Capítulo 20

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  Quando dobrou na rua de sua casa, Breno conseguiu sentir o coração acelerar a suas mãos começarem a suar. Estava próximo. E ele ainda não havia nem escolhido as palavras que usaria com a mulher.

  Estacionou o carro na garagem e respirou profundamente antes de abrir a porta e se retirar do mesmo.

  Ele e Marcela estavam praticamente morando juntos, a única coisa que faltava era ela levar todas suas coisas para lá e pôr seu apartamento para aluguel, já que dormiam juntos todas as noites na casa dele.

  Caminhou lentamente até a porta da garagem que dava para o grande pátio de sua casa. Seus passos diminuíram ainda mais quando se conseguiu avistar a grande porta de entrada. Quando sua mão tocou na maçaneta, ele hesitou, estava louco para correr dali, mas tinha que ser corajoso.

  Ao abrir a porta, já se deparou com a namorada sentada no sofá da sala.

  - Oi, amor- ela disse sorrindo assim que o avistou- Não sabia que horas chegaria então nem te esperei pro café da tarde.

  Ele engoliu seco e fechou a porta atrás de si, logo largando sua maleta na mesinha que havia próxima da porta.

  - Breno, o que foi?- seu sorriso foi substituído por uma expressão preocupada ao ver a feição do homem- Tá tudo bem?- se levantou e se aproximou dele.

  - Sim. Eu...- sua voz morreu- Eu preciso conversar com você.

  Os lábios do homem estavam pálidos e ele tinha os olhos opacos.

  - Você tá passando mal?- tocou no rosto dele e pode sentir que ele suava frio- Vamos para o...

  - Não!- ele tirou sua mão do rosto dele- Eu preciso falar com você!

  Ela assentiu e o puxou pela mão até o sofá.

  - Tá tudo bem? Pode me contar qualquer coisa que você quiser- acariciou a perna dele.

  - Que merda- resmungou baixinho e então inspirou profundamente tomando coragem- Eu preciso te contar a verdadeira história da minha vida.

  - Eu sou toda ouvidos- se ajeitou no sofá ficando de frente para ele.

  - Eu... teve uma época da minha vida que eu era muito diferente. Eu era bem acima do peso e sofria muito por isso. Tanto que eu fui dar meu primeiro beijo com vinte anos- suspirou- Meu pai era médico e queria que eu seguisse a profissão dele, então eu acabei entrando na faculdade de medicina e através de uma colega, consegui conhecer uma mulher que achava que era o amor da minha vida. Resumo: ela só era interessada no dinheiro da minha família e minha futura profissão, mas me achava horrível e transava com meu primo nas minhas costas- sentia seu coração palpitar.

  - Amor, por que...

  - Me deixa continuar, por favor- implorou- Eu descobri no dia do nosso casamento tudo que ela fazia e, mesmo assim, foi ela quem me abandonou no altar- deu uma risada sem graça- Então eu tomei a decisão de dar a volta por cima. Segui meu sonho de cursar arquitetura na faculdade, tranquei medicina, me empenhei em dieta, academia, e consegui o corpo que tanto desejava e então comecei a sair à noite e usar minha antiga aliança de casamento pra ficar com as mulheres- sentiu a garganta secando- Eu criava histórias, mentia para elas sobre uma falsa esposa, dizia que me batia e inúmeras histórias horríveis pra conquistar as mulheres- sentiu seu olho ardendo com vontade de chorar- Era sujo e nojento, mas eu achava que era isso que dava certo.

  - E a Carolina? Você enganou ela também?- estava um pouco confusa com tudo o que ele estava falando.

  - A Carolina... ela não existe- olhava para o chão por medo de olhar nos olhos azuis dela.

  - Como assim, Breno? Eu conheci ela!

  - O nome dela não é Carolina. É Paula! E ela não é e nunca foi minha esposa, ela é minha secretária- engoliu seco quando ouviu o longo suspiro da mulher- Eu pedi pra ela me ajudar nessa história.

  - Você mentiu pra mim, Breno? Por quê?- o tom suave da voz dela fez seu coração apertar ainda mais.

  - Eu não tinha coragem de te contar a verdade sobre a história da aliança. Quando você achou ela eu me senti sujo- sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto.

  - E você não se achou sujo mentindo pra mim?- sua voz embargada denunciava o choro e isso tirou ainda mais a coragem dele de olhar para ela, não queria a ver chorando- E as crianças?- sua voz continha desespero e viu ele negando com a cabeça- Você fez amar aquelas crianças e elas nem são de verdade! O que são? Atores mirins?

  - São filhos da Paula- explicou.

  - Por que essa mulher...

  - Não mete ela nisso, por favor- a voz dele estava fraca- Ela não tem nada a ver com isso.

  - Ela tem tudo a ver com isso!- disse brava- Mas você tem razão, a culpa é 100% sua- suspirou- Por que você fez isso, Breno? Eu já estava te amando!- começou a chorar compulsivamente sendo acompanhada por ele- Esse teatro inteiro e vocês rindo as minhas custas.

  - A gente jamais riria disso!- a olhou desesperado vendo o rosto vermelho e cheio de lágrimas- Eu só não queria que você ficasse sabendo do quão podre eu era. Eu realmente gostei de você e queria um relacionamento sério, mas não sabia como fazer isso.

  - Poderia começar não mentindo pra mim- se levantou do sofá.

  - Aonde você vai?- ele perguntou com a voz fraca.

  - Eu vou pra minha casa. Não tenho nada pra fazer aqui- subiu as escadas correndo.

  - Marcela!- subiu atrás dela- Não faz isso por favor. Vamos conversar!

  - A gente já conversou o suficiente!- o olhou séria- Você mentiu pra mim, Breno. Eu não esperava isso de você- começou a arrumar suas roupas que estavam lá.

  - A gente pode se resolver, por favor! Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas eu sou apaixonado por você!- tentou se aproximar dela.

  - Não me toca- disse com a voz contida- Acabou, Breno! Eu não vou mais conseguir confiar em você depois disso- negou com a cabeça- Não consigo.

  Ela terminou de arrumar suas coisas e saiu chorando da casa dele.

  O homem se jogou em sua cama ainda chorando. Ele pensou em ligar para a secretária e buscar palavras de conforto, mas ele não estava com força para isso, então apenas encostou a cabeça no travesseiro e seguiu pensando em tudo que havia acontecido até que finalmente consegui adormecer.

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