Liberta

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Tudo sobre ontem é uma grande desordem na minha mente. O recital foi a coisa mais linda que já vi, Kate era adorável
Porém a conversa com Benedict não me permitia ter sossego, muito menos o que vi naquele escritório
Não que fosse muito surpreendente, eu já imaginava — e apoiava — mas ainda era uma situação estranha, ele não casaria com a irmã dela?
Mesmo com meus problemas, ainda penso nos outros. É mais fácil ajudar o próximo do que a si mesmo, essa é a verdade. Ajudaria Anthony no que for, prometi a ele que guardaria segredo.
Me situava acordada a tanto tempo e não levantava da cama, em breve Jordan apareceria para me fazer descer pro almoço.
Não sentia fome, não sentia nada.
"Ao que parece que você quer se envolver"
Ele estava certo, eu sou covarde. Quero sentir as coisas mas me acostumei a ser vazia.
No início tudo que minha madrasta fazia destruía cada pedaço meu aos poucos. Cansei de me importar e aprendi a ignorar. Aceitei, não lutei, me conformei e quando dei por mim encontrava-me vencida
Seja lá o que tenho que aprender aqui, talvez leve mais tempo do que imaginei.
PRECISO DE PAZ!
Ficar deitada na cama não seria útil em nada, iria atrás de alívio. No instante em que pus o pé no chão, Jordan entrou
— Que bom que chegou, preciso de um banho — Dizia fazendo um coque improvisado no meu cabelo
— Parece bem disposta, supus que estaria cansada
— Nunca estive tão disposta — afirmei enquanto dobrava o lençol
— Fico feliz — ela foi rindo até o banheiro

🌅

Descia as escadas, rezava para não encontrar ninguém. Minhas preces foram atendidas, até involuntariamente entrar na sala de jantar. Se transformou em rotina.
Tantos olhos em mim, toda a família Bridgerton
Anthony baixava a cabeça, constrangido. Nunca achei que o veria dessa forma, envergonhado
Benedict não piscava, não se mexia. O sorriso que abriu me perturbou, não sabia se era irônico ou irritado.
Eloise, Francesca e Violet sorriam
Hyacinth e Gregory me fitaram por segundos até retornarem sua atenção à comida
Colin deu uma piscadela
— Teve uma boa noite de sono? — Eloise perguntou, assim que me sentei
— Sim, foi ótima
Quase não dormi, tive insônia. A falta de uma solução me perturbava
— Ontem nos esbarramos e você parecia abalada, aconteceu algo? — Francesca largou os talheres e se dirigiu a mim
Depois do momento com Kate e Anthony, sai correndo. Meus olhos vermelhos de choro e sapatos na mão, foi a única pessoa que me viu antes de chegar até meu quarto. Após a pergunta, Anthony e Benedict trocaram olhares comigo. Ambos não sabiam dos momentos anteriores e posteriores
— Não aconteceu nada, não se preocupe.
— Não irá comer? — Violet apontou para meu prato vazio com um banquete inteiro à minha frente
— Eu estou sem fome.
— Tem certeza? Poderia comer um pouco, não tomou café. Não quero que passe mal ou fique doente
Era grata a Violet, por tudo. Suas preocupações sem fundamento, preocupações de mãe
— Me sinto um pouco enjoada, se me dão licença
Assim que empurrei a cadeira, os 3 Bridgertons se levantaram
— Agora todos sairão da mesa? — hyacinth interpelou
— Eu acompanharei Clair — Anthony deu uma leve tossida — digo, senhorita Clair
— Não há porque se incomodar — empurrei a cadeira de volta a seu lugar
— Eu posso fazer isso — Benedict pôs o guardanapo em cima da mesa
— Como amigo, acredito que seja melhor que eu... — Colin começava a falar quando os interrompi, impaciente
Eu posso ir sozinha
Não tolerava mais aquele comportamento masculino ansioso. Qualquer coisa julgam poder consertar, é sobre mim e não sobre eles. Entenderam meu recado e não se moveram até que eu deixasse o cômodo
Pediria mil desculpas a Violet se soou grosseiro, minhas emoções estavam à flor da pele
Nunca bebi na minha vida, agora parecia uma boa hora para começar. Com a maioria dos criados servindo a mesa e comendo em seus alojamentos, foi fácil entrar na cozinha e pegar uma garrafa da primeira bebida que vi. Depois notei escrito "tequila"

🌅

Necessitava de um lugar vazio para poder ficar comigo mesma, nada melhor que a biblioteca.
Adorava a energia daquela casa, sempre cheia e vibrante... porém não era disso que eu precisava
A biblioteca era grande, haviam corredores separados pelas estantes — onde ficavam os livros —
No final, perto da janela avistei um sofá. O local ideal para sentar, beber e refletir
Praticamente deitada, abri a garrafa e dei o primeiro gole. Minha garganta parecia estar pegando fogo, ardia até o estômago.
Acostumei com a sensação e já me permitia goles maiores.
Tudo parecia estar diminuindo, perdendo a importância. Benedict, Lilith, Eu... não me deprimiam mais
Começou a ficar difícil manter os olhos abertos, de cochilos em cochilos eu admirava a trajetória do sol até se pôr no oeste
Uma linda visão, mesmo longe conseguia me imaginar ali... leve e sem os fardos que carregava a anos
Percebi que chorava quando as lágrimas desceram das maçãs do rosto e deslizavam pelo meu pescoço.
Com o silêncio, o ruído da porta sendo aberta me assustou o bastante para cair do sofá. Não queria ser vista naquele estado, poderia ser desprezada por qualquer um... menos por alguém daquela família. Já no chão, engatinhei silenciosamente até o último corredor e fiquei ali sentada tentando recuperar minha lucidez — como se fosse funcionar —
— Clair? Você está aqui? — a pergunta repercutiu a biblioteca e reconheci a voz, Colin
Seu tom aflito era comovente, odiava ser a responsável
— Me preocupo com você, somos amigos. Apareça se estiver aí, por favor

Perdida nos Bridgertons Onde histórias criam vida. Descubra agora