9 de janeiro - segunda-feira

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9 de janeiro – segunda-feira

Percebo que os dias da semana me deixam mais disposto e animado do que os finais de semana. Vai ver porque sei que todos estão trabalhando ou estudando e o máximo que eu posso é fazer o mesmo. Mas como estou de férias, tenho que aproveitar.

Decidi dar uma volta, mesmo sabendo que isso faz eu gastar dinheiro com condução, uma vez que andar de transporte público em São Paulo está quase mais caro que transporte privado, ou quem sabe alugar um helicóptero.

Noite – Merda. Porque não para de chover em janeiro na droga dessa cidade. Acho que vou sempre pedir minhas férias no inverno, assim não passo um mês inteiro na chuva.

Fui passear ali pela região da Paulista mesmo na chuva. Isso não ia impedir meu passeio livre, sem intenção de achar um garoto bonito e inteligente para me fazer companhia. Logo passei por um sex shop, onde tinham várias manequins com fantasias sexuais na vitrine. Parei e fiquei ali olhando. Não, não vou entrar naquele lugar e comprar acessórios. É o cumulo da solidão comprar essas coisas quando se está sozinho. Um rapaz como eu não posso ter como consolo vibradores coloridos, nem óleos que esquentam a pele, nem tão pouco bonecas infláveis. Então fica aqui uma promessa para mim mesmo que, assim que eu arrumar alguém, que sinto que será próximo, vou a um sexy shop para comprar cosias para nossa diversão sexual e ter noites e mais noites de prazeres conjugal... Aí, como minha vida será feliz e sexualmente ativa.

Porém, todos esses sonhos, foram quebrados quando, eu ainda ali parado vendo a vitrine, passou por mim um senhor (caramba, devo ter algo que só atrais senhores). Na hora pensei "oba, um sugar daddy".

- O gatinho quer um brinquedinho, é? - ele perguntou com tom tarado.

Será que aquilo era uma cantada? Será que o sugar daddy estava interessado em mim? Será que me convidaria para entrar no sex shop, comprar vários brinquedinhos e depois íamos para seu grande apê no Jardins para brincarmos?

Céus, como o gay tem sonhos patéticos com um cara bem sucedido que lhe banque. Chega ser doentio. Mas eu não me importaria de ter um lance rápido com aquele coroa ali.

- Claro que vou comprar brinquedinhos – falei tentando ser provocante e ao mesmo tempo engraçado (os coroas adoram meninos com senso brincalhão). - Vários. Adoro algumas coisinhas a mais – falei esta última frase sussurrando.

O coroa deu uma risadinha maliciosa e tentou fazer um olhar sedutor.

- Hum.. Então o rapazinho deve ser bem safadinho.

Sei que estava me arriscando em fazer isso, mas falei:

- Vamos, vamos dar uma olhada nas novidades.

Neste momento, o celular dele tocou e ele ficou constrangido.

- Bem – ele disse – acho que não rola hoje. Mas a gente pode marca, heim?

"Vamos marcar", a maior mentira do mundo gay que já existiu.

Ele atendeu o celular e ia se afastando. Eu o segui, gritando.

- Ei, volta aqui – eu falava o seguindo como um persseguidor barato e perigoso. – Vamos conversar.

Ele tampava a fone do celular para que a pessoa no outro lado da linha não ouvisse.

- Quem é no celular? – eu continuei o seguindo – Seu marido? Não tem problema, eu curto a 3. Que tal a gente tentar algo novo, apimentar seu relacionamento.

Deuses, como fui... não tenho palavras para me definir naquele momento. Mas o desespero me bateu, só agora que tudo passou que penso na vergonha que passei, em como fui inconveniente.

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