Capítulo 29

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  Aquela informação fez o corpo inteiro do homem paralisar e tencionar. Como ele não havia notado isso antes? Queria dizer algo, mas estava totalmente travado.

  - Não ache que isso surgiu lá na viagem quando você tentou me beijar, já é algo antigo- resolveu que poria todas as cartas na mesa- A gente convivia tanto e eu tava tão machucada com as coisas do meu ex-marido que toda a atenção que você me dava tinha um efeito diferenciado. Eu acabei me apaixonando por você antes mesmo de me divorciar e... era ridículo- deu uma risada sem humor.

  - Por que você nunca me falou isso antes?- conseguiu falar após engolir seco.

  - Breno, olha pra você, pra sua vida... e olha pra mim! Nós somos complemente diferentes, isso nunca daria certo- suspirou- Eu sabia todas as presepadas que você arrumava com as mulheres que se relacionava, não queria que aquilo fosse comigo- negou com a cabeça.

  - A gente poderia ter tentado se resolver, eu te falei que sentia atração por você- ele sentia seu coração acelerado e um calor repentino tomou conta de seu corpo o fazendo abrir alguns botões da camisa social.

  - Você sentia atração e eu era apaixonada, não ia rolar- respirou fundo- Eu sempre deixei esse sentimento de lado, mas quando rolou tudo aquilo lá no Havaí, eu senti uma pontinha de esperança. Eu senti que aquilo era real.

  - Me desculpa- ele estava arrependido só de pensar que acabou brincando com os sentimentos dela, mesmo que sem querer.

  - Não é sua culpa. Por mais que o que a gente fez tenha sido errado e totalmente fora de contexto, não temos culpa- umedeceu os lábios- Depois desse episódio eu não consegui mais negar pra mim mesma o que sentia, então tudo que eu via começou a me machucar e... era horrível. Eu não conseguia mais me abrir com você como antes, não conseguia mais ser aquela pessoa que você tanto confiava... esse sentimento todo me afastou de você, ele criou uma barreira entre nós. Na verdade eu criei uma barreira, porque eu precisava disso pro bem da minha sanidade mental- ela sentia o nó se formando em sua garganta- Já estava ruim, e tudo só piorou mais depois...- a voz dela morreu e ela olhou para as mãos.

  - Depois do que, Paulinha?- por mais que estivesse doendo ouvir tudo aquilo, ele precisava saber como ela estava se sentindo.

  - Eu acho que você não lembra, ou então você finge muito bem. Mas no dia que a gente passou a noite aqui, nós acabamos bebendo aquela garrafa de whisky que você trouxe e- respirou profundamente antes de continuar- A gente transou, Breno, aqui no chão da sua sala- a voz dela continha uma leve vergonha, era estranho falar sobre aquilo em voz alta.

  E novamente ele se viu em choque. Nem em seus melhores sonhos imaginava que ela já havia se entregado para ele, e aquilo foi surpreendente. Mas logo em seguida Marcela veio em sua mente e sua consciência pesou.

  - Pai amado- ele disse baixinho e pôs as mãos no rosto- Eu realmente não me lembrava.

  - É, eu percebi. E eu ia falar com você sobre isso, mas aí sua namorada chegou e vocês fizeram as pazes. Não me senti no direito de estragar tudo- olhava para ele que ainda tinha as mãos no rosto- E isso foi me consumindo aos poucos. Eu tentava esquecer, mas cada vez que eu te via eu lembrava de tudo, dos toques, dos beijos... e então ela aparecia e eu via o quão trouxa eu estava sendo.

  - Você nunca foi trouxa, Paula!- ele descobriu o rosto rapidamente e a olhou nos olhos- Me desculpa de verdade por tudo isso. Eu sempre senti algo por você, mas...

  - Não era o suficiente. Eu entendo- deu um pequeno sorriso- E eu não estou te falando tudo isso pra te cobrar algo ou pra fazer você se sentir mal, é que eu realmente precisava pôr isso pra fora- ajeitou o óculos no rosto- No dia da sua festa- mudou o assunto- Foi um dia horrível pra mim, por isso eu não consegui nem curtir nada.

  - O que aconteceu?

  - Eu organizei aquela festa inteira, desde os convidados até a comida servida, e eu sequer fui avisada da troca de horário- limpou uma lágrima solitária que escorreu- Sei que pode parecer ridículo e ser muito pequeno perto de tudo que já aconteceu, mas aquilo foi a hora d'água pra mim. A partir dali eu vi que realmente isso não daria certo- apontou para ele e logo para si mesma- E a nossa última discussão foi o certificado que eu precisava. Apenas confirmou tudo.

  Ela olhou para a pasta que tinha em seu colo e logo olhou para ele. Aquele era o momento que tudo se tornaria real.

  - Foi por esses motivos que eu citei, e talvez alguns outros que eu possa ter esquecido, que eu decidi aceitar a proposta do Antônio- engoliu seco vendo a expressão apática tomar conta do rosto dele- Eu não consigo mais trabalhar com você nessa situação, não tá fazendo bem pra mim e depois dessa conversa sei que não faria bem pra você também. Quero que saiba que você é a primeira pessoa a ter conhecimento da minha decisão em respeito a tudo que você já fez por mim e por toda consideração que eu tenho por você- respirou fundo trancando o choro que queria vir- Eu contatei algumas pessoas do ramo e entrevistei várias delas pra verem se eram eficientes e de confiança- pôs a pasta encima da mesa- Aqui está o currículo das melhores. Sei que você gosta que tudo seja do seu jeito. Não queria te deixar na mão.

  Ele seguia sério a olhando. Os olhos vermelhos demonstravam a vontade de chorar, mas ele se mantinha firme e calado.

  - Eu vou seguir trabalhando aqui até você conseguir achar a pessoa ideal pra ocupar meu cargo.

  - Ninguém nunca vai conseguir te substituir- a voz estava sem emoção, mas a frase fez a morena morder os lábios segurando o choro que tentou vir com força.

  - Pelo bem de tudo que a gente já passou, da nossa história, eu estou me demitindo e...- apertou os olhos com força para as próximas palavras- E eu estou te demitindo do meu coração.

  Aquilo foi a gota d'água para Breno. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto mesmo que ele tentasse segurar. Estava se sentindo mal com aquela situação toda, não queria perder sua melhor amiga, mas também não queria que ela sofresse como parecia estar.

  Apesar de quase não ter tido falas e expressões durante a conversa toda, por dentro ele se culpava e se repreendia por a fazer se sentir daquele jeito, mas não conseguia por para fora tudo o que realmente estava sentindo.

  - Então... é melhor acabar por aqui mesmo- a frase fez ela olhá-lo rapidamente e se surpreender ao ver o rosto sério molhado de lágrimas- Eu não quero que você sofra mais. Pode deixar que eu chamo a substituta. A partir desse momento não trabalhamos mais juntos- ouvir da boca dele tornava tudo mais real ainda- Eu vou contatar o RH e avisar pra eles acertarem tudo com você. Seja feliz na sua nova jornada!

  Ela se levantou da cadeira sentindo as pernas fracas. Não imaginava que aquilo seria tão difícil quanto estava sendo.

  - Muito obrigada por tudo, de verdade- deu um pequeno sorriso e ele retribuiu.

  Ela foi até sua mesa, pegou suas coisas e ficou olhando para aquele lugar que trabalhou por tantos anos. Aquele era o adeus mais dolorido que dera em toda vida.

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