Flashback
5 de Julho, 2020, Leslieville, Toronto, Canadá - 10h da manhã
Casa dos Wolfhard
Finn
Estava uma pilha de nervos, quase sem unhas de tanto desespero. Eu vinha dormindo de forma irregular há uns bons seis meses, mas nesta noite foi tudo ainda pior. Sentia como se uma onda enorme viesse em minha direção, e nem com as mais otimistas perspectivas, correndo e pegando carona em um jetsky, me salvaria da tragédia, ela por fim acabaria por me engolir. Estava ferrado, ia morrer afogado por uma maldita onda. Tudo que eu prezo desde os meus sete anos sumiria diante dos meus olhos, e a culpa era minha, de mais ninguém. Íris havia me dito algo como: "Você será o vilão de sua própria história, Finn". Não dei muita importância na época, mas agora tudo fazia sentido, de um jeito bizarro.
- Filho, a Mills está aqui! Desce. - Minha mãe fala, suavemente, chegando na porta do meu quarto. Sinto meu sangue gelar, como na primeira vez que a vi na cantina da Bruce. Parece que já faz uma década desde a primeira vez em que coloquei meus olhos nela.
- Pede para ela subir, mãe. - Tiro os olhos da tela da TV, e me viro para minha mãe.
- Ela disse que precisa conversar com você. Ela não está com uma cara boa não, nem quis entrar. Está te esperando no jardim dos fundos. - Explica minha mãe, apertando as mãos e me olhando de forma terna, prevendo o que iria acontecer.
- Ahh, tudo bem. Estou indo. - Desligo a tela da TV e levanto meio decidido, mas não o suficiente para o que me aguardava fora da segurança do meu quarto.
Desço as escadas animado, cantarolando o refrão de Summer 89, quando bato quase de frente com meu pai, que não me olha, desviando de mim e subindo rapidamente as escadas. Estranho.
- Oi meu anjo. Porque não me avisou que vinha? Teria ido te buscar. - Digo abrindo a porta que dá para o jardim, vendo a silhueta de Millie encostada na pilastra que sustenta a cobertura da varanda.
- Já está arrumando as malas? - Ela questiona, sem se virar para mim. Congelei. Fiquei parado na porta, sem responder, encarando suas costas.
- Quando planejava me contar, Wolfhard? - Ela finalmente se vira pra mim. Os pares de olhos cor de mel me fitaram com desgosto, quase como se eu não estivesse ali. Vazios, como eu nunca havia visto antes.
- Não tenho certeza do que você está falando, anjo. - A encaro, com os lábios tremendo levemente.
- Por favor, me poupe disso. Eu já sei de tudo, Finnie. Porque não me disse? Porque? - Indaga autoritária. Ainda sem nos mover, pressiono meu lábio e fecho os olhos, tentando inutilmente me acordar. Não está acontecendo, não agora. Eu ainda tenho tempo, três semanas! Não era real.
- Eu… - Me engasgo - Eu ia dizer, mas é que… Eu não sabia o que dizer, pra mim isso tudo nem é real. Sabe? Nem parecia que ia dar certo. - Millie, minha Millie, ainda me encara, mas agora com os olhos furiosos e marejados, como se estivesse prestes a explodir. - Me deixa explicar, por favor. Eu não queria nada disso, eu te juro. Eu não fazia ideia. - Falo gesticulando, me atropelando no desespero que tomou conta de cada célula. Não podia ser real. Não era para ser assim.
- É claro que você queria, é o seu sonho afinal. Não se incomode, Wolfhard. Pode ir em paz, não tem nada que te prenda aqui, não é mesmo? - Ela diz com os olhos fechados e punhos serrados, sem me olhar.
- Millie, não faz isso. Eu - caminho até ela, tentando me aproximar, mas a mesma dá um passo para trás.
- Você o que? Mentiu por quase um ano, quando a única coisa que precisava fazer era me contar! EU PODIA TE AJUDAR, ENTENDE? NADA DISSO TERIA ACONTECIDO. NADA! VOCÊ É UM IDIOTA, UM COMPLETO IDIOTA. - Ela se descontrola, gritando aos quatro ventos sua mágoa. Quase me matando no processo. Volto a fechar os olhos. Não era isso. Não era para ser assim.
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I've Got You - Fillie
Storie d'amoreAs estrelas colidiram, os destinos foram traçados e a sorte foi lançada de forma definitiva. - O que eu podia esperar, hum, um final feliz? Eu sou quem sempre esteve no último lugar da fila, no lugar errado, na hora errada. Eu não tinha nem que est...