Capítulo 21

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  Paula não havia conseguido se comunicar com Breno desde que saíram do escritório na sexta-feira. Sempre que ligava para o homem caia na caixa-postal. Cogitou seriamente ir até a casa dele para ver se havia acontecido algo, mas preferiu entrar em contato com Cida, a senhora que trabalhava na casa dele, e ela lhe deu o relatório de como o chefe estava. Disse que passou o fim de semana todo bebendo e ficou praticante o dia todo preso no quarto, a única refeição que havia feito havia sido um sanduíche que ela o obrigara a comer. Falou que ele havia conseguido emagrecer e suas olheiras estavam profundas. Apenas dois dias haviam feito tudo isso com ele.

  Já fazia duas horas que havia chego no escritório e nada do homem aparecer. Ele tinha duas reuniões importantíssimas naquele dia e ela não sabia o que fazer, por mais que conhecesse os projetos dele muito bem, já que ele apresentava a ela antes mesmo de levá-los como proposta, não podia simplesmente tomar a frente, era apenas a secretária, não a arquiteta. Mas no fim das contas não teve escolha, o homem entrou pela porta do escritório quando faltava apenas duas horas para acabar o expediente.

  - Bom dia- sua aparência estava péssima.

  Ele tinha os cabelos loiros bagunçados, vestia calça de moletom e uma camisa, e via-se em seu rosto que não havia dormido há bastante tempo.

  - Já é quase boa noite- ela rebateu completamente irritada.

  - Calma- ele largou a mochila que tinha nas costas no chão- Eu to bem.

  - Eu não quero nem saber se você tá bem ou não- sua expressão era de completa fúria- Olha, Breno, eu entendo que as coisas podem não ter saído como você queria, mas isso é o seu trabalho, e não tem desculpa para o que você fez!- se levantou e apontou o dedo para ele.

  - E o que eu fiz?- perguntou não estendendo nada que ela estava falando.

  - O que você fez? Além de chegar duas horas antes do escritório fechar?- perguntou com ironia- Simplesmente perdeu duas reuniões importantíssimas que você tinha hoje!

  - Aí que merda- ele resmungou, realmente não havia se lembrando- Que merda- se repreendeu- Você conseguiu remarcar?- perguntou preocupado.

  - Eu fiz de tudo pra remarcar, mas eu não consegui- disse mais calma.

  - Eu não acredito- pôs as mãos no rosto e suspirou- Quando eu achei que nada mais podia dar errado...

  - Mas não se preocupe, a reunião aconteceu- se sentou novamente mantendo a expressão séria.

  - Como assim? O ponto principal das duas reuniões eram os meus projetos- a olhou confuso.

  - Eu apresentei os projetos, Breno- disse com os olhos fechados- Eu tive que ficar na frente de um monte de homens apresentando um projeto que nem meu era.

  - Você...- a olhava surpreso- Você...

  - Sim, Breno. Eu!- voltou a alterar a voz- Agora o mínimo que você pode fazer é não deixar que essa irresponsabilidade se repita.

  - Eu não vou- baixou a cabeça sabendo que estava errado- Eu vou ir pra minha sala. Pode ir embora já se quiser- pegou a mochila e foi para sua sala ainda cabisbaixo.

  Paula se sentiu mal de falar daquela forma com ele, mas era necessário. Sabia que ele estava sofrendo pois Cida havia relatado cada detalhe, mas estava furiosa por ser posta naquela situação.

  Ela cogitou seriamente a opção de ir embora, preferia ir pra casa e ficar com seus filhinhos do que ficar naquele lugar naquele momento, mas sabia que não podia abandonar o homem. Sentia a necessidade de ir até ele e perguntar como estava e dar um forte e reconfortante abraço, mas ao mesmo tempo estava com receio.

  - Ai, dane-se- se levantou da mesa e foi até a porta da sala do loiro dando leves batidinhas.

  - Entra- a voz triste disse do outro lado.

  Ela abriu a porta lentamente e adentrou o local.

  - Como você tá?- mordeu o lábio inferior nervosa enquanto via o homem jogado no sofá que havia em sua sala.

  - Eu to péssimo- disse sincero- Tinha tudo pra ser um relacionamento pra vida, mas eu estraguei tudo.

  - Você quer conversar?- perguntou enquanto observava ele se sentar e o homem negou com a cabeça- Você quer um abraço?

  Ele fechou os olhos com força e ela se aproximou rapidamente se sentando ao seu lado e o envolvendo em um abraço caloroso.

  Aquele abraço era tão reconfortante para o loiro que foi a primeira vez que se sentiu minimamente bem desde o término com Marcela.

  - O que acha de fecharmos o escritório e sair pra jantar?- sugeriu durante o abraço sabendo da falta de apetite que ele estava enfrentando.

  - Eu não quero comer- resmungou.

  - Mas a gente pode sair pra você distrair a cabeça- uma das mãos nos fios loiros e começou a acariciar- Só não podemos beber, você já tá acabado demais.

  Eles separaram o abraço com relutância e ele passou a mãos nos olhos enquanto era observado pela morena.

  - Eu acho que era você que eu precisava- deu um pequeno sorriso e o coração dela acelerou.

  - O que você tá falando, maluco?- riu.

  - Eu me sinto muito bem perto de você.

  Ficaram olhando nos olhos do outro totalmente hipnotizados. Apenas desaviaram o olhar quando um forte trovão foi ouvido e então um toró começou a cair do lado de fora.

  - Que isso?- Paula se levantou e olhou pela janela vendo que o mundo desabava do lado de fora.

  - Nossa, o negócio tá feio- ele a acompanhou- Será que tem como a gente ir embora?

  - Eu acho que...- um forte trovão foi ouvido- Prefiro não arriscar- disse levemente amedrontada e ele riu.

  - Não é bom sair com chuva.

  - Mas eu tenho que pegar meus filhos.

  - Vai mesmo querer que eles saiam da casa da babá nessa chuva? Acho melhor não- sugeriu- Liga pra ela e avisa que vai atrasar um pouco. É melhor a gente esperar essa chuva passar.

  Eles ficaram lá na sala conversando sobre tudo que havia acontecido na noite do término do relacionamento de Breno, já que o mesmo decidiu se abrir, esperando que a chuva passasse. Mas isso não aconteceu.

  A chuva se intensificava cada vez mais, já era mais de dez da noite quando ela olhou o relógio.

  - Olha a hora que já é- disse assustada e se levantou.

  O loiro estava sentado no chão com a mochila no colo. Ele tirou de dentro uma garrafa de whisky.

  - O que você tá fazendo?- perguntou assustada ao vê-lo tomando o negócio direto da garrafa.

  - Já tá nítido que eu vou ter que passar a noite aqui, então vou aproveitar e sofrer acompanhado- apontou para a garrafa e bebeu novamente.

  - Para com isso- tirou o objeto da mão dele- Levanta. Vamos aproveitar que tem luz e...- foi apenas essa frase ser dita que as luzes se apagaram completamente, ficando apenas as luzes de emergência da sala ligadas- Boca de sacola- resmungou.

  - Viu? Me deixa- pegou a garrafa de volta e voltou a beber.

  - É, Breno, pelo visto a gente vai mesmo ter que ficar aqui- observou a chuva que não dava uma trégua.

  - Bebe comigo?- sugeriu a olhando com aqueles olhos verdes intensos e tristes.

  Ela não sabia o porquê, mas sentiu seu corpo se arrepiar dos pés à cabeça. Algo estava por acontecer ali naquela noite.

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