62. Babás

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Pov Noah

– Aqui! – Krystian brota ao meu lado me entregando um papel.

Estava na biblioteca terminando o trabalho chato de redação. O professor Roger insistiu que escrevêssemos sobre abandono, lares adotivos e a política de adoção. Acho o tema um pouco estranho e diferente, dadas as circunstâncias de que ele passa a aula inteira falando sobre ele mesmo.

– O que é isso? – Pergunto o encarando confuso, ele revira os olhos.

– Músicas! – Diz sorrindo mas continuei o olhando sem entender.

– Que músicas?!

– Esqueceu que eu fiquei de te entregar uma lista com músicas de auto aceitação? – Ele diz e não deixo de encará-lo espantado. Olhei em volta e graças aos céus, ninguém pareceu ter ouvido.

– Krys, dá pra maneirar um pouco? – Digo guardando a folha em minha mochila. – Ainda não posso conversar sobre esse assunto abertamente desse jeito.

– Ué, mas eu nem disse nada demais! – Ele franze a testa. – Sinceramente Noah, acho que você nunca vai estar pronto pra se assumir!

– Não é tão fácil! – Suspiro e encaro a mesa. – Meus pais nem sonham que sou assim, e todos os meus amigos também não…

– E tenho total certeza de que nenhum deles vai te julgar ou te obrigar à ser outra pessoa! – Disse sorrindo. – Ficariam felizes se você se orgulhasse de quem é!

– Não é isso que eu acho que vai acontecer! – Bufo. – Eu vivo uma vida inteira de mentiras Krystian… Meu pai é alguém totalmente controlador. É claro que não ficaria feliz por mim!

– Você precisa tentar! – Diz e segura minha mão.

Não posso negar, por mais que isso fosse constrangedor aos olhares vindo de fora, eu estava me sentindo seguro e compreendido com aquele toque.

– Você tá enfrentando a sua avalanche!

– O que? – Pergunto confuso e ele ri pelo nariz.

– Quando você vai bem alto, tipo numa montanha, e consegue ter a visão perfeita da cidade, mas tem esse momento esclarecedor atrapalhado por uma avalanche, que te faz voltar pro chão e ficar sem a mesma visão de antes. Porém, você tem noção do que viu, e por mais que não esteja mais vendo, você sabe como é! Se quiser ver a vista outra vez, você precisa encarar a avalanche. Passar por ela, sem se importar quantas vezes ela vai te derrubar, até que você consiga voltar ao topo de novo.

– Krys, eu… – Tento falar mas sou interrompido.

– Sua vida é a cidade, a avalanche é o seu pai. – Ele esclareceu minha dúvida e então tudo se encaixa. – Mas às vezes, a avalanche sede e não volta à tentar te derrubar mais, porque ela entendeu que não vai adiantar de nada fazer você ficar no chão, se no fim você sempre vai voltar a tentar subir de novo.

– Eu quero fazer isso, mas…

– Não existe "mas"! Faz isso por você Noah. Esquece o resto! – Ele diz me olhando fundo nos olhos. – Eu também lidei a minha vida inteira com gente ignorante que não conseguia me entender. Mas eu não me importei com isso, porque estou orgulhoso e feliz comigo mesmo!

– Krys eu nem sei por onde começar!

– E se você saísse comigo qualquer dia desses?!

– O quê? – O encarei.

– É. Tipo uma saída de amigos! Podíamos conversar melhor e talvez dar um fim nesse seu medo!

– E não podemos fazer isso na sua casa?!

What I've Been Wishin' For {Joaley & Beauany} Onde histórias criam vida. Descubra agora