07

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A temida segunda feira tinha chegado. Era a última semana de aula, então a escola toda estava ansiosa e afobada. Por onde eu passava, via alunos de abraçando e até chorando. Eu não iria sentir nenhuma falta do ensino médio, isso aqui pra mim foi realmente a pior época da minha vida. Mas eu vou sentir falta da Mirela, mesmo sendo vizinhas, vai ser diferente não a ver aqui na escola. Eu caminhei rapidamente pelos corredores, até chegar ao meu armário, o abri e peguei o livro de história, ao fechá-lo, me assustei com Camila ao lado.

— Olá Jéssica. — Ela sorriu. Camila é o tipo de garota popular que não pisa ou humilha os outros. Ela é popular simplesmente pelo jeito, e eu gosto disso nela. É como Mirela.

— Oi Camila. — Eu também sorri.

— Meu irmão pediu para eu te entregar isso. — Ela esticou a mão que segurava o livro que eu havia emprestado a Arthur. — Ele disse que não te encontrou ontem.

— Oh, obrigada. — Eu sorri sem jeito e peguei o livro, o guardando no armário.

— Era só isso mesmo. Nos vemos na formatura. — Ela sorriu e caminhou até o banheiro.

Formatura. Tinha me esquecido desse detalhe. Já era no próximo sábado, será que dava para cancelar com Gabriel? Falando no diabo...

— Ei Jéssica, hoje depois de estudarmos, não gostaria de ir até minha casa assistir um filme? — Ele riu.

Eu rolei os olhos e sai em direção a minha sala, mas ele não desistiu e veio atrás.

— Me deixa reformular a pergunta, você não queria dar uma passadinha na minha cama hoje?

— Me respeita! — Eu devo ter gritado muito alto, porque as pessoas ao redor nos olharam. — Cala a boca seu idiota!

— Ei, eu só estava brincando. — Ele levantou as mãos em sinal de rendição.

O sinal tocou e eu fui pra minha sala, não era possível que ele estava de brincadeira comigo.

***

— Quer parar de cantar e prestar atenção aqui?

Ele me olhou como se fosse me matar, mas logo seu olhar voltou ao normal e seu sorriso convencido voltou ao seu rosto. Se não fosse tão idiota, ele seria o cara perfeito.

— Tá, vamos então estudar essa coisa chataaa.

— Olha só, eu estou te ajudando porque sou uma boa pessoa, eu deveria te deixar na mão sabia?! — Bati na mesa, e ele se afastou um pouco. — Você é um riquinho mimado pelos pais que acha que todo mundo deve ceder a suas próprias vontades! Pois não é assim!

— Mimada é você garota! — Ele ficou furioso. — Se eu não precisasse mesmo dessa nota, não pediria ajuda pra uma nerd que nem você!

— Então vá atrás de outra!

Eu me levantei como um furacão, e peguei minhas coisas, jogando tudo na mochila. Não sou obrigada a ficar aturando isso não. Coloquei a mochila nas costas e caminhei em direção à porta, mas Gabriel segurou meu braço.

— Espera, eu preciso mesmo da sua ajuda. Me desculpe pelo que eu falei. As coisas não estão indo tão bem assim lá em casa. Por favor, não me deixe na mão.

Eu respirei fundo. Ele soltou meu braço e se jogou no sofá de couro. Eu me virei e o peguei chorando.

— Ei, você quer conversar? — Eu sei como isso ajuda quando estamos esgotados. — Pode falar, é sério.

— Pra você rir de mim? Não mesmo! — ele limpou as lágrimas com a manga da blusa.

Eu soltei a mochila no chão e me sentei ao lado dele.

— Acredite em mim, as vezes é bom desabafar sabe? Não podemos guardar tudo dentro da gente, faz mal. Fale comigo, não te conheço direito então talvez seja mais fácil.

— Lembra que éramos amigos? — Ele riu. — Parece que faz séculos loirinha.

— Ninguém me chama assim mais. — Fiz careta. — Eu lembro sim da nossa infância.

— Então deve se lembrar da minha mãe. Ou da falta dela.

— Você sente falta dela. — Eu me sentei de frente para ele, cruzando as pernas. — Eu também sinto falta dos meus pais, é normal.

— Mas para mim é diferente. — Ele se sentou como eu. — Você sabe, os seus pais... Morreram. A minha mãe me abandonou. Não quis saber de mim. — Os olhos verdes dele estavam vermelhos agora.

— Tenho certeza que quem perdeu foi ela. — Sorri.

Ele ficou em silêncio, olhando para as mãos, depois respirou fundo.

— Está melhor? — Ele concordou com a cabeça. — Quer continuar a estudar?

— Quero sim.

— Ótimo, então vamos.

***

— Eu tô muito apaixonada Jéssica. — Mirela dançou pelo quarto.

— É claro que sim, você até colocou uma foto do Pedro no seu papel de parede. — Eu dei risada. — Mas e como vocês estão?

— Ainda não estamos juntos, mas acho que em breve estaremos. — Ela se jogou na cama ao meu lado. — Eu até esqueci, e quem era aquele boy mara da festa?

— O nome dele é Arthur, ele é irmão da Camila.

— Olha só, ela já conhece até a cunhada.

— Cala a boca. — Joguei uma almofada nela. — Nós não temos nada.

— Por que você gosta do Gabriel.

— Não gosto!

— Jéssica, eu te conheço muito bem, e você mentiu quando disse que não gostava dele, tá fazendo isso agora.

— Eu já falei que não gosto dele.

— Você aceitou ajudar ele em matemática! Você odeia ensinar algo para alguém. Além do mais, eu vejo o jeito que você olha pra ele.

— Não jeito nenhum. Eu olho pra ele como olho pra todo mundo.

Ela riu e se levantou, esticou os braços para cima e falou com uma voz mais rouca:

— Ó Gabriel, eu te amo tanto Gabriel. Seus olhos verdes e seu sorriso, seu cabelo e seu pê... — Eu gritei e ela parou para rir. — Admite!

— Nunca! Agora vê se para com isso!

— Tudo bem dona Lopes, tudo bem!

— Lopes é o teu orifício anal!

Eu gargalhou alto e eu lhe joguei outra almofada.

— Eu sei que você gosta dele, você também sabe e isso é o que importa.

Consequência De Uma Aposta [Concluída] Onde histórias criam vida. Descubra agora