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DIAS DEPOIS
JENN

Acordei de repente, devido a um pesadelo, e apercebi-me da enorme dor nas costas e no pescoço. Estava escuro, e demorei um pouco a perceber onde estava. No sofá da sala.
Ao meu lado, o Luke dormia tranquilamente. Lembrei-me então que ficámos até tarde a ver filmes e devemos ter adormecido.
Apercebi-me então que tinha adormecido encostada ao Luke e que ele rodeava a minha cintura com o braço. Estava extremamente fofinho a dormir. Depois de tentar endireitar-me, percebi que não me podia levantar sem acordar o Luke. Ele estava a dormir tão bem que não tive mesmo coragem de o acordar. Deixei-me então ficar ali meio sentada meio deitada, e voltei a pousar a cabeça no ombro dele. Não pude deixar de reparar no quão confortável era estar assim com ele.
Mas a minha mente fugiu para longe, bem longe. E reparei na luz das notificações do meu telemóvel. Estiquei o braço e peguei nele, desbloqueando-o e baixando rapidamente a luminosidade do ecrã. Tinha uma mensagem do George, e subitamente senti uma sensação estranha no estômago. Antes de abrir a mensagem, vi que eram quase quatro da manhã.

Sei que deves estar a dormir mas era só para dizer que tenho saudades tuas... Gostava que pudéssemos falar um dia destes. Amo-te.

Bloqueei o meu telemóvel e voltei a pousá-lo em cima da mesa, aconchegando-me junto do Luke.

*

- Jenn... - uma voz suave despertou-me, enquanto uma mão me fazia festinhas no cabelo.

Abri lentamente os olhos mas à minha volta ainda estava tudo escuro.
A sala.
Luke, ao meu lado, moveu-se um pouco. Levantei a cabeça, levando uma mão ao pescoço, massajando-o. Definitivamente não foi a melhor maneira de dormir.

- Que horas são? – perguntei em voz muito baixa.

- Quase seis da manhã – murmurou ele muito perto.

Lembrei-me então que não passou muito tempo desde que acordei de madrugada.
Ficámos ali, nas mesmas posições, em silêncio, nem sei bem porquê. A verdade é que não me apetecia nada levantar-me dali, apesar das dores nas costas e no pescoço.
Ele inclinou a cabeça e encostou-a ao meu ombro, lamuriando-se das dores nas costas. Ri-me baixinho e bocejei enquanto ele tirava o braço da minha cintura e se levantava.
De pé à minha frente, estendeu-me a mão e entrelaçou-a com a minha, ajudando-me a levantar.

- Bolas – queixei-me – Lembra-me para nunca mais dormir no sofá...

Eu mal o via por causa da escuridão mas sabia que ele estava a sorrir.
Quando parei em frente ao meu quarto é que me apercebi de que ainda estávamos de mãos dadas. Super atrapalhada, larguei a mão dele de forma brusca e senti-me um pouco nervosa. Acho que ele também se sentiu atrapalhado.

- Bom hm... vê se dormes mais alguma coisa – disse ele, com a voz estranha – Até logo.

E virou costas e entrou no seu quarto, que ficava mesmo em frente do meu. Sem hesitar também entrei no meu quarto e fechei a porta silenciosamente, encostando-me a ela.
Não conseguia entender por que é que fiquei tão nervosa com o que acabou de acontecer. Nem se quer era a primeira vez que dávamos as mãos.
Ao pensar nisso, senti um aperto no estômago. Pois não, não era a primeira vez que dávamos as mãos... Lembrei-me de pelo menos três ocasiões em que demos a mão, mas tinha a sensação de ter acontecido muito mais vezes desde que nos tornámos mesmo bons amigos.
Exato, era algo de amigos. Os amigos também dão a mão às vezes. Certo?
Abanei a cabeça, sentindo-me uma parva, e afastei-me da porta.

LUKE

Senti-me uma criança quando fugi dela e me tranquei no quarto. Encostado à porta, tinha o coração a mil. O que é que estava a acontecer? Por que é que eu reagi assim? Nós eramos próximos o suficiente para que não fosse constrangedor estarmos de mãos dadas... acho. Pelo menos não era a primeira vez que isso acontecia, e nunca nenhum de nós tinha agido assim.
Senti-me subitamente ridículo. Ela era a minha melhor amiga e fugi dela como se fosse um extraterrestre. E ri-me com a comparação. Ainda com a cabeça à roda, o coração a mil, e uma sensação incómoda no estômago, saí silenciosamente do quarto e atravessei o corredor. Respirei fundo enquanto batia levemente à porta. Ouvi um "sim" do lado de lá e entrei, encostando a porta atrás de mim.
Ela estava deitada na cama, aconchegada entre as almofadas, e ainda com a minha t-shirt vestida. Só aí é que tive consciência do quanto adorava vê-la com as minhas t-shirts.
Caminhei lentamente e sentei-me na borda da cama, de costas para ela, sentindo os seus olhos em cima de mim.

- Desculpa... ter fugido de ti há pouco – disse, atrapalhado.

- Não faz mal... - murmurou ela.

Respirei fundo e virei-me para ela, sentando-me de pernas cruzadas. Não havia muita luz, apenas alguma que entrava suave por entre os estores da janela do quarto. Apesar da falta de luz, podia ver o seu rosto. Os seus olhos verdes observavam-me com um brilho estranho.

- Estás bem? – perguntei baixinho.

Não sabia por que é que estávamos a falar tão baixo, não estava mais ninguém em casa.

- Sim...

Inconscientemente, aproximei-me ainda mais dela e deitei-me ao seu lado, de barriga para cima, e cruzei as mãos debaixo da cabeça com os olhos fixos no teto.

- Queres contar o que se passa?

Ela ficou uns segundos em silêncio, sem se mexer. Por momentos tive medo que fosse por minha causa.

- O George mandou-me uma mensagem a dizer que tem saudades minhas e que me ama... - disse inesperadamente.

E, sem saber porquê, senti um nó na garganta ao ouvi-la dizer aquilo. Mas o que é que se passa comigo?

- O que é que lhe respondeste? – a minha voz soou demasiado baixa e um pouco rouca.

- Nada – respondeu, movendo-se na cama e ficando também de barriga para cima.

Franzi a testa, sem a entender. Ela gostava dele... não gostava?
Essa ideia deu-me a volta ao estômago mas tentei ignorar essa sensação.

- Se gostas dele, por que é que não lhe respondeste? – quis saber.

- Não sei – respondeu ao fim de um pouco.

Olhei-a como que a pedir que se explicasse melhor, mas ela não reparou que eu estava a olhar para ela. Ou não quis dar a entender que reparou.
Um suspiro involuntário saiu-me e eu pousei a minha mão na dela, em cima do colchão, e com o polegar desenhei círculos invisíveis nas costas da mão dela.

- Vais ver que em breve vocês vão poder estar juntos – apanhou-me de surpresa o quanto me custou dizer aquilo.

Mas ela não me respondeu. Voltou-se novamente e deitou-se virada de frente para mim e fechou os olhos, mas não me largou a mão.
Pouco depois adormecemos.

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