Runaway

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Rosadale, Toronto, Ontário, Canadá - Sábado - 17h 

Runaway

Finn

No banco de couro desconfortável do carro velho da família, sentia o nervosismo me atacar sem nenhuma ressalva, fazendo o suor escorrer por minhas costas, colando a camiseta na pele de forma repulsiva. Acabará de avisar Millie sobre minha chegada, quase sete minutos após eu realmente ter estacionado na esquina de sua rua. À sua espera, a lembrança das descobertas a respeito de sua vida na Califórnia surgiam como flashs luminosos, atrapalhando a concentração. Sou invadido pela sensação de vertigem ao supor a mágoa e a insegurança que podiam estar dominando o peito da minha garota. Levo as mão ao rosto, tentando amenizar o mal-estar. 

-Tudo bem? - a voz doce e baixa de Millie chama minha atenção, me fazendo dar pular do banco. - Te assustei? - pergunta calmamente, como se falasse com a irmã mais nova. 

- Sim, mas eu é quem estava distraído. - a tranquilizo, sem jeito. 

- Quer ir até a minha casa? - convida. Millie usava uma espécie de macacão bege, junto de um tênis branco, desses que estavam na moda, altos e esportivos, com os cabelos amarrados e um óculos de aparência moderna no rosto. - Se não quiser, eu entendo. - ela conserta rapidamente, julgando mal minha demora para responder. 

- Eu estava olhando sua roupa, me distrai. - explico sem graça, tirando o cinto e focando minha atenção nos próximos passos, tentando não passar mais vergonha ao acabar tropeçando nos próprios pés ao descer do carro. 

- Ah, essa? É tão simples. - ela analisa o próprio look de forma crítica. Faço uma anotação mental: Ela gosta que fale da roupa. 

- É nada! Está linda. - elogio, abraçando-a de lado. O medo havia passado, só sentia a necessidade de tocá-la e mantê-la próxima, a salva. 

- Não repara no cheiro, nem na bagunça. É que eu tentei fazer uma coisa na cozinha e não deu muito certo. Fui limpar, e também não deu certo. - avisa sapeca, rindo nasalmente. 

- O que você tentou fazer? - pergunto curioso. 

- Macarrão. - ela balança a cabeça negativamente, como se fosse óbvio o desastre.

- Não é boa na cozinha? - sugiro, semicerrando os olhos. 

- Sou boa em muitas coisas, então, estatisticamente, precisava ser ruim em alguma. - pontua, dando de ombros. Não deixo de rir da autoestima da menina. Adentro o local um pouco constrangido, observando o ambiente com cautela, tentando não parecer enxerido. 

Bem decorada, a sala de estar das Brown era toda branca,  espaçosa, com alguns móveis e detalhes dourados, como os abajures, a manta sob o sofá e as cortinas que enfeitavam a janela, uma TV enorme estava ligada em algum canal de culinária, comprovando a tentativa frustrada de Millie na culinária, na mesa de centro tinha um balde com pipoca e alguns aparelhos eletrônicos jogados de qualquer maneira, plantas artificiais em cantos estratégicos traziam um clima aconchegante, mas ao mesmo tempo exagerado ao local. 

-É bem bonito. - comento por alto, tentando imaginar o tamanho em metros do armário branco, com luzes de led nas bordas, a frente. Tura era lindo e grandioso, mas distante, como se eu estivesse visitando um apartamento decorado vendidos por meus pais no passado. 

- Nem tanto, mas dá para o gasto. - responde, me deixando só no cômodo. 

- Está sozinha? - pergunto, mesmo parecendo ser óbvio. 

- Sim! - ela grita de algum lugar. Perdido por ter ficado sozinho, caminhei hesitante, tentando seguir sua voz. A cozinha era igualmente branca e brilhante, com utensílios de todos os tipos expostos em uma bancada. A morena estava na pia, em cima de uma banqueta, tentando alcançar algo no armário. Vendo sua dificuldade, vou até o produto que ela queria, pegando com facilidade e o entregando em suas mãozinhas com ar de deboche. 

I've Got You - Fillie Onde histórias criam vida. Descubra agora