02 de março - sexta-feira

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02 de março – sexta-feira

Os meninos passaram horas me convencendo a ir numa baladinha que eles iam quase toda semana.

- Você vai gostar – falou Roberto. - Vai se divertir. Relaxar a cabeça.

- Eu sei, Roberto – eu balbuciei. - É que eu só quero um tempo para mim, entende?

- Entendo. Mas você pode ter seu tempo e curti ao mesmo tempo.

- Verdade, Beto – o defendeu Felipe. - Você está frustrado com os meninos?

Rimos. Não era bem isso. Era que eu só não queria ficar mais fugindo deles, como um covarde.

- Ok – eu me rendi -, eu vou. Mas só para beber e ouvir música e ficar com vocês, isso se não acharem um gatinho e me abandonarem.

- Relaxa, lindo – Roberto pulou de alegria. - Hoje vamos para você conhecer o lugar. Vamos aproveitar nós três.

Noite: Nossa, estou deslumbrado com o lugar que os meninos me levaram. É um barzinho-balada que fica ali na região mesmo e é convencionado com a empresa. Sem falar que ele é apenas frequentado por modelos, fotógrafo, jornalistas, publicitários e pessoas de cinema e televisão. Um clima bem diferente de tudo o que eu já vi. Nele, há um palquinho onde bandas e cantores tocam suas músicas, de todos os tipos, depende do dia da semana, cada dia é um estilo, hoje, sexta-feira, era dia de POP. Uma grande área fica livre para quem quer dançar. À esquerda, há um grande balcão que dá para um barzinho iluminado com luzes azuis e neon. À direita, mesas. Uma área mais traquila e VIP fica na parte superior do local, onde algumas mesinhas e sofás confortáveis ficam cheios de pessoas bebendo e conversando. Tudo era sofisticado, com iluminação moderna.

- Meninos – eu falei animado – este lugar é lindo.

- Você não viu nada – balbuciou Roberto.

- Quem sabe aqui você não encontre sua alma gêmea – Felpe animou-se.

- Meninos – eu os censurei – já falei que estou tranquilo e não quero isso no momento.

- Ah, ok – rendeu-se Roberto. - Mas sei que logo essa sua abstinência vai passar.

Nós três rimos. Era um fato que todos sabíamos ser verdade. Não é que eu estava me privando de namoros ou pegação, só não queria ficar correndo atrás, ou me dedicando a isso naquele momento. Se um dia aparecesse, tudo bem, não ia recusar. Mas ia deixar rolar.

Como eu já imaginava, Roberto conheceu um, este, é elegante e sofisticado, bonito, com uma presença forte, o que fazia com que muitos garotos olhassem para ele cara. Logo Roberto me deixou com Felipe. Felipe ia ficar a noite toda ao meu lado, mas, mesmo eu às vezes segurando sua mão, não parava de chover garotos em cima dele. Era incrível como naquele lugar tinha muitos meninos e meninos LGBTQ+.

- Aqui não é o máximo? - ele argumentou – Você logo vai se sentir a vontade. Estamos em casa, lindo.

Dei um sorriso para ele. De fato isso era verdade. Lembrei da conversa que eu tive com minha mãe e tive que falar que conheci ELA não ELE. Ali eu poderia falar à vontade que eu ficava era com "ele", que eu beijava "ele", que gostava de garotos. Ali não me sentiria mal em ter que usar o "ele".

Saímos quase meia noite de lá e eu cheguei em casa quase à 1h da manhã. Felipe, que não bebeu álcool, me deu uma carona até em casa. Roberto se despediu da gente, já de mão dada com o novo peguete, que era um publicitário também muito lindo como ele.

Nossa, parece que com os meninos é tudo tão mais fácil. Acho que eu deveria ser como os garotos; sem neuroses e mais práticos.

Estou com muito sono. Preciso dormir.

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