chique que nunca pensei em ter na vida e um blazer por cima. Fiquei deslumbrado como tudo ali ficava perfeito com os assessórios que usei no braço e o relógio. Me senti muito poderoso. Fiquei um bom tempo decidindo se usava ou não meus óculos de grau grandes. Optei por não, e sabia que eu não ia ficar tropeçando nas coisas, pois anda conseguia enxergar razoavelmente sem eles.

Serena já estava em sua sala de vidro e com uma expressão muito séria. Os meninos chegaram pontualmente. Eles são muito simpáticos. Naquela parte da manhã, eu apenas configurava minha conta de e-mail da empresa e tentava me familiarizar com as tarefas. Os meninos me ajudaram muito e falaram que esta semana eu poderia ficar tranquilo, que eles faziam tudo e eu os acompanhava.

Hora do almoço: Serena não saiu um instante de sua sala. Eu e os meninos fomos almoçar. Tínhamos 1h para a refeição. Todos os restaurantes ali na Vila Olímpia eram caríssimos, ainda bem que meu novo vale refeição é generoso. Escolhemos por um restaurante japonês.

- Então, Gilberto – falou Roberto – você mora onde?

- Na Santa Cecília – eu respondi. - E pode me chamar de Beto.

- Ai, você mora no centro – gritou Felipe. - Pertinho de mim. Eu moro na Marechal. E você tem namorada?

O quê? Quem ele era agora, minha mãe para pegar no meu pé sobre namorada? Foi aí que eu respirei fundo e raciocinei que eles só queriam me conhecer... ou, como eu estava suspeitando que eles também eram gays, só estavam tentando descobrir sobre mim e poderem ficar mais tranqüilos com o que falar.

- É... então – eu comecei a responder – eu gosto de meninos.

- Arrasou! - disse Roberto.

- Olha – o outro falou – então já vi que nós seremos uma ótima equipe... somos gays também.

- Verdade – concordou Roberto. - A outra menina que trabalhou com a gente vivia se gabando dos caras bonitos e sarados que ela saía e ainda nos provocava.

- Bem – eu disse -, comigo vocês não vão ouvir muito dessas histórias. Sou um fracasso na paquera.

Nós rimos. Foi um almoço alegre. Logo passou a hora e tivemos que voltar. Serena ainda estava em sua sala, e sua secretária levou uma refeição a ela, que comeu ali mesmo na frente do computador. Fiquei curiosa em saber com que tanto ela era ocupada, mas resolvi perguntar isso para os garotos depois.

Noite: Deu nosso horário de ir embora e Serena sequer saiu de sua sala por um minuto.

- Beto – falou Felipe -, eu e o Roberto vamos para um barzinho aqui perto. Vamos?

A proposta era tentadora. Mas , tudo que eu queria naquele momento era ir para casa. Não estava cansado fisicamente, mas eu estava com uma necessidade grande do meu quarto.

- Hoje não, meninos – eu respondi. - Prometi a minha mãe que eu ia jantar com ela hoje. Está toda contente – eu menti.

Despedi-me deles e fui para casa. Se antes eu não estava cansada fisicamente, agora estou para morrer com a viagem de trem que fiz. Deus, como transporte público pode cansar mais que trabalho?

P.S. Acho que eu peguei o ritmo dessa terapia. Sinto mais a vontade para narrar meu cotidiano aqui. E sempre repito que isso não é um diário bobo de uma garota insegura. U_U.

15 de fevereiro – quarta-feira

Manhã.. quase madrugada: Droga. Acho que descobri o lado ruim de ter várias roupas para se usar: é que você gasta horas e horas para poder escolher uma, pois quer usar todas e não pode. Tem que usar uma de cada vez.

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