GORILLA - Pentagon

A legitimidade do Pentagon

Eu me lembro de origamis, de pássaros, de pássaros de origami, as vezes eu cortava meu dedo, lembro deles abrindo vôo, tão livres mesmo com as limitações do teto branco, mas pra mim não tinha nada mais livre que aquilo, me lembro do Hui, lembro que ele era quase tão pequeno quanto eu, nós adorávamos brincar com os origamis vivos... lembro-me do fogo e tudo queimou, depois disso nenhum origami nunca mais brincou comigo.

Hoje eu ainda sou uma criança mesmo que com as pernas longas, mas ainda tenho pesadelos com as dobraduras virando cinzas. Mesmo que esses sonhos não cheguem a fazer sentido algum.

{...}

WooSeok passou por uma área vazia do armazém, chupando um pirulito despreocupadamente, andando com um saco de laranjas em suas costas, parou em frente a uma janela e tirou os sacos de lixo pretos que a cobriam deixando o sol iluminar o lugar empoeirado, virou o saco que estava com ele do avesso derrubando todas as laranjas no chão e parou uma com o pé, se abaixou na frente dela e mediu seu tamanho usando o polegar e o indicador. Parecia suficiente, talvez ficasse um pouco pequeno dessa vez. Sem mais nem menos estalou os dedos próximo a fruta que latejou em chamas raivosas no mesmo momento, chamas que invés de a carbonizar depois de queimar a fez entrar em metamorfose, aos poucos lhe foi criada pernas e braços e uma cabeça, pêlos nasceram, um focinho, olhos profundos que foram substituídos por dois pequenos cristais vermelhos e em menos de um minuto a laranja já tinha virado um gorila de pelúcia. O garoto remexeu o pirulito com a língua e sua expressão mudou pois percebeu que havia esquecido algo, pensou um pouco, puxou o cabo do pirulito o arrancando do doce e, sem precisar de estalo, esse pegou fogo e virou um pequeno chapéu vermelho de macacos de circo. Ele o vestiu com aquilo e com o saco fez um colete da mesma cor, colocou outra laranja no colo do bichano, tudo pegou fogo de novo e agora o pelúcia era um brinquedo eletrônico que batia com seus pratos instrumentais alegremente. Tirou do bolso um plástico azul, esse ele manuseou sem uso de seus poderes, o dobrou algumas vezes fazendo uma caixinha, que fez menor que o gorila propositalmente, o encaixou dentro dela e foi ao apertá-lo para se encaixar lá dentro que todas as outras laranjas pegaram fogo, dessa vez virando já o gorila vestido batendo os pratos num som ensurdecedoramente irritante e repetitivo, mas ao qual o jovem já estava acostumado, ou talvez nunca tenha chegado a ser estressante para ele. Wooseok apertou a caixa vendo o gorila se esforçando para continuar batendo os pratos. Sua mente começou a ir longe a partir dali.

Criado para um propósito... bater os malditos pratos. ''Propósito''.

Nunca foi ensinado na prisão na qual foram criados que sobrevivência é um propósito legítimo de vida. Já que então eles foram criados para servir e proteger, se eles se negaram a servir, eles deveriam pelo menos proteger, não é?

Se não, eles também não seriam exatamente como os medíocres que ele queimava como show para os homens de branco?

Seus olhos começaram a se tornar vermelhos e trêmulos.

Não?

Aquele maldita macieira, ele sonhava com ela todas as noites, ela poderia morrer como tudo à sua volta já tinha morrido.

A caixa em sua mão começou a ferver e logo queimar e ele sentiu uma mão firme em seu ombro que o fez quebrar com aqueles devaneios tortuosos em um segundo, olhou pra cima e viu Adachi Yuto.

- Ninguém mais precisa morrer.

Foi o que a voz profunda do mais velho disse antes de pegar o gorila que estava na sua mão.

- Sabe o que eu me lembro todos os dias? - Continuou falando, sua voz grossa conseguia ser infinitamente um ponto seguro quando ele queria. - Que não éramos os únicos submetidos a aquela realidade e que quem está tentando nos capturar agora não tem culpa de nada. Não passam de vítimas, exatamente como nós. Deveríamos ter tido o mesmo fim. Não somos servos e tirar vidas não é proteger. - Falou friamente mas olhou pro mais novo que mantinha os olhos presos nele e sorriu com um sorriso gentil que mal parecia prisioneiro da sua própria história como o próprio Wooseok. Afinal, de alguma forma todos eles estavam na mesma situação. - E pensar que podemos ser capazes disso me dá um propósito maior do que um forçado a mim. Pense com a própria cabeça Wooseok, você não precisa mais ser uma marionete e não queime o que é dos outros. Você não fez isso aqui pro JongSuk? - Terminou falando do pobre gorila na sua caixinha queimada.