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O caminho até em casa foi em silêncio. Eu me sentei no sofá, e meu pai ao meu lado.

- Vou te contar uma história, e quero que ouça com atenção.

- Tudo bem.

- Eu e sua mãe começamos a namorar no início do ensino médio. - Eu fiquei supresso, ele nunca falava dela. - Pouco tempo depois de terminarmos a escola, ela engravidou de você. Então eu tive que trabalhar ainda mais.

- Você trabalhava com o vovô João.

- Sim, desde os meus sete anos de idade. Mas aí, quando ele soube da gravidez, não me julgou, não gritou comigo nem nada, só disse que eu teria que trabalhar pra cuidar de você. Meu pai trabalhava com a inchada, ele só conhecia ela. Nunca tinha pegado em um livro, mas me deu o melhor conselho que ele poderia ter me dado. - Ele respirou fundo e lágrimas brotaram em seus olhos escuros, mas ele não as deixou cair. - Ele também me disse para seguir meus sonhos, por mais impossíveis que eles parecessem. E então eu comecei uma rotina muito pesada, trabalhava o dia todo e estudava direito à noite. Sua mãe cuidava de uma senhora idosa para ajudar.

- Você nunca me contou nada sobre a minha mãe.

- Pois agora vou lhe contar tudo. Pois bem, eu consegui alugar um apartamento minúsculo para nós ficarmos, e pouco depois você chegou. - Ele sorriu largamente e piscou as lágrimas para fora. - Eu memorizei cada detalhe seu quando o peguei em meus braços pela primeira vez. Você era tão lindo filho, e eu senti que faria de tudo pra te proteger. - Ele respirou fundo mais uma vez e continuou - Quando você tinha oito meses e vinte e dois dias de vida, sua mãe foi embora. Eu simplesmente cheguei em casa e não a encontrei na cama, apenas você dormia em seu berço. Em um bilhete sobre a cama, ela dizia que foi embora por não aguentar aquela vida. E no dia seguinte quando todos perguntaram onde ela foi, eu só disse que tinha ido e que nunca voltaria. Eu me dediquei a estudar pra te dar um futuro melhor do que eu tive. Mas eu fiz tudo errado, eu não lembrei que você precisava também de amor...

- Você me deu amor pai. - Eu o abracei e deixei que as lágrimas saíssem também. - Todas as noites quando você contava histórias pra eu dormir, ou quando me levava pra passear. Eu te amo pai.

- Eu também te amo filho. - Ele beijou minha testa. - Você vai ser pai agora, e precisa começar a planejar um futuro pro seu filho. Ele vai ser meu neto, eu vou ajudar, mas eu não vou estar aqui pra sempre, tá na hora de você seguir seus sonhos.

- Eu não tenho sonhos.

- Todo mundo tem.

- Talvez eu possa ser um advogado como o senhor.

- E você gosta de ler Gabriel? - Ele sorriu.

- Nem um pouco!

- Então você não será um advogado. Faça aquilo que você quer, não importa o que seja, eu vou te apoiar.

- E se eu quiser me trancar no meu quarto e ficar lá?

- Tudo bem.

Eu concordei com a cabeça.

- Talvez eu seja um vendedor ou coisa do tipo.

Ele riu. De verdade, como eu não via a longos anos.

- Eu já disse que você se parece com sua mãe?

- Não.

- Pois você parece muito com Patrícia.

- Tipo o que? - Fiquei curioso.

- Seus olhos são idênticos aos dela, sua animação pra vida, seu coração grande, e sua sede de ser sempre melhor.

O celular dele tocou.

- Eu vou ter que atender, mas lembre-se: você pode fazer o que quiser!

Ele saiu e eu fiquei sozinho na sala vazia. Meu pai nunca tinha falado de minha mãe desse jeito. Subi até o sótão e abri uma das caixas. Procurei no meio do monte de tranqueira até achar aquela foto. Minha mãe sorria para a câmera, e eu me vi nela. Tudo o que meu pai disse, eu vi nela.

- Eu também posso ser melhor. Não importa o que Jéssica disse, eu não sou um lixo.

Mas lá no fundo, ainda doía.







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