Capítulo 30

310 22 3
                                    

  Passaram-se três semanas e desde então eles não haviam tido mais nenhum tipo de contato. Aquela conversa havia sido extremamente dolorida para ambos e não haviam conseguido digeri-la por completo.

  Breno ficou pensativo e reflexivo sobre tudo o que ouvira. Queria contar para a namorada pois havia prometido que a contaria tudo, mas estava com medo que ela reagisse mal. Nada acontecera durante o período em que eles estavam juntos, porém ele não queria dar margem para a namorada criar algum tipo de problema com a morena, ainda tinha esperança de que algum dia, quando tudo aquilo passasse e ambos superassem, eles pudessem voltar a ser amigos como antes e conviver normalmente. Mas era isso o que ele queria mesmo?

  Pensando em tudo que ouviu, Breno reparou um sentimento diferente em relação a sua antiga secretária. Não sabia se era apenas perder a sua amizade que havia doído, pois ele sentiu mais do que a vez que Marcela terminara o relacionamento ao saber a verdadeira história. Parecia que uma parte dele havia ido embora e ele estava sentindo um enorme vazio em sua vida. Mas ele não se deixou abater como quando terminou o relacionamento, porque dessa vez ele não tinha alguém pra ser seu suporte, agora o homem estava totalmente sozinho com esse sentimento. Antes sabia que podia contar com a morena para tudo, agora era ela quem havia ido embora e ele não tinha onde se agarrar.

  Gostava muito da namorada e ela lhe fazia muito bem, mas não era a mesma coisa. Queria confiar nela o mesmo tanto que confiava em Paula, mas era impossível! Ninguém inspirava tanta confiança para ele do que a morena.

  Já Paula estava tentando lidar da melhor maneira possível. Ela se dedicava ao máximo em seu novo trabalho e estava sendo muito bem sucedida, tinha um bom relacionamento com a maioria dos funcionários da empresa e gostava da dinâmica de trabalho do local, mas também sentia o vazio de não ver o loiro todos os dias como antes. Já se pegara varias vezes no impulso de chamar o novo chefe de Breno, e aquilo doía até mesmo fisicamente.

  Sempre que estava em casa e começava a sentir algo ruim devido aos últimos acontecimentos, ela focava toda sua energia naqueles dois serzinhos que ela mais amava no mundo. Eles perguntavam bastante sobre Breno, mas a morena preferia apenas dizer que tiveram que se afastar por um tempo.

  Sempre priorizou ser sincera com os filhos independente do assunto, mas não achava que aquele assunto era algo interessante deles saberem. Ela pensava que eles não precisavam saber que a mãe era uma covarde que sequer sabia lidar com seus sentimentos.





  - Bom dia, Paula!- Antônio disse ao chegar próximo à ela- Trouxe um café pra você- entregou o copo térmico para ela.

  - Bom dia, Antônio- sorriu para o homem- Obrigada!

  Eles já tinham um nível de intimidade bom, então se tratavam como velhos amigos, mesmo não sendo a mesma relação que ela tinha com o antigo chefe. Essa intimidade deu margem para historinhas dentro da empresa, algumas pessoas ficavam especulando que ambos tinham um caso e por isso ela ocupava o cargo de confiança do homem, já que não era apenas secretária, mas também sua assistente pessoal.

  - Como estão as crianças?- essa era uma pergunta frequente do homem, ele gostava bastante dos filhos dela.

  - Pedro tá dando um pouquinho de trabalho, mas nada que eu não consiga controlar- desabafou- E a Sofi segue aquele fofura sem defeitos.

  - Seus filhos são maravilhosos. Com uma mãe dessas eu não esperava nada diferente- sorriu vendo as bochechas dela ficarem levemente avermelhadas- Bom, hoje eu quero almoçar no restaurante novo que abriu aqui em frente à empresa. Já viu?

  - Sim, quero ir lá um dia também- ajeitou o óculos no rosto com o dedo indicador.

  - Ótimo! Eu ia te convidar- sorriu animado- Eu vou sair as 13:30 pra almoçar, se estiver interessada na minha proposta, esteja pronta pra sairmos nesse horário.

  - Tudo bem- assentiu.

  - Bom trabalho!- piscou para ela e entrou em sua sala.









  - Como tá se saindo a sua nova secretária, amor?- Marcela perguntou enquanto estava falando com o namorado no celular.

