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O mês de março passou rápido de mais. Eu fiz um curso on-line, fui as consultas do pré-natal e continuei a tomar minhas vitaminas. Arthur vinha me ver todo dia depois do trabalho, e passávamos quase todos os finais de semanas juntos. Mirela e Pedro estavam muito felizes também. Mateus aparecia de vez em quando, pra dar um oi. Ficávamos conversando por um bom tempo. Gabriel, por outro lado, veio só duas vezes nos visitar. Ele estava diferente, mais quieto que o normal, e perguntava sempre se eu e o bebê estávamos bem. Eu o achei estranho, mas não quis obrigá-lo a me dizer nada.

No início de abril, titia e Bruno oficializaram o namoro, com um jantar bem agradável. Gabriel não trocou nenhuma palavra comigo durante todo o tempo em que ficamos sentados à mesa, mas me chamou para se sentar com ele na varanda depois da sobremesa.

— Como vocês estão? — Ele impulsionou o balanço, que começou a se mover devagar.

— Nós estamos bem. Ele cresce mais a cada dia. — Coloquei a mão sobre a barriga, e soltei um gritinho.

— O que foi? — Gabriel se assustou, e me olhou em desespero.

— Ele tá chutando! — Comecei a rir. — Me dê sua mão.

Eu a peguei a pus em minha barriga.

— Chuta pro papai filho. — Pedi, baixinho.

E o chute veio. Os olhos de Gabriel estavam vidrados nos movimentos que minha barriga fazia. A mão dele estava imóvel, e a minha ainda sob a dele.
Era a primeira vez que eu sentia o bebê se mexer, ou chutar. Estava tão extasiada e feliz.

— Fale com ele. — Eu disse quando os movimentos pararam.

— Falar o que? — Ele perguntou, me olhando.

— Qualquer coisa, ele tem que reconhecer sua voz.

— Ele pode?

— É claro que pode. Fale com ele.

Gabriel saiu do balanço, e se ajoelhou à minha frente, ele pôs novamente a mão em minha barriga, chegou mais perto e começou a falar baixinho, mas eu podia ouvir plenamente.

— Oi... Filho. Aqui é o papai. Eu e a mamãe estamos ansiosos pra te ver, te pegar no colo, te fazer dormir, e até trocar suas fraldas. — Eu dei risada, e ele sorriu, continuando — Não vejo a hora de você nascer, pois tudo agora está tão bagunçado e confuso, mas tenho certeza que quando você chegar, tudo vai melhorar. Eu vou ter um motivo para ficar feliz todos os dias, e sei que vou te amar todos os dias também, pra sempre. Eu só... Quero que chegue logo, preciso de você, preciso te ver.

O bebê deu um chute quando ele parou de falar. Gabriel sorriu. Eu me levantei, e ele também.

— Acho que você precisa de um abraço. — Sorri, abrindo meus braços.

Ele não protestou, apenas deixou que eu o envolvesse em meus braços. Eu não sabia o que estava acontecendo com ele, mas me partiu o coração o modo como ele falou, sobre tudo estar bagunçado pra ele, e que ele precisava ter um motivo pra ficar feliz todos os dias.

— Você não está sozinho. — Eu afaguei a nuca dele. — Foi muito bonito o que você falou, acho que ele gostou.

Ele ficou quieto e eu respeitei isso. Depois de alguns minutos abraçados, ele se afastou gentilmente.

— Obrigada.

— Você sabe que pode falar comigo, não é? Eu me importo com você.

Ele concordou com a cabeça.

— Estou bem, é só que a vida anda corrida, e eu fiquei emocionado com ele se mexendo.

— Acho que foi você quem chamou a atenção dele, porque eu nunca tinha sentido antes.

Gabriel sorriu.

— Vamos lá falar para sua tia e pro meu pai.


Titia ficou animada com a notícia, e Bruno faltou começar a pular.

— Olha, ele está mexendo de novo. — Falei, sorrindo.

— Posso? — Bruno perguntou.

— Pode sim.

Ele tocou minha barriga, e o bebê chutou mais forte.

— Eu me lembro da primeira vez que Gabriel chutou também. Era tarde da noite, já estávamos dormindo quando Patrícia me acordou. — Ele se levantou e sorriu para o filho. — Você não parou de se mexer e de chutar a noite toda. E sua mãe não ficou nem um pouco brava.

Eu nunca tinha conhecido a mãe de Gabriel, ela foi embora quando ele era um bebê. Mas eu já tinha visto uma foto dela. Ele tinha os olhos verdes, o formato do nariz e o sorriso brilhante iguais a mãe. Por outro lado, todo o resto nele parecia vir do pai, até mesmo o temperamento.

Titia também queria sentir o bebê, e ficou toda boba com os movimentos.

— Já já ele sai do forninho. — Ela sorriu para mim.

— Ele nasce em agosto, e ainda não escolhemos um nome! — Arregalei os olhos para Gabriel.

— Eu tô cheio de ideias. — Ele apontou pra própria cabeça.
Eu me sentei no sofá e bati do meu lado.

— Vamos começar a conversar sobre isso então.

Eu também tinha feito uma lista de nomes, bem grande inclusive. Gabriel se sentou ao meu lado, a uma certa distância. Titia e Bruno foram para cozinha.

— Então, pra começar, eu pensei em Alifer. — Comecei a falar.

**

Depois de ficarmos por uma hora discutindo nomes, chegamos à um consenso.

— Então vai ser esse. — Sorri, balançando a cabeça.

— Sim, porque se eu ouvir mais um nome, eu vou surtar.

Eu gargalhei. Ele se sentou mais relaxadamente no sofá. Algumas lembranças naquele sofá vieram em minha mente.

— Vamos filho? Já está tarde. — Bruno saiu da cozinha com titia logo atrás deles.

— Você pode ficar se quiser Bruno, não tenho problemas com isso.

— Talvez um dia. — Ele sorriu, percebi que tinha ficado envergonhado.

— Já escolheram o nome? — Titia perguntou.

— Sim. — Eu e Gabriel nos olhamos.

— E qual é? — Bruno ficou curioso.

— Não vamos contar ainda.

Os dois ficaram desapontados, mas Gabriel garantiu que eles saberiam logo, logo.
Eu me despedi de Gabriel com um beijo na bochecha. O bebê não se mexeu mais durante a noite, acho que ele gostava mesmo do pai.

Consequência De Uma Aposta [Concluída] Onde histórias criam vida. Descubra agora