Capítulo 6 - O centro da cidade

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Ok, Ana, vamos lá, mulher, temos que viver.

Ana, antes de sair de casa, olhou atentamente pela janela da sala. A casa da frente estava escura e silenciosa. Ana ficou ali paralisada por muito tempo. Mas enfim tomou coragem e saiu de casa.

Ali mesmo, na porta, suspirou fundo e desceu os 3 degraus da escada da porta. Olhou mais uma vez para a casa da frente; ainda tudo quieto.

Naquele período, o verão, a noite demorava a chegar, eram quase 20h da noite e ainda havia resquícios de um sol que fora forte e brilhante a noite toda. O dia estava abafado. Ana não demorou muito a chegar no centro da cidade, de fato pareceu-lhe que a cidade tinha apenas 10 ruas ou menos, pois pela primeira vez não teve que usar o carro para sair de sua casa ao centro. Demorou no máximo 15 minutos andando.

As ruas eram todas iguais, tal como um labirinto, as casinhas eram iguais, até pensou ver duas bem parecidas com a sua. Parece que estou dando voltas e saindo no mesmo lugar.

Ana sabia que, se conhecesse melhor a cidade, já teria chegado no centro há muito tempo, a falta de conhecimento das ruas e aonde elas o levariam a prejudicou muito. Passou por uma rua toda construída de pedras, as casas naquela rua também era de três andares, porém, parecia uma só construção, como se fosse uma grande casa apenas, toda pintada de branco com uma faixa inferior em amarelo, além de pequenas árvores e diversas outras plantas nas calçadas, janelas, varandas, plantas de várias espécies, vermelhas, rosas, com folhas em várias tonalidades de verde, amarelas...

- Essa cidade deve ter algum problema com flores e plantas – Ana pensou alto. – Em toda parte eles estão.

Enfim chegou no que lhe parecia o centro da cidade: um grande círculo perfeito espalhava os comércios principais em construções que lembravam ser antigas, com casas pontudas de telhados e madeiras, outros prédios feitos de pequenos tijolos e janelas gigantes adornadas com vasos de flores, elas formavam um círculo se fechando com uma pequena igreja de uma torre apenas em estilo românica. Ao cento, ficava uma praça com bancos de madeiras cercada por plantas e mais flores coloridas, com pequenos caminhos em pedra para cada porta dos comércios. Ali, naquele círculo principal, ficavam, Ana pode notar, os comércios de turismo e souvenir, uma butique de roupa e óculos, uma loja de jóias, dois cafés que parecia ser maravilhosos aos olhos de Ana, uma loja de presente, um pet shop, um serviço de correios, uma iluminada loja de perucas, uma loja de celulares e computadores. E, em volta de todos esses comércios, nas ruas paralelas a cada prédio e casarão, vendedores de ruas espalhavam-se; eram vendedores de fruta, de artesanato, de livros usados e, em grande parte, vendedores de flores;

- Isso explica elas estarem espalhadas em todas as partes – observou Ana ao ficar impressionada com a quantidade de vendedores de rua de flores e plantas.

Mas Ana não via restaurantes. Precisava perguntar para alguém onde poderia encontrar um.

- Com licença, senhora – Ana se aproximou de uma senhora que vendia flores em uma barraquinha na rua ao lado do pet shop. – A senhora poderia me informar onde posso encontrar um restaurante para almoçar?

- Almoçar? – respondeu a senhora – a essa hora, criança? Já é tarde.

- Sim, eu sei – Ana falou tentando soltar um sorriso solícito e educado. – Tive uns imprevistos com o horário.

- Você é turista?

- Não. Sou moradora... aliás, nova moradora. Me mudei ontem pra cidade. Ainda estou de mudança.

- Que maravilha, não? – a senhora respondeu alegre. – Tome, de boas-vindas e para lhe trazer sorte.

A senhora entregou à Ana uma muda de flor de Hortência. Ana pegou com cuidado e sorridente.

- É linda – Ana falou. – Quanto custa?

- É um presente. Damos flores aos novos moradores da cidade.

Depois, sorrindo, a senhora falou:

- A rua dos restaurantes é aquela ao lado dos correios, a rua dos cravos.

Ana agradeceu mais uma vez a informação e a flores recebidas. Caminhou tranqüila em direção a rua dos cravos. Logo mais anoiteceria, mas ali na cidade a luz do dia se estendia mais. Ana, de fato, teria que almoçar e jantar em uma só refeição. O dia estava quase todo acabado para ela. Teria que focar apenas nessa tarefa.

*****

Ana saiu do restaurante satisfeita e feliz. Que comida maravilhosa. Tinha escolhido um restaurante com especialidade em frutos do mar. Estava tudo delicioso. A rua dos cravos contava com um grande número de outros restaurantes, desde uns grandes, com capacidade para dezenas de pessoas, até os menores, um com capacidade apenas para dez pessoas.

Ela voltou para o centro circular do comercio. Entrou na rua ao lado de um café; a rua das magnólias. Ali, como nas demais, havia alguns venderes de rua, mas todos de flores. Mas o que chamou a sua atenção foi um casarão, de cor creme e enormes janelas marrons, com vidros bem iluminados e decorados com flores. Era enorme, ocupava toda a primeira quadra da rua das magnólias. Era uma floricultura chamada "Flores Que Amo".

Ana já tinha visto flores o suficiente para o ano todo, mas aquela enorme floricultura chamou sua atenção. Bem, já que vou morar aqui, tenho que conhecer minha cidade.

Ela nunca esteve em uma floricultura antes, parecia que entrava em um novo mundo, desconhecido, mas a primeira vista ela gostou muito. Havia flores e plantas em todas as partes, de todos os tamanhos e cores. Em vasos grandes, altos, redondos... ela estava encantada. Ela estava sorrindo, tocando com cuidado algumas flores.

- Olá, seja bem-vinda.

Ana, ainda sorrindo, virou em direção a voz masculina que falava com ela. Mas logo seu sorriso sumiu do rosto. Em um reflexo de segundo, ela olhou para o rapaz que se dirigia a ela e soube: era o mesmo rapaz que a observava pela janela na frente da sua casa, e agora estava ali, diante dela dando boas-vidas à loja. Ana sentiu seu rosto queimar e o coração bater forte, perdeu a voz e não conseguiu falar nada. Saiu correndo e se tremendo da floricultura. Bateu a porta atrás dela e não olhou para trás, só queria sair dali.


Todas as Paixões de Juca AomiOnde histórias criam vida. Descubra agora