  - Não consegui formar uma opinião sobre ela ainda- suspirou- Não achei que ia ser tão difícil assim achar alguém competente.

  Já era a terceira pessoa que ele testava como secretária após a saída de Paula do escritório.

  - Não é incompetência delas. A questão é que você está acostumado com um padrão de excelência muito alto já que a Paula era extremamente eficiente e corrigia seus problemas não apenas profissionais, mas também pessoais- ela o repreendeu- Tenha mais paciência que a pessoa certa vai aparecer.

  - Eu espero que sim.

  - Eu não entendi muito bem o motivo de ela ter deixado a empresa, mas espero que ela esteja se dando bem no novo emprego- por mais que visse que esse assunto deixava o namorado desconfortável, a loira gostava de falar sobre pois nunca conseguiu entender a saída repentina da outra e o comportamento estranho do loiro.

  - É, eu também- respirou fundo- Eu vou desligar porque tenho muita coisa pra fazer. Daqui a pouco tenho uma reunião e preciso preparar o material.

  - Tá bom, bom trabalho- mandou um beijo pra ele e então desligaram o celular.







  - Essa gente fala demais- Antônio disse revirando os olhos.

  Os dois estavam sentados em uma mesa próxima a janela do restaurante em frente à empresa e conversavam sobre os boatos que envolviam os dois.

  - É sempre assim. Sempre que uma mulher trabalha diretamente para um homem as pessoas já acham que ela tá dando pra ele- disse incomodada e o homem riu- Desculpe pela forma de falar, mas trabalhei com isso a minha vida toda e era sempre assim, mesmo quando eu era casada.

  - Isso influenciou na sua separação?- bebeu um gole do seu suco de laranja.

  - Grande parte. Meu ex-marido tinha esse pensamento também já que era um homem extremamente machista, então achava que... enfim, ele morria de ciúmes de todos os meus chefes, então arrumava confusão com todos. Eu não durava dois meses nas empresas porque ele sempre dava um jeito de me fazer ser demitida- revelou para o homem.

  - E tudo mudou quando você começou a trabalhar com o Breno?- ele achava a vida dela muito interessante então procurava saber o máximo possível.

  - Sim. Eu terminei com ele e vim pra Goiânia com meus filhos, aí passei um tempo procurando emprego até que a vaga no escritório do Breno caiu de paraquedas- deu uma risadinha lembrando a forma como o loiro a convidou para trabalhar consigo.

  - E como foi que você conseguiu o emprego lá?

  - Um dia eu estava no shopping com meus filhos e vi ele em uma joalheria quase tendo um ataque cardíaco e brigando com as funcionárias. Eu entrei pra chamar a atenção dele porque odiei o jeito que ele estava falando com as moças, aí ele me pediu ajuda pra achar uma aliança igual a que ele havia perdido, me mostrou foto e eu ajudei- o loiro a observava com um pequeno sorriso no rosto- Ele fez aquele escarcéu todo por causa de uma aliança e depois que eu descobri pra que ele usava eu até me arrependi de ajudar. Mas enfim, ele disse que eu resolvi um problemão pra ele e perguntou com o que eu trabalhava, aí eu contei minha situação e ele me falou que tava precisando urgente de uma secretária, aí não deu uma semana e eu já tava contratada- finalizou a história- Por que você tá me olhando desse jeito?

  - Seus olhos brilham de um jeito lindo quando você fala dele- seguia com um olhar penetrante para a mulher enquanto ela ruborizava- Eu adoraria que esse brilho fosse pra mim- segurou a mão dela por cima da mesa.

  - Antônio, eu...- tirou a mão da dele e ajeitou o cabelo pra trás da orelha.

  - Me desculpe- ele limpou a garganta e se arrumou na cadeira- Isso foi um pouco invasivo.

  - Tá tudo bem- ela garantiu.






Breno estava em seu carro partindo para a reunião quando viu o prédio que havia projetado, o prédio em que sua ex-secretária estava trabalhando agora. Ficou pensando 'será que ela está aí? Que vontade de vê-la', mas seu pensamento sumiram quando ele olhou para o outro lado da rua e viu a morena e o novo chefe, frente à frente em um mesa no restaurante e com as mãos unidas. Não esperava, mas aquela cena fez um grande desconforto tomar conta de seu copo. Por que ele estava se sentindo daquela forma?

Fake WifeOnde histórias criam vida. Descubra agora