112. Só Quero Me Divertir

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Pov Sabina

– Ainda não acredito que vamos ao baile juntas. – Diarra diz empolgada. – Estou tão animada!

Estávamos em frente aos nossos armários, que são um ao lado do outro. Havíamos acabado de sair da aula de educação física e eu estava pegando meu material para a aula de literatura americana, vulgo a minha favorita. Acontece que desde que mudei completamente como pessoa, minhas únicas preocupações são as aulas e desde então minhas notas têm até aumentado.

– Você só fala disso desde que eu aceitei! – Digo franzindo a testa, enquanto continuava a tirar meu material do armário. – Não acha estranho irmos juntas?

– E porque seria? – Diarra me olha desapontada, esperando talvez que eu diga algo sobre o problema ser com ela. Mas não era.

– Não sei. Somos duas garotas Diarra! – Digo da forma mais sutil. – E mesmo que estejamos fazendo isso pra ajudar uma a outra, não te deixa triste saber que ninguém te convidou e você vai ter que ir com sua melhor amiga pra não ter que vir só?

– Eu não fico triste, porque estou indo com você! Se fosse qualquer outra pessoa eu me sentiria mal.

Diarra consegue ser a melhor pessoa nesse mundo, mesmo sem perceber.

– Isso é uma das coisas boas nisso, mas mesmo assim fico meio bolada por não termos sido convidadas. – Fecho o armário e a encaro. – Merecemos essa noite tanto quanto qualquer outra garota dessa escola. Não acho justo que a gente tenha que ir juntas só pra não ficarmos sem ir!

– Sabina, entenda uma coisa. Nenhuma de nós duas fomos convidadas porque ninguém dessa escola merece a gente! – Diarra diz convicta de que estava certa. – E pra mim não importa se estou indo sozinha ou com uma melhor amiga, eu só quero me dividir!

– Divertir! – A corrijo.

– O que?

– Só quero me "divertir"! – Digo reformulando a frase mais uma vez para que ela entenda.

– Viu só, até você admite. – Ela diz confiante.

– Não, eu só estava te corrigindo… – Dizia até que eu a encaro e ela está com aquela cara de quem acabou de pregar uma peça em alguém. A ficha caiu. – Você fez de propósito! – Digo surpresa e ela dá de ombros convencida.

– Você precisava dizer! – Ela sorri. – Você tem que acreditar que vai ser divertido e eu só queria ouvir de você que a ideia de irmos juntas não é ruim.

Parei para analisá-la melhor. Diarra parecia tão animada e eu sempre deixei claro que não tinha animação nenhuma para ir ao baile com ela. Ouvir isso agora fez com que eu me sentisse péssima. Ela só está tentando me ajudar, como sempre fez durante todos os nossos anos de amizade e eu simplesmente não liguei pra isso por me preocupar com o que poderiam achar se nos vissem juntas.

Sou uma péssima amiga.

– Promete pra mim que você vai se animar mais! – Ela me encara com um olhar de criança que espera promessa.

– Tá, eu prometo! – Digo revirando os olhos em circunstância. – Mas não vamos de vestido combinando, ok?

– Credo, que horror! – Ela diz me fazendo rir.

Estávamos tão distraídas na nossa própria conversa que nem percebemos o grupo de garotas que estava reunido nos olhando, com conversinhas e risadinhas. Apertei meus olhos pra elas, e sem aviso ou controle sobre meus pés, me afasto do armário e caminho até elas. Diarra me acompanha.

– Posso saber o motivo da graça? – Encaro elas com as mãos na cintura.

Mesmo eu perdendo o posto de maldade, continuo com a mesma postura intimidante de sempre. Já tá no sangue.

– Nada Sabina, não estamos rindo de você! – A garota loira diz e lança um risinho pra sua amiga ao lado. Lisa é o nome dela.

– Não? Eu vi muito bem vocês me olhando e rindo feito idiotas! – Franzi a testa e lhe encarei.

