Capítulo 10 - A Família Aomi

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Mesmo com todas as preocupações, o almoço da senhora Mércia estava uma delicia e Ana pode aproveitar o melhor que pode. Por um momento, voltou a esquecer seu atual problema.

Mas agora ela tinha, ao menos, mais informações. Poderia ser uma arma a seu favor conhecer melhor seu inimigo. Se é que posso chamar assim.

Agora Ana sabia que seu observador fazia parte da família com o maior comercio da cidade e o mais irônico de floricultura. Isso soava um tanto bizarro, já que, para ela, flores representavam esperança, amor, carinho, ou seja, coisas boas, e ela se via numa situação totalmente oposta a isso: sentia-se num filme de terror. As flores para ela, de repente, era como se fosse flores de cemitério.

- Dona Mércia – Ana falou amável – estava tudo uma delicia. Fico muito feliz que tenha me convidado para um almoço aqui.

- Que bom que gostou, minha filha. Você estava tão palidazinha. Venha almoçar, tomar café e jantar aqui sempre que quiser.

- Assim que minha casa ficar habitável, convido a senhora para uma janta em casa.

A senhora Mércia riu.

- Ora, não se preocupe, minha filha. A adaptação com mudanças requer tempo.

Ana ajudou a senhora Mércia a lavar a louça e saiu.

O dia ainda estava claro e quente. Estava muito agradável. A satisfação de saciedade da comida da senhora Mércia fazia Ana se sentir nas nuvens. Comer dignamente, o que não acontece com freqüência, já que quase nunca cozinho.

Mas agora Ana não sabia se animava com os planos de comprar suas plantas ou se organizava a mente sobre o caso do seu vizinho que a espiava. Agora que ficou sabendo de mais detalhes do seu vizinho com a senhora Mércia, ficou ainda mais curiosa. Era como se o medo que vinha tomando conta dela agora se transformava em curiosidade. Eu deveria ser uma repórter ou uma investigadora. Ela pensou tentando tirar dela o restante do medo que ainda existia.

Aproveitou que estava perto da sua casa e passou na rua 5. A rua estava tranqüila e quieta. Mas ela não foi direto para sua casa. Ao contrário parou ali na frente da casa a frente. Os três andares da moradia estavam trancada e silenciosa. A casa do vizinho, os Aomi, como a Ana sabia agora, era toda feita de pedra, com uma alta porta de madeira e a já conhecida janela do qual Ana era observada pelo seu espião. A casa, como todas da cidade, também tinha alguns poucos vasos de plantas, tudo muito discreto para uma casa de uma família que tinha floricultura e enfeitava toda a cidade, Ana observou.

- Família Aomi. Quem é da família? Quem é esse cara que fica me observando pela janela? Será que ficava observando a vovó também? Como será que era a convivência da vovó com eles? Preciso conhecer meus vizinhos pra poder entender tudo.

Mas, o curioso de tudo, era que Ana não conhecia nenhum vizinho ainda, nem mesmo os Aomi. A única pessoa que ela conhecia dali e teve um contato social foi com a senhora Mércia e ninguém mais. Ela, sequer, já chegou a ver alguém da rua onde mora. Acho que meus vizinhos são tímidos.

Ana se aproximou mais da casa, chegou até ao degrau da porta de entrada. De fato, estava tudo quieto. Não parecia ter ninguém em casa. Será que todos trabalham na floricultura e estão lá agora?

Até que Ana ouve um barulho de passos em piso de madeira. Com o susto, Ana se afasta da casa. Estava ofegante e suando.

- Eu não estou em um filme de terror. Você não está em um filme de terror, dona Ana. Pare de pensar besteira. Realidade. Foco.

Ana caminhou a passos lentos até chegar ao centro. Preciso de uma bicicleta.

Estava ali, no comércio circular. Animou-se ao ver os vendedores de flores de ruas, com seus carrinhos cheios de plantas, suas barracas muito enfeitadas. Ainda passou em um ou outra. Acabou por comprar um vasinho de uma suculenta. Sabia que precisava de plantas maiores e flores mais adornadas. Ainda não tinha decidido sobre como fazer a decoração de casa.

Mas Ana estava disposta: iria para a rua das magnólias. Teria que encarar seus demônios, que no caso era a floricultura.

Caminhou até a rua. Mas ficou do lado oposto a floricultura. Ficou ali por um tempo observando o comercio de flores. O grande prédio de flores bem iluminado. Ela suspirou. Sabia que ali dentro estaria o objeto de seus maiores temores nos últimos dias. Mas agora ela tinha mais informações, era um grande passo.

Não soube por quanto tempo ficou ali parada encarando a floricultura. Uma vendedora de rua de suculentas que ficava ali perto, no mesmo lado da calçada em que Ana estava, chegou até ela e perguntou:

- Você precisa de alguma ajuda?

Ana, voltando de seus devaneios e pensamentos, encarou a vendedora de rua. Balançou negativamente a cabeça e respondeu:

- Não, obrigada. Só estou observando... como é bonita.

Então, Ana olha para a floricultura, seguida da vendedora.

- De fato – falou a vendedora – é muito bonita. Compro minhas suculentas lá para revender.

Ana sorri e vê a vendedora se afastar, mas logo voltou toda sua atenção para a floricultura. E seu coração disparou quando viu que, em uma das janelas, apareceu a mesma figura masculina que aparece na janela da casa a frente da sua. Era ele, seu espião, do mesmo modo que a observa na janela de casa, ele apareceu na janela da floricultura.

Ele, o observador, olhou para a rua e, da janela, viu Ana do outro lado da rua. Ele, imediatamente, parece que esqueceu o que ia fazer e ficou ali, olhando Ana na rua. Mas Ana, ao contrário das outras vezes, não fugiu. Ficou ali, encarando quem a encarava. E ambos, Ana e o rapaz na floricultura ficaram a se olhar. Por quanto tempo não sabiam, mas não foram poucos segundos.

Ana permaneceu firme onde estava, mas o rapaz na floricultura foi interrompido com um cutucão nas costas de um senhor. Ana não pode ouvir que o senhor falava para o rapaz, mas ele mexia os braços eufórico e ambos, o senhor e o rapaz, foram para o interior da floricultura.


Todas as Paixões de Juca AomiOnde histórias criam vida. Descubra agora