Viva

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O recital de Lady Bridgerton mostrou ser, decididamente, um evento musical (esta autora garante que nem sempre essa é a regra nos recitais). A artista convidada era ninguém menos que Maria Rosso, a soprano italiana que fez sua estreia em Londres há dois anos e voltou agora depois de um breve período nos palcos de Viena.
Com cabelos volumosos e negros e olhos escuros reluzentes, a Srta. Rosso mostrou ser tão graciosa nas formas quanto na voz, e mais de um (na verdade, mais de uma dúzia) dos chamados cavalheiros da sociedade teve muita dificuldade em afastar os olhos de sua pessoa, mesmo depois do fim da apresentação.
Com exceção de Benedict Bridgerton que parece seduzido pela Latina Clair, afinal nunca acompanhou ninguém que não fosse suas irmãs
Também estiveram presentes no recital de Lady Bridgerton: a Sra. Featherington e as três filhas mais velhas (Prudence, Philippa e Penelope, que não usavam cores apropriadas a seu tom de pele); o Sr. Nigel Berbrooke (que, como sempre, tinha muito a dizer, embora ninguém além de Philippa Featherington parecesse interessado) e a Sra. Sheffield, acompanhada da Srta. Katharine Sheffield.
Esta autora supõe que o convite às Sheffields também incluía a Srta. Edwina, mas ela não estava presente. Lorde Bridgerton parecia bem-humorado, apesar da ausência da mais jovem das Sheffields, mas infelizmente sua mãe parecia desapontada.
No entanto, as tendências casamenteiras de Lady Bridgerton são lendárias, e certamente ela tem muito tempo livre agora que a filha se casou com o duque de Hastings.

CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN
27

Acordei cedo e o café da manhã recebi no quarto, fiquei curiosa com o porquê daquilo. Era possível ouvir pelo corredor uma movimentação e alguns gritos pela casa vindo da sala
— O que está acontecendo lá embaixo? — Perguntei à Jordan, terminando de comer as uvas
— Estão aprontando tudo para o recital, são muitos criados de um lado para o outro... uma bagunça — deu de ombros
— Por que não me avisou antes? — me levantei e já prendia o cabelo em um rabo de cavalo — eu posso ajudar
Tirei a camisola e pedi que pegasse o vestido na gaveta para mim enquanto arrumava a cama.
— Clair, pare! Não é sua obrigação ajudar e muito menos arrumar a cama. Eu faço isso
— Você disse que seria uma "amiga" que me ajuda, eu quero ser para você também.
Jordan era difícil de convencer mas consegui, após longos abraços e pedidos. agora vestia uma roupa dela, mais adequada para o serviço. Me tornava uma empregada novamente, não me sentia mal — adorava para falar a verdade —
Era a primeira vez que tinha força de vontade para organizar uma casa, que fazia porquê queria — ajudar e agradar — com a liderança e os amigos certos.
Enquanto homens montavam o palco, mulheres ordenavam os lugares. Fiquei encarregada de levar os arranjos de flores até o grande salão. No início os achei pesados, logo dominei a técnica.
Era meu 7 vaso e meus braços já tremiam um pouco, o medo era deixar cair — só atrapalharia e odiava ser estorvo —
Parei no meio do caminho e dobrei um pouco meu joelho para apoiar o jarro e descansar por alguns segundos.
Deixe-me ajudá-la
Minha visão era limitada por causa das flores enormes mas pela voz, era um homem.
— Obrigada, eu estava... — Assim que ele tirou de minhas mãos, o vi — Anthony?
— Clair? — perguntou espantado — Que roupas são essas e por que está trabalhando?
— Eu posso ajudar, não faço nada de útil para contribuir nessa casa.
— Não somos homens das cavernas, lamento que não possa caçar a nossa janta se é que isso que deseja!
Por mais que tentasse, era impossível segurar o riso com suas piadas sarcásticas.
— Me diga onde devo colocar isso — Sacudiu minimamente o arranjo que segurava
— Me acompanhe

Quando chegamos, metade dos empregados pararam assim que Anthony entrou. Como um disco travado, muitos olhos em nós dois
— Podem continuar, não quero atrapalhar
Com a ordem, voltaram a seus postos e parecia uma feira novamente.
— Você é diferente de todas as mulheres que já conheci
— Isso é bom?
— Formidável, possui um jeito um tanto atrevido mas fico feliz que seja uma influência para minhas irmãs.
— Sua mãe já é uma excelente influência
— Sim, concordo mas elas precisam de uma figura próxima, uma figura de irmã. É o que tem sido para elas
— Elas são bençãos em minha vida, fico feliz em ampara-las no que puder.
— Eloise está debutando sua primeira temporada, o certo seria apenas ano que vem mas minha mãe sabe o que faz.
— Realmente, ela sabe.
— E você tem toda razão, não há fundamento para a união de duas pessoas que não o amor.
— Então por que se casará com Edwina?
— Edwina será uma boa esposa, me dará herdeiros. A convivência será agradável, ela possui intelecto. Mas o foco é Eloise e ela não tem que ser como eu, não gostaria de vê-la casando com alguém que não ama profundamente.
Eu entendia a responsabilidade que Anthony apresentava, era o visconde. Títulos vem acompanhados de deveres, além da pressão de manter a linhagem.
Talvez a sua chance esteja debaixo do seu nariz — falei quase que sussurrando
— O que disse? — Se virou para mim
Devia abrir mais os olhos
Em todos os filmes que já li na vida, se pessoas discutem muito é porque se gostam. Diria que Anthony e Kate passavam disso, cravavam uma guerra. Enxergava romance
Eu os vi brigando diversas vezes, a forma como ela consegue tirá-lo do sério... não pode ser apenas fúria envolvida
Como não tinha pensando nisso antes? Agora parecia óbvio, eram como gato e rato. Quando me toquei ria descontroladamente, Anthony me encarava suspeito
— O que há de tão engraçado? — parecia frustrado, não lhe agrada que me divertisse a suas custas
— Nada — respirava fundo e tentava segurar mas era inútil
— Tem certeza? Então agora lhe farei rir mais
Caminhávamos lado a lado no corredor. Ele partiu para cima de mim e começou a fazer cócegas na minha barriga — era mais alto e mais forte que eu — não conseguia fugir. Por Deus parecia que seus dedos estavam em todo lugar, era a pessoa mais sensível para cócegas possível.
Anthony gargalhava junto comigo, se conseguia pensar em algo — meus instintos controlavam minha mente e não parava de rir um segundo — era no quanto gostava de nossa amizade recente

Perdida nos Bridgertons Onde histórias criam vida. Descubra agora