– Ah foda-se! – Lisa diz revirando os olhos. – Estamos achando o máximo essa cena de vocês duas combinando de irem juntas ao baile. O colégio inteiro já sabe desse mico de vocês!

– Porque mico? – Diarra perguntou ingênua.

– Ah tá brincando né? – Grace, a ruiva, cruzou os braços e encarou Diarra. – É patético o que vocês estão fazendo. Duas garotas indo ao baile juntas por não terem par, é humilhante e triste!

Todas riem após ouvirem o comentário dela. Diarra me olha e quando meu olhar encontra o seu, sinto uma onda de fúria me invadir. Eu também pensei como essas garotas, mas agora, ouvindo tudo isso, percebi o quão idiota era esse pensamento.

– Idaí que vamos juntas? – Encaro elas. – Vamos nos divertir mais do que vocês e seus pares que só ligam mesmo pro sexo que vocês farão depois que saírem da escola! Se toquem, a companhia da minha melhor amiga é bem melhor que a de um cara qualquer que só quer me comer depois que a gente dançar uma ou duas músicas nesse baile estúpido!

Elas pareciam chocadas com o que acabei de falar. Umas ficaram caladas, outras baixaram as cabeças e Lisa simplesmente riu.

– Você mudou mesmo Sabina! – Ela diz com um sorriso provocador no rosto. – Quem diria que passaria a ser essa figura vergonhosa que é hoje. Uma perdedora depressiva que precisa se juntar com a amiga macaca pra não ficar de fora do baile!

– O que você disse? – Me aproximo dela com rapidez. O sangue já fervia no cérebro. Suas palavras martelavam no meu subconsciente.

– Que você é uma perdedora depressiva! – Ela me encarou debochada.

– Não. A parte que você falou da minha amiga! – Me aproximo ainda mais.

– A macaca? – Ela perguntou com desdém e isso foi a gota d'água pra mim.

Minha mão voou tão rápido que eu nem sei se foram segundos ou milésimos. Acertei seu rosto com um tapa estalado que fez barulho no corredor inteiro. Ela só não caiu porque se esbarrou na garota que estava atrás dela.

Lisa me olhou espantada, com a mão na bochecha. As amigas pareciam estar em choque.

– Você é podre Lisa. Você é a pior raça dessa escola e sabe bem que não é só eu que acho isso! Tenho pena de você e desse seu grupo de amigas imbecis, com o cérebro tão pequeno que é quase inexistente. Vocês são ignorantes e submissas que acham que todo mundo precisa de um macho pra se divertir… Eu só preciso da minha amiga. – Seguro a mão de Diarra. – Ninguém aqui é melhor que ninguém, entendeu? Sua patricinha mimada. Todos somos iguais e a cor de ninguém deveria influenciar na vida do outro. Você não ganha nada sendo uma babaca, assim como Diarra não perde nada ouvindo esse seu comentário racista. Ela reconhece o valor que tem e não se deixa levar por pessoas insignificantes como você e suas amiguinhas branquelas. E se alguém nesse corredor tem que ser chamado de animal, esse alguém é você. Sua rata desprezível, que vai perder tudo que tem a sua volta por achar que o mundo precisa de comentários de merda como os seus.

– Pega leve Sabina! – Grace diz e eu lhe encaro. Ela se afasta, assim como todas as outras.

Volto minha atenção para Lisa, que encarava o chão ainda com a mão na bochecha.

– Faz um favor ao mundo e nunca mais abre essa sua boca pra falar besteira! – Seguro em seu cabelo e puxo com força, fazendo ela me encarar. – E nunca mais dirija uma só palavra pra nenhuma de nós duas, entendeu?

Lisa concordou com um aceno de cabeça amedrontado. Ótimo, era isso mesmo que eu queria. Larguei seu cabelo e saí puxando Diarra pela mão. Deixamos elas pra trás e saímos da escola, rumo à algum lugar que não estivesse infestado de parasitas e vermes como elas.


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What I've Been Wishin' For {Joaley & Beauany} Onde histórias criam vida. Descubra